João Miranda escreve no Blasfémias que há incoerência em permitir que se possa pedir um aborto quando não se pode pedir uma cesariana. Mas não há.
A mulher pode solicitar uma interrupção da gravidez, mas não lhe cabe decidir sobre o método utilizado para o fazer. Do mesmo modo, quando se aproxima o parto, a mulher pode explanar a sua opinião aos médicos, informação que será importante, mas não necessariamente coincidente com a decisão final que, a bem da mulher e do seu filho, deve ser clínica.
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Apesar do teu ponto de vista, Pedro, tenho que concordar que é uma disparidade poder fazer-se um aborto e não se poder optar por uma cesariana.
ResponderEliminarTudo bem que a mulher não pode escolher como fazer o aborto. Mas independentemente do método abortivo não haverá alterações na qualidade de vida (em termos de capacidades físicas) da mulher. Já no parto a cesariana pode dar oporunidade a uma qualidade de vida superior ao parto vaginal. Neste caso a opção da mulher deve ser um dado clínico mais.
Caro osso,
ResponderEliminar1. A morbilidade e a mortalidade da IVG varia consoante o método utilizado.
2. A cesarina tem indicações porque apresenta complicações que não existem no parto vaginal.
quando um tratamento é proposto a um doente, ele pode ser rejeitado. avança-se para uma segunda opção, que geralmente acarreta mais riscos. tendo o doente consciência dos riscos pode optar pela primeira. segunda, ..., opção.
ResponderEliminarà mulher cabe a responsabilidade da escolha, se assim quiser, após ter conhecimento dos prós e dos contras. daí a existência do consentimento informado.
volto a dizer que optar pela cesariana por razões de qualidade de vida é uma decisão que cabe a qualquer mulher grávida, desde que informada dos riscos da cesariana.
Acho que deve haver informação por parte do profissional de saúde e decisão por parte do utente. Ou seja, o médico informa sobre o procedimento que acha mais adequado, e o utente escolhe em função dessa mesma informação. O paciente responsabiliza-se pelas complicações "naturais" associadas ao processo que escolheu, as complicações "não naturais" do processo são da responsabilidade do médico. O médico pode assim apontar para a melhor solução, respeitando no entanto a decisão final do utente que não deve ser um mero espectador da decisão clínica.
ResponderEliminarApesar disso, a analogia de João Miranda é patética e refutável. Porque o aborto não é uma decisão metodológica, é uma decisão genérica que levou a utente ao estabelecimento de saúde, a decisão da metodologia a adoptar é de outro nível, com carácter obviamente mais científico/clínico o que implica obviamente um maior envolvimento por parte do médico.
"a mulher pode explanar a sua opinião aos médicos, informação que será importante, mas não necessariamente coincidente com a decisão final que, a bem da mulher e do seu filho, deve ser clínica."
Pedro, não pondo (em termos genéricos) em causa a sensatez da decisão médica também não o farei em relação à da mulher, se o médico disser que uma das decisões acarreta sérios riscos para o filho, a mulher também há-de tomar a decisão certa...e será o que acontece maioritariamente. No entanto, o corpo é da mulher, e o embrião/feto/filho, para o mal ou para o bem, depende das decisões da progenitora, se a mãe quiser, por exemplo, fumar durante o período de gestação...fuma. Portanto, não cabe aos médicos o exclusivo da patente moral/prática de garantir as melhores condições a um recém nascido, cabe a estes fazer tudo o possível sabendo que a decisão final é da mãe. Em termos idílicos, eu percebo como a decisão de um médico pode ser mais sensata do que a decisão de uma mãe, mas também entendo o inverso, e entre o bom senso da mãe e o conhecimento clínico do médico é preferível chegar a consensos do que tomar decisões unilaterais. Até porque uma mãe que queira uma cesariana "à força toda" vai para um serviço privado que muito provavelmente o fará...
Embora concorde que as parturientes sejam envolvidas na decisão, esta decisão deve ser informada e consciente. Sobretudo deve pesar factores de risco/benefício clínico e não só estético ou de valor emocional.
