Ouvimos durante a última semana vários sociólogos a ensinar como lidar com alunos impertinentes como a menina do caso «Carolina Michaelis». Alguns dizem que exige tempo, dedicação e entrega; e, já agora, ler Bourdieu e Foucault. Outros, da escola tradicional, são mais pragmáticos. Uns tabefes e a coisa vai ao sítio.
Haverá crianças manipuladoras que exigem um tratamento menos maleável. E haverá certamente outras com as quais uma pedagogia mais branda pode ter bons resultados. As crianças não são iguais e crianças diferentes podem exigir diferentes métodos de ensino. Isso é uma possibilidade real que tem uma implicação concreta: as escolas devem poder ter diferentes métodos educativos. Porque a educação, no fundo, é como a roupa interior. Toca no que de mais íntimo temos e quando é partilhada por muitos acaba por dar asneira.
Os sistemas baseados na escolha permitem atingir este objectivo. O cheque-ensino, por exemplo, promove a concorrência entre escolas, incentivando-as a adaptarem-se às necessidades do aluno e a fornecerem melhores serviços com menos dinheiro. Com o cheque-ensino, pode dar-se o pecado supremo de diferentes escolas terem diferentes metodologias de ensino, diferentes critérios de avaliação e diferentes métodos de punição. Precisamente o oposto do paquiderme imóvel que é a «Escola Pública».
Esta noção não é nova. Estamos habituados a escolher e, em boa verdade, ficamos realmente chateados quando nos limitam esse direito. Escolhemos a padaria que frequentamos, o carro que usamos, a casa em que vivemos e até os amigos com quem andamos. Às vezes somos picuinhas ao ponto de escolhermos com base em pequenos detalhes, como quando olhamos à grossura de uma ponta de lápis. O que até é compreensível, porque as pequenas nuances fazem, às vezes, grandes diferenças. No fundo, somos todos fundamentalistas da escolha.
O princípio do cheque-ensino não é muito inovador. É apenas um pouquinho mais fundamentalista do que todos os outros fundamentalistas da escolha. Os defensores da «Escola Pública» gostam de escolher em tudo. Em tudo, excepto na educação. Os defensores do cheque-ensino apenas constatam que não há nenhuma razão para o princípio da escolha não ser útil no caso da escola e então alargam o critério para incluir mais esse objecto. A diferença não é muita.
No «caso Carolina Michaelis», o princípio da escolha garantiria que a escola pudesse adaptar a punição ao tipo de alunos que tem; garantiria que os pais pudessem retirar os filhos da escola se não concordassem com o modelo punitivo, promovendo o aparecimento de escolas com modelos punitivos mais adequados; e, por fim, garantiria que os 374646 piscólogos que apareceram na televisão a falar sobre o caso teriam a oportunidade de pôr em prática as suas «metodologias psico-cognitivo-educativas» em vez de andarem a dizer disparates em horário nobre.
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A Psicologia hoje em dia é uma autêntica panaceia.
ResponderEliminarTodas as autoridades se demitem, uma por uma, em prol desta explicação que tudo explica (até as críticas que a criticam): tribunais, escolas, exército, polícia ...
É verdadeiramente incrível a sobranceria de certos psicólogos que encontram explicação para tudo e que não toleram quem os questione.
Assim como incrível é a sujeição a estas explicações, como se quisessem intencionalmente demitir das suas tarefas.
O juíz já não aplica a sua ponderação, pede um parecer psiquiátrico.
O professor já não ensina, envia alunos mal comportados para o tratamento psicológico.
Já não há bandidos, apenas e só pessoas desenquadradas, incompreendidas e vítimas de uma sociedade opressora.
Em suma, é a eleição da "Sociedade" como ente culpável, e que assim nos desculpa para fazermos o que quisermos.
"No fundo, somos todos fundamentalistas da escolha" - POde não dar conta, mas fora do seu umbigo existem muitos portugueses que não podem escolher nada. Depois desses ainda há outros, espero que poucos, que escolhem comer ao almoço ou ao jantar. Não sendo de esquerda, também não compro as teorias neo-liberais. A educação deve ser uma das funções do estado e deve promover a inclusão, não deve promover a exclusão.
