Ouvimos durante a última semana vários sociólogos a ensinar como lidar com alunos impertinentes como a menina do caso «Carolina Michaelis». Alguns dizem que exige tempo, dedicação e entrega; e, já agora, ler Bourdieu e Foucault. Outros, da escola tradicional, são mais pragmáticos. Uns tabefes e a coisa vai ao sítio.
Haverá crianças manipuladoras que exigem um tratamento menos maleável. E haverá certamente outras com as quais uma pedagogia mais branda pode ter bons resultados. As crianças não são iguais e crianças diferentes podem exigir diferentes métodos de ensino. Isso é uma possibilidade real que tem uma implicação concreta: as escolas devem poder ter diferentes métodos educativos. Porque a educação, no fundo, é como a roupa interior. Toca no que de mais íntimo temos e quando é partilhada por muitos acaba por dar asneira.
Os sistemas baseados na escolha permitem atingir este objectivo. O cheque-ensino, por exemplo, promove a concorrência entre escolas, incentivando-as a adaptarem-se às necessidades do aluno e a fornecerem melhores serviços com menos dinheiro. Com o cheque-ensino, pode dar-se o pecado supremo de diferentes escolas terem diferentes metodologias de ensino, diferentes critérios de avaliação e diferentes métodos de punição. Precisamente o oposto do paquiderme imóvel que é a «Escola Pública».
Esta noção não é nova. Estamos habituados a escolher e, em boa verdade, ficamos realmente chateados quando nos limitam esse direito. Escolhemos a padaria que frequentamos, o carro que usamos, a casa em que vivemos e até os amigos com quem andamos. Às vezes somos picuinhas ao ponto de escolhermos com base em pequenos detalhes, como quando olhamos à grossura de uma ponta de lápis. O que até é compreensível, porque as pequenas nuances fazem, às vezes, grandes diferenças. No fundo, somos todos fundamentalistas da escolha.
O princípio do cheque-ensino não é muito inovador. É apenas um pouquinho mais fundamentalista do que todos os outros fundamentalistas da escolha. Os defensores da «Escola Pública» gostam de escolher em tudo. Em tudo, excepto na educação. Os defensores do cheque-ensino apenas constatam que não há nenhuma razão para o princípio da escolha não ser útil no caso da escola e então alargam o critério para incluir mais esse objecto. A diferença não é muita.
No «caso Carolina Michaelis», o princípio da escolha garantiria que a escola pudesse adaptar a punição ao tipo de alunos que tem; garantiria que os pais pudessem retirar os filhos da escola se não concordassem com o modelo punitivo, promovendo o aparecimento de escolas com modelos punitivos mais adequados; e, por fim, garantiria que os 374646 piscólogos que apareceram na televisão a falar sobre o caso teriam a oportunidade de pôr em prática as suas «metodologias psico-cognitivo-educativas» em vez de andarem a dizer disparates em horário nobre.
Arbitragem de Sarjeta (II)
Olhar para as arbitragens deste fim de semana deixa bem claro o que está a suceder no futebol português. Já só falta o Porto campeão fazer o favor de perder uns pontinhos cirúrgicos na luta pelo segundo lugar...
Medicina a Pedido
João Miranda escreve no Blasfémias que há incoerência em permitir que se possa pedir um aborto quando não se pode pedir uma cesariana. Mas não há.
A mulher pode solicitar uma interrupção da gravidez, mas não lhe cabe decidir sobre o método utilizado para o fazer. Do mesmo modo, quando se aproxima o parto, a mulher pode explanar a sua opinião aos médicos, informação que será importante, mas não necessariamente coincidente com a decisão final que, a bem da mulher e do seu filho, deve ser clínica.
A mulher pode solicitar uma interrupção da gravidez, mas não lhe cabe decidir sobre o método utilizado para o fazer. Do mesmo modo, quando se aproxima o parto, a mulher pode explanar a sua opinião aos médicos, informação que será importante, mas não necessariamente coincidente com a decisão final que, a bem da mulher e do seu filho, deve ser clínica.
Coisas do Céu
«Igreja pede a Sócrates que controle laicismo de alguns membros do PS»
1. Numa instituição repleta de gente com tão bons contactos, talvez fosse mais sensato pedir uma coisa dessas directamente a Deus...
2. Boa oportunidade para o Primeiro-Ministro pedir ao Papa que controle o conservadorismo, o reaccionarismo, a homofobia, a luxúria e a intromissão nos assuntos do Estado de alguns membros da Igreja?
1. Numa instituição repleta de gente com tão bons contactos, talvez fosse mais sensato pedir uma coisa dessas directamente a Deus...
2. Boa oportunidade para o Primeiro-Ministro pedir ao Papa que controle o conservadorismo, o reaccionarismo, a homofobia, a luxúria e a intromissão nos assuntos do Estado de alguns membros da Igreja?
Arbitragem de Sarjeta
1. Os factos recentes têm demonstrado que o futebol está à margem da lei. Em nenhuma outra actividade, seja pública ou privada, a incompetência, chamo-lhe assim para ser benevolente, se passeia com tamanha impunidade.
2. No Braga-Leixões de hoje, Pedro Henriques fez um trabalho cínico, capaz de levar ao desespero os 22.000 bracarenses presentes no Estádio AXA. Conivente com o anti-jogo, nem mesmo quando admitiu que estava a ser enganado pelos jogadores do Leixões teve a coragem de os sancionar.
3. O que se exige, no respeito por aqueles que pagam o futebol, é que alguém puxe o autoclismo do anti-jogo e das arbitragens que o premeiam. Assim não se pode gostar do futebol.
4. O tempo tem demonstrado que a SAD do Braga precisa de melhor aconselhamento em matéria de comunicação. Quando deve estar calada, fala. Quando deve falar, fica calada.
2. No Braga-Leixões de hoje, Pedro Henriques fez um trabalho cínico, capaz de levar ao desespero os 22.000 bracarenses presentes no Estádio AXA. Conivente com o anti-jogo, nem mesmo quando admitiu que estava a ser enganado pelos jogadores do Leixões teve a coragem de os sancionar.
3. O que se exige, no respeito por aqueles que pagam o futebol, é que alguém puxe o autoclismo do anti-jogo e das arbitragens que o premeiam. Assim não se pode gostar do futebol.
4. O tempo tem demonstrado que a SAD do Braga precisa de melhor aconselhamento em matéria de comunicação. Quando deve estar calada, fala. Quando deve falar, fica calada.
[Avenida do Mal] A Reguada
Quem olhar o país pelos media vê uma sociedade às aranhas, completamente absorta na deturpada discussão das soluções dos seus reais problemas. De repente, temos um sistema escolar que incuba criminosos em potência e uma escola pública mergulhada no caos e na rebelião. Basta olhar em tudo quanto é televisão, rádio e jornal com as geniais análises dos habituais neocons portugueses, Rogério Alves ou procurador da justiça e outros especialistas da lei e da moral portuguesa para percebermos o quão inadaptado está o tal humanista código civil português: permissivo e tão mal direccionado, a perder tempo (em anos de arrasto) com processos como a Casa Pia ou as golpadas de colarinho branco e do futebol.
Não. A justiça célere deve apontar baterias aos adolescentes, concentrar os recursos nas salas de aula e azucrinar a cabeça à sua juventude - porventura a penhorá-la. A PJ deve aliás substituir a PSP no policiamento das creches às EB2-3 só para que não haja abusos. Certamente era esse o objectivo primário das tais visitas em véspera de manifestação de professores.
Bem. O que mais dá vontade de rir nisto tudo é que, com o aval do alarmismo e dos pivots à americana, vai-se espalhando pela calada aquela doentia sensação de que há uma falta da tal autoridade neste país e, sem darmos conta, temos terreno fresado para a semente do respeitinho . Quem sabe, a rependurar fotografias do Presidente do Conselho no seu olhar de terna severidade, a paternalizar a reguada, as orelhas de burro, a testa contra o quadro de lousa e a demonização da adolescência com pêlos na palma das mãos.
Enfim, manipulação tamanha que se torna mais gritante ainda quando se associam estes casos de indisciplina ao tal novo estatuto do Aluno. Coisa que, na cabeça dos opinadores, deu aval à fervura hormonal dos púberes alunos, tão sedentos de pecado. Ora, grande feito este do nosso sistema de ensino que em vez de ensinar matemática, faz por especializar os alunos em direito escolar.
E se, para Pinto Monteiro, esta escola pública ensina à classe média e baixa o pequeno delito, que diria eu do que ensina a imaculada escola privada à classe alta, a mesma que produz CEO’s, banqueiros e sucessões de deputados. Isto para não falar daquelas escolas onde a autoridade é reforçada no Inferno como castigo, onde o exemplo é batina e a moral absoluta, dessa nem se espera que saiam adolescentes capazes de fazer mal a moscas, apenas uma mão cheia de pequenos inquisidores com a mesma finura medieval em limpar as aberrações desta sociedade moderna.
Não. A justiça célere deve apontar baterias aos adolescentes, concentrar os recursos nas salas de aula e azucrinar a cabeça à sua juventude - porventura a penhorá-la. A PJ deve aliás substituir a PSP no policiamento das creches às EB2-3 só para que não haja abusos. Certamente era esse o objectivo primário das tais visitas em véspera de manifestação de professores.
Bem. O que mais dá vontade de rir nisto tudo é que, com o aval do alarmismo e dos pivots à americana, vai-se espalhando pela calada aquela doentia sensação de que há uma falta da tal autoridade neste país e, sem darmos conta, temos terreno fresado para a semente do respeitinho . Quem sabe, a rependurar fotografias do Presidente do Conselho no seu olhar de terna severidade, a paternalizar a reguada, as orelhas de burro, a testa contra o quadro de lousa e a demonização da adolescência com pêlos na palma das mãos.
Enfim, manipulação tamanha que se torna mais gritante ainda quando se associam estes casos de indisciplina ao tal novo estatuto do Aluno. Coisa que, na cabeça dos opinadores, deu aval à fervura hormonal dos púberes alunos, tão sedentos de pecado. Ora, grande feito este do nosso sistema de ensino que em vez de ensinar matemática, faz por especializar os alunos em direito escolar.
E se, para Pinto Monteiro, esta escola pública ensina à classe média e baixa o pequeno delito, que diria eu do que ensina a imaculada escola privada à classe alta, a mesma que produz CEO’s, banqueiros e sucessões de deputados. Isto para não falar daquelas escolas onde a autoridade é reforçada no Inferno como castigo, onde o exemplo é batina e a moral absoluta, dessa nem se espera que saiam adolescentes capazes de fazer mal a moscas, apenas uma mão cheia de pequenos inquisidores com a mesma finura medieval em limpar as aberrações desta sociedade moderna.
Para uma História dos Eléctricos de Braga...
«Em Maio deste ano completam-se quarenta e cinco anos após a viagem do último eléctrico bracarense. Braga, aliás, foi última cidade do país a electrificar a rede de transportes urbanos (1914) e curiosamente a primeira a desactivá-los (1963). Ao contrário das outras cidades portuguesas que também adoptaram este simpático transporte urbano (Porto, Coimbra, Lisboa e Sintra), Braga não conservou nenhum dos seus carros eléctricos, dos seus atrelados e do restante património associado. Todos os 11 eléctricos e atrelados que circularam na cidade foram desmatelados e convertidos em sucata e, mais tarde, foi destruído o próprio edifício onde os eléctricos recolhiam e que se situava no cruzamento da Rua Cardoso Avelino com a Rua Cruz de Pedra (junto à estação de comboios) para no mesmo local se construir mais um centro comercial. Braga tem vindo a perder e a destruir praticamente todo o seu património mais recente, nomeadamente muitas das infraestruturas industriais construídas nos finais do séc. XIX ou inícios do séc. XX, correndo-se o risco de este período apenas ficar documentado por fotografias. Não é por acaso que a maioria dos bracarense de hoje não sabe que Braga já foi servida por uma rede de eléctricos entre Maximinos/Estação da CP e Gualtar/Bom-Jesus e entre o Estádio 1º de Maio e Monte D'Arcos.»
Sexta, 28 de Março - 21.30
Velha-a-Branca
Mais informações
Sexta, 28 de Março - 21.30
Velha-a-Branca
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Projectos 12 | Espaço Braga
Numa região atacada pela febre do shopping, a zona Norte da cidade Braga conhecerá duas novas
Conversas Improváveis: Jornalismo & Poder
Os blogues minhotos voltam a descer à cidade para uma Conversa (altamente) Improvável entre Jornalismo e Poder. O deputado Miguel Laranjeiro, eleito pelo Partido Socialista no círculo de Braga, e a jornalista Luísa Teresa Ribeiro, do Diário do Minho, protagonizam a terceira Conversa Improvável do Café Blogue. A iniciativa terá lugar na próxima Segunda-Feira, dia 31 de Março, pelas 21h30m, no Estaleiro Cultural Velha a Branca.
The Show Must Go On
14 de Março de 2008
Sócrates: quem fala em baixar impostos demonstra "leviandade e irresponsabilidade"
26 de Março de 2008
Governo baixa taxa do IVA de 21 para 20 por cento
A tenda está montada. De espectáculo em espectáculo temos campanha garantida até 2009.
Sócrates: quem fala em baixar impostos demonstra "leviandade e irresponsabilidade"
26 de Março de 2008
Governo baixa taxa do IVA de 21 para 20 por cento
A tenda está montada. De espectáculo em espectáculo temos campanha garantida até 2009.
Comboio Rápido Braga-Porto
Na próxima Sexta-Feira, 28 de Março, a Comissão de Clientes CP Braga-Porto promove uma Reunião Geral de Utentes seguida de Conferência de Imprensa. As alterações que a CP tem promovido não são suficientes para atender as necessidades dos utentes daquela linha, considerando um dos promotores da iniciativa que «a satisfação dos passageiros só será plena quando existiram 12 comboios rápidos tanto nas horas de ponta da manhã como nas da tarde.»
Cândido Oliveira, Professor da Escola de Direito da Universidade do Minho, lançou um conjunto de questões altamente pertinentes* que os responsáveis políticos e técnicos tardam responder. Na verdade, os prejuízos a que sucessivamente têm entregue o Minho é directamente proporcional à qualidade daqueles a quem os minhotos entregam o seu devir colectivo. Gente de bairro, provincianos de corpo e espírito, mais interessados em prestar vassalagem a Lisboa do que em servir os seus eleitores directos.
* às questões voltarei mais tarde, com uma ou outra pequena discordância.
Cândido Oliveira, Professor da Escola de Direito da Universidade do Minho, lançou um conjunto de questões altamente pertinentes* que os responsáveis políticos e técnicos tardam responder. Na verdade, os prejuízos a que sucessivamente têm entregue o Minho é directamente proporcional à qualidade daqueles a quem os minhotos entregam o seu devir colectivo. Gente de bairro, provincianos de corpo e espírito, mais interessados em prestar vassalagem a Lisboa do que em servir os seus eleitores directos.
* às questões voltarei mais tarde, com uma ou outra pequena discordância.
Comboio Rápido Braga-Porto (II)
O Professor Cândido Oliveira formula, no Jornal de Notícias, uma série de perguntas aos responsáveis pelo comboio em Portugal. O docente da Escola de Direito da Universidade do Minho toca nos pontos essenciais e que estão na base da maioria dos problemas da linha Porto-Braga:
1. o estrangulamento da linha na Trofa;
2. o congestionamento das linhas entre Ermesinde e o Porto;
3. a transformação da linha de Braga num serviço de Metro entre Ermesinde e o Porto;
4. a inexistência de interfaces com outros meios de transporte em Braga e em Famalicão;
5. a insipiência do serviço aos fins de semana e feriados;
6. o abandono da linha Porto-Vigo.
Relativamente ao ponto 4, parece-me injusto que as responsabilidades sejam imputadas à CP. No limite, podemos responsabilizar a CP por, no caso de Braga, ter desperdiçado a oportunidade de construir uma estação intermodal, verdadeiramente preparada para o interface entre diferentes meios de transporte colectivo. Na verdade, a falta de vontade dos agentes locais tem sido o principal entrave à oferta de melhores transportes colectivos na cidade de Braga. Os taxistas agradecem.
1. o estrangulamento da linha na Trofa;
2. o congestionamento das linhas entre Ermesinde e o Porto;
3. a transformação da linha de Braga num serviço de Metro entre Ermesinde e o Porto;
4. a inexistência de interfaces com outros meios de transporte em Braga e em Famalicão;
5. a insipiência do serviço aos fins de semana e feriados;
6. o abandono da linha Porto-Vigo.
Relativamente ao ponto 4, parece-me injusto que as responsabilidades sejam imputadas à CP. No limite, podemos responsabilizar a CP por, no caso de Braga, ter desperdiçado a oportunidade de construir uma estação intermodal, verdadeiramente preparada para o interface entre diferentes meios de transporte colectivo. Na verdade, a falta de vontade dos agentes locais tem sido o principal entrave à oferta de melhores transportes colectivos na cidade de Braga. Os taxistas agradecem.
IPCA: Bracarense vence Prémio Nacional de Design
«Aos 21 anos, Soraia Abreu, natural de S. José de S. Lázaro, Braga, e aluna do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), recebeu o primeiro prémio do ‘Concurso de Design de Mobiliário com Materiais Reciclados’, promovido pela Caixa Geral de Depósitos. Um banco-contentor, multifunções, que lhe garante, agora, a presença entre os melhores do mundo numa feira em Milão, Itália.» [Correio do Minho]
Portagens Contestadas (III)
Vital Moreira fala em «caminho perigoso» ao comentar o último anúncio absurdo do Ministro das Obras Públicas.
Do Georden: Para Onde Vamos?
«A imagem retrata uma passadeira numa via circular periférica à parte este da cidade (Avenida Dom João II, maioritariamente localizada em Fraião, por trás do eixo onde se localizam quase todas as grandes superfícies comerciais de Braga). [...]
Esta passadeira é logo das primeiras da avenida (em direcção a norte) e o grosso dos viandantes costuma virar logo para a / pela Av. Robert Smith (até porque se vierem para Sul o caminho puxa um bocadinho, e isso cansa...). Mas pelo que me lembro, quase todas as passadeiras ao longo dela padecem deste erro.
Bem... recentrando-me no que me trouxe cá hoje, queria dizer que o tal "planeamentozinho" pensou no automóvel. Depois, como que caída mais ou menos de pára-quedas, lá puseram a ciclovia (desde a Av. da Falperra até à Rua Luís António Correia são cerca de 2,3 kms para andar) e, já agora, não nos esqueçamos dos peões. Bastava não ter projectado a "área verde" até à estrada e já não se cometiam atropelos destes. O verde não é muito significativo, mas ter de o pisar (quem anda de cadeira de rodas não põe lá os pés, isso é certo) é sintomático dos valores que regulam a cabeça pequenina de quem nos vai oferecendo os espaços em que vivemos.»
Esta passadeira é logo das primeiras da avenida (em direcção a norte) e o grosso dos viandantes costuma virar logo para a / pela Av. Robert Smith (até porque se vierem para Sul o caminho puxa um bocadinho, e isso cansa...). Mas pelo que me lembro, quase todas as passadeiras ao longo dela padecem deste erro.
Bem... recentrando-me no que me trouxe cá hoje, queria dizer que o tal "planeamentozinho" pensou no automóvel. Depois, como que caída mais ou menos de pára-quedas, lá puseram a ciclovia (desde a Av. da Falperra até à Rua Luís António Correia são cerca de 2,3 kms para andar) e, já agora, não nos esqueçamos dos peões. Bastava não ter projectado a "área verde" até à estrada e já não se cometiam atropelos destes. O verde não é muito significativo, mas ter de o pisar (quem anda de cadeira de rodas não põe lá os pés, isso é certo) é sintomático dos valores que regulam a cabeça pequenina de quem nos vai oferecendo os espaços em que vivemos.»
Nem os horários escapam
Na Sexta-Feira Santa, a ASAE encerrou seis hipermercados. Nada que espante, dado o percurso recente. Desta vez, a única coisa original foi mesmo o motivo. A ASAE costuma fechar estabelecimentos dizendo que não servem bem o consumidor; na sexta-feira, a acusação era de servirem bem demais. Nota negativa pela inteligência, mas uma menção honrosa pela criatividade.
Convém, ainda assim, temperar o tom da crítica. Afinal de contas, a ASAE só faz o que lhe pedem. No caso, impedir que estabelecimentos com mais de dois mil metros quadrados tenham liberdade para escolher o horário de funcionamento aos domingos e feriados. A lei parece inadequada, incompreensível para o consumidor, lesiva para os hipermercados e, de forma genérica, pouco inteligente? Pois esperem até ver os argumentos.
Basicamente, há dois. O primeiro defende que há que moderar o consumismo nos domingos e feriados. É o argumento religioso. Consumir é aceitável, mas consumir muito é demais e tudo o que é demais é erro. Aliás, para quê consumir quando a Igreja está aberta durante os domingos e feriados? Então se for possível meter o povo lá dentro à força de lei, perfeito.
O segundo argumento é mais subtil. E menos bafiento, também. Vem do pequeno comércio. Se a Igreja quer consagrar em lei os dias devotados ao Senhor, o comércio tradicional quer implementar os dias sem concorrência. É, no fundo, a ideia velhinha de que a voragem domingueira das grandes superfícies tem de ser limitada por lei caso contrário destrói os empregos das lojas da esquina. O argumento tem de ser disparado de rajada, antes que o interlocutor pergunte se uma lei desse género não acaba também por inviabilizar a criação de empregos nas próprias grandes superfícies.
Ironias de lado, convenhamos que faz sentido usar a lei para fechar os hipermercados ao domingo. Provavelmente não para o consumidor, mas para o «comércio tradicional» é ouro sobre azul. É muito mais fácil apelar ao Governo para solucionar um problema do que inovar no atendimento, flexibilizar horários ou adaptar os serviços aos clientes. Os outros que concorram. Nós, por cá, somos pela tradição. Desde que salvaguardada pela lei. E por tratamento especial. E por apoio estatal. E um subsidiozinho até vinha mesmo a calhar.
Convém, ainda assim, temperar o tom da crítica. Afinal de contas, a ASAE só faz o que lhe pedem. No caso, impedir que estabelecimentos com mais de dois mil metros quadrados tenham liberdade para escolher o horário de funcionamento aos domingos e feriados. A lei parece inadequada, incompreensível para o consumidor, lesiva para os hipermercados e, de forma genérica, pouco inteligente? Pois esperem até ver os argumentos.
Basicamente, há dois. O primeiro defende que há que moderar o consumismo nos domingos e feriados. É o argumento religioso. Consumir é aceitável, mas consumir muito é demais e tudo o que é demais é erro. Aliás, para quê consumir quando a Igreja está aberta durante os domingos e feriados? Então se for possível meter o povo lá dentro à força de lei, perfeito.
O segundo argumento é mais subtil. E menos bafiento, também. Vem do pequeno comércio. Se a Igreja quer consagrar em lei os dias devotados ao Senhor, o comércio tradicional quer implementar os dias sem concorrência. É, no fundo, a ideia velhinha de que a voragem domingueira das grandes superfícies tem de ser limitada por lei caso contrário destrói os empregos das lojas da esquina. O argumento tem de ser disparado de rajada, antes que o interlocutor pergunte se uma lei desse género não acaba também por inviabilizar a criação de empregos nas próprias grandes superfícies.
Ironias de lado, convenhamos que faz sentido usar a lei para fechar os hipermercados ao domingo. Provavelmente não para o consumidor, mas para o «comércio tradicional» é ouro sobre azul. É muito mais fácil apelar ao Governo para solucionar um problema do que inovar no atendimento, flexibilizar horários ou adaptar os serviços aos clientes. Os outros que concorram. Nós, por cá, somos pela tradição. Desde que salvaguardada pela lei. E por tratamento especial. E por apoio estatal. E um subsidiozinho até vinha mesmo a calhar.
Portagens Contestadas (II)
«No caso do IC36, que é uma variante à cidade de Leiria, era importante que a população de Leiria estivesse isenta, pois irá utilizá-lo para o seu dia-a-dia de trabalho. Não é justo que zonas urbanas como Leiria sejam prejudicadas em termos de utilização das suas acessibilidades face ao que acontece nas grandes metrópoles do país.»
Estou incrédulo com as últimas declarações do Ministro das Obras Públicas, Mário Lino. Relembro que as populações de Braga e de Guimarães, embora de formas distintas, pagam as suas circulares. Em Guimarães, o acesso à circular é integralmente portajado. Em Braga, a circular é paga pelos utilizadores da A3 e da A11. Haja decoro, senhor Ministro.
Ressuscitar a Braga Romana?
A Casa das Carvalheiras poderá ser objecto de um plano de recuperação e musealização. A notícia está no JN, mas até informações mais concretas deve evitar-se qualquer rasgo de euforia. De boas intenções...
Leitura complementar:
Ruínas de Bracara Augusta: A visibilidade de um Património Urbano, por Francisco Sande Lemos
Leitura complementar:
Ruínas de Bracara Augusta: A visibilidade de um Património Urbano, por Francisco Sande Lemos
Trio de Blogues, no Rádio Clube
Amanhã, pelas 16 horas, é dia de Trio de Blogues no Rádio Clube. Os temas em análise serão o Comboio no Minho, as Portagens Minhotas e o Desemprego.
O João Marques, a caminho de um estágio no Parlamento Europeu, deixa a nossa companhia, sendo substituído por Luís Silva, do blogue taipense Causas Comuns.