ResponderEliminarAs cesarianas têm indicações próprias, uma vez que acarretam riscos acrescidos em relação ao parto eutócico (vaginal) e esta opção não deve ser considerada de ânimo leve. Mesmo excluindo todas as outras complicações associadas a uma intervenção na cavidade abdominopélvica, nos países desenvolvidos, a mortalidade de uma cesariana é superior à do parto vaginal (CMAJ. 2007 Feb 13;176(4):455-60.). É certo que esta realidade é perturbada pelo facto de que as cesarianas com indicação representam partos mais complexos à partida. No entanto, não se pode excluir um risco acrescido de um conjunto de complicações que devem ser ponderados.
Adicionalmente, pese embora o papel de decisão das parturientes, a cesariana é um acto médico com responsabilidade legal do profissional que o pratica. O facto de a parturiente consentir tal não exlui essa responsabilidade. Caso haja morte o médico é responsável à luz da lei e pode ser penalizado por tal. O respeito pela Autonomia do paciente não pode ignorar o respeito pela Autonomia do médico.
O que mais choca nesta questão, não é o que se pratica nos hospitais públicos, mas a disparidade com os privados. Esta realidade revela uma preversidade entre as decisões clínicas e os interesses económicos individuais e colectivos. Deve alertar também para o facto de que esta preversidade irá contaminar o SNS há medida que este for sendo privatizado, em que as gestões hospitalares irão influenciar cada vez mais as decisões clínicas, directa ou indirectamente.
Quanto ao comentário:
"Já no parto a cesariana pode dar oporunidade a uma qualidade de vida superior ao parto vaginal."
Isto é baseado em quê? Não tem correlação nenhuma com a realidade...
considero a intervenção de João Miranda bastante a propósito.
ResponderEliminardiscordo totalmente da intervenção da ministra porque considero que na medicina o médico não é o todo poderoso e como tal senhor e dono de todas as decisões. por outro lado considero que este profissional deve informar o doente das suas "opções", com riscos e benefícios, sendo a decisão sempre do doente.
Osso
ResponderEliminarJá reparei que não discorda de mim.
Mas imagine que é médico (se não é mesmo!)
Se um doente viesse ter contigo e dissesse que a religião dele exige que lhe seja amputado um braço ou ele vai parar ao Inferno, faria a amputação. Ou que queria ser amputado para colocar uma prótese mecânica para ter vantagem no trabalho. Faria a amputação?
Embora este seja um caso mais extremo, o princípio em causa é o mesmo: a Autonomia do médico e das suas convicções científicas e morais. Adicionalmente, estes são casos reais, não ficcionados.
Se duas atitudes terapêuticas têm consequências equivalentes é absolutamente defensável a sua postura: o doente decide. Se não são, então o médico tem também o direito de refutar essa decisão e no caso extremo de discordar completamente, pode recusar-se, com a implicação de que tem de dirigir o doente para um colega que julgue de outra forma. É o que se passa com a objecção de consciência em relação à IVG. Imagine que quer interromper a sua gravidez e por acaso naquela semana não há médicos no hospital que não sejam objectores. Você defende que eles sejam obrigados contra as convicções deles a tratar a grávida? Pense bem.
Só quando se vive estas situações é que sabemos de que lado da fronteira estamos.
Caro Anónimo (11:59),
ResponderEliminara bioética tem 4 princípios fundamentais: autonomia (do doente), beneficiência, não maleficiência e justiça.
assim o médico deve (a meu ver tem!): informar o doente para lhe dar autonomia na decisão; intervir de modo a procurar a melhoria do doente; a sua intervenção não deve procurar prejudicar o doente; e por fim ter uma atitude que seja possivel dispensar a todos (é neste ponto que a sra ministra quer intervir e é aqui que se centra a discussão).
assim, o médico não pode amputar, simplesmente porque o doente quer. tal como, a meu ver, não deve abortar só porque a mãe quer (mas isso já é outro tema e já largamente discutido). agora em termos de parto ou cesariana a intervenção da ministra tem um carácter pura e simplesmente economicista, esquecendo por outro lado que há quem não se importe de correr o risco (cirúrgico) de uma cesariana em busca de uma melhor qualidade de vida a níveis sexual, estético, ...
Se tudo se tratasse no campo ético e médico as coisas eram muito bonitas. Só que sabem bem que não é assim. Muitas das opções são económicas. É por isso que conheço muitos casos de parturiemtes que não quiseram ir para o S. Marcos com medo que o parto fosse no horário da noite.
ResponderEliminarCaro Osso
ResponderEliminarConcordo plenamente no que diz e conheço os principios melhor do que pensa.
A questão que coloca está enviezada por pensar que cesariana é igual a parto eutócico. Não é. E sabe bem disso.
Pegando nas suas justificações:
"informar o doente para lhe dar autonomia na decisão": concordo plenamente. Poderia amputar na mesma se o doente fosse informado.
"intervir de modo a procurar a melhoria do doente": doente que se quer amputar quer é ser melhorado, espiritual ou fisicamente.
"a sua intervenção não deve procurar prejudicar o doente": nem amputar, nem cesariana procuram isso, mas ambas fazem necessariamente
"ter uma atitude que seja possivel dispensar a todos": certamente, isto é o que acho que não está bem. Nas privadas os doentes são muitas vezes levados a pensar que corre sempre tudo bem.
E porque carga de água é que as pessoas têm ideia que o parto vaginal é esteticamente ou sexualmente pior do que a cesariana.
só um reparo...acho o parto por cesariana muito menos estético...as cicatrizes na barriga vêem-se mais do que "lá em baixo".
ResponderEliminaragora, apenas me pergunto: o que se passa com os partos em portugal para todas as grávidas entrarem em pânico com a ideia de irem para um hospital? é que este correr para a cesariana talvez seja significativo de outros problemas. por exemplo, a imobilidade das grávidas durante o trabalho de parto, os maus tratos psicológicos que ainda se continua a inflingir (é verdade), e os casos de negligência médica que assombram as mulheres em trabalho de parto. e olhem que estes casos não são assim tão poucos quanto isso, infelizmente...
Caro Pedro, não é a liberdade de escolha do método que está em causa.
ResponderEliminarJuridicamente, a liberdade de fazer, ou não, uma cesariana, não tem absolutamente nada a ver com a liberdade, ou não, de fazer uma IVG. Até porque esta última tem dignidade penal. Só é possível em casos excepcionais. A primeira não. Creio que tecnicamente (medicamente) será possível em qualquer situação, apesar de não ser "indicado" em qualquer situação.
Mas independentemente de se achar que essa liberdade deve existir, se essa opção deve estar disponível como opção de "conforto" e não apenas em caso de necessidade - essa será uma questão interessante, ainda mais, se cabe ao SNS prestar esses serviços de conforto - aqui interessa realçar a incoerência de dar essa liberdade de abortar e de não dar a liberdade de fazer uma cesariana.
Aliás, sobre essas matérias, compete, meramente, aos médicos, informar as mulheres e os pais (em termos genéricos).
Chamo-te até a atenção para a questão muito interessante do "Direito a não nascer". Questão que em termos simples envolve saber se os pais podem pedir uma indemnização pela informação incompleta e tardia que os médicos dão sobre malformações dos fetos. Esta é a primeira parte da questão que, sendo discutível, não é, hoje em dia, muito tão controversa quanto a seguinte: saber se o filho, quem nasce, tem o direito de pedir uma indemnização por ter nascido. Se quiseres, posso-te enviar um artigo de doutrina, já com alguns anos sobre isso.
Mas isto para dizer que creio que estarás equivocado quanto ao papel dos pais na decisão do nascimento do filho. Até porque, parece-me, estes terão o direito de dizer o como, quando e onde. Aos médicos caberá informar. Se for realmente uma opção de grande risco, os médicos podem recusar-se a prestar o serviço - por isso será uma falsa questão.
Está tudo bebado!
ResponderEliminarA Sra D. Felisberta recorre à clínica privada para realizar a cesariana no dia que quer, à hora que dá jeito aos obstetras e restante equipa e no dia que interfere menos na sua vida privada.
A Maria entra no hospital com rotura de bolsa de águas há mais de 48 horas a "feder" de infecção e é submetida a cesariana urgente.
A sra D. Felisberta fez uma periotnite pós operatória e foi transferida para o Hospital, morreu!
A Maria correu tudo bem e teve alta.
Epílogo: as duas fizeram cesariana, uma porque a decisão clínica assim o imperava outra porque decidiu seguir o conceito social e o aproveitamento do preceito ético da autonomia de decisão.
Váo à bardamerda com a autonomia de decisão!
Toninho Regadas
Este último comentário pauta pela classe.
ResponderEliminarNa autonomia da decisão é intrínseco o erro e a morte...é mesmo assim a liberdade de escolha.
Caro anónimo,
ResponderEliminarem primeiro perço desculpa pelo adiantar da hora do meu comentário.
os princípios da bioética conjugam-se individualmente e ao mesmo tempo em conjunto. é mais do que óbvio que uma amputação só deverá ser realizada se o membro "ameaçar" o restante organismo, e não havendo qualquer outra opção terapêutica. não basta ser essa a vontade do doente, o princípio da não-meleficiência assim o manda.
quanto à cesariana é um método tão válido como o parto vaginal e que em nada prejudica a doente.
passando à parte mais estética, a passagem do feto pela bacia só é possível divido à dilatação desta e pela laxides de um ligamento. como tal é natural que as mulheres fiquem ancas mais "largas" após o parto vaginal (o que não significa que não fiquem no caso de fazerem cesariana, mas se houver alargamento da bacia é sempre em menor grau). a parte sexaual vai pelo mesmo caminho...
Não pude de deixar um comentário a este tema. Para além de futura profissional de saúde, sou mulher e o facto de a cesariana não ser uma opção para nós deixa-me um pouco confusa.
ResponderEliminarQuando uma mulher engravida supõe-se que deseja o melhor para si e para o seu bebé. Se o médico disser que a melhor opção é um parto natural, provavelmente será essa a sua escolha. Mas não me parece muito justo que essa opção seja imposta. Tal como no aborto, defende-se que a mulher tem plenos direitos sobre o seu corpo por isso porque não poderá optar por uma cesariana??
Para além disto, outra dúvida assombra o meu pensamento. Se a mulher se dirigir a um hospital privado e pagar uma fortuna para ter o seu filho, será o médico capaz de lhe impor as mesmas opções clínicas?
Desculpem se esta opinião não está dentro dos parâmetros do tema mas, penso ser oportuno lembrar que temos Portugueses que nunca tiveram uma consulta de especialidades, isto é, quando são levados até um Hospital é uma sorte, aí são feitos todos os exames e pesquisas, são tratados, por vezes tarde porque sem dinheiro e com a assistência médica que temos, os idosos enão só, sem posses ou sem conhecimentos, não podem ter acesso a consultas privadas, e morrem ou esperam o seu fim nos hospitais ou em casa, porque no devido tempo, não tiveram o acompanhamento necessário.Consultas a 60,70, ou 80Euros quem as pode pagar? O sistema peca porque é insensivel ás necessidades do povo.
ResponderEliminarÉ fácil falar, argumentar, comentar, quando não se vivem os problemas.O aborto nunca mereceu apoio de nenhum partido em causa sempre se pôs a questão como um direito da mulher.Hoje talvez recorram à IVG aquelas que um dia votaram NÃO, porém as leis são claras e para cumprir.HVG um mal necessário ou apenas um acto de planeamento familiar? Parece ser assim que vai sendo praticado, quando não era essa a razão principal dum tal direito.Hoje já se fala em abusos...das mulheres, dos médicos escondidos atrás duma objecão de consciência nem sempre clara, enquanto surgem disponiveis,muitas clínicas privadas.Mais uma vez quem tem muito dinheiro, resolve sempre bem a questão.E as outras cidadãs deste País?Abuso da Lei? Talvez, mas certamente havera´
ResponderEliminara culpados.
É evidente neste caso o Médico falou mais alto e opinou frontalmente e sem tabus.A mulher, a IVG e os motivos sempre devem ser questões a considerar,quanto ao resto julgo cada caso será um caso com soluções adequadas e tomadas após reflexão.Talvez seja hoje verdade recorrerem aos Hospitais exactamente aquelas que um dia disseram não e acredito só não é maior a procura porque existe a convicção no privado tudo é mais segiloso.Será assim?
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