ResponderEliminar«POde não dar conta, mas fora do seu umbigo existem muitos portugueses que não podem escolher nada»
ResponderEliminarA ideia do cheque-ensino é precisamente dar essa oportunidade de escolha.
Depois de bem lido continuo a não perceber a ligação do cheque ensino ao que sucedeu no Carolina Michaelis.
ResponderEliminarPelo que me é dado a entender, se tal episodio não acontecesse nessa escola aconteceria certamente numa outra cujos padrões publicitados, de má reputação, persuadiriam os pais das famílias mais desafogadas (com maiores facilidades de mobilidade, tempo e de capital) a levar as suas crias para bem longe.
Ficariam apenas os outros "de chinelo e pé descalço" e essa escola entraria rapidamente em espiral descendente.
Não sei se é possível, no país que vivemos, de escassos recursos, ver nascer uma escola de um dia para o outro e vê-la desaparecer, no mesmo piscar de olhos, por se ter revelado um fracasso; muitas implicações daí adviriam...
As escolas que conheço são organizações com história, surgidas há já bons anos, com uma cultura organizacional que as caracteriza. (mesmo assim ainda estou disposto a fazer esse exercício mental)
Aconselho a leitura de Stigltz no que concerne às suas teorias da informação disponível no mercado... muitas luzes se acenderão sobre “quem aproveita melhor a coisa”.
Jorge Oliveira de Faria:
ResponderEliminar"Não sei se é possível, no país que vivemos, de escassos recursos, ver nascer uma escola de um dia para o outro e vê-la desaparecer, no mesmo piscar de olhos, por se ter revelado um fracasso; muitas implicações daí adviriam..."
E escolas péssimas que esbanjam dinheiros públicos durante décadas? Isso já é admissível?
É que, para esta forma de actuar, já temos os resultados à vista...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Pedro Romano,
ResponderEliminarpensa que um projecto, como o cheque-ensino, promove a concorrência entre escolas, incentivando-as a adaptarem-se às necessidades do aluno e a fornecerem melhores serviços com menos dinheiro. Penso que não.
Vejamos, somente promoverá a concorrência do sector do Ensino Privado ao financiar as escolas privadas e discriminatórias, mais do que o Estado actualmente financia (sim, os Estado financia um terço dos alunos em escolas privadas com cerca de 3343 euros por cada aluno). Consequências: O descurar e o abandono do Ensino Público como paradigma de Educação generalista.
Adaptam-se às necessidades do aluno ? tem a certeza? Não provocará uma obsessão para uma escola possuir uma boa pontuação num futuro ranking, sim, porque depois haverá como um mercado escolar onde as escolas lutarão para conseguir bons resultados , forçosamente e ultrapassando, como quem diz, “descartando” alunos que possuam algum tipo de condicionante que necessite de um ensino não centrado nos resultados mas sim na aprendizagem, isto tudo só para convencer os encarregados de educação a “gastar” o cheque na sua Escola.
Fornecer melhores serviços com menos dinheiro? Diga como. O que possivelmente aconteceria era, uma quase certa, inflação do preço do “ensino” onde escolas elitistas elevariam os seus “ bons resultados avaliativos ” a um preço elitista e discriminatório e as outras escolas por “empurrão” inflacionista e a procura de lucro ( isto é o que o cheque-ensino consequência) elevariam os seus preços sem ter a preocupação social e educativa que o Estado possui.
Nos Estados-Unidos , arauto de ideais liberais , como este projecto transparece, a população tem, já alguns anos, rejeitado peremptoriamente em sucessivos referendos este tipo de Educação.
Meu caro, não compare o Ensino a algo como padarias, carros etc. isto transparece um grau de simplicidade e mercantilismo que não se deve conotar ao Ensino público.
Caro Jorge,
ResponderEliminar«Não sei se é possível, no país que vivemos, de escassos recursos, ver nascer uma escola de um dia para o outro e vê-la desaparecer, no mesmo piscar de olhos, por se ter revelado um fracasso; muitas implicações daí adviriam...»
Mas a ideia é precisamente que o fracasso e o sucesso tenham implicações.
É porque o sucesso e o fracasso das escolas não importam rigorosamente nada a quem as controla que elas não têm incentivos para melhorar.
«As escolas que conheço são organizações com história, surgidas há já bons anos, com uma cultura organizacional que as caracteriza.»
