Uma Ministra a Mais [5]
Quem ouviu os comentários do primeiro ministro aos ovos que foram arremessados contra um carro da comitiva ministerial esperava maior celeridade na condenação das agressões a murro e pontapé a uma docente do Porto.
A gestão do Património Arqueológico Urbano
© Gisela Braga
As investigações arqueológicas levadas a cabo em contexto urbano, a conservação dos vestígios descobertos, a musealização dos mesmos e a publicação de dados científicos, sob diversas formas, são um conjunto de componentes de todo um processo que deve estar implícito no planeamento de uma cidade. Isto quer na sua vertente infra-estrutural (escavações e musealizações) quer na sua vertente cultural (fruição do Património pela comunidade).
Em Portugal, praticamente não temos modelos exemplares de gestão do Património Arqueológico urbano: ou as escavações são feitas por uma infinidade de equipas que são contratadas como se de empreiteiros se tratassem, que fazem o trabalho de campo, entregam o relatório ao Igespar e vão-se embora; ou as intervenções são feitas por uma instituição pública, que garantindo um trabalho eficiente a nível de investigação, não garante (por não ter prerrogativas para isso) uma musealização posterior dos vestígios, que por vezes são deixados ao abandono. Existem cidades onde as coisas funcionam melhor, outras existem onde a Arqueologia passa completamente ao lado dos cidadãos.
Na grande maioria dos casos, a Arqueologia está amplamente dependente das autarquias. Ainda que algumas câmaras municipais demonstrem uma maior sensibilidade pela área, o que se faz pelo Património Arqueológico está directamente relacionado com a política local. Na verdade, a conservação do Património não devia depender de decisões políticas, mas sim de decisões de entidades cientificamente credenciadas para o efeito.
Embora já o tenha citado aqui, volto uma vez mais a referir o modelo utilizado em Mérida. A criação de um Consórcio com amplos poderes de gestão relativamente ao Património Arqueológico urbano, estabele uma coordenação necessária entre instituições administrativas de diferentes instâncias, desde o Governo até à Câmara Municipal, e de diferentes âmbitos, da Universidade aos organismos do Ministério da Cultura. Deste modo, evitavam-se problemas de sobreposição de competências, de compasso de espera relativamente a decisões e de passagem da posse administrativa de um monumento.
O Consórcio da Cidade Monumental de Mérida reúne as competências que, na maior parte das cidades portuguesas e espanholas, são repartidas por uma infinidade de organismos e instituições. O Consórcio faz as escavações, trata a informação recolhida, conserva e musealiza as ruínas e gere os conjuntos abertos ao público. Além disto, aufere do patrocínio do mecenato local. Mas a criação de um organismo destes em Braga, não me parece uma bandeira eleitoral de nenhum candidato autárquico.
Fôssemos Todos Padres
Por muito que a Europa tenha chegado, nas suas directivas e tractores, à ruralidade portuguesa, anos contados depois de Mário Soares assinar a adesão ( fôssemos nós doutro continente ou à deriva no mapa mundi), pouco mudou nalguns hábitos antigos. Sempre que se renova o prior num vilarejo ou cidade com cabeça desse tamanho, faz-se festa em tapetes de flores, comezaina, missa e beijar de mão – para não dizer coisa badalhoca – como quem beija o Menino e espalha o herpes com a boa-nova. Aliás nunca percebi o que é que o patchouli tem de desinfectante que não fosse o cheiro que nos repele de gente de mau gosto e blusas cor-de-rosa ou calças de pano amarelo…
Adiante. Não há padre que morra de fome em lado nenhum, porque não havendo quem oiça e dê resposta que se preze, médicos sem vocação de merceeiro, ou psiquiatras ou psicólogos de centro-de-saúde, nada como alguém embebido da autoridade divina de perdoar todos os pecados da alma que, à excepção dos literais roubos de igreja, estão além dos 10 mandamentos e as desaventuranças, pago com casa feita a expensas da comunidade, porco, pitinho, arroz, batatas, couves, carro e as ofertas – 10% do rendimento mensal do agregado. O altruísmo comunitário é tal, que até o padre desconfia. Houve altura que a paróquia da minha terra montou com o grupo de jovens e catequistas um censo para averiguar de quantas famílias e posses, não fosse o altruísmo ser demasiado comedido. Vale que ficou a ideia pelo papel, por intercepção do arcebispo que, informado das férteis mentes de má-língua geradas pela doença da coceira do grelo, fez guindaste ao padre para beira-mar, longe das tentadas mulheres (e homens) da montanha e mais perto do iodo. Em cada aldeia uma Sodoma à sua maneira, e normalmente não é por serem bonitos. Longe disso, é pela necessidade de quem lhes arrepie a fome de todos os buracos do corpo.
A ideia que geramos que temos tudo em falta ou que nos falta tudo, exagera e distorce os patamares de felicidade. Fica tudo arreado para donzelas de dote alargado e peida parideira, e príncipes dedicados. É o conto de fadas à moda do hipermercado e não há lugar para gente normalmente humana. Pena que não veja a sociedade, nas suas pequenas e grandes comunidades, valor em todas as artes e artistas - mesmo aqueles que chama de preguiçosos. Pena que não façam tapetes de flores aos carpinteiros, que não beijem as mãos aos construtores e aos lavradores, que não louvem os professores com maçãs como faziam dantes, que não ofereçam jantar aos pintores. Parecem agora tantos e de estorvo que se os calibra como a fruta da CE. Ou servem ou não servem - e os que servem mesmo assim têm prazo de validade. Depois não admira que tenhamos um país, uma Europa e um Mundo de fácies depressivo e em delírio de ruína.
