Quem olhar o país pelos media vê uma sociedade às aranhas, completamente absorta na deturpada discussão das soluções dos seus reais problemas. De repente, temos um sistema escolar que incuba criminosos em potência e uma escola pública mergulhada no caos e na rebelião. Basta olhar em tudo quanto é televisão, rádio e jornal com as geniais análises dos habituais neocons portugueses, Rogério Alves ou procurador da justiça e outros especialistas da lei e da moral portuguesa para percebermos o quão inadaptado está o tal humanista código civil português: permissivo e tão mal direccionado, a perder tempo (em anos de arrasto) com processos como a Casa Pia ou as golpadas de colarinho branco e do futebol.
Não. A justiça célere deve apontar baterias aos adolescentes, concentrar os recursos nas salas de aula e azucrinar a cabeça à sua juventude - porventura a penhorá-la. A PJ deve aliás substituir a PSP no policiamento das creches às EB2-3 só para que não haja abusos. Certamente era esse o objectivo primário das tais visitas em véspera de manifestação de professores.
Bem. O que mais dá vontade de rir nisto tudo é que, com o aval do alarmismo e dos pivots à americana, vai-se espalhando pela calada aquela doentia sensação de que há uma falta da tal autoridade neste país e, sem darmos conta, temos terreno fresado para a semente do respeitinho . Quem sabe, a rependurar fotografias do Presidente do Conselho no seu olhar de terna severidade, a paternalizar a reguada, as orelhas de burro, a testa contra o quadro de lousa e a demonização da adolescência com pêlos na palma das mãos.
Enfim, manipulação tamanha que se torna mais gritante ainda quando se associam estes casos de indisciplina ao tal novo estatuto do Aluno. Coisa que, na cabeça dos opinadores, deu aval à fervura hormonal dos púberes alunos, tão sedentos de pecado. Ora, grande feito este do nosso sistema de ensino que em vez de ensinar matemática, faz por especializar os alunos em direito escolar.
E se, para Pinto Monteiro, esta escola pública ensina à classe média e baixa o pequeno delito, que diria eu do que ensina a imaculada escola privada à classe alta, a mesma que produz CEO’s, banqueiros e sucessões de deputados. Isto para não falar daquelas escolas onde a autoridade é reforçada no Inferno como castigo, onde o exemplo é batina e a moral absoluta, dessa nem se espera que saiam adolescentes capazes de fazer mal a moscas, apenas uma mão cheia de pequenos inquisidores com a mesma finura medieval em limpar as aberrações desta sociedade moderna.
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Um video oportuno fez mais pelo debate da indisciplina nas salas de aula do que milhares de horas de formação continua dos professores.
ResponderEliminarE o rapaz é castigado!
E a rapariga deslocada!
E a professora de baixa!
Viva a You Tube.
Até que ponto a necessidade de filmar tudo (e filmar bem) pedindo aos colegas figurantes para se retirarem da frente do plano e assim não perturbarem o desenrolar da cena, também é responsável pela passividade da turma?
ResponderEliminarHá aqui um elemento novo e perturbador: a filmagem com um telemóvel para colocar o filme num site - tem havido casos de violência gratuita e intimidade exposta.
Pelos vistos parece que a professora apenas esta semana se viu como vítima de uma agressão (possivelmente até já teria esquecido o que se passou - abençoadas imagens!), só agora apresentou queixa dos "agressores".
Para mim há nessa decisão dedinho da nossa justicinha no sentido de tornar este caso exemplar.
Meus caros, questiono sinceramente que castigo é que a aluna merece mais para lá da humilhação deste debate diabólico.
ResponderEliminarParece-me mais uma oportuna naifada na escola pública que incomoda muita gente, através de um absurdo tratamento de um casinho, entre muitos nas escolas, típicas das rebeldias da idade e de professores com um ocasional descontrolo sobre a situação.
Devia era o país estar a discutir porque razão estes casos não são resolvidos ou discutidos convenientemente dentro do contexto escolar, uma vez que é função da classe docente educar para lá de ensinar. Estas são as falhas de há muitos anos e que são de imediato aproveitadas pelas faixas mais conservadoras e moralistas da sociedade portuguesa para incendiar o debate contra a questão da modernização do paradigma educativo português.
Se nos deixarmos levar pela paranóia, temos as aulas transformadas em catequese.
eu diria pequenos inquisidores com finura moderna, mas não posso obrigar toda a gente a saber o alcance da inquisição a partir do muit humano e nada selvagem século XVI...
ResponderEliminarE teve de ser necessário um vídeo colocado no YouTube para mexer nas incorrecções.
ResponderEliminarSem exposição pública nada acontece nos dias de hoje. Lamentável.
O problema da escola pública é a imagem de falta de autoridade dos professores. Este problema só se resolve com o reforço da sua autoridade. É normal que os alunos testem as diferentes autoridades. Faz parte do seu processo de crescimento. As gerações procuram ocupar os espaços das gerações anteriores, é o processo natural. Só que a socialização deve mediar os processos naturais. A escola é para dar informação, conhecimento e socialização, só que tem sido amputada da sua autoridade natural. Os pais dos meninos malcriados serão também culpados. Mas os governos, e particularmente, são os maiores culpados.
ResponderEliminarEste caso é apenas um dos muitos que acontece por todo o país. A professora também errou? Poderia ter agido de forma diferente? Deveria ter denunciado esta aluno antes? Todos respondemos que sim. Mas será que a professora não saberia de outros casos e que implicações tiveram? Será a que professora não teria razões par duvidar dos resultados da denuncia? Será que a professora não conheceria casos de carros vandalizados, pneus furados, etc? Será que a professora acharia que a escola a protegia? Será que a professora possui a autoridade natural defendida?
O que o youtube demonstra é que professora estava em desvantagem física. Mas o pior é que todos desconfiamos é que a escola pública está a ficar em desvantagem moral. E não é por "respeitinho", é por um dever civilizacional que esta situaçõa deve ser resolvida.
Este texto expressa uma tremenda confusão na cabeça de quem o escreveu...mistura código civil, com casa pia, golpadas, etc...não estará vocemessê a tentar falar do código de processo penal e da tão famigerada reforma "cirúrgica"?
ResponderEliminarjá agora, não é procurador da Justiça mas Procurador geral da República...
quando se pretende falar em Justiça quando não se percebe o que quer que seja tem que se lhe diga.
O meu caro anónimo (das 12:26) compreenderá o sentido do texto, para lá das gralhas que admito e ainda vem que as aponta. Obrigado pelo corregimento.
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