Bom, mas em algum momento tiveram de nascer. Antes de ter história, Harvard também não tinha história. A questão é que tipo de ambiente incentiva mais a criação de boas escolas.
Caro Marco,
«Vejamos, somente promoverá a concorrência do sector do Ensino Privado ao financiar as escolas privadas e discriminatórias»
O cheque-ensino não serve para pagar uma escola privada, serve para pagar qualquer escola.
A ideia não é facilitar a vida às escolas privadas; a ideia é que tanto as privadas como as públicas tenham de acrescentar valor ao seu serviço para poderem sobreviver.
«Adaptam-se às necessidades do aluno? tem a certeza?»
Não. Mas se a perspectiva de falência não serve como incentivo para uma escola se adaptar, então essa escola é um caso perdido que política nenhuma vai conseguir salvar.
«O que possivelmente aconteceria era, uma quase certa, inflação do preço do “ensino”(...) sem ter a preocupação social e educativa que o Estado possui.»
Na verdade, é o contrário. Quem conseguir oferecer o melhor serviço pelo preço mais baixo é que tem as preferências do cliente.
E se noção de «preocupação social e educativa do Estado» se consubstancia nos resultados alcançados nos últimos anos, eu acho que os portugueses passam bem sem ela.
«Nos Estados-Unidos , arauto de ideais liberais , como este projecto transparece, a população tem, já alguns anos, rejeitado peremptoriamente em sucessivos referendos este tipo de Educação»
Referendos? Só se forem estaduais, porque a Califórnia tem um sistema desta género.
«Meu caro, não compare o Ensino a algo como padarias, carros etc.»
Tem razão. Podemos escolher os carros que compramos e os pães que consumimos.
Mas, quanto ao Ensino, temos de gramar com o que o Ministério da Educação acha que é melhor. De facto, é incomparável.
Bom, se calhar também é por isso que há tão pouca gente preocupada com a qualidade do pão ou dos carros mas não há um único português capaz de dizer que o Ensino é, vá lá, aceitável. ;)
Hugo Monteiro,
ResponderEliminarNão meta cão e gato no mesmo saco, nem se deixe ir nas cantigas de alguns políticos. Sei que dizer mal da escola está na moda. Também sei que dizer mal do sistema de saúde está na moda. O mesmo da segurança social, das forças da ordem, etc, etc... Enfim. Dizer mal do Estado para tudo... A maledicência parece ser o passatempo preferido de muitos portugueses.
Diga-me lá, onde está esse despesismo da escola Portuguesa? Pelo que conheço, Portugal continua com uma escola paupérrima e sem dinheiro.
Não procure comparações com a Finlândia ou outro país de modelo social nórdico, países de destaque nessas estatísticas publicitadas pela OCDE. Sabe..., há quem se tenha lembrado antes, já lá vão 100 anos, de que a chave para o desenvolvimento de uma sociedade passava por um investimento em Educação. Esses honrosos países, Finlândia e Suécia, entre outros, tiveram a ousadia de entrar no século XX sem o muito tradicional e pitoresco (tuga) analfabetismo, essa marca que parece estar cravada no couro dos portugueses onde quer que se dirijam no mundo. Se, por outro lado, estava a pensar nas emergentes economias do leste, pare um bocado. Veja lá a herança que deixou o tão “abominável comunismo”, com todas as suas escolas que nada tinham que as aproximasse desse impulso mercantilista liberalizante do ocidente! Atónito!? Não é o único!!!
Voltando à escola que temos...
Se acha que é cara, despesista... «imagine quanto não custaria a ignorância» (esta frase não é minha).
Na minha opinião, é muito difícil compactuar com a ideia de que o sistema educativo português é o que diz que é!
Marco Gomes,.. muito bem — “Fine quality 100% pure silk.”
Jorge, já agora:
ResponderEliminar«Diga-me lá, onde está esse despesismo da escola Portuguesa? Pelo que conheço, Portugal continua com uma escola paupérrima e sem dinheiro.»
Portugal é dos países da OCDE que gasta mais com o Ensino Secundário (percentagem do PIB, claro).
«Esses honrosos países, Finlândia e Suécia, entre outros, tiveram a ousadia de entrar no século XX sem o muito tradicional e pitoresco (tuga) analfabetismo»
E a ousadia de entrar no Século XXI com, imagine-se, o sistema do cheque-ensino.
«Se, por outro lado, estava a pensar nas emergentes economias do leste, pare um bocado. Veja lá a herança que deixou o tão “abominável comunismo”, com todas as suas escolas que nada tinham que as aproximasse desse impulso mercantilista liberalizante do ocidente!»
Uma herança de miséria e pobreza. Tanto que só os aguentaram do lado de lá com um Muro a cortar a Alemanha ao meio.
No último Prós&Contras houve uma professora que fez uma intervenção muito clara sobre o o ensino. É uma pena que essa intervençao não aparecça no youtube porque seria uma boa ajuda para o debate.
ResponderEliminarO cheque ensino aumentaria a exclusão, acentuaraia o país a duas velocidades. Haveria uma educação para ricos e outra par pobres. Escolas para ricos e escolas para pobres.
Eu fico é cada vez mais parvo, com o resultado de uma governaçao dita socialista. Dois anos de ataques contínuos. Dois anos de governação que criaram um caldo liberal que nenhum governo dito de direita ousaria criar. O que nos deve fazer pensar porque só é possível com um governo dito socialista. Que forças se calam agora? Que intresses calam essas forças? Se as medidas são boas e necessárias, quando é que se responsabiliza os culpados por as bloquearem com outros governos? Era bom que me explicassem porque é que os opinadores, os pensadores, os jornalistas, os colunistas, os sindicatos estão agora vergados e silênciados. Era bom que me explicassem se há vida para além do deficit.
"O cheque ensino aumentaria a exclusão, acentuaraia o país a duas velocidades. Haveria uma educação para ricos e outra par pobres. Escolas para ricos e escolas para pobres."
ResponderEliminarEsta é a melhor. Que eu saiba, é exactamente assim que o ensino funciona hoje. É um suposto ensino "social" que continua a penalizar os mais pobres em benefício dos mais ricos. As bolsas de estudo no ensino superior são um exemplo claro disso. Já vi aldrabices nas declarações de IRS a permitirem a atribuição de bolsas a alunos com pais abastados e até alunos com poucas posses a comprarem Playstations com esse dinheiro. Vai dizer-me que é justo para aquelas pessoas que não têm dinheiro para pôr os filhos no ensino superior e andam a pagar impostos para isto? Pense lá duas vezes nisto antes de usar frases feitas.
Caro pedro romano
ResponderEliminarmuito interessante a sua provocação/argumentação! Estimulante… Não me parece que argumentar com o que de melhor e pior há no mundo seja um bom método. Sabe,… conhece aquela história do cobertor que se puxa de um lado e descobre o outro?!
Já viu a ironia da sua argumentação. A sua proposta vem exactamente colocar nas escolas, que por má estratégia ou fracos recursos humanos, ficam votadas ao fracasso, exactamente quem não tem engenho e possibilidade de se defender.
A sua tese é edificada tendo por alicerces a ideia de que as pessoas agem sempre em busca dos seus interesses pessoais. Para o caso, o encarregado de educação escolheria sempre o que é melhor para o seu educando.
Olhe que, infelizmente, tenho muitas dúvidas sobre a capacidade de alguns pais para definir o melhor interesse para os seus filhos... ou que queiram mesmo qualquer coisa ?! Não são muitos os casos, não são a maioria, mas olhe que em Portugal é muito frequente.
Depois, outro dos pilar consiste em assumir que os indivíduos agem de forma racional, preferindo alternativas melhores às piores. Mais uma vez um país com índices de iliteracia deste nível não deixa muita segurança à ideia de que será fácil avaliar quais as alternativas melhores ou as piores. Uma boa parte da população teria mesmo muitas dificuldades de fazer uma escolha informada e acertada. Depois, quem dá garantias de que é esta ou aquela escola a que tem o melhor processo de aprendizagem?
Tanta publicidade e tanto nevoeiro... É aqui que entra o Stiglitz. A ideia do livre mercado... Repare que nós os dois não fazemos o mesmo uso da informação que temos. Dir-me-á: — Verdade, cada qual escolhe e decide o uso que lhe quer dar. — Correcto, só que é ilusório que haja igualdade no acesso à informação. Qual é a informação certa? O que é credível e o que não é. O que é essencial relevar?
Quanto à sua alusão a Harvard... Deixo-lhe esta.
Há um colégio, na cidade que tanto gostamos, não lhe digo o nome, que não tinha ainda a sua construção acabada, que não tinha corpo docente, não tinha pessoal auxiliar, não tinha um projecto educativo, não tinha alunos (se me disser que é possível fazer um projecto educativo sem saber que alunos, de que níveis, quantas turmas... se vão matricular, eu não acredito), mas tinha (isso sim) uma belíssima publicidade espalhada pela cidade ostentando as letras gordas da QUALIDADE!!! UM ENSINO DE QUALIDADE!
Veja lá a contradição?! Não tinha nada mas já era uma escola de qualidade. É disto que me está a falar? Olhe que Harvard não começou no primeiro dia por ser a Harvard que conhece. Quero dizer-lhe que essa ideia da cultura organizacional faz algum sentido em educação!
Fechar escolas... olhe que fico sempre muito triste quando vejo uma escola fechada. Tanto investimento para nada!
Pavilhão, laboratórios, cantinas, salas de aula, etc... custam muito dinheiro. Imagine o que representaria fechar as portas a uma destas escolas: Sá de Miranda, Carlos Amarante, Alberto Sampaio, Secundária de Maximinos, etc, sabendo que há falta de espaços, as escolas estão sobrelotadas, as turmas têm 28 alunos, por norma?!
«Portugal é dos países da OCDE que gasta mais com o Ensino Secundário (percentagem do PIB, claro)»
Não sei de onde retirou esta ideia?! No que se refere a dados de 2003, que são os que eu tenho Portugal, gasta 1,2%, só tem com menor despesa: Turquia 0,8%; Holanda 0,7%; Luxemburgo 1,0%; Irlanda 0,7% e mais nenhum. Média OCDE 1,4%. Não disponho de dados da Espanha. Tirando a Dinamarca, Eslováquia e a republica Checa com a mesma percentagem de Portugal, tudo o resto é bem mais acima. (tudo em percentagem do PIB).
...todo este chinfrim serve para distraír o povão.vejam na saúde que,de tendencionalmente gratuíta,começa a custar caro e logo surgem hospitais privados aos molhos.No ensino será igual.Ás escolas privadas irão crescer como cogumelos e os custos crescerão.As escolas públicas irão ficar para ocorrer aos mais necessitados dando-lhes algum ensino e a alimentação,tipo instituíção de caridade.
ResponderEliminar«Já viu a ironia da sua argumentação. A sua proposta vem exactamente colocar nas escolas, que por má estratégia ou fracos recursos humanos, ficam votadas ao fracasso, exactamente quem não tem engenho e possibilidade de se defender.»
ResponderEliminarNão devemos estar a falar da mesma coisa. A ideia do cheque-ensino é facilitar a mudança de escola. Só quem não pode mudar é que não tem possibilidade de se defender.
«A sua tese é edificada tendo por alicerces a ideia de que as pessoas agem sempre em busca dos seus interesses pessoais»
Não. É edificada tendo por base que cada indivíduo é, no que lhe diz respeito, aquele que mais motivação tem para agir da melhor forma.
«Mais uma vez um país com índices de iliteracia deste nível não deixa muita segurança à ideia de que será fácil avaliar quais as alternativas melhores ou as piores. Uma boa parte da população teria mesmo muitas dificuldades de fazer uma escolha informada e acertada.»
E aí tem um belo argumento contra a democracia, por exemplo. Aliás, era essa a doutrina salazarista. A liberdade era uma coisa boa, mas só para aqueles tipos evoluídos como os ingleses.
«Repare que nós os dois não fazemos o mesmo uso da informação que temos.»
Sinceramente, não sei o que é que o Stiglitz acrescenta à discussão...
«Fechar escolas... olhe que fico sempre muito triste quando vejo uma escola fechada. Tanto investimento para nada!»
Repare que manter uma escola activa de forma artificial é muito mais penoso, porque os custos de funcionamento (salários, manutenção, etc.) continuam a aumentar ao longo do tempo.
«Não sei de onde retirou esta ideia?! No que se refere a dados de 2003, que são os que eu tenho Portugal, gasta 1,2%, só tem com menor despesa: Turquia 0,8%; Holanda 0,7%; Luxemburgo 1,0%; Irlanda 0,7% e mais nenhum.»
ResponderEliminarOs dados que eu possuo são de um relatório da OCDE, que compreende o período entre 1995 e 2004. E portugal aparece à frente da Holanda, Irlanda, Espanha, Japão, EUA, Canadá, Reino Unido e Suíça, por exemplo.
pedro romano,
ResponderEliminaro meu estudo da OCDE, também tem a
Austrália, Japão, México e EUA, com menor despesa que Portugal. Não me referi a estes uma vez que não são da UE e tornam-se difíceis as comparações.
Já o Reino Unido aparece com 3.1 percentagem do PIB.
Fonte:
www.oecd.org/edu/eag2006
No comentário anterior. No que se refere aos países de leste, estávamos a comparar os resultados dos sistemas de ensino e os níveis de escolaridade, não o sistema social e político.
Pedro,
ResponderEliminarNão podia deixar de reagir à urticária que este texto me provocou. Quando a racionalidade económica foi aplicada à lei do tabaco, não comentei por puro oportunismo. Qualquer argumento é bom desde que isso permita que não me obriguem a fumar á chuva. Aqui a história é diferente e é de uma linearidade estupida: o cheque ensino é pago pelos contribuintes, de forma muito superficial, e permite a cada família escolher a sua escola. Óptimo, a diferença é que assim eu, enquanto conribuinte, vou estar a financiar empresas. Não percebo por que raio esta intromissão do Estado e sobrecarga do défice. A não ser que ao mesmo tempo definas como objectivo o fim do financiamento à escola pública, assumindo que estas não têm a capacidade de definir a sua "propina", deixando para as privadas a capacidade de definir a sua propina livremente. Eu pessoalmente não estou com grande disposição de financiar empresas através dos meus impostos. Mas espera lá, tu estás a defender o fim do sistema público de ensino, visto que as empresas publicas não vão ter a mesma liberdade de mercado e vão jogar com regras muito mais rígidas.
Quanto ao resto. Não vou comentar os países nórdicos: na Suécia, os agricutores no século XVII já sabiam, na sua grande maioria, ler. Quanto à tentativa de misturar alhos com bugalhos, que é o que estás aqui a fazer, é preciso lembrar que o Reino Unido introduziu o cheque ensino e nem por isso a violência diminuiu. Como é evidente a bota não bate com a perdigota. O sistema de ensino público tornou-se um alvo fácil e tudo vale, mesmo argumentos de café embrulhados em racionalidade. Racionalidade esta que, como é evidente, só se poderá aplicar se acharmos que a acção política perdeu toda a sua configuração normativa e se rendeu ao positivismo da ciência económica. Cumpre-se a tese infra-estrutura super estrutura que voçês sempre vilipendiaram.
Abraço
Zé Pedro,
ResponderEliminarO subsídio de desemprego também financia empresas. Financia a padaria, a telefónica e o supermercado em que o seu beneficiário vai empenhar o dinheiro.
Mas é uma solução que se compreende. Tem muito melhores resultados do que nacionalizar as padarias, as telefónicas e os supermercados.
O princípio do cheque-ensino é tão simples quanto isto. Subsidia-se o aluno em vez de se subsidiar a escola, promovendo a concorrência. Não é preciso invocar a «racionalidade económica» para perceber que isto incentiva a qualidade.
E é evidente que as escolas públicas devem ter também a liberdade de definir as suas propinas. Também devem ter liberdade de escolher os seus professores, os seus métodos educativos e uma data de outras coisas que actualmente estão sob a égide do Ministério da Educação.
Isto não é defender o fim do Ensino Público. Em muitos países com cheque-ensino as escolas públicas até têm melhores resultados. Isto é defender a introdução de mecanismos que estimulem a concorrência dentro do próprio Ensino Público.
Por fim, não faz sentido dizer que a acção política se rendeu à racionalidade económica. A política é prescrita, a ciência é descritiva. E isso sim, é misturar alhos com bugalhos.
Abraço
P.S.- E cria um blogue
Naturalmente, a política é prescritiva, e não «prescrita».
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