Num curto espaço de tempo, o Trio de Blogues viu partir 3 elementos dos seus elementos: o Helder Guimarães, do Filtragens, está a trabalhar na General Electrics em Colónia; o Samuel Silva, do Colina Sagrada, trabalha no Público; e o João Marques, do Fontes do Ídolo está a caminho do Parlamento Europeu.
Ouvi-nos em 92.9. Até lá!
O João Marques, a caminho de um estágio no Parlamento Europeu, deixa a nossa companhia, sendo substituído por Luís Silva, do blogue taipense Causas Comuns.
Num curto espaço de tempo, o Trio de Blogues viu partir 3 elementos dos seus elementos: o Helder Guimarães, do Filtragens, está a trabalhar na General Electrics em Colónia; o Samuel Silva, do Colina Sagrada, trabalha no Público; e o João Marques, do Fontes do Ídolo está a caminho do Parlamento Europeu.
Ouvi-nos em 92.9. Até lá!
Portagens Contestadas
Hoje, no Jornal de Notícias:
«Estradas com obras permanentes, muito comércio e trânsito excessivo. As nacionais 101 e 103 (ligam Braga a Guimarães e Barcelos, respectivamente) são um martírio para quem as percorre. As alternativas são caras e utilizar diariamente a auto-estrada pode ficar bem caro. "Os minhotos que diariamente se deslocam pela A11 entre Braga e Guimarães para trabalhar pagam mais 120 euros/ano em portagens do que os residentes da área de Lisboa", avança Pedro Morgado, do blogue Avenida Central, um dos poucos espaços de contestação, uma vez que a posição das autarquias da região revela-se volátil, consoante a cor partidária que governa desde Lisboa.
Seja como for, o Minho está a organizar-se para aderir ao movimento mais vasto que envolve as comissões de utentes contra as portagens e que está a promover um abaixo-assinado que deverá ser subscrito por 30 mil a 50 mil utentes.
Recentemente, a AENOR (concessionária das auto-estradas) lançou uma campanha publicitária que apregoa os ganhos temporais decorrentes da utilização dessas vias, por oposição ao congestionado trânsito nas "nacionais".
"Tratando-se da única alternativa, deveria haver mais cuidado com a EN103, mas o que vemos são obras constantes. Um infindável número de pontos de estrangulamento à normal circulação. Obrigam mesmo a optar pela auto-estrada", afirma José Queirós, um dos contestatários ao modelo de portagens em vigor.
Aprofundando o estudo sobre as despesas que os minhotos têm de suportar, Pedro Morgado pegou na máquina de calcular "As contas são fáceis de fazer. Braga e Guimarães estão à distância de 13,8 quilómetros através da A11, uma auto-estrada concessionada à AENOR. Este troço tem um preço de 1,35 euros. Já na CREL, por exemplo, o troço de 14 quilómetros entre Pontinha e Zambujal custa 1,15 euros".
A aproximação de eleições deverá trazer o assunto de volta às agendas partidárias, mas para já os políticos não aprofundam a questão.»
Portagens: Minhotos pagam mais 120 Euros/Ano que Lisboetas
«Estradas com obras permanentes, muito comércio e trânsito excessivo. As nacionais 101 e 103 (ligam Braga a Guimarães e Barcelos, respectivamente) são um martírio para quem as percorre. As alternativas são caras e utilizar diariamente a auto-estrada pode ficar bem caro. "Os minhotos que diariamente se deslocam pela A11 entre Braga e Guimarães para trabalhar pagam mais 120 euros/ano em portagens do que os residentes da área de Lisboa", avança Pedro Morgado, do blogue Avenida Central, um dos poucos espaços de contestação, uma vez que a posição das autarquias da região revela-se volátil, consoante a cor partidária que governa desde Lisboa.
Seja como for, o Minho está a organizar-se para aderir ao movimento mais vasto que envolve as comissões de utentes contra as portagens e que está a promover um abaixo-assinado que deverá ser subscrito por 30 mil a 50 mil utentes.
Recentemente, a AENOR (concessionária das auto-estradas) lançou uma campanha publicitária que apregoa os ganhos temporais decorrentes da utilização dessas vias, por oposição ao congestionado trânsito nas "nacionais".
"Tratando-se da única alternativa, deveria haver mais cuidado com a EN103, mas o que vemos são obras constantes. Um infindável número de pontos de estrangulamento à normal circulação. Obrigam mesmo a optar pela auto-estrada", afirma José Queirós, um dos contestatários ao modelo de portagens em vigor.
Aprofundando o estudo sobre as despesas que os minhotos têm de suportar, Pedro Morgado pegou na máquina de calcular "As contas são fáceis de fazer. Braga e Guimarães estão à distância de 13,8 quilómetros através da A11, uma auto-estrada concessionada à AENOR. Este troço tem um preço de 1,35 euros. Já na CREL, por exemplo, o troço de 14 quilómetros entre Pontinha e Zambujal custa 1,15 euros".
A aproximação de eleições deverá trazer o assunto de volta às agendas partidárias, mas para já os políticos não aprofundam a questão.»
Portagens: Minhotos pagam mais 120 Euros/Ano que Lisboetas
Boas Notícias para o Minho Turístico
Numa altura em que a Semana Santa de Braga se sedimenta como produto turístico de qualidade, atraindo milhares de visitantes espanhóis, uma revista Italiana propõe o circuito "Porto, Minho e Galiza" no roteiro das melhores pousadas do mundo. No entretanto, e para adocicar as bocas que chegam, foi criada uma Confraria que ajuda a promover o Pudim Abade de Priscos.
Bem prega Frei Tomás!
Segundo o JN, os cartazes blasfemos de publicidade a um stand de automóveis «apareceram pichados com a palavra Satanás.» Sempre me pareceu óbvio que o sucesso da campanha estava garantido. Além dos hooligans católicos, também o Arcebispo de Braga, administrador de uma cadeia de hotéis de luxo, reagiu à abertura do stand, afirmando que a «propaganda é uma falta de respeito pelos nossos valores!»
O que não se percebe é que o jornal da Diocese tenha dispensado uma sobrecapa inteira para a divulgação de uma propaganda que «é uma falta de respeito.» Está visto que em época de crise até os valores têm preço!
O que não se percebe é que o jornal da Diocese tenha dispensado uma sobrecapa inteira para a divulgação de uma propaganda que «é uma falta de respeito.» Está visto que em época de crise até os valores têm preço!
[Avenida do Mal] Páscoa Parade
Blasfemo o discurso livre escrito, tão inapropriado em Sábado de Aleluia, dia ponto-alto de comércio de Pão-de-Ló (não a variação de Lot, desterrado de Sodoma e Gomorra em fogo, que vendo a mulher feita estátua de sal, engravidou as filhas numa caverna) e amêndoas. Coisas do negócio e da economia de mercado, à volta do estômago e dos prazeres da vida, com o jejum de carne como desenjoo pelo meio. O marisco ou o tamboril são sacrifícios bem-vindos...
Domingo (amanhã), faça chuva ou sol, nos antípodas de ramos enxutos ou molhados, ditos da meteorologia divina elevada aos céus pela sabedoria das coincidências populares, correm quelhos e ruas estreitas, casas de pedra ou chalés dêmigrãn, mais de quantos compassos de cruzes ao alto floridas de fantasia, fitas rosa e brancas como as amêndoas de açúcar, e perfume patchouli - daquele que dá dor de cabeça e espalha herpes labial pela ruralidade, mais que os beijos repenicados da tia-avó.
Mas não vou falar de saúde pública, porque interessa mais abrir a camisa e os colarinhos ao enfartamento: vitela assada, anho ou cabrito ou lá o que seja, que sabe tudo a carne queimada e batatas. Vinho. Entram eles [os do compasso, fora d’oras - em casa como neste texto- , que no ano passado vieram mais tarde, ou mais cedo, conforme], de capa rosa-bordeaux-grená, a cor que houver no armário da confraria. Segue-se o ritual, Aleluia Aleluia Cristo Ressuscitou - já vai em milhares de vezes, e sem bolas de cristal. Beijinhos, bênções, cumprimentos e a ajudazinha para o S. Pedro, Santa Rita, Santa Comba Dão (e tiram!) ou São Sicrano e São Fulano. Entram notas no saco, envelopes, para mais santos e para foguetes - muito precisam os santos de dinheiro. Pum, pum: estoira-se graveto, mas cada um faz o que quer do seu. É a alegria em dias de míngua e subprime.
Em Braga, os pomares e os muros de pedra, daqueles cimentados de terra e musgo, são substituídos pelo casario entrecortado entre betão tijolo e estuque. Pelo meio: andaimes, trânsito, o Bananeiro e o alfaiate de arcebispos e padres em potência. E Espanhóis, ui!, mais que as madres que los parió! Me cago en Diós, oder tío, que gran… - Enfim, español técnico! Não o técnico "espanhol", de Guimarães, "espanhol" Cajuda.
Os espanhóis verdadeiros não vêm ver futebol, vêm ver o silêncio e os farricocos. O Tesouro da Sé ou parte dele, em trajes ou arte sacra a correr as artérias de Braga como o prelado da boa ventura, currais de gente casta e em castidade, o fisiologismo clerical nas catacumbas dos outros poderes, que manobram a cidade e o país, nas actos e nas obras, desde o antes de D. Diogo de Sousa.
Vale então o investimento na pompa, nestes dias que são os dias da maior parada de publicidade à Igreja em Braga. Viva e vigorosa, comercial. No negócio da fé, fora os abusos de posição dominante, a nomenclatura católica tem 2000 anos de experiência em marketing. E não admiram então, os lucros de uma instituição que dá louvor aos pobres, prospera na especulação bolsista que empobrece tanta gente. E nada como o elogio da pobreza para dar um colo redentor à desgraça dos crentes, é que com tamanho Inferno na Terra só lhes resta a estes comprar com abnegação um lugarzinho no Céu.
Domingo (amanhã), faça chuva ou sol, nos antípodas de ramos enxutos ou molhados, ditos da meteorologia divina elevada aos céus pela sabedoria das coincidências populares, correm quelhos e ruas estreitas, casas de pedra ou chalés dêmigrãn, mais de quantos compassos de cruzes ao alto floridas de fantasia, fitas rosa e brancas como as amêndoas de açúcar, e perfume patchouli - daquele que dá dor de cabeça e espalha herpes labial pela ruralidade, mais que os beijos repenicados da tia-avó.
Mas não vou falar de saúde pública, porque interessa mais abrir a camisa e os colarinhos ao enfartamento: vitela assada, anho ou cabrito ou lá o que seja, que sabe tudo a carne queimada e batatas. Vinho. Entram eles [os do compasso, fora d’oras - em casa como neste texto- , que no ano passado vieram mais tarde, ou mais cedo, conforme], de capa rosa-bordeaux-grená, a cor que houver no armário da confraria. Segue-se o ritual, Aleluia Aleluia Cristo Ressuscitou - já vai em milhares de vezes, e sem bolas de cristal. Beijinhos, bênções, cumprimentos e a ajudazinha para o S. Pedro, Santa Rita, Santa Comba Dão (e tiram!) ou São Sicrano e São Fulano. Entram notas no saco, envelopes, para mais santos e para foguetes - muito precisam os santos de dinheiro. Pum, pum: estoira-se graveto, mas cada um faz o que quer do seu. É a alegria em dias de míngua e subprime.
Em Braga, os pomares e os muros de pedra, daqueles cimentados de terra e musgo, são substituídos pelo casario entrecortado entre betão tijolo e estuque. Pelo meio: andaimes, trânsito, o Bananeiro e o alfaiate de arcebispos e padres em potência. E Espanhóis, ui!, mais que as madres que los parió! Me cago en Diós, oder tío, que gran… - Enfim, español técnico! Não o técnico "espanhol", de Guimarães, "espanhol" Cajuda.
Os espanhóis verdadeiros não vêm ver futebol, vêm ver o silêncio e os farricocos. O Tesouro da Sé ou parte dele, em trajes ou arte sacra a correr as artérias de Braga como o prelado da boa ventura, currais de gente casta e em castidade, o fisiologismo clerical nas catacumbas dos outros poderes, que manobram a cidade e o país, nas actos e nas obras, desde o antes de D. Diogo de Sousa.
Vale então o investimento na pompa, nestes dias que são os dias da maior parada de publicidade à Igreja em Braga. Viva e vigorosa, comercial. No negócio da fé, fora os abusos de posição dominante, a nomenclatura católica tem 2000 anos de experiência em marketing. E não admiram então, os lucros de uma instituição que dá louvor aos pobres, prospera na especulação bolsista que empobrece tanta gente. E nada como o elogio da pobreza para dar um colo redentor à desgraça dos crentes, é que com tamanho Inferno na Terra só lhes resta a estes comprar com abnegação um lugarzinho no Céu.
Blogues: O «Irmão Lúcia»
Consciente de que gente cinzenta não pode mudar o mundo, Pedro Vieira acrescenta o humor mais genuíno e certeiro ao trincolejar salivante dos grandes temas da actualidade. «Irmão Lúcia» é um espaço único no panorama nacional. As palavras, escritas com leve simplicidade, as ideias, respingadas com invariável originalidade, e os rabiscos, recheados de propositada acidez, transpiram um talento absolutamente excepcional.
Não há dia que o não leia. Não há leitura que não me faça sorrir. Incisivo, cáustico e brilhante, este Irmão Lúcia é um blogue de leitura absolutamente obrigatória, não recomendado a pessoas sensíveis.
Não há dia que o não leia. Não há leitura que não me faça sorrir. Incisivo, cáustico e brilhante, este Irmão Lúcia é um blogue de leitura absolutamente obrigatória, não recomendado a pessoas sensíveis.
A liberdade é difícil
«A liberdade não é um facto natural. Não decorre da natureza das coisas e dos homens. Pelo contrário.
Para que subsista é preciso reunir uma série de condições cumulativas: a percepção aguda da sua necessidade; e a criação de mecanismos que a resguardem. A imprensa livre é um garante principal – sem ela não há liberdade que resista. Mas a imprensa livre também não nasce de geração espontânea: tem de ser feita por jornalistas que prezem a liberdade.
Braga deveria ser uma das principais cidades do País. Muitas vezes, não parece. Sobretudo quando quem nela manda insiste em a diminuir. Mesquita Machado, há dias, numa Conferência de Imprensa acusou os jornalistas de estarem ligados por telemóvel com a Oposição. Acto contínuo, ordenou-lhes que desligassem os seus aparelhos e os colocassem em cima da mesa durante a sua intervenção. Dizem as crónicas que todos obedeceram.»
Carlos Abreu Amorim, no Correio da Manhã
Para que subsista é preciso reunir uma série de condições cumulativas: a percepção aguda da sua necessidade; e a criação de mecanismos que a resguardem. A imprensa livre é um garante principal – sem ela não há liberdade que resista. Mas a imprensa livre também não nasce de geração espontânea: tem de ser feita por jornalistas que prezem a liberdade.
Braga deveria ser uma das principais cidades do País. Muitas vezes, não parece. Sobretudo quando quem nela manda insiste em a diminuir. Mesquita Machado, há dias, numa Conferência de Imprensa acusou os jornalistas de estarem ligados por telemóvel com a Oposição. Acto contínuo, ordenou-lhes que desligassem os seus aparelhos e os colocassem em cima da mesa durante a sua intervenção. Dizem as crónicas que todos obedeceram.»
Carlos Abreu Amorim, no Correio da Manhã
Revista de Blogues
No BragaBlog festeja-se a criação do BragaCard, uma ideia avançada há uns meses pelo autor do blogue.
A Culpa é Sempre dos Jornalistas traz-nos o resumo da comunicação sobre "Os Novos Caminhos da Participação Cívica a partir da Blogosfera". Este é um trabalho que parte do caso do Avenida Central para chegar a conclusões interessantes.
No Fontes do Ídolo aproveitou-se a Semana Santa para a entrega dos "Farricocos de Ouro". E não se esqueceram do Avenida Central.
O Georden foi nomeado para o Logo Design Love Awards.
No Ócio sugere-se um tanque para conversas...
A Culpa é Sempre dos Jornalistas traz-nos o resumo da comunicação sobre "Os Novos Caminhos da Participação Cívica a partir da Blogosfera". Este é um trabalho que parte do caso do Avenida Central para chegar a conclusões interessantes.
No Fontes do Ídolo aproveitou-se a Semana Santa para a entrega dos "Farricocos de Ouro". E não se esqueceram do Avenida Central.
O Georden foi nomeado para o Logo Design Love Awards.
No Ócio sugere-se um tanque para conversas...
Guimarães: Concurso de Ideias para o Toural
A abertura de um concurso de ideias é a solução proposta pela Sociedade Martins Sarmento para se encontrar «a melhor solução para o Toural.» A ideia é avisada e está cheia de virtudes, sobretudo quando já se sabe que a autarquia vimaranense não vai correr no contra-relógio eleitoral.
Portagens: Minhotos pagam mais 120 Euros/Ano que Lisboetas
Os minhotos que diariamente se deslocam pela A11 entre Braga e Guimarães para trabalhar pagam mais 12o euros/ano em portagens do que os residentes da área de Lisboa.
As contas são fáceis de fazer: Braga e Guimarães estão à distância de 13,8 quilómetros através da A11, uma autoestrada concessionada à AENOR. Este troço tem um preço de 1,35 €. Já na CREL, por exemplo, o troço de 14 quilómetros entre Pontinha e Zambujal custa 1,15 €.
Em cada viagem de idêntica distância, os habitantes das duas maiores cidades do Minho desembolsam mais 0,20 € por cada 14 quilómetros de viagem. Assim, se um minhoto trabalhar 300 dias por ano na cidade vizinha, terá que pagar às Concessionárias e ao Estado Português mais 120 euros do que um lisboeta em idêntica situação.
Leituras Complementares: Lisboa é Portugal: O Resto é Portagem! // Protestos saem da linha para as estradas //Aquém e além das portagens da A11 //Os transportes no Norte: Guimarães e Braga // De Braga ao Litoral mas com Portagem // Aumento brutal apenas 80 dias depois da inauguração // Acessibilidades ao concelho de Barcelos // 1 pais, 2 preçários // Portajar quem não merece // A7 tipo G7 e para Jet7
As contas são fáceis de fazer: Braga e Guimarães estão à distância de 13,8 quilómetros através da A11, uma autoestrada concessionada à AENOR. Este troço tem um preço de 1,35 €. Já na CREL, por exemplo, o troço de 14 quilómetros entre Pontinha e Zambujal custa 1,15 €.
Em cada viagem de idêntica distância, os habitantes das duas maiores cidades do Minho desembolsam mais 0,20 € por cada 14 quilómetros de viagem. Assim, se um minhoto trabalhar 300 dias por ano na cidade vizinha, terá que pagar às Concessionárias e ao Estado Português mais 120 euros do que um lisboeta em idêntica situação.
Leituras Complementares: Lisboa é Portugal: O Resto é Portagem! // Protestos saem da linha para as estradas //Aquém e além das portagens da A11 //Os transportes no Norte: Guimarães e Braga // De Braga ao Litoral mas com Portagem // Aumento brutal apenas 80 dias depois da inauguração // Acessibilidades ao concelho de Barcelos // 1 pais, 2 preçários // Portajar quem não merece // A7 tipo G7 e para Jet7
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Centralismo,
Guimarães,
Lisboa,
Minho,
Norte,
Transportes no Minho
A democracia do gosto
Texto de Pedro Romano [colocado por mim devido a dificuldades técnicas]
O Partido Socialista quer proibir os piercings na língua. À primeira vista, esta proposta parece ser desajustada, altamente castradora das liberdades individuais, paternalista até ao vómito e insuportavelmente ditatorial. Mas isto é só à primeira vista. Um olhar mais atento revela que estamos perante uma verdadeira questão de saúde pública. Há externalidades envolvidas e nunca se sabe onde os meninos vão acabar por meter a língua.O Pedro Morgado tem razão quando fala de estatização do gosto. Mas penso que não está a olhar para o quadro todo. Esta medida é apenas a face mais visível do paternalismo que ainda dá cartas na política nacional, e do qual este Governo tem sido um dos mais entusiastas arautos. A tendência tem raízes salazaristas mas para a desmontar não é preciso recorrer à história ou à antropologia: ela bebe de uma crença bastante arreigada que quase todos alimentam no seu íntimo – lá no fundo, todos sabemos o que é melhor para os outros.
Isto não seria um problema se o devaneio cruzasse a mente de um Silva qualquer. A ideia só ganha contornos mais gravosos quando vem da consciência superior de um deputado. É um dos paradoxos da democracia. Porque um iluminado se lembrou de que os piercings ficam mal, vamos todos ter de os tirar da língua. Afinal, não é só o ministro Santos Silva que anseia por controlar as línguas alheias.
Esta questão põe em evidência um dos problemas dos sistemas democráticos. A democracia foi sempre uma ideia atractiva porque invertia a lógica que durante séculos vigorou na Europa (e, de forma mais ou menos semelhante, um pouco por todo o planeta), com o líder supremo a mandar e o povo oprimido a ser mandado. Mas a democracia não controlada é um sistema apenas um pouco melhor do que esse: a maioria manda e a minoria é mandada. O princípio é o mesmo da ditadura; só muda o alcance e a subtileza do exercício da força.
São necessários mais gatilhos de segurança contra esta tutela estatal da vontade alheia. Mais limites ao poder que garantam que o Estado legisle apenas sobre o que é do domínio público e que deixe para a vida privada dos cidadãos aquilo que diz respeito à vida privada dos cidadãos. No fundo, um sistema que deixe de pressupor que quem está no poder ganha, como que por direito divino, competências sobre as preferências alheias. Porque é no mínimo irónico que um homem tenha direito a escolher o Governo que dirige o país e não possa ter uma palavra a dizer no destino que dá à sua língua.
Liberdade de Expressão
Alberto João Jardim chamou «bastardos» e «filhos da puta» aos jornalistas, declarações pelas quais não será julgado porque goza de imunidade. Na sequência das alarvidades proferidas, Daniel Oliveira escreve um texto no Expresso em que se refere a João Jardim como «um palhaço». Foi condenado pelo Tribunal do Funchal.
A democracia não se cumpre enquanto uns forem «filhos de deus» e outros «filhos da puta».
A democracia não se cumpre enquanto uns forem «filhos de deus» e outros «filhos da puta».
Pelo Comboio do Minho
Na semana em que o Primeiro Ministro foi ao Algarve dizer que vai continuar a isentar de portagens a Via do Infante, tornou-se ainda mais evidente que a reestruturação da rede ferroviária do Minho, a região que paga as portagens mais caras do país, continua refem da falta de vontade dos decisores políticos.
Construir uma ligação entre Braga e Guimarães, melhorar a linha do Minho (de Nine a Valença) e reduzir os tempos de viagem entre Braga e Porto são projectos estruturantes e absolutamente necessários para o desenvolvimento estratégico de uma região habituada a ficar à margem das benesses do poder central.
Num tempo de raros entendimentos, este são projectos altamente consensuais: António Magalhães tem sido o mais perseverante apoiante da ideia, mas Mesquita Machado e Ricardo Rio também se pronunciaram em sua defesa. O PCP, o PEV e o Bloco de Esquerda vão mais longe, apresentando mesmo propostas concretas para a sua concretização. As premissas necessárias para a rápida concretização destes projectos mantêm-se intactas, mas os avanços têm sido praticamente nulos.
Tal como Samuel Silva sugere, os actores políticos regionais deviam começar por exigir que as linhas ferroviárias do Minho passassem a «ser geridas por uma empresa própria», financiada nos mesmos moldes em que o erário público abona os metros de Lisboa e do Porto.
O anunciado reforço do «número de comboios na linha de Braga», em resposta ao protesto de um movimento de cidadãos, deixa bem claro quepodemos devemos fazer melhor do que continuar a aguardar que os decisores de Lisboa tenham a clarividência necessária para interpretar a dimensão dos nossos problemas e anseios. Aos políticos regionais e locais cabe a nobre tarefa de serem porta-vozes de uma região que, sucessivamente encomendada, continua muito longe de perecer.
Construir uma ligação entre Braga e Guimarães, melhorar a linha do Minho (de Nine a Valença) e reduzir os tempos de viagem entre Braga e Porto são projectos estruturantes e absolutamente necessários para o desenvolvimento estratégico de uma região habituada a ficar à margem das benesses do poder central.
Num tempo de raros entendimentos, este são projectos altamente consensuais: António Magalhães tem sido o mais perseverante apoiante da ideia, mas Mesquita Machado e Ricardo Rio também se pronunciaram em sua defesa. O PCP, o PEV e o Bloco de Esquerda vão mais longe, apresentando mesmo propostas concretas para a sua concretização. As premissas necessárias para a rápida concretização destes projectos mantêm-se intactas, mas os avanços têm sido praticamente nulos.
Tal como Samuel Silva sugere, os actores políticos regionais deviam começar por exigir que as linhas ferroviárias do Minho passassem a «ser geridas por uma empresa própria», financiada nos mesmos moldes em que o erário público abona os metros de Lisboa e do Porto.
O anunciado reforço do «número de comboios na linha de Braga», em resposta ao protesto de um movimento de cidadãos, deixa bem claro que
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Minho,
Norte,
Transportes no Minho
7 Anos Depois, as Árvores...
«Faz em Janeiro 7 anos que, como cidadão cumpridor, me dirigi à Junta de Freguesia para me recensear. Cidadão interventivo, alertei os autarcas locais para a inexistência de árvores no espaço urbano em que resido. Foi-me garantido que, nessa mesma primavera, as árvores seriam plantadas... Passaram 7 anos, repito, 7 anos. Árvores nem vê-las.»
Este texto foi escrito em Novembro de 2007. Hoje, a notícia é feliz: as árvores chegaram.
Este texto foi escrito em Novembro de 2007. Hoje, a notícia é feliz: as árvores chegaram.
Em Busca do Estudo Perdido
Na semana em que a Petição Pelo Regresso do Eléctrico foi tema de comunicação nas III Jornadas Internacionais de Jornalismo da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, volta a ser necessário perguntar:
O que é que aconteceu ao anunciado Estudo de Mobilidade?
O que é que aconteceu ao anunciado Estudo de Mobilidade?
Pedimos Desculpa!
Pedimos desculpa ao Senhor Duarte Gomes pela forma como a equipa de futebol profissional do Sporting Clube de Braga importunou o seu trabalho.
Pedimos desculpa porque marcámos três golos impossíveis de anular.
Pedimos desculpa porque não sofremos quando assinalou fora mesmo sem a bola sair.
Pedimos desculpa por termos sofrido um falta quando o nosso jogador se isolava em direcção à baliza, dando-lhe a maçada de mostrar um cartãovermelho amarelo ao jogador da equipa adversária.
Pedimos desculpa porque assobiámos quando um jogador da Naval 1º de Maio marcou uma falta inexistente uns 20 metros à frente do local onde a suposta falta fora cometida.
Enfim, pedimos desculpa porque, apesar de ter repetido o brilharete do Braga-Boavista da época passada, saiu de Braga sem cumprir os seus objectivos.
Nós, que gostamos de futebol, pedimos desculpa.
Pedimos desculpa porque marcámos três golos impossíveis de anular.
Pedimos desculpa porque não sofremos quando assinalou fora mesmo sem a bola sair.
Pedimos desculpa por termos sofrido um falta quando o nosso jogador se isolava em direcção à baliza, dando-lhe a maçada de mostrar um cartão
Pedimos desculpa porque assobiámos quando um jogador da Naval 1º de Maio marcou uma falta inexistente uns 20 metros à frente do local onde a suposta falta fora cometida.
Enfim, pedimos desculpa porque, apesar de ter repetido o brilharete do Braga-Boavista da época passada, saiu de Braga sem cumprir os seus objectivos.
Nós, que gostamos de futebol, pedimos desculpa.
Um filme inquietante, para ver sem preconceitos
"Este País Não É Para Velhos" é um ‘trhiller’ altamente hipnotizante construído em torno de um duelo entre o herói Llewelyn Moss (Josh Brolin), acidentalmente embrulhado num cenário de aterradora violência, e um psicopata absolutamente implacável que decide a vida dos seus adversários atirando uma moeda ao ar. Javier Bardem, com um desempenho absolutamente soberbo, é uma das personagens mais enigmáticas e inquietantes da história do cinema. A brutalidade e a desumanidade que grassam no mundo da droga conseguem desiludir o velho Xerife Bell (Tommy Lee Jones), demonstrando que aquele país já não é para velhos. Nomeado para 8 Óscares, o trabalho mais recente dos irmãos Coen acabou por vencer nas categorias de melhor filme, melhor realizador, melhor actor secundário e melhor argumento adaptado.
[Avenida do Mal] O Elogio ao Mário ou do Sindicalismo de Mercado
O sindicalismo pop faz-se notar como nunca neste país de sem tradição sindical nenhuma. Quanto mais no norte português, puritano e reaccionário, de sacristia, onde o sindicato é fabricação soviética medonha e pouco mais que isso. Se fecharmos os olhos para imaginar, qual crianças perante o lobo mau, talvez nos venha à cabeça uma mesa redonda com bandeiras por trás, vermelhas e uns retratos de uns quantos filósofos e líderes do socialismo. Na mesma mesa: gente de bigode e camisa, mofo.
Talvez a imagem esteja errada, na realidade. Numa economia de mercado, o sindicalismo tem em Portugal a sua componente de produto vendível, e mais que oportunista e teimoso (para não dizer sem quaisquer objectivos concretos) é de carreira. Todo o que se vê na entremeada é puro marketing e mainstream. Até se compreende, é da força do fogo do outro lado da barricada, em partidos do poder e no poder. Nunca se viu, aliás, política e propaganda em Portugal feita de tanta parra, em confetis e fundos azuis [no da seta única de Menezes e nas Novas Fronteiras de Sócrates- lembram-se?] do que nesta altura e nesta democracia.
No veneno dos dias, apercebemos-nos nós, os portugueses que exigem sossego perante a fantochada, que é um logro à inteligência das pessoas todos estes palcos montados. Dá a sensação da tal Revista à Portuguesa, exportada do Parque Mayer a tudo quanto é praça pública e teatro político. Nunca houve governo com um marcado cariz ideológico, e para falar verdade, também nunca os sindicatos estiveram na raiz da força das manifestações espontâneas, unas num real descontentamento e com o propósito de mudança. Tiveram sempre uma agenda partidária e não admira portanto a barracada que são as greves gerais convocadas por centrais sindicais. Basicamente, ou se tem (ou tinha) por princípio, a solidariedade com os outros trabalhadores em luta ou então nem vale a pena despender o ordenado de um dia em sucessivas montanhas a parir ratos.
E a prova de que os sindicatos portugueses são um falhanço é que, desde o 25 de Abril, nunca conseguíram estancar a sangria dos direitos dos trabalhadores e do desmantelamento do tal Estado Social. Pelo contrário, no festim de sangue, só se alimentou o espectáculo de marretas políticos, e a ascensão de gente chata e irritante, que só berra ao estímulo, letárgicos na espuma dos dias e, como sempre, incapazes de mobilizar as classes profissionais nas reformas desde cá de baixo. Em suma, só se mexem quando alguém insiste – e às vezes com melhores intenções que estratégias – em mudar-lhes o óleo e os componentes.
Na Broadway portuguesa do sindicalismo, Mário Nogueira é agora a estrela ascendente nos cartazes – Carvalho da Silva está de momento mais de mãos e pés gravados no cimento do passeio da fama, e de olhos a caminho de Belém, ele e mais uns quantos camelos (é da força da metáfora), será? Mas do docente líder da FenProf, não lhe conheço carreira a olhar miúdos da carteira, é antes tão eficaz como um Pastor da IURD. Conseguiu pôr uma carrada de professores a fazer o que tanto contestam na política da Ministra da Educação: enrodilharem-se horas e dias a fio na burocracia dos papéis, plásticos e telefonemas; mas por autocarros e mais de quantas bandeiras e cantigas em comícios à sua figura.
Pois é. Pode ser uma espécie de Carvalho da Silva remisturado, mas Mário Nogueira, com estas e outras, já fez mais que o ex-secretário geral da CGTP: foi elevado a ícone – no discurso irritado de Santos Silva – junto com Cunhal, Mário Soares e Manuel Alegre. E contra mim falo, já me ocupou, nos dedos e nos neurónios, algum do tempo esta tarde. Bravo, camarada Mário!
Talvez a imagem esteja errada, na realidade. Numa economia de mercado, o sindicalismo tem em Portugal a sua componente de produto vendível, e mais que oportunista e teimoso (para não dizer sem quaisquer objectivos concretos) é de carreira. Todo o que se vê na entremeada é puro marketing e mainstream. Até se compreende, é da força do fogo do outro lado da barricada, em partidos do poder e no poder. Nunca se viu, aliás, política e propaganda em Portugal feita de tanta parra, em confetis e fundos azuis [no da seta única de Menezes e nas Novas Fronteiras de Sócrates- lembram-se?] do que nesta altura e nesta democracia.
No veneno dos dias, apercebemos-nos nós, os portugueses que exigem sossego perante a fantochada, que é um logro à inteligência das pessoas todos estes palcos montados. Dá a sensação da tal Revista à Portuguesa, exportada do Parque Mayer a tudo quanto é praça pública e teatro político. Nunca houve governo com um marcado cariz ideológico, e para falar verdade, também nunca os sindicatos estiveram na raiz da força das manifestações espontâneas, unas num real descontentamento e com o propósito de mudança. Tiveram sempre uma agenda partidária e não admira portanto a barracada que são as greves gerais convocadas por centrais sindicais. Basicamente, ou se tem (ou tinha) por princípio, a solidariedade com os outros trabalhadores em luta ou então nem vale a pena despender o ordenado de um dia em sucessivas montanhas a parir ratos.
E a prova de que os sindicatos portugueses são um falhanço é que, desde o 25 de Abril, nunca conseguíram estancar a sangria dos direitos dos trabalhadores e do desmantelamento do tal Estado Social. Pelo contrário, no festim de sangue, só se alimentou o espectáculo de marretas políticos, e a ascensão de gente chata e irritante, que só berra ao estímulo, letárgicos na espuma dos dias e, como sempre, incapazes de mobilizar as classes profissionais nas reformas desde cá de baixo. Em suma, só se mexem quando alguém insiste – e às vezes com melhores intenções que estratégias – em mudar-lhes o óleo e os componentes.
Na Broadway portuguesa do sindicalismo, Mário Nogueira é agora a estrela ascendente nos cartazes – Carvalho da Silva está de momento mais de mãos e pés gravados no cimento do passeio da fama, e de olhos a caminho de Belém, ele e mais uns quantos camelos (é da força da metáfora), será? Mas do docente líder da FenProf, não lhe conheço carreira a olhar miúdos da carteira, é antes tão eficaz como um Pastor da IURD. Conseguiu pôr uma carrada de professores a fazer o que tanto contestam na política da Ministra da Educação: enrodilharem-se horas e dias a fio na burocracia dos papéis, plásticos e telefonemas; mas por autocarros e mais de quantas bandeiras e cantigas em comícios à sua figura.
Pois é. Pode ser uma espécie de Carvalho da Silva remisturado, mas Mário Nogueira, com estas e outras, já fez mais que o ex-secretário geral da CGTP: foi elevado a ícone – no discurso irritado de Santos Silva – junto com Cunhal, Mário Soares e Manuel Alegre. E contra mim falo, já me ocupou, nos dedos e nos neurónios, algum do tempo esta tarde. Bravo, camarada Mário!
Boa Publicidade [4]
O sucesso da publicidade blasfema é proporcional à beatice do burgo. Hoje os carros abrandavam para ver melhor estes anúncios. [imagens via abnoxio]
Da Estatização do Gosto
É com insuspeita estranheza, porque os não aprecio particularmente, que me deparo com a notícia de que o Partido Socialista pretende proibir a colocação de piercings e tatuagens em menores e restringir os locais em que os mesmos podem ser colocados.
Nada pior para a liberdade que esta higienização da estética individual, ancorada em princípios de saúde pública de alcance muito duvidoso. Porque não proibir também os dentes mal lavados e as barbas por fazer?
Nada pior para a liberdade que esta higienização da estética individual, ancorada em princípios de saúde pública de alcance muito duvidoso. Porque não proibir também os dentes mal lavados e as barbas por fazer?
Cérebro, Invasões e Gerês
Numa semana em que os cérebros andam à solta pelo País (e no Minho também!), Manuel Gago, blogger da amiga Galiza, escreve sobre a Semana Santa de Braga. Também pela vizinha Galiza, faz-se notícia da publicação de um artigo na revista Bracara Augusta sobre a invasão daquela região pelas tropas de D. Fernando I e a respectiva retaliação por parte dos espanhóis.
No entretanto, não se esqueçam de votar no Gerês para as 7 Maravilhas Naturais do Mundo. Estas coisas valem o que valem, mas o Gerês merece.
No entretanto, não se esqueçam de votar no Gerês para as 7 Maravilhas Naturais do Mundo. Estas coisas valem o que valem, mas o Gerês merece.
Braga por um Túnel
O processo de construção do prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade tem suscitado legítimas dúvidas e, à medida que o tempo passa, a história tem ganho contornos de novela.
Apresentado como projecto essencial para a requalificação do centro de Braga, o túnel esteve no epicentro da polémica com o anúncio de que uma empresa particular iria comparticipar a obra. Mais recentemente, veio a saber-se que uma construtora faz o túnel por um preço inferior em 5 milhões de euros ao dos outros dois concorrentes e, num momento em que a decisão da escolha do consórcio ainda está por tomar, Mesquita Machado antecipou-se, afirmando, de forma peremptória, que «ou ganha a Britalar ou o concurso é anulado».
Com o calendário a jogar contra os interesses eleitorais da maioria socialista, é bem provável que Mesquita Machado deixe cair um projecto que permitiria «aumentar em 10.000 metros quadrados a área de lazer dos bracarenses» e construir à superfície «um jardim do século XXI». Nada que não possa aguardar por tempos eleitoralmente mais oportunos.
Apresentado como projecto essencial para a requalificação do centro de Braga, o túnel esteve no epicentro da polémica com o anúncio de que uma empresa particular iria comparticipar a obra. Mais recentemente, veio a saber-se que uma construtora faz o túnel por um preço inferior em 5 milhões de euros ao dos outros dois concorrentes e, num momento em que a decisão da escolha do consórcio ainda está por tomar, Mesquita Machado antecipou-se, afirmando, de forma peremptória, que «ou ganha a Britalar ou o concurso é anulado».
Com o calendário a jogar contra os interesses eleitorais da maioria socialista, é bem provável que Mesquita Machado deixe cair um projecto que permitiria «aumentar em 10.000 metros quadrados a área de lazer dos bracarenses» e construir à superfície «um jardim do século XXI». Nada que não possa aguardar por tempos eleitoralmente mais oportunos.
Contradições da manifestação: a história de uma crise - sem revisionismos
1. Foi durante muito tempo consensual que o sistema educativo vigente em Portugal tinha graves lacunas. A falta de avaliação sempre foi um dos maiores problemas porque potenciava o desleixo e incentivava a indigência. O diagnóstico, aliás, não variava muito; ministros da Educação, sindicalistas e professores convergiam na necessidade de mudança.
2. Houve esforçadas tentativas de reforma por parte de vários Governos. As reformas esbarraram sempre na intransigência de sindicalistas, professores acomodados e paladinos dos “direitos adquiridos”. Apesar da urgência de reformas, o nosso sindicalismo caracterizou-se sempre pela absoluta incapacidade de propor (ou sequer aceitar) a mais pequena mudança.
3. A reforma da actual ministra da Educação reuniu as críticas de vários sectores, segundo os quais os professores não teriam sido ouvidos no processo. É natural que assim seja. Os rostos mais visíveis da representação pública dos professores fecharam sempre as portas ao diálogo. Qualquer reforma teria sempre de ser feita sem ouvir a classe porque, sempre que foi ouvida, a classe esteve contra a mudança. Foi claro desde muito cedo que quem quisesse mudar não poderia ouvir e que quem quisesse ouvir acabaria sempre por ouvir a mesma coisa. E, no fim, não se mudava nada.
4. As mudanças impostas pela actual ministra da Educação não parecem ser as mudanças de que o sistema educativo precisava. Os sindicatos afirmam que boas alterações só se fazem depois de ouvidos os professores, mas é por demais óbvio que os professores nunca estiveram interessados em ser ouvidos, a não ser para manter o status quo. É, aliás, curioso reparar que, apesar de já termos visto todos os sindicatos a criticarem o sistema de avaliação, ainda não ouvimos nenhum a propor um sistema de avaliação diferente. Os sindicatos criaram o seu próprio problema. A corda deixou de esticar.
5. A manifestação do sábado passado juntou dezenas de milhares de professores em Lisboa. Os professores estavam unidos. Contestaram a ministra num momento em que podiam ter dado um passo em frente: passar da contestação para a proposta. Uma boa proposta de avaliação seria irrecusável no contexto em que era formulada: com a ministra presa por arames, com Portugal a assistir e com o apoio em peso da classe. Não foram tão longe; ficaram-se pelo barulho.
6. Esta incapacidade de propor alterações - mesmo nas situações em que seriam mais facilmente aceites - revela, mais uma vez, que as propostas dos sindicatos definem-se mais pelo que não querem do que por aquilo que querem. Reconhecendo, como reconhecem, a podridão do actual sistema, o mínimo que se exigia era uma proposta alternativa que contemplasse algum mecanismo de avaliação. Essa pecha revelou que, para os sindicatos, o problema não é esta avaliação. O problema é mesmo a avaliação.
7. É possível afirmar que esta aversão à avaliação não é transversal a toda a classe e que há bons professores dispostos a serem avaliados e que aceitariam de bom grado uma proposta mais razoável do que a da ministra. Mas esses professores não são o rosto visível da manifestação de sábado. A manifestação de sábado teve como protagonistas os mesmos protagonistas dos últimos 20 anos; os mesmos que, durante esse tempo, optaram sempre por ser forças de bloqueio. A manifestação de sábado mostrou que o diálogo continua impossível, porque os protagonistas, os métodos e os objectivos continuam os mesmos. A manifestação de sábado foi a confirmação do que já se sabia: as reformas, quaisquer que sejam, terão de ser feitas contra os professores; ou, pelo menos, contra estes representantes dos professores.
8. Na RTP 1 ouvimos uma senhora em lamentos sinceros por “levar porrada dos alunos”. Curiosamente, é contra a avaliação que está a protestar, e não contra a “porrada”, contra os “alunos”, ou contra a “porrada dos alunos”. Os sindicatos conseguiram capitalizar o descontentamento agregado dos professores e apresentá-lo ao país e ao Governo apenas como efeito da indignação gerada pelo sistema de avaliação proposto pela ministra. É uma vitória para os sindicatos, que revela outra coisa importante: os poderes instalados estão mais preocupados em defender os maus professores da avaliação do que em encontrar solução para os problemas reais dos bons professores. Nunca houve 100 mil manifestantes a exigir o combate à violência dos alunos contra os professores. Estes sindicatos não são só um entrave à avaliação. São um obstáculo a um bom sistema de ensino.
9. Comentários à minha entrada anterior mostram que a questão se polarizou de tal forma que o diálogo se tornou, de facto, impossível. Apesar de ter escrevido que o sistema de avaliação proposto não me parecia o mais indicado, disse-se que apoio a ministra e até me conotaram com o PS. O debate de ideias tornou-se uma luta política em que todos têm de estar comprometidos. Quem não está com os professores tem de estar com a ministra. Desnecessário será dizer que isto inviabiliza que se encontre um meio-termo que satisfaça as duas partes. O diálogo morreu.
10. Acusaram-me ainda de não dar os professores o direito de se manifestarem. Erro crasso. Dou todo o direito e, em certas circunstâncias, até apoio. Acho que é o caminho a seguir. Aliás, sugiro que vão mais longe. Não se fiquem pelo protesto. Proponham. Já disseram o que não querem. Agora, o mais difícil: dizerem o que querem. Sim, na avaliação também. Para quem anda há tanto tempo a exigir diálogo, não ficava nada mal.
2. Houve esforçadas tentativas de reforma por parte de vários Governos. As reformas esbarraram sempre na intransigência de sindicalistas, professores acomodados e paladinos dos “direitos adquiridos”. Apesar da urgência de reformas, o nosso sindicalismo caracterizou-se sempre pela absoluta incapacidade de propor (ou sequer aceitar) a mais pequena mudança.
3. A reforma da actual ministra da Educação reuniu as críticas de vários sectores, segundo os quais os professores não teriam sido ouvidos no processo. É natural que assim seja. Os rostos mais visíveis da representação pública dos professores fecharam sempre as portas ao diálogo. Qualquer reforma teria sempre de ser feita sem ouvir a classe porque, sempre que foi ouvida, a classe esteve contra a mudança. Foi claro desde muito cedo que quem quisesse mudar não poderia ouvir e que quem quisesse ouvir acabaria sempre por ouvir a mesma coisa. E, no fim, não se mudava nada.
4. As mudanças impostas pela actual ministra da Educação não parecem ser as mudanças de que o sistema educativo precisava. Os sindicatos afirmam que boas alterações só se fazem depois de ouvidos os professores, mas é por demais óbvio que os professores nunca estiveram interessados em ser ouvidos, a não ser para manter o status quo. É, aliás, curioso reparar que, apesar de já termos visto todos os sindicatos a criticarem o sistema de avaliação, ainda não ouvimos nenhum a propor um sistema de avaliação diferente. Os sindicatos criaram o seu próprio problema. A corda deixou de esticar.
5. A manifestação do sábado passado juntou dezenas de milhares de professores em Lisboa. Os professores estavam unidos. Contestaram a ministra num momento em que podiam ter dado um passo em frente: passar da contestação para a proposta. Uma boa proposta de avaliação seria irrecusável no contexto em que era formulada: com a ministra presa por arames, com Portugal a assistir e com o apoio em peso da classe. Não foram tão longe; ficaram-se pelo barulho.
6. Esta incapacidade de propor alterações - mesmo nas situações em que seriam mais facilmente aceites - revela, mais uma vez, que as propostas dos sindicatos definem-se mais pelo que não querem do que por aquilo que querem. Reconhecendo, como reconhecem, a podridão do actual sistema, o mínimo que se exigia era uma proposta alternativa que contemplasse algum mecanismo de avaliação. Essa pecha revelou que, para os sindicatos, o problema não é esta avaliação. O problema é mesmo a avaliação.
7. É possível afirmar que esta aversão à avaliação não é transversal a toda a classe e que há bons professores dispostos a serem avaliados e que aceitariam de bom grado uma proposta mais razoável do que a da ministra. Mas esses professores não são o rosto visível da manifestação de sábado. A manifestação de sábado teve como protagonistas os mesmos protagonistas dos últimos 20 anos; os mesmos que, durante esse tempo, optaram sempre por ser forças de bloqueio. A manifestação de sábado mostrou que o diálogo continua impossível, porque os protagonistas, os métodos e os objectivos continuam os mesmos. A manifestação de sábado foi a confirmação do que já se sabia: as reformas, quaisquer que sejam, terão de ser feitas contra os professores; ou, pelo menos, contra estes representantes dos professores.
8. Na RTP 1 ouvimos uma senhora em lamentos sinceros por “levar porrada dos alunos”. Curiosamente, é contra a avaliação que está a protestar, e não contra a “porrada”, contra os “alunos”, ou contra a “porrada dos alunos”. Os sindicatos conseguiram capitalizar o descontentamento agregado dos professores e apresentá-lo ao país e ao Governo apenas como efeito da indignação gerada pelo sistema de avaliação proposto pela ministra. É uma vitória para os sindicatos, que revela outra coisa importante: os poderes instalados estão mais preocupados em defender os maus professores da avaliação do que em encontrar solução para os problemas reais dos bons professores. Nunca houve 100 mil manifestantes a exigir o combate à violência dos alunos contra os professores. Estes sindicatos não são só um entrave à avaliação. São um obstáculo a um bom sistema de ensino.
9. Comentários à minha entrada anterior mostram que a questão se polarizou de tal forma que o diálogo se tornou, de facto, impossível. Apesar de ter escrevido que o sistema de avaliação proposto não me parecia o mais indicado, disse-se que apoio a ministra e até me conotaram com o PS. O debate de ideias tornou-se uma luta política em que todos têm de estar comprometidos. Quem não está com os professores tem de estar com a ministra. Desnecessário será dizer que isto inviabiliza que se encontre um meio-termo que satisfaça as duas partes. O diálogo morreu.
10. Acusaram-me ainda de não dar os professores o direito de se manifestarem. Erro crasso. Dou todo o direito e, em certas circunstâncias, até apoio. Acho que é o caminho a seguir. Aliás, sugiro que vão mais longe. Não se fiquem pelo protesto. Proponham. Já disseram o que não querem. Agora, o mais difícil: dizerem o que querem. Sim, na avaliação também. Para quem anda há tanto tempo a exigir diálogo, não ficava nada mal.
España: O Estado Laico Venceu
Apesar dos apelos directos da Igreja Católica ao voto no PP, a Espanha votou maioritariamente no PSOE de José Luís Zapatero, segundo as primeiras projecções divulgadas há instantes. Os espanhóis derrotaram nas urnas a tentativa de transformar a Espanha um Estado confessional.
Escola Pública em Crise (II)
Hoje é notícia que o Agrupamento de Escolas de Lamaçães tem nota máxima na integração dos alunos com deficiência. É preciso que se saiba que quando perecer a escola pública, não haverá escola que aceite alunos deficientes, tamanha é a discriminação que os colégios privados, católicos incluídos, põem em prática.
[Avenida do Mal] Espectros de Sexualidade
No inicio é uma célula, zigoto, resultado da união de gâmetas (espermatozóide e óvulo) e no meio do emaranhado de 46 cromossomas, surgem dois (fala-se assim porque é por demais complicado para leigos) o X e o Y, intitulados de cromossomas sexuais, que determinam o sexo do embrião, sendo que, e mais uma vez fazendo simples, dois XX determinam-no feminino e um X e um Y determinam-no masculino. Na verdade estes apenas definem as gónadas de cada género: o ovário ou testículo; estruturas estas que largam hormonas que vão moldando, ao longo do desenvolvimento embrionário, o rascunho dos órgãos genitais, ambíguos pela 7ª semana de gestação, vincando-lhes gradualmente as formas, na força com que interagem com os receptores de membrana das células. No fim: menino ou menina, por dentro e por fora.
Simples, se assim o fosse, seria tido como de Natureza a catalogação rigorosa das coisas. Mas não é. Por processos da biologia, erros e mutações, motores de Evolução, difíceis de ver a olho armado que fará a olho nu, outros que é preciso pensar neles em mais de quantos estudos e experimentações, a Natureza faz por fazer complicados e complexos o bailado e os passos na construção da vida e das suas morfologias. Sem a tal sincronia divina, como tábua de mandamentos, dificulta, como torna mais desafiante, a compreensão ao Homem.
Não admira então o espanto, quando me dediquei há anos, em pequenos trabalhos e leituras, sobre pseudohermafroditismo e intersexo. Sobretudo pseudohermafroditas masculinos/meninas XY: mulheres em corpo, esbeltas, altas e de fraca pilosidade, muitas delas modelos serão, para a alta-costura, mas que em vez de ovários têm testículos (metidos dentro da barriga, no abdómen em lugar dos ovários) a produzir quantidades absurdas de testosterona à qual o corpo não responde. Isto para não falar de outras manifestações no intermédio, ou porque os diferentes indivíduos não têm corpos que (não) respondam de tão vincada forma, ou porque o processo é outro. Trocam as voltas à pessoa e à família, e baralha no contra-senso (do senso comum, refiro) as sociedades que pensam a duas cores.
Não há azul nem rosa. Há todo um espectro contínuo de manifestações dos caracteres sexuais, primários e secundários, e dos comportamentos, e estes não se encaixam nos parâmetros forçados pela lei ou pela moral, mais dos Homens que de Deus. E de verdade, haverá mais que 2 sexos. E não lanço na fogueira da confusão o refogado hormonal, e suas condicionantes de fervura em banho-maria, que sexualizam o cérebro de acordo - na grande parte das vezes - ou não com a sexualização do corpo.
Enfim, quem conhecer o quão dependente, de equilíbrios hormonais e outros químicos, estruturas proteicas e moleculares tão aparentemente insignificantes, está a definição de uma identidade sexual (no corpo e nos afectos), fica com a noção que o que faz diferente de homem para mulher é quase tanto como de um homem peludo para outro mais depenado. E nisto, mais razão se dá ao Governo de Zapatero/PSOE quando não se cansa de embandeirar a Lei de Identidade de Género e as outras contra a escala de cinzas da Igreja e o monocolorismo do PP espanhol. É que tem em conta as redundâncias da Natureza, e aqui, é mais pró-natura e humanista.
Foto de João Vasco
Simples, se assim o fosse, seria tido como de Natureza a catalogação rigorosa das coisas. Mas não é. Por processos da biologia, erros e mutações, motores de Evolução, difíceis de ver a olho armado que fará a olho nu, outros que é preciso pensar neles em mais de quantos estudos e experimentações, a Natureza faz por fazer complicados e complexos o bailado e os passos na construção da vida e das suas morfologias. Sem a tal sincronia divina, como tábua de mandamentos, dificulta, como torna mais desafiante, a compreensão ao Homem.
Não admira então o espanto, quando me dediquei há anos, em pequenos trabalhos e leituras, sobre pseudohermafroditismo e intersexo. Sobretudo pseudohermafroditas masculinos/meninas XY: mulheres em corpo, esbeltas, altas e de fraca pilosidade, muitas delas modelos serão, para a alta-costura, mas que em vez de ovários têm testículos (metidos dentro da barriga, no abdómen em lugar dos ovários) a produzir quantidades absurdas de testosterona à qual o corpo não responde. Isto para não falar de outras manifestações no intermédio, ou porque os diferentes indivíduos não têm corpos que (não) respondam de tão vincada forma, ou porque o processo é outro. Trocam as voltas à pessoa e à família, e baralha no contra-senso (do senso comum, refiro) as sociedades que pensam a duas cores.
Não há azul nem rosa. Há todo um espectro contínuo de manifestações dos caracteres sexuais, primários e secundários, e dos comportamentos, e estes não se encaixam nos parâmetros forçados pela lei ou pela moral, mais dos Homens que de Deus. E de verdade, haverá mais que 2 sexos. E não lanço na fogueira da confusão o refogado hormonal, e suas condicionantes de fervura em banho-maria, que sexualizam o cérebro de acordo - na grande parte das vezes - ou não com a sexualização do corpo.
Enfim, quem conhecer o quão dependente, de equilíbrios hormonais e outros químicos, estruturas proteicas e moleculares tão aparentemente insignificantes, está a definição de uma identidade sexual (no corpo e nos afectos), fica com a noção que o que faz diferente de homem para mulher é quase tanto como de um homem peludo para outro mais depenado. E nisto, mais razão se dá ao Governo de Zapatero/PSOE quando não se cansa de embandeirar a Lei de Identidade de Género e as outras contra a escala de cinzas da Igreja e o monocolorismo do PP espanhol. É que tem em conta as redundâncias da Natureza, e aqui, é mais pró-natura e humanista.
Foto de João Vasco
Escola Pública em Crise
O governo de José Sócrátes, com a complacência da Presidência da República, está a incendiar a escola pública. A intranquilidade e a conflitualidade tomaram conta de um espaço que se deseja pacífico e promotor de responsabilidade e cidadania. Enquanto isso, os colégios privados continuam a cumprir com tranquilidade a sua missão, preparando os seus alunos para o futuro.
Por via das trapalhadas da actual Ministra da Educação, a escola pública continua, lamentavelmente, a transformar-se num perigoso instrumento de desigualdade e exclusão.
Os 100.000 professores que estiveram em Lisboa e todos os outros que, mesmo não indo, contestam a política educativa do Governo não podem estar enganados. E sem os docentes é completamente impossível salvar a escola pública.
Notas Avulsas:
1. Como pode manter-se em funções uma Ministra que não tem o respeito dos principais agentes do ensino em Portugal?
2. Como pode manter-se em funções um Secretário de Estado que considera um colega de Governo como o responsável pelas «piores resultados escolares da Europa»?
3. Como pode continuar a impedir-se a livre manifestação através de expedientes que lembram outros tempos?
Cartoon: «Polícias na Escola», de Pedro Vieira
A ler: Estar errado. // O Zénite e o Nadir // Holligans à Solta // Novas Vítimas do LSD // O fim da maioria absoluta // Ministros em Directo // A manifestação dos professores
Por via das trapalhadas da actual Ministra da Educação, a escola pública continua, lamentavelmente, a transformar-se num perigoso instrumento de desigualdade e exclusão.
Os 100.000 professores que estiveram em Lisboa e todos os outros que, mesmo não indo, contestam a política educativa do Governo não podem estar enganados. E sem os docentes é completamente impossível salvar a escola pública.
Notas Avulsas:
1. Como pode manter-se em funções uma Ministra que não tem o respeito dos principais agentes do ensino em Portugal?
2. Como pode manter-se em funções um Secretário de Estado que considera um colega de Governo como o responsável pelas «piores resultados escolares da Europa»?
3. Como pode continuar a impedir-se a livre manifestação através de expedientes que lembram outros tempos?
Cartoon: «Polícias na Escola», de Pedro Vieira
A ler: Estar errado. // O Zénite e o Nadir // Holligans à Solta // Novas Vítimas do LSD // O fim da maioria absoluta // Ministros em Directo // A manifestação dos professores
Evidências Educativas
1. Os alunos cábulas nunca foram os melhores na promoção da qualidade de ensino.
2. Assistimos hoje a uma das mais qualificadas manifestações de sempre. Espera-se que a mensagem seja entendida pelos diferentes actores políticos.
2. Assistimos hoje a uma das mais qualificadas manifestações de sempre. Espera-se que a mensagem seja entendida pelos diferentes actores políticos.
Cancro é a Principal Causa de Morte?
Foi com enorme surpresa (e algum cepticismo) que li a manchete do jornal O Balcão desta semana. Intitulado «Cancro Gástrico mata mais em Braga», o artigo cita dados que «indicam que o cancro foi a principal causa de morte» no período entre 1992 e 2004 no Distrito de Braga.
É a primeira vez que vejo as doenças cardiovasculares fora do topo da lista das causas de morte em Portugal, o que contraria todos os valores divulgados até ao momento pelo organismo oficiais. Aguardemos a divulgação do estudo para tecer mais comentários.
É a primeira vez que vejo as doenças cardiovasculares fora do topo da lista das causas de morte em Portugal, o que contraria todos os valores divulgados até ao momento pelo organismo oficiais. Aguardemos a divulgação do estudo para tecer mais comentários.
Escola D. Maria II Contra Sistema de Avaliação dos Docentes
É com gosto que vejo a escola que tive o prazer de frequentar na vanguarda da defesa do sistema de ensino público português. [via Idolátrica]
Sete Fontes em Perigo
Num tempo em que se torna cada vez mais óbvio que Braga continua a desprezar a indústria do património e do turismo, surge o alerta de que o complexo das Sete Fontes, património de valor incalculável votado ao abandono voluntário por parte da autarquia, poderá estar em perigo.
É com desinteressado e corajoso espírito cívico que a ASPA exige «que se impeça qualquer construção sobre a área de protecção definida nos termos da lei.» E outra coisa não se pode esperar daqueles que detêm o mandato de zelar pela defesa do interesse público e comum.
É com desinteressado e corajoso espírito cívico que a ASPA exige «que se impeça qualquer construção sobre a área de protecção definida nos termos da lei.» E outra coisa não se pode esperar daqueles que detêm o mandato de zelar pela defesa do interesse público e comum.
ASPA Volta a Denunciar Abandono das Sete Fontes
«Mais de treze anos passados sobre os primeiros atentados ao património das 7 FONTES - Sistema Setecentista de Abastecimento de Água à Cidade de Braga - a ASPA, quando em Maio de 1995 pediu ao IPPAR a sua classificação, viu finalmente reconhecida pelo Governo essa pretensão em 29 de Maio de 2003, com a classificação de MONUMENTO NACIONAL. Isto é, a partir de então, as 7 FONTES passaram a integrar a lista de monumentos nacionais e a estar debaixo das mesmas medidas de protecção e garantias onde figuram, por exemplo, o Mosteiro dos Jerónimos, a Sé de Braga e o aqueduto das Águas Livres, entre muitos outros.
Desde então, o monumento nacional tem vindo a degradar-se por desinteresse efectivo das autoridades autárquicas locais - exceptuando, honra seja feita, a Junta de Freguesia de S. Vítor e o seu Presidente – que até agora não alteraram o PDM em função na nova realidade, e do Governo da República por não ter agido pró-activamente face às ameaças imobiliárias que continuam a pairar sobre este valor artístico, científico e ambiental da cidade, da região e do País.
A ASPA vem uma vez mais publicamente alertar e denunciar a todos os seus concidadãos para as mais recentes ameaças imobiliárias que se têm insinuado para o local, ainda que estas surjam mascaradas por projectos filantrópicos ou aparentemente vantajosos para a comunidade.
Tal como infelizmente vem sendo habitual, mais a mais agravado pelo facto das 7 FONTES serem do domínio público, os arvorados projectos que vêm sendo anunciados para o local não são do conhecimento público. Isto é, nunca foi divulgado à comunidade qualquer projecto, desenho, esboço ou directivas de ocupação do solo para além das ameaçadoras afectações que estão previstas em sede de PDM.
A ASPA mais não pretende que se cumpra a lei. A ASPA reclama da abertura de acessos a instalações sem autorização do IGESPAR, mexidas de terras de duvidosa legalidade e, sobretudo, exige civicamente, sobre qualquer interesse privado ou circunstância estranha à integridade das 7 Fontes, que se impeça qualquer construção sobre a área de protecção definida nos termos da lei.
A ASPA entende que os bracarenses não são ignorantes nem devem nada a ninguém. As 7 FONTES pertencem aos bracarenses, pelo menos, desde há dois mil anos, pelo que não é qualquer um dos proprietários de terrenos envolventes ao complexo que pode oferecer ou condicionar um bem de que não dispõe.
Por fim, a ASPA, como é seu timbre de há trinta anos a esta parte, informa todos os intervenientes que se manterá vigilante e intransigente na defesa do património de Braga e do País e denunciará publicamente todas as acções lesivas que se verificarem e, se for caso, accionará os mecanismos legais que estiveram ao seu alcance.
A ASPA não se deixará iludir nem intimidar por apetites imobiliários dissimulados em finalidades supostamente generosas, tanto mais que está convicta que não pode haver futuro credível para as novas gerações se este assentar na subtracção do espaço público, na destruição da herança artística, no aviltamento da memória científica e num atentado ao ambiente.»
Desde então, o monumento nacional tem vindo a degradar-se por desinteresse efectivo das autoridades autárquicas locais - exceptuando, honra seja feita, a Junta de Freguesia de S. Vítor e o seu Presidente – que até agora não alteraram o PDM em função na nova realidade, e do Governo da República por não ter agido pró-activamente face às ameaças imobiliárias que continuam a pairar sobre este valor artístico, científico e ambiental da cidade, da região e do País.
A ASPA vem uma vez mais publicamente alertar e denunciar a todos os seus concidadãos para as mais recentes ameaças imobiliárias que se têm insinuado para o local, ainda que estas surjam mascaradas por projectos filantrópicos ou aparentemente vantajosos para a comunidade.
Tal como infelizmente vem sendo habitual, mais a mais agravado pelo facto das 7 FONTES serem do domínio público, os arvorados projectos que vêm sendo anunciados para o local não são do conhecimento público. Isto é, nunca foi divulgado à comunidade qualquer projecto, desenho, esboço ou directivas de ocupação do solo para além das ameaçadoras afectações que estão previstas em sede de PDM.
A ASPA mais não pretende que se cumpra a lei. A ASPA reclama da abertura de acessos a instalações sem autorização do IGESPAR, mexidas de terras de duvidosa legalidade e, sobretudo, exige civicamente, sobre qualquer interesse privado ou circunstância estranha à integridade das 7 Fontes, que se impeça qualquer construção sobre a área de protecção definida nos termos da lei.
A ASPA entende que os bracarenses não são ignorantes nem devem nada a ninguém. As 7 FONTES pertencem aos bracarenses, pelo menos, desde há dois mil anos, pelo que não é qualquer um dos proprietários de terrenos envolventes ao complexo que pode oferecer ou condicionar um bem de que não dispõe.
Por fim, a ASPA, como é seu timbre de há trinta anos a esta parte, informa todos os intervenientes que se manterá vigilante e intransigente na defesa do património de Braga e do País e denunciará publicamente todas as acções lesivas que se verificarem e, se for caso, accionará os mecanismos legais que estiveram ao seu alcance.
A ASPA não se deixará iludir nem intimidar por apetites imobiliários dissimulados em finalidades supostamente generosas, tanto mais que está convicta que não pode haver futuro credível para as novas gerações se este assentar na subtracção do espaço público, na destruição da herança artística, no aviltamento da memória científica e num atentado ao ambiente.»
Todos Contra Todos (II)
Soube-se hoje que, ao estilo Chávez, a PSP anda a investigar quem vai a Lisboa à manifestação dos docentes contra as políticas de ensino do Governo. Nada de novo.
Mas será que também andam a investigar quantos militantes socialistas vão ao comício do PS no Porto? E, já agora, quantos desses são idosos de Cabeceiras de Basto?
Mas será que também andam a investigar quantos militantes socialistas vão ao comício do PS no Porto? E, já agora, quantos desses são idosos de Cabeceiras de Basto?
Kalaba assina pelo SC Braga?
Ponta de Lança Zambiano poderá estar a caminho do Sporting de Braga.
**Espero que a fonte d'A Bola não seja a mesma que encontrei acidentalmente.
Todos Contra Todos
Tornou-se snob criticar os professores. Como se fossem os responsáveis pelas passagens administrativas para cumprir metas europeias por via de um facilitismo terceiro-mundista.
A Semana Santa de Braga
© Pedro Guimarães
Conhecida como cidade dos Arcebispos, Braga é tradicionalmente palco de grandiosas celebrações religiosas, capazes de inebriar os espíritos mais cépticos. Na Semana Santa, a cidade recebe as mais imponentes e exuberantes celebrações católicas do país, atraindo turistas de toda a parte do globo.
Representando a fatia mais significativa do Turismo Religioso que aflui à cidade, as celebrações da Semana Santa têm sido uma oportunidade para o desenvolvimento da economia local. Cientes destes factos, os promotores das celebrações têm apostado no enriquecimento do programa e no aprofundamento da sua divulgação. A edição de 2008 conta com um portal online acessível em www.semanasantabraga.com.
A Sexta-Feira Santa acolhe a mais fantástica das procissões. Enquanto a procissão não passa, entretém-se o tempo com a conversa do costume e, qual abstinência, comem-se pipocas embaladas pelo castelhano verborreico que se ouve em cada esquina. Por entre a solenidade, há, curioso eufemismo, o desfile das autoridades civis. E há o alvoroço quando vêm os cavalos. E a chiadeira tinhosa das crianças trazidas para a festa a contragosto. Aos seminaristas, coitados, chegam os mais inusitados piropos. Comentam-lhes as feições e inventa(ria)m-lhes pecados. As narinas empestam-se-nos de incenso e os olhos fartam-se dos sôfregos flashes, numa orgia dos sentidos a lembrar os escadórios do Bom Jesus.
Os farricocos são ícone emblemático da tradição bracarense. Descalços, percorrem a cidade para anunciar o «Enterro do Senhor». Mais tarde, voltam a calcorrear as calçadas para alumiar o cortejo fúnebre, condimentando um cenário que se quer lúgubre para a convidar à introspecção.
Ironia das ironias, o «Enterro do Senhor» volta a passar junto à estátua fálica que tanto prurido tem causado entre alguns agitadores do burgo. É a vida.
Silêncios coniventes
Os professores reuniram-se em Braga para protestar contra as políticas da ministra da Educação. O principal argumento é curioso. Admitem que o actual sistema educativo não funciona. Mas defendem que esta reforma só piora as coisas. Pelo meio, também dizem que não estão a ser ouvidos. Se a hipocrisia matasse...
Ainda sou do tempo em que os professores podiam chegar à sala de aula vinte ou trinta minutos depois do toque de entrada e faltar a um terço das aulas durante o ano por causa da morte do pai (o pai morria muitas vezes, mas o funeral acabava sempre a tempo de se assinar o livro de ponto). Sem avaliação e sem mecanismos de controlo, não se esperava outra coisa.
É curioso que a maioria dos professores que agora protestam admite estes problemas do sistema educativo. Admitem que não havia avaliação, admitem que o mérito não era premiado e admitem que um chico-esperto podia baldar-se para as aulas e receber no fim do mês o mesmo que o cristo de serviço. (Mas compreende-se facilmente a necessidade do chico-esperto de faltar às aulas: estava na rua a protestar contra o ministro da Educação da altura. Ser sindicalista cansa. Não tanto quanto trabalhar, mas mesmo assim ainda cansa um bocadinho).
Aliás, os professores admitiram esta cenário durante muitos anos. Nunca nenhum professor negou que fosse necessária uma reforma profunda deste sistema putrefacto. Queriam todos a mudança. Só não queriam aquela mudança em particular. «Aquela mudança» era toda e qualquer mudança que fosse proposta. Em abstracto, eram todos a favor de mudanças. Concretamente, a coisa ficava mais turva.
A reforma proposta pela ministra também não parece das coisas mais eficazes. Quem era bom professor está a perder o tempo que gastava a preparar boas aulas; e quem era mau professor não está tornar-se melhor. Só tem de encontrar mais artimanhas para não ser descoberto.
Eu não nego isto. Mas acho espantoso que quem foi conivente com a situação venha agora queixar-se de não ser ouvido. Durante anos os professores tiveram a oportunidade de apontar o dedo ao esgotamento de um sistema que não premeia o mérito e que abre as portas ao aproveitamento dos incompetentes.
Curiosamente, preferiram lutar por reformas aos 50 anos, progressões automáticas na carreira e salários que são um mimo. Os professores queixam-se de que não são ouvidos. Concordo, mas penso que erram no ónus da iniciativa. Pelo menos acerca disto, nunca se fizeram ouvir em tempo útil.
Ainda sou do tempo em que os professores podiam chegar à sala de aula vinte ou trinta minutos depois do toque de entrada e faltar a um terço das aulas durante o ano por causa da morte do pai (o pai morria muitas vezes, mas o funeral acabava sempre a tempo de se assinar o livro de ponto). Sem avaliação e sem mecanismos de controlo, não se esperava outra coisa.
É curioso que a maioria dos professores que agora protestam admite estes problemas do sistema educativo. Admitem que não havia avaliação, admitem que o mérito não era premiado e admitem que um chico-esperto podia baldar-se para as aulas e receber no fim do mês o mesmo que o cristo de serviço. (Mas compreende-se facilmente a necessidade do chico-esperto de faltar às aulas: estava na rua a protestar contra o ministro da Educação da altura. Ser sindicalista cansa. Não tanto quanto trabalhar, mas mesmo assim ainda cansa um bocadinho).
Aliás, os professores admitiram esta cenário durante muitos anos. Nunca nenhum professor negou que fosse necessária uma reforma profunda deste sistema putrefacto. Queriam todos a mudança. Só não queriam aquela mudança em particular. «Aquela mudança» era toda e qualquer mudança que fosse proposta. Em abstracto, eram todos a favor de mudanças. Concretamente, a coisa ficava mais turva.
A reforma proposta pela ministra também não parece das coisas mais eficazes. Quem era bom professor está a perder o tempo que gastava a preparar boas aulas; e quem era mau professor não está tornar-se melhor. Só tem de encontrar mais artimanhas para não ser descoberto.
Eu não nego isto. Mas acho espantoso que quem foi conivente com a situação venha agora queixar-se de não ser ouvido. Durante anos os professores tiveram a oportunidade de apontar o dedo ao esgotamento de um sistema que não premeia o mérito e que abre as portas ao aproveitamento dos incompetentes.
Curiosamente, preferiram lutar por reformas aos 50 anos, progressões automáticas na carreira e salários que são um mimo. Os professores queixam-se de que não são ouvidos. Concordo, mas penso que erram no ónus da iniciativa. Pelo menos acerca disto, nunca se fizeram ouvir em tempo útil.
Esta Gente Veio do Terror
O que disse D. José Policarpo é absolutamente inacreditável. Abatam-se os imigrantes, essa gente que veio do terror e do Ocidente e do Oriente como diz o Evangelho.
A ler: Apresento-vos o verdadeiro egoísta :: Não há alusão bíblica que salve
Ainda há Romanos em Braga?
Num momento em que Braga voltou a afirmar o estatuto de capital romana, é legítimo que se pergunte se alguma vez os romanos estiveram nesta cidade, tal o desprezo que vamos dando a uma herança absolutamente única e fantástica. A epidemia AXA, com contornos de um parolismo exacerbadamente trágico, esqueceu-se de sinalizar a herança do passado. Museus, teatros e monumentos estão à mercê do abandono informativo, numa orgia sinalizadora que a todos deve envergonhar.
Um dia depois de se saber que o ISAVE vai construir um campus no espaço das Sete Fontes, o Jornal de Notícias volta a fazer jornalismo anunciando que «a cidade de Braga carrega mais sinalética indicativa do Novo Estádio Municipal que o total de placas orientadoras dos visitantes aos núcleos museulógicos do riquíssimo património romano, herdeira de Bracara Augusta.» A constatação não é novidade para ninguém, tanto mais que a realidade está à vista de todos.
Ainda na última Conversa Improvável, Francisco Sande Lemos apontava a «incapacidade local» como o principal motivo para Braga não estar melhor, sugerindo «investimento para "criar uma imagem forte e a longo prazo da cidade", para aumentar o turismo e para oferecer uma "atmosfera cultural" interessante a quem vem de fora.» Crê-se que será nesse sentido que a Braga Digital vai «disponibilizar aos visitantes do concelho de Braga "uma aplicação de 'software' para dispositivos de computação móvel", que, tirando partido da sua capacidade de processamento de som, imagem e vídeo e de comunicação sem fios.»
Mas não chega: Braga precisa de se reconciliar com o passado, mas sobretudo de sugar até ao tutano todo o potencial da herança que nos deixaram os diferentes povos que por aqui passaram ao longo de XX Séculos de História.
Um dia depois de se saber que o ISAVE vai construir um campus no espaço das Sete Fontes, o Jornal de Notícias volta a fazer jornalismo anunciando que «a cidade de Braga carrega mais sinalética indicativa do Novo Estádio Municipal que o total de placas orientadoras dos visitantes aos núcleos museulógicos do riquíssimo património romano, herdeira de Bracara Augusta.» A constatação não é novidade para ninguém, tanto mais que a realidade está à vista de todos.
Ainda na última Conversa Improvável, Francisco Sande Lemos apontava a «incapacidade local» como o principal motivo para Braga não estar melhor, sugerindo «investimento para "criar uma imagem forte e a longo prazo da cidade", para aumentar o turismo e para oferecer uma "atmosfera cultural" interessante a quem vem de fora.» Crê-se que será nesse sentido que a Braga Digital vai «disponibilizar aos visitantes do concelho de Braga "uma aplicação de 'software' para dispositivos de computação móvel", que, tirando partido da sua capacidade de processamento de som, imagem e vídeo e de comunicação sem fios.»
Mas não chega: Braga precisa de se reconciliar com o passado, mas sobretudo de sugar até ao tutano todo o potencial da herança que nos deixaram os diferentes povos que por aqui passaram ao longo de XX Séculos de História.
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