A propósito da segunda Conversa Improvável, Luísa Teresa Ribeiro fez jornalismo no Diário do Minho (edição de 27 de Março):
A região de Braga tem um posicionamento geográfico que lhe permite aspirar a ser, tal como aconteceu no passado, uma centralidade no noroeste peninsular. No entanto, o caminho para a prosperidade exige a valorização do património, algo que tem sido descurado. A cidade, à semelhança do país, precisa de elites menos acomodadas e de uma população com mais formação e com espírito competitivo.
Este quadro foi traçado pelo arqueólogo Sande Lemos e pelo docente de Economia Fernando Alexandre, na segunda “Conversa Improvável” promovida pelo Café Blogue, que decorreu na passada segunda-feira à noite no Espaço Cultural Pedro Remy.
O antigo presidente da Unidade de Arqueologia da academia minhota defendeu que «os centros de decisão não estão totalmente em Lisboa» e que «se Braga não está melhor é pela incapacidade local». «As regiões têm muito poder, mas resignam-se. Braga e o Minho não se podem resignar» afirmou.
Sande Lemos alertou para o facto de o domínio “Bracara Augusta” ainda não ter sido registado pela Câmara ou pela Universidade do Minho, pelo que agora, quando se faz uma pesquisa deste termo, aparece a indicação de uma albergaria.
Em seu entender, «a marca é o primeiro problema», pelo que se deve estabelecer «um consórcio» que seja responsável pela sua promoção. «Há muita informação científica que não é suficientemente usada e difundida. Não há uma indústria do património em Portugal. O património é visto como um ornamento, o que é uma perspectiva errada. Espanha, ao contrário de nós, tem uma estratégia para o património», declarou.
Como exemplos da actuação local, este académico referiu o caso do Museu D. Diogo de Sousa, que era «considerado um elefante branco tanto em Lisboa como em Braga», e o facto de o projecto de Leite de Vasconcelos para a Fonte do Ídolo ter demorado 102 anos a ser concretizado. Em seu entender, deve haver um investimento para «criar uma imagem forte e a longo prazo da cidade» de Braga, para aumentar o turismo e para oferecer uma «atmosfera cultural» interessante a quem vem de fora, nomeadamente para os que vão chegar por causa do Instituto de Nanotecnologia.
Elites são piores do que no século XIX
Sande Lemos defendeu que o país precisa de elites que «comecem a pensar o território e como é que o podem desenvolver». Só que, na sua opinião, Portugal não tem neste momento «elites capazes». «As do século XIX eram muito melhores», afirmou. Como exemplo dessa falta de perspicácia, o arqueólogo referiu o desmantelamento do Instituto Geológico Mineiro porque era uma área que supostamente não interessava, quando agora há empresas a procurar ouro, pois o preço deste metal precioso subiu em flecha.
Fernando Alexandre argumentou, por seu turno, que «cada povo gera as elites que consegue», uma vez que elas advêm do «povo, das estruturas e das instituições». Na sua opinião, à semelhança do que se passa na sociedade em geral, nas elites portuguesas ainda vigora a ideia de que «ter um olho é ser rei», quando se deveria privilegiar a partilha de informação e a ambição. «Ninguém consegue processar toda a informação para tomar decisões, pelo que se deve fazer com que a informação circule e haja transparência nas instituições», afirmou.
«Os portugueses são muito hábeis a desperdiçar recursos e informação», corroborou Sande Lemos, admitindo que se surpreende com o facto de haver decisões que são tomadas «sem dados». O economista explicou que outro dos problemas nacionais se prende com a baixa escolaridade: na região Norte, 30 por cento da população activa tem quatro anos de escolaridade. Em 2003, 50 por cento dos encarregados de educação dos alunos da Universidade do Minho tinham apenas o primeiro ciclo. O cenário da qualificação não tenderá a melhorar substancialmente, com 40 por cento dos jovens a deixarem os estudos no 9.º ano.
Fernando Alexandre explicou que Portugal tem, desde o final do século XIX, um rendimento de 70 a 75 por cento da média dos países europeus, o que não é fácil de manter. Usando a terminologia aplicada por um aluno, o docente referiu que «Portugal tem muitos “nabos”, mas também um conjunto significativo de pessoas que não são “nabos”».
O universitário argumentou que «os portugueses são pouco competitivos. Vêem a competição como negativa, quando é boa». «É preciso ter grandeza de espírito», declarou, embora reconhecendo que «se calhar, o problema está mesmo no povo».
A próxima “Conversa Improvável” realiza-se no dia 31 de Março, a partir das 21h30, no Estaleiro Cultural Velha-a-Branca, e junta “Jornalismo e Poder”. O Café Blogue é uma iniciativa dos blogues Avenida Central, Colina Sagrada, Disputa, Fontes do ídolo, Mal Maior e Mesa da Ciência.
Sugiro também o excelente artigo de Pedro Romano no Comum Online: A LER AQUI.
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