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[Avenida do Mal] Páscoa Parade

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Blasfemo o discurso livre escrito, tão inapropriado em Sábado de Aleluia, dia ponto-alto de comércio de Pão-de-Ló (não a variação de Lot, desterrado de Sodoma e Gomorra em fogo, que vendo a mulher feita estátua de sal, engravidou as filhas numa caverna) e amêndoas. Coisas do negócio e da economia de mercado, à volta do estômago e dos prazeres da vida, com o jejum de carne como desenjoo pelo meio. O marisco ou o tamboril são sacrifícios bem-vindos...

Domingo (amanhã), faça chuva ou sol, nos antípodas de ramos enxutos ou molhados, ditos da meteorologia divina elevada aos céus pela sabedoria das coincidências populares, correm quelhos e ruas estreitas, casas de pedra ou chalés dêmigrãn, mais de quantos compassos de cruzes ao alto floridas de fantasia, fitas rosa e brancas como as amêndoas de açúcar, e perfume patchouli - daquele que dá dor de cabeça e espalha herpes labial pela ruralidade, mais que os beijos repenicados da tia-avó.

Mas não vou falar de saúde pública, porque interessa mais abrir a camisa e os colarinhos ao enfartamento: vitela assada, anho ou cabrito ou lá o que seja, que sabe tudo a carne queimada e batatas. Vinho. Entram eles [os do compasso, fora d’oras - em casa como neste texto- , que no ano passado vieram mais tarde, ou mais cedo, conforme], de capa rosa-bordeaux-grená, a cor que houver no armário da confraria. Segue-se o ritual, Aleluia Aleluia Cristo Ressuscitou - já vai em milhares de vezes, e sem bolas de cristal. Beijinhos, bênções, cumprimentos e a ajudazinha para o S. Pedro, Santa Rita, Santa Comba Dão (e tiram!) ou São Sicrano e São Fulano. Entram notas no saco, envelopes, para mais santos e para foguetes - muito precisam os santos de dinheiro. Pum, pum: estoira-se graveto, mas cada um faz o que quer do seu. É a alegria em dias de míngua e subprime.

Em Braga, os pomares e os muros de pedra, daqueles cimentados de terra e musgo, são substituídos pelo casario entrecortado entre betão tijolo e estuque. Pelo meio: andaimes, trânsito, o Bananeiro e o alfaiate de arcebispos e padres em potência. E Espanhóis, ui!, mais que as madres que los parió! Me cago en Diós, oder tío, que gran… - Enfim, español técnico! Não o técnico "espanhol", de Guimarães, "espanhol" Cajuda.

Os espanhóis verdadeiros não vêm ver futebol, vêm ver o silêncio e os farricocos. O Tesouro da Sé ou parte dele, em trajes ou arte sacra a correr as artérias de Braga como o prelado da boa ventura, currais de gente casta e em castidade, o fisiologismo clerical nas catacumbas dos outros poderes, que manobram a cidade e o país, nas actos e nas obras, desde o antes de D. Diogo de Sousa.

Vale então o investimento na pompa, nestes dias que são os dias da maior parada de publicidade à Igreja em Braga. Viva e vigorosa, comercial. No negócio da fé, fora os abusos de posição dominante, a nomenclatura católica tem 2000 anos de experiência em marketing. E não admiram então, os lucros de uma instituição que dá louvor aos pobres, prospera na especulação bolsista que empobrece tanta gente. E nada como o elogio da pobreza para dar um colo redentor à desgraça dos crentes, é que com tamanho Inferno na Terra só lhes resta a estes comprar com abnegação um lugarzinho no Céu.

9 comentários:

  1. muito bem. morra a igreja catolica.

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  2. Vitor,
    É certo que crentes e não crentes têm direito a ter a sua opinião e expressá-la. No entanto, o gozo e a ironia já entram na falta de respeito para quem tem fé e acredita em Jesus Ressuscitado.
    La-Salete

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  3. La-Salete.

    Compreendo a tua posição face ao texto - "inapropriado", mas é um exercício ao maior gozo e ironia que a Igreja dos pobres dá aos seus seguidores, com a exibição do esplendor da sua material riqueza. E, para lá do amor, acredito no Humor de Deus.

    :)

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  4. Se há coisa que não percebo é o horror que alguns crentes têm à liberdade de expressão sob a capa de "falta de respeito pelas suas crenças".

    Se uns têm o direito de dizer, sem nenhuma prova, que ressuscitou deixem os outros dizerem o que lhes aprouver sobre a matéria...

    Bom Domingo.

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  5. Meu caro, a religião é como um blog. Só lhe dá atenção quem quer!

    Votos de uma Santa Páscoa!

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  6. Também acredito no Humor de Deus e lamento que, por vezes, os homens que falam em Seu nome (substancialmente mais do que as mulheres) sejam tão desprovidos deste dom.

    Contudo, não acho surpreendente que os cristãos “se sintam” quando alguém goza com os seus valores.

    Da mesma forma que também não é de espantar que os polícias se revoltem quando vêem um carro caracterizado a fazer piruetas num programa de televisão, que os escuteiros e os vendedores de automóveis protestem quando são caricaturados em campanhas publicitárias ou que o Sindicato dos Trabalhadores Humorístico-Circenses lance uma petição porque acha insultuoso que se faça uma comparação entre Alberto João Jardim e os palhaços.

    Ninguém gosta que gozem com aquilo que é ou com aquilo em que acredita....

    Quem critica e goza também deve, numa sociedade livre, reconhecer à outra parte o direito à indignação. É um direito básico...

    Alguns não crentes correm o risco de achar que a liberdade de expressão é só num sentido. E não é.

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  7. Lois Lane,

    O Vitor não goza com os valores de ninguém e, ao contrário da maioria dos crentes, não está a procurar impor a sua forma de pensar a uma sociedade inteira.

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  8. Acho que a liberdade de uns termina quando começa a dos outros.
    A igreja não ataca os valores de ninguém, antes serve como mediador desses mesmos. Tolerância é a máxima da Igreja (em tempos não foi, é certo).
    Conheço bem de perto o trabalho de paróquias, de quem verdadeiramente a igreja vive, e a realidade é bem diferente. Podem-me dizer quais são as instituições que promovem a solidariedade e voluntariado dos jovens? Em todas as pequenas aldeias existem pequenos grupos de jovens, escutas, entre outros, sempre alerta. Não falando nos inúmeros grupos de adultos que são muitos mais...
    Onde se dirigem os pobres que vagueiam pelas ruas da cidade de braga? À Câmara?... Não! À igreja de S. Lázaro, S. Víctor, S. Vicente? Quantas existem, quantas os recebem.
    Gozam com isto? Amanhã posso ser eu a estar na rua e receber o mesmo carinho e atenção e não vou bater à porta da câmara... lol
    É uma resposta à "igreja dos pobres" que se refere.
    Não se baseie em expeculação mediática das nossas televisões e jornais.
    Abra os olhos e... ah... aquelas pessoas que estão a ajudar aquele senhor são da cáritas... ah... olha os jovens de S. Lázaro estão a lutar contra o cancro... ah... os escuteiros estão a acompanhar os idosos isolados da cidade para um convívio intergeracional... Não são isto instituições da Igreja?
    A igreja não é o Vaticano, o Cónego Melo e o Arcebispo. São antes todos os anónimos que agem em nome dela e pelas máximas dela.
    Ah! E já agora "morra a Igreja Católica" e... o velhinho morreu sozinho em casa, o "pobre" morreu por ninguém sequer olhar para ele e o peditório da luta contra o cancro seria um fiasco...
    Não quero com isto impor a ninguém que se vá imediatamente enfiar numa Igreja a rezar, mas que pensem nas acções dos anónimos Cristãos e se elas não são de grande valor.
    Não vos obrigo a ser assim mas também não me obriguem a deixar de ser assim.
    A liberdade de uns termina quando começa a liberdade de outros.

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"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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