Adiante. Não há padre que morra de fome em lado nenhum, porque não havendo quem oiça e dê resposta que se preze, médicos sem vocação de merceeiro, ou psiquiatras ou psicólogos de centro-de-saúde, nada como alguém embebido da autoridade divina de perdoar todos os pecados da alma que, à excepção dos literais roubos de igreja, estão além dos 10 mandamentos e as desaventuranças, pago com casa feita a expensas da comunidade, porco, pitinho, arroz, batatas, couves, carro e as ofertas – 10% do rendimento mensal do agregado. O altruísmo comunitário é tal, que até o padre desconfia. Houve altura que a paróquia da minha terra montou com o grupo de jovens e catequistas um censo para averiguar de quantas famílias e posses, não fosse o altruísmo ser demasiado comedido. Vale que ficou a ideia pelo papel, por intercepção do arcebispo que, informado das férteis mentes de má-língua geradas pela doença da coceira do grelo, fez guindaste ao padre para beira-mar, longe das tentadas mulheres (e homens) da montanha e mais perto do iodo. Em cada aldeia uma Sodoma à sua maneira, e normalmente não é por serem bonitos. Longe disso, é pela necessidade de quem lhes arrepie a fome de todos os buracos do corpo.
A ideia que geramos que temos tudo em falta ou que nos falta tudo, exagera e distorce os patamares de felicidade. Fica tudo arreado para donzelas de dote alargado e peida parideira, e príncipes dedicados. É o conto de fadas à moda do hipermercado e não há lugar para gente normalmente humana. Pena que não veja a sociedade, nas suas pequenas e grandes comunidades, valor em todas as artes e artistas - mesmo aqueles que chama de preguiçosos. Pena que não façam tapetes de flores aos carpinteiros, que não beijem as mãos aos construtores e aos lavradores, que não louvem os professores com maçãs como faziam dantes, que não ofereçam jantar aos pintores. Parecem agora tantos e de estorvo que se os calibra como a fruta da CE. Ou servem ou não servem - e os que servem mesmo assim têm prazo de validade. Depois não admira que tenhamos um país, uma Europa e um Mundo de fácies depressivo e em delírio de ruína.
Capítulo 20: um homem do tamanho de um século
No dia do centésimo aniversário de Claude Lévi-Strauss, a Avenida Ideal é dedicada a um dos mais importantes pensadores do século XX. Antropólogo francês, é hoje um dos nomes maiores do pensamento em ciências sociais.Contributo fundamental para a construção do pensamento ocidental: a diversidade cultural não representa o atraso ou avanço de uma sociedade ou comunidade em relação a outra, antes a diferença de valores entre elas. Ensinou o nosso mundo a ver os outros mundos com olhos diferentes: com os olhos de quem os cria.
(Re)Enterrar o Tesouro Romano? [2]
«A Câmara de Braga respeitará as indicações que forem dadas pela Universidade do Minho sobre os vestígios arqueológicos romanos encontrados numa obra em curso na Avenida da Liberdade, revelou hoje o adjunto do presidente da autarquia. [...] Agora, e de acordo, com as indicações da autarquia, a Unidade de Arqueologia concordou em permitir o seu enterramento, com a opção de, um dia mais tarde, ser feita uma escavação mais ampla no local.» [Jornal de Notícias]
No dia em o PSD exigiu a divulgação permanente das descobertas sobre o templo romano, a Câmara de Braga imputa aos arqueólogos da Universidade do Minho a decisão de voltar a enterrar o templo romano de grandes dimensões que foi encontrado sob a Avenida da Liberdade. Torna-se cada vez mais evidente que o processo não está a ser conduzido de forma completamente transparente.
Convém lembrar que o assunto não é consensual entre os arqueólogos e que o próprio Luís Fontes defendeu a musealização do achado aquando da visita dos deputados municipais. Recuso aceitar que decisões tão importantes sejam tomadas num aparente contra-relógio eleitoral em que a posição da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho pode vir a ser interpretada como um mero aceno às «indicações da autarquia».
Porque é que Luís Fontes mudou de opinião? Ninguém sabe. E também ninguém sabe o que é que a musealização do templo representaria em termos de potencial turístico para a cidade nem que opções foram estudadas como alternativa em caso de suspensão definitiva da obra nem se o alegado acordo com os promotores imobiliários da requalificação do quarteirão do Correios pesou nesta decisão. O que está claro é que o executivo de Mesquita Machado pretende lavar as mãos, acusando a Unidade de Arqueologia de ter optado por enterrar o tesouro romano agora descoberto. Tudo está a ser decidido sem o necessário debate público, sem a audição de outros especialistas e fazendo tábua rasa das opiniões versadas por alguns dos mais conceituados arqueólogos nacionais.
O destino que lhe querem traçar é certamente melhor do que o que deram aos achados arqueológicos encontrados na Avenida Central e noutros pontos da cidade. Ainda assim, importa salientar que o primeiro compromisso dos arqueólogos é para com a sociedade, os contribuintes e a defesa do património histórico. A ideia que transparece é que a arqueologia está a perder mais uma oportunidade e, pior do que isso, que Braga está outra vez a hipotecar o futuro mal tratando o passado...
Juntos pelo Aeroporto do Norte
A defesa da gestão autónoma do Aeroporto Sá Carneiro está a unir o Norte contra o centralismo do governo de Lisboa. Os autarcas dos 86 municípios do Norte, com o apoio de Aveiro, estão a preparar uma posição conjunta para enviar ao Primeiro Ministro, José Sócrates.
O Minho despertou finalmente para uma questão que é estratégica para o desenvolvimento do Norte e os municípios de Guimarães, Famalicão, Barcelos, Viana dos Castelo e Arcos de Valdevez estiveram representados ao mais alto nível neste primeiro encontro. A ausência de Braga foi colmatada com uma carta de apoio à iniciativa.
O Minho despertou finalmente para uma questão que é estratégica para o desenvolvimento do Norte e os municípios de Guimarães, Famalicão, Barcelos, Viana dos Castelo e Arcos de Valdevez estiveram representados ao mais alto nível neste primeiro encontro. A ausência de Braga foi colmatada com uma carta de apoio à iniciativa.
Zon 1 - Benfica 0
Depois das tentativas de condicionamento da liberdade de informação através da censura dos jornalistas que não dizem o que o clube quer ouvir, o Benfica tentou impedir a ZON de transmitir um jogo cujos direitos de transmissão tinha legitimamente adquirido junto do Olympiakos. Apesar dos esforços, Meo e Benfica saem derrotados porque a Entidade Reguladora da Comunicação autorizou a transmissão em exclusivo para clientes ZON.
Acontece no Minho [12]
© Rui Norte
O Lago dos Cisnes (bailado)
[Sexta, 28 de Novembro, 21h30m. Theatro Circo, Braga]
"O Lago dos Cisnes" de Tchaikovsky é uma das obras mais emblemáticas da música do século XIX. Chega ao Minho através da interpretação dos famosos bailarinos do Ballet Imperial Russo, no penúltimo dia da digressão nacional daquele grupo.
O Elixir de Amor (ópera)
[Sexta, 28 de Novembro, 21h30m. Centro Cultural Vila Flor, Guimarães]
«Estreada em 1832, “O Elixir D’ Amor”, do famoso compositor Gaetano Donizetti, é uma das óperas cómicas de maior harmonia, em delicado equilíbrio entre a farsa e o sentimento. Una furtiva lacrima, a ária mais famosa desta ópera, já foi interpretada por todos os grandes tenores italianos, de Caruso a Pavarotti.»
Quarteto J (música)
[Sábado, 29 de Novembro, 22h. Espaço Cultural Pedro Remy, Braga]
Com J. Resende (na foto) no piano, Zé Pedro Coelho nos saxofones, João Custódio no contrabaixo e João Rijo na bateria, o Espaço Cultural Pedro Remy volta a trazer o melhor jazz nacional a Braga. O Quarteto J é liderado por J. Resende, um algarvio que, com apenas quatro anos de idade, começou a tocar piano. Depois de um longo percurso de formação musical, tornou-se num dos nomes mais respeitados do jazz nacional.
Festas Nicolinas
[Sábado, 29 de Novembro. Guimarães]
São as festas do estudante de Guimarães. Embora as primeiras referências remontem ao início da segunda metade do século XVII, crê-se que as Festas Nicolinas começaram a celebrar-se no século XIV. O cortejo do pinheiro e as ceias nicolinas são a grande atracção do fim de semana cultural do Minho, trazendo milhares de vimaranenses e fostareitos para as ruas à cidade património da Humanidade na noite do próximo Sábado.
(Re)Enterrar o Tesouro Romano
«Os arqueólogos da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UAUM), que vêm acompanhando os trabalhos do prolongamento do túnel, detectaram, em Outubro, um vestígio de um edifício romano de grandes dimensões, a sul do cruzamento da Avenida da Liberdade com a rua do Raio. As escavações puseram a descoberto apenas o topo norte da estrutura, com cerca de 20 metros, bem como um muro de construção romana. O resto do edifício permanece escondido debaixo de terra numa zona onde não está prevista nenhuma intervenção a curto prazo. O início da construção do equipamento descoberto pelos arqueólogos da UM deve remontar ao século I.» [Samuel Silva, Público]
A decisão foi tomada sem qualquer debate público - as descobertas arqueológicas do topo norte da Avenida da Liberdade vão ser (re)enterradas e as obras do túnel prosseguem. Mas afinal, qual é o potencial histórico e turístico da musealização destas descobertas?
A resposta, se alguém se questionou sobre o assunto, está guardada nos gabinetes dos autarcas e dos arqueólogos desta cidade, sem que das reflexões produzidas seja dado cabal conhecimento às populações. Num momento em que se ouvem tantos lamentos sobre o desinteresse dos cidadãos pela política e pelas questões de cidadania, o debate sobre estas matérias deveria ser público, transparente e global.
Todos se recordam do que foi o debate em torno do novo aeroporto da Ota e dos custos que o país teria que suportar caso o assunto se tivesse mantido na esfera dos políticos e dos técnicos que os políticos contratam. Temo bem que suceda o mesmo nesta questão do túnel da Avenida da Liberdade.
Já se sabe que uma parte significativa dos bracarenses não tem a herança histórica em boa conta, mas a verdade é que, ao desperdiçarem oportunidades preciosas para suscitar o debate, os arqueólogos, alguns arqueólogos, contribuem para o preocupante alheamento das populações que acaba por ratificar os erros estratégicos e atentados contra o património histórico que têm sido cometidos ao longo dos últimos anos.
As Contas do Futebol [2]
1. Respeitando o princípio de que sem competição não há receitas, a Liga deveria chamar a si cinquenta por cento de todas as receitas das transmissões televisivas, distribuindo-as equitativamente por todos os clubes participantes.
2. Respeitando os princípios do serviço público de televisão, em particular a obrigação de pluralidade, os órgãos de comunicação social estatais deveriam pautar a sua informação desportiva por rigorosos critérios de relevância noticiosa, dedicando mais tempo relativo aos clubes que não os chamados três grandes.
3. Respeitando as lógicas de mercado, os clubes deveriam adequar os preços dos bilhetes à procura sem desvirtuar as especificidades de um segmento em que os factores emocionais têm um peso decisivo nas decisões económicas. Como tal, os clubes ditos pequenos deveriam trabalhar no fortalecimento das ligações afectivas com os associados reais e potenciais, num trabalho que deverá ser levado a cabo em conjunto com as autarquias e as principais colectividades locais, tendo presente que os clubes são os principais embaixadores e aglutinadores identitários das cidades em que se inserem. Mais, os clubes devem criar condições de competitividade em redor do espectáculo desportivo que tornem as deslocações ao estádio mais apetecíveis do que a assistência aos jogos no conforto do sofá.
2. Respeitando os princípios do serviço público de televisão, em particular a obrigação de pluralidade, os órgãos de comunicação social estatais deveriam pautar a sua informação desportiva por rigorosos critérios de relevância noticiosa, dedicando mais tempo relativo aos clubes que não os chamados três grandes.
3. Respeitando as lógicas de mercado, os clubes deveriam adequar os preços dos bilhetes à procura sem desvirtuar as especificidades de um segmento em que os factores emocionais têm um peso decisivo nas decisões económicas. Como tal, os clubes ditos pequenos deveriam trabalhar no fortalecimento das ligações afectivas com os associados reais e potenciais, num trabalho que deverá ser levado a cabo em conjunto com as autarquias e as principais colectividades locais, tendo presente que os clubes são os principais embaixadores e aglutinadores identitários das cidades em que se inserem. Mais, os clubes devem criar condições de competitividade em redor do espectáculo desportivo que tornem as deslocações ao estádio mais apetecíveis do que a assistência aos jogos no conforto do sofá.
Ensaio Sobre a Cegueira
A cegueira não passa de um pretexto para uma impressionante metáfora sobre a natureza humana.
Eleições na AAEUM
No próximo dia 28 de Novembro, a Associação de Antigos Estudantes da Universidade do Minho (AAEUM) vai a votos para eleger os novos órgãos sociais. A novidade deste ano é a existência de uma lista alternativa ao grupo que vem gerindo os destinos daquela associação. Passa ao Plano B é o lema da lista encabeçada por Liliana Pereira que tenta destronar Jorge Louro, actual presidente da AAEUM.
Avenida da Liberdade – Centro Histórico. No âmbito da discussão sobre o prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade e antes de começarem as obras, tive oportunidade de manifestar o meu parecer contra . Caso houvesse bom senso, parava-se desde já. Pode aprofundar-se o debate como propõe o Dr. Gonçalo Cruz, mas julgo que seria melhor parar em definitivo. Esta exigência devia ser assumida pelos cidadãos e pelos partidos representados na Assembleia Municipal.
Por outro lado enquanto se prolonga a discussão sobre o túnel o debate urgente sobre a recuperação do Centro Histórico e a valorização das ruínas arqueológicas está a ser adiado ou passa despecebido. É verdade que o Executivo Camarário já apresentou um plano para o efeito. Porém eu conheço as promessas do Engenheiro Mesquita Machado e como elas se esfumam. Também sei por experiência que a degradação dos prédios acarreta problemas muito complicados e pode por vezes obviar, ou transformar num risco diário de vida, as intervenções arqueológicas que devem preceder os restauros e as primeiras operações de consolidação. Aliás os técnicos da Câmara sabem disso melhor que eu, ou seja que cada dia que passa aumentam as dificuldades das intervenções. Sera que já nos esquecemos dos operários que morreram na Rua dos Chãos? Tragédias idênticas só não ocorreram por acaso, na Rua de S. Marcos e na Rua da Cruz da Pedra.
Há portanto duas frentes que deveriam ser aprofundadas: a suspensão imediata das obras na Avenida da Liberdade. Segundo: uma pressão vigorosa para que o Município invista a sério no Centro Histórico e com a máxima rapidez, não daqui a um ano, mas já.
Por último é urgente que se estabeleça como regra o acompanhamento arqueológico de todas as obras de vulto, incluindo urbanizações que realizam nos arredores da cidade. E para delimitar as zonas patrimoniais mais sensíveis deve-se proceder, também com urgência, a prospecções sistemáticas em toda a área do concelho, financiadas pela autarquia.
Por outro lado enquanto se prolonga a discussão sobre o túnel o debate urgente sobre a recuperação do Centro Histórico e a valorização das ruínas arqueológicas está a ser adiado ou passa despecebido. É verdade que o Executivo Camarário já apresentou um plano para o efeito. Porém eu conheço as promessas do Engenheiro Mesquita Machado e como elas se esfumam. Também sei por experiência que a degradação dos prédios acarreta problemas muito complicados e pode por vezes obviar, ou transformar num risco diário de vida, as intervenções arqueológicas que devem preceder os restauros e as primeiras operações de consolidação. Aliás os técnicos da Câmara sabem disso melhor que eu, ou seja que cada dia que passa aumentam as dificuldades das intervenções. Sera que já nos esquecemos dos operários que morreram na Rua dos Chãos? Tragédias idênticas só não ocorreram por acaso, na Rua de S. Marcos e na Rua da Cruz da Pedra.
Há portanto duas frentes que deveriam ser aprofundadas: a suspensão imediata das obras na Avenida da Liberdade. Segundo: uma pressão vigorosa para que o Município invista a sério no Centro Histórico e com a máxima rapidez, não daqui a um ano, mas já.
Por último é urgente que se estabeleça como regra o acompanhamento arqueológico de todas as obras de vulto, incluindo urbanizações que realizam nos arredores da cidade. E para delimitar as zonas patrimoniais mais sensíveis deve-se proceder, também com urgência, a prospecções sistemáticas em toda a área do concelho, financiadas pela autarquia.
Acontece no Minho [11]
© jsome
A Nova Literatura Portuguesa: Nenhum Olhar
[Terça, 25 de Novembro, 21h30m. Theatro Circo, Braga]
A obra "Nenhum Olhar" do jovem escritor português José Luís Peixoto estará em análise na segunda noite da comunidade dos leitores do Theatro Circo. Valter Hugo Mãe conduz a sessão.
Memórias de uma máquina a vapor, Teatro Oficina
[Quarta a Sexta, 26-28 de Novembro, 22h. Centro Cultural Vila Flor, Guimarães]
«“Memórias de uma máquina a vapor” é um projecto teatral escrito a partir de materiais encontrados na cidade de Guimarães. Objectos abandonados, textos resgatados das ruas, notas escritas e deixadas à sorte deram o conteúdo a esta peça. A visão de uma cidade através do perdido e do achado. Uma pergunta sobre as relações de pertença com aquilo que encontramos e aquilo que abandonamos.»
Apresentação do Livro «O Apocalipse dos Trabalhadores»
[Quinta, 27 de Novembro 21h30m. Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Braga]
A Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva apresenta a obra mais recente de Valter Hugo Mãe, um dos mais promissores escritores portugueses e vencedor do prémio literário José Saramago em 2006 com a obra «o remorso de baltazar serapião».
As Contas do Futebol
O despovoamento dos estádios nacionais, contrastante com as casas cheias de outras paragens, é um dos condicionantes que mais tem contribuído para a crise que se abateu sobre o futebol português. O problema da falta de adeptos nos estádios é complexo, resultando de uma miríade de condicionantes que importa analisar em detalhe.
1. O facto de existirem três clubes que absorvem a esmagadora maioria dos adeptos espalhados por todo o país resulta numa distribuição muito assimétrica das receitas tendo como consequência uma diminuição da capacidade competitiva dos outros clubes e, por arrasto, das próprias competições desportivas. Como os órgãos de comunicação social são mais sensíveis às audiências do que aos critérios informativos, a informação desportiva é distorcida, tanto em qualidade como em quantidade, em favor dos chamados grandes, contribuindo para manter um ciclo vicioso em que notoriedade significa mais adeptos e mais receitas. Neste ponto, as perspectivas são muito negras quando se constata que nem a RTP nem os restantes órgãos do serviço público estão interessados em quebrar o ciclo vicioso, apesar de todos os apelos do seu Provedor.
Ao contrário do que sucede por toda a Europa, não há mais do que três candidatos ao título no nosso país, onde apenas conhecemos cinco clubes campeões nacionais. Mas se tivermos em conta que o Boavista foi campeão fruto de condições especialíssimas e irrepetíveis ao nível do controlo dos órgãos directivos das instituições que gerem os campeonatos profissionais e que o Belenenses conseguiu esse feito no dealbar das competições futebolísticas nacionais, depressa se percebe a impossibilidade de facto de outros clubes conseguirem tal proeza. Registe-se, para que não falemos sempre no abstracto, que a Inglaterra já conheceu 17 campeões, a Espanha 8, a França 18, a Itália 12, a Holanda 13 e a Alemanha 14.
2. O facto das transmissões televisivas se terem convertido numa das grandes fontes de financiamento do futebol nacional resulta na sobrevalorização do telespectador comparativamente com o espectador de estádio, sacrificando os horários apetecíveis para ir à bola em função dos interesses das televisões. Não espanta que os estádios se encham nas tardes de Sábado e Domingo em Inglaterra, estando cada vez mais vazios nas gélidas noites de Sexta, Domingo e Segunda em Portugal.
No mesmo sentido, o encadeamento das transmissões de vários jogos é um convite a ficar em casa. Depois de uma tarde com Manchester-Portsmouth e com Inter-Udinesse, quem é que se levanta do sofá para assistir no estádio a uma partida da Liga Portuguesa, interrompida sessenta vezes pelo apito do árbitro mais as sete paragens forçadas para assistir o jogador manhoso que apenas quer perder tempo?
3. O facto dos preços dos bilhetes estarem tantas vezes desligados da realidade sócio-económica nacional e local é outro dos factores que mais tem contribuído para o esvaziar dos estádios. Como bem demonstra a trágica experiência de alguns projectos culturais, os preços a praticar nem sempre podem ser condizentes com a qualidade do espectáculo, sob pena de se hipotecarem todas as hipóteses de ter assistência. Mais: os clubes devem ter consciência do que custa nos dias que correm ter uma assinatura da SportTV e assistir a dezenas de jogos de qualidade todas as semanas.
4. Mas se o espectáculo do futebol nacional mobiliza extraordinárias audiências televisivas, a que se deve a incapacidade para levar adeptos aos estádios? O assunto merece seguramente uma detalhada análise sociológica, mas arriscamos encontrar na cultura nacional e, mais abrangentemente, na genética social mediterrânea algumas das necessárias respostas. Será que a imagem do português comodista e borlista explica tudo?
1. O facto de existirem três clubes que absorvem a esmagadora maioria dos adeptos espalhados por todo o país resulta numa distribuição muito assimétrica das receitas tendo como consequência uma diminuição da capacidade competitiva dos outros clubes e, por arrasto, das próprias competições desportivas. Como os órgãos de comunicação social são mais sensíveis às audiências do que aos critérios informativos, a informação desportiva é distorcida, tanto em qualidade como em quantidade, em favor dos chamados grandes, contribuindo para manter um ciclo vicioso em que notoriedade significa mais adeptos e mais receitas. Neste ponto, as perspectivas são muito negras quando se constata que nem a RTP nem os restantes órgãos do serviço público estão interessados em quebrar o ciclo vicioso, apesar de todos os apelos do seu Provedor.
Ao contrário do que sucede por toda a Europa, não há mais do que três candidatos ao título no nosso país, onde apenas conhecemos cinco clubes campeões nacionais. Mas se tivermos em conta que o Boavista foi campeão fruto de condições especialíssimas e irrepetíveis ao nível do controlo dos órgãos directivos das instituições que gerem os campeonatos profissionais e que o Belenenses conseguiu esse feito no dealbar das competições futebolísticas nacionais, depressa se percebe a impossibilidade de facto de outros clubes conseguirem tal proeza. Registe-se, para que não falemos sempre no abstracto, que a Inglaterra já conheceu 17 campeões, a Espanha 8, a França 18, a Itália 12, a Holanda 13 e a Alemanha 14.
2. O facto das transmissões televisivas se terem convertido numa das grandes fontes de financiamento do futebol nacional resulta na sobrevalorização do telespectador comparativamente com o espectador de estádio, sacrificando os horários apetecíveis para ir à bola em função dos interesses das televisões. Não espanta que os estádios se encham nas tardes de Sábado e Domingo em Inglaterra, estando cada vez mais vazios nas gélidas noites de Sexta, Domingo e Segunda em Portugal.
No mesmo sentido, o encadeamento das transmissões de vários jogos é um convite a ficar em casa. Depois de uma tarde com Manchester-Portsmouth e com Inter-Udinesse, quem é que se levanta do sofá para assistir no estádio a uma partida da Liga Portuguesa, interrompida sessenta vezes pelo apito do árbitro mais as sete paragens forçadas para assistir o jogador manhoso que apenas quer perder tempo?
3. O facto dos preços dos bilhetes estarem tantas vezes desligados da realidade sócio-económica nacional e local é outro dos factores que mais tem contribuído para o esvaziar dos estádios. Como bem demonstra a trágica experiência de alguns projectos culturais, os preços a praticar nem sempre podem ser condizentes com a qualidade do espectáculo, sob pena de se hipotecarem todas as hipóteses de ter assistência. Mais: os clubes devem ter consciência do que custa nos dias que correm ter uma assinatura da SportTV e assistir a dezenas de jogos de qualidade todas as semanas.
4. Mas se o espectáculo do futebol nacional mobiliza extraordinárias audiências televisivas, a que se deve a incapacidade para levar adeptos aos estádios? O assunto merece seguramente uma detalhada análise sociológica, mas arriscamos encontrar na cultura nacional e, mais abrangentemente, na genética social mediterrânea algumas das necessárias respostas. Será que a imagem do português comodista e borlista explica tudo?
Como Actuam os Antidepressivos?
© aidan
Um artigo científico publicado na revista Molecular Psychiatry está a relançar o debate em torno do tratamento da depressão em particular das acções neuronais de alguns antidepressivos. O estudo conduzido por alguns dos meus colegas da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho demonstrou que a acção de antidepressivos como o conhecido "Prozac" não é dependente do "nascimento" de novos neuróninos (neurogénese), uma ideia que vinha sendo defendida até agora.
Para além das fortes evidências nesse sentido, o trabalho demonstra a acção dos antidepressivos na remodelação dos neurónios já existentes, implicando este fenómeno nas alterações comportamentais obtidas no sentido da reversão dos comportamentos depressivos que haviam sido induzidos nos animais estudados.
Os resultados apresentados levaram os autores do blogue científico Neuroskeptic a considerar que «it does suggest that the much-blogged-about neurogenesis hypothesis is not the whole story», recusando-se muito prudementemente a declarar a morte desta hipótese científica, mas ressalvando o contributo do artigo português para a mudança de paradigma em termos de compreensão do tratamento da depressão.
Os Azulejos do Pópulo
© CMB
A recuperação dos azulejos do Convento do Pópulo, encetada ao longos dos últimos meses pela Câmara Municipal de Braga no âmbito do Programa Operacional da Cultura, é visitável a partir de amanhã. As visitas guiadas estão abertas à população geral e também às escolas do concelho.
O "Convento" do Pópulo, mandado construir pelo Arcebispo Agostinho de Jesus, já serviu de casa de religiosas e de quartel militar, albergando actualmente vários serviços da Câmara Municipal de Braga. Segundo notícia do Público, a recuperação dos azulejos foi o primeiro passo da renovação completa do imóvel datado do século XVI. A concretização da recuperação do edifício é um exemplo da feliz reconciliação de Braga com o seu passado.
Metamorfose em curso
© Britalar
O aspecto actual da Avenida da Liberdade deixa antever uma autêntica metamorfose deste espaço. Mas é também um cenário que o transeunte gosta muito de apreciar, ou as obras, ou o que o “pessoal dos calhaus” anda por lá a descobrir, o que é perfeitamente compreensível e até desejável.
Anunciada a descoberta de vestígios arqueológicos importantes, colocam-se agora diversas questões acerca de uma possível (em meu entender necessária) alteração ao projecto inicial. A discussão surge: os arqueólogos chateiam-se uns com os outros devido à divergência de opiniões sobre a importância dos vestígios; os políticos digladiam-se em sede parlamentar e na comunicação social; o cidadão comum encolhe os ombros, e de vez em quando lá se pergunta, numa conversa de café, “como vai ficar aquilo do túnel”.
O resto do processo não o vou descrever aqui, porque ainda está para acontecer. E ainda que possamos ter melhores ou piores perspectivas quanto ao desenrolar da situação, a verdade é que tudo está ainda em aberto.
Se estes processos prevêm sempre um período de consulta pública, ainda na fase de projecto, porque não prevêm uma consulta idêntica face à necessidade de alterações estruturais? Eu sei porquê, não é exigido. Mas uma coisa é o que se faz porque é obrigatório segundo a Lei, outra é o que devia ser exigido pela nossa consciência colectiva: não é obrigatório, mas é correcto que se faça. O que é legal e o que é moral nem sempre coincidem (daí a “objecção de consciência”).
A minha sugestão: faça-se uma consulta pública, ou até um debate mais amplo, em torno de uma forma de preservação ou musealização dos vestígios arqueológicos da Avenida da Liberdade. Isto, obviamente, após informações mais conclusivas da equipa de Arqueologia que está a estudar os vestígios.
O Triunfo dos Porcos
Ainda que possa não passar de uma delirante profecia, a mudança do regime político-partidário português pode estar mais perto do que o imaginável. A democracia não mais existe tal como no-la prometeram num passado não muito distante. O que resta não passa de uma oligarquia em que uns e outros se governam à custa de todos, num insuportável bloco central de interesses.
A agonia do desemprego e a desilusão do trabalho desqualificado para profissionais qualificados estendem-se a centenas de milhares de portugueses. Os erros e injustiças administrativos multiplicam-se com impressionante vulgaridade, do ingresso dos médicos na especialidade à seriação profissional dos docentes. As assimetrias sociais agudizam-se em cada dia de turbulência na escola pública. O sistema judicial tem-se demonstrado ineficaz no combate à evasão fiscal e na punição do tráfico de influências e da corrupção. Os lucros do sistema financeiro são repartidos pelos accionistas ao mesmo tempo que os avultados prejuízos são distribuídos pelos contribuintes.
É por estas e por outras, numa interminável lista de torpelias, que o tempo é de avolumada descrença, de acentuada desconfiança e de inaudita crise económica, social e, sobretudo, anímica. Há uns dias, o Professor Carlos Abreu Amorim contava a história de um comerciante português em Londres que lhe negou a nacionalidade. É a vergonha de ser português no estrangeiro, reflexo de um país onde, infelizmente, há demasiados porcos a triunfar.
[Texto escrito para o ComUM]
A agonia do desemprego e a desilusão do trabalho desqualificado para profissionais qualificados estendem-se a centenas de milhares de portugueses. Os erros e injustiças administrativos multiplicam-se com impressionante vulgaridade, do ingresso dos médicos na especialidade à seriação profissional dos docentes. As assimetrias sociais agudizam-se em cada dia de turbulência na escola pública. O sistema judicial tem-se demonstrado ineficaz no combate à evasão fiscal e na punição do tráfico de influências e da corrupção. Os lucros do sistema financeiro são repartidos pelos accionistas ao mesmo tempo que os avultados prejuízos são distribuídos pelos contribuintes.
É por estas e por outras, numa interminável lista de torpelias, que o tempo é de avolumada descrença, de acentuada desconfiança e de inaudita crise económica, social e, sobretudo, anímica. Há uns dias, o Professor Carlos Abreu Amorim contava a história de um comerciante português em Londres que lhe negou a nacionalidade. É a vergonha de ser português no estrangeiro, reflexo de um país onde, infelizmente, há demasiados porcos a triunfar.
[Texto escrito para o ComUM]
Capítulo 19: mapas
Sempre gostei muito do mundo inteiro. Pode ter sido por causa do candeeiro-globo que adorava fazer girar, do mapa muito velhinho que o meu pai encontrou e recuperou, ou simplesmente das cores dos países. Sempre gostei muito da cor de África, retalhada a rosas e amarelos, verdes e azuis e nunca gostei muito da Ásia, porque era quase toda de uma cor e ia desde depois da Alemanha até aquele estreito que quase toca o Alaska. Portugal quase não se via e Braga muito menos, mas perto do Porto havia um pontinho que eu desenhei a caneta preta e sempre quis muito que fosse Braga. Agora que penso nisso, as probabilidades de ter acertado na localização são bastante altas, já que num Portugal tão pequenito, o mais provável é que o pontinho representasse todo o distrito de Braga.
Sempre gostei muito de mapas. Pode ter sido por causa do pontinho, da forma dos países e das cidades, ou simplesmente das cores. Deve ser isso, as cores. Sempre gostei de cores e as cores dos mapas ajudam a dar cor ao mundo, negro de não o conhecer.
Quando estive em Dusseldorf pendurei o mapa da cidade na porta do quarto e nele desenhava quase diariamente o meu trajecto, preocupado em conhecer sem me perder. Aventurava-me, mas não para muito longe do rio, para depois descer até ao Reno e voltar a casa, no centro histórico à beira Reno. Acabei por conhecer muito pouco da cidade porque sempre tive medo de me perder numa cidade tão grande e em que as palavras que lia no caminho tão pouco me diziam. Aprendi algumas, mas nunca consegui articular mais de três ou quatro. Ficou, no entanto, apontada a vontade de aprender alemão. A cidade que conheci foi pouco mais que o zoom que os senhores do turismo de Dusselforf fizeram do centro da cidade. Ainda fiz umas viagens de S-Bahn até ao Aeroporto, que era quase de um lado ao outro. Mas conhecer coisas de comboio é uma porcaria, porque o que queres ver já passou. Depois conheci um bocadinho de Leverkusen e Colónia, mas o Reno puxava-me sempre para Dusseldorf. Ainda assim, dois meses na Alemanha Ocidental permitiram-me substituir o a amarelo do velho mapa. Pintei-a de azul sujo do Reno, de vermelho cor das paredes e cinzento escuro dos tectos das casas; pintei-a com muito verde e castanho das árvores e das sombras delas, dos parques que não acabavam. Ainda pensei fazer isso naquele mapa velhinho, mas num pontinho não cabem todas as cores.
Estes últimos meses têm sido muito bons, no que à pintura diz respeito. Conheci as cores do céu e andei nas nuvens. Descobri que a França vista de cima é como um gigantesco campo agrícola; e quem diz França diz Bélgica, também. Tenho a ideia que passei no Luxemburgo, também, mas aquilo é tão pequenito que não sei se o que eu pensava que era o Luxemburgo era mesmo o Luxemburgo ou a Bélgica ou a Alemanha. Mas o que eu gostei mesmo foi de ver o Gerês do céu; imagem mais bonita. Ainda assim, depois de ter voado meia dúzia de vezes, acho que não é assim tão especial como se diz. É, isso sim, muito confortável e rápido, apesar de os aeroportos serem sempre demasiado longe da cidade.
Quando voltar a Braga quero pintar o mapa velhinho. Quem sabe, quando eu for velhinho, também, o mapa ainda mais velhinho não tenha já outras cores novas: as cores que os meus olhos viram verdadeiras.
publicado originalmente no blogue voando à deriva. por falta de tempo, não me foi possível escrever a crónica desta semana; espero fazê-lo já na próxima semana.
Oficina de Jazz em Braga
A Flauta de Hamelin vai promover uma oficina de jazz no dia 22 de Novembro pelas 21h00 no Espaço Cultural Pedro Remy. Este evento tem como objectivo dar a conhecer aos jovens músicos e ao público em geral, os processos de aprendizagem desta linguagem e desmistificar a sua complexidade. Será dada uma aula de demonstração pelo coordenador do curso de jazz da instituição e por alguns dos seus professores. A interacção e a participação do público serão de importância fundamental, criando assim a oportunidade de estabelecer um primeiro contacto com este estilo musical. [Pedro Remy]
Paradoxos
Manuela Ferreira Leite é uma dessas personagens tristes e enfadonhas da cena política portuguesa. Ainda assim, não posso deixar de notar a obsessão socialista em criticar a líder do PSD. Paulo Pedroso acusa-a de falar para o «o povo de direita que se dá mal com a imigração, o salário mínimo, a democracia» e, um só dia depois, Vital Moreira escreve que Ferreira Leita afinal disputa o terreno da «esquerda da esquerda.» Em que ficamos?
Uma Ministra a Mais [3]
Pela sua teimosia, Maria de Lurdes Rodrigues continua a incendiar a escola pública. Além do governo e da marioneta política que preside à Federação das Associações de Pais, não há ninguém com bom senso que apoie a obstinação da Ministra. A situação está perto da ruptura e o bom senso recomendaria a suspensão do processo de avaliação e substituição da Ministra como única via possível para pacificar a escola pública.
É inegável que a situação criada por Maria de Lurdes Rodrigues está a colocar todos os alunos da escola pública em preocupante desvantagem relativamente aos que frequentam colégios privados onde imperam a paz e a motivação dos docentes. E, nestas matérias, nunca há uma segunda oportunidade para quem vê os momentos de aprendizagem violentamente degradados pela teimosia política, pela arrogância e pelas pulsões autoritárias da Ministra e do Governo.
O Governo ainda não proferiu um único argumento em defesa deste modelo de avaliação dos docentes. Pelo contrário, a habilidade discursiva de Sócrates e seus companheiros assenta no ataque repetido aos críticos como via única para impor as posições do governo. Hoje foi o dia em que Marçal Grilo, Ministro da Educação do Governo de António Guterres, se juntou a Manuel Alegre, ao PSD, ao Bloco de Esquerda, à CDU, ao PP, aos sindicatos, aos alunos, aos professores e a uma parte muito significativa dos pais na exigência da suspensão do processo de avaliação dos docentes. Não podem estar todos errados e apenas Maria de Lurdes Rodrigues certa...
É inegável que a situação criada por Maria de Lurdes Rodrigues está a colocar todos os alunos da escola pública em preocupante desvantagem relativamente aos que frequentam colégios privados onde imperam a paz e a motivação dos docentes. E, nestas matérias, nunca há uma segunda oportunidade para quem vê os momentos de aprendizagem violentamente degradados pela teimosia política, pela arrogância e pelas pulsões autoritárias da Ministra e do Governo.
O Governo ainda não proferiu um único argumento em defesa deste modelo de avaliação dos docentes. Pelo contrário, a habilidade discursiva de Sócrates e seus companheiros assenta no ataque repetido aos críticos como via única para impor as posições do governo. Hoje foi o dia em que Marçal Grilo, Ministro da Educação do Governo de António Guterres, se juntou a Manuel Alegre, ao PSD, ao Bloco de Esquerda, à CDU, ao PP, aos sindicatos, aos alunos, aos professores e a uma parte muito significativa dos pais na exigência da suspensão do processo de avaliação dos docentes. Não podem estar todos errados e apenas Maria de Lurdes Rodrigues certa...
Fazer História [3]
Quantos clubes portugueses já viram um jogador do seu plantel marcar três golos num jogo ao serviço da selecção?
Um “voucher” da Bertrand
A rapariga deu-me, primeiro, a factura e, depois, disse-me que tinha direito a “um voucher”. Eu perguntei-lhe por que é que não dizia, por exemplo, “um vale” em vez de “um voucher” e ela encolheu-os ombros. Poderia, sei lá, haver alguma subtileza semântica que ela pudesse querer preservar, uma alusão a um episódio memorável de um filme desconhecido, uma passagem mais palpitante de um romance ainda ignorado. Nada havia, contudo, para justificar a importação da palavra.Olhei para o pequeno papel com o crédito da Livraria Bertrand e a palavra “voucher”, afinal, também lá estava. A rapariga deve, portanto, ter sido contaminada pela ignorância de uma dessas prováveis criaturas do marketing, que agora se usam muito nos “sectores da cultura”, que copiam uns expedientes estrangeiros, mantendo-lhes designações que muito impressionam a clientela mais pretensiosa e mais parola.
Uma Ministra a Mais [2]
«A maioria dos professores presentes ontem na reunião do Conselho de Escolas com a ministra da Educação aprovou um documento pedindo à tutela que suspenda o processo de avaliação de desempenho.» [Público]
Fazer Bem na Saúde
«Os doentes que sejam sujeitos a uma cirurgia de ambulatório terão direito, no período de pós-operatório, a medicamentos gratuitos que serão distribuídos pelos estabelecimentos e serviços que lhes prestaram os cuidados de saúde» [Público]
A notícia passou quase despercebida, mas constitui-se como um importante reforço da aposta do Governo no tratamento em ambulatório. E é a aposta certa na saúde, resultando em importantes poupanças para o Serviço Nacional de Saúde aliadas a ganhos significativos em termos de comodidade e bem-estar dos doentes.
Autárquicas 2009: Partido Socialista
O adiar do anúncio da recandidatura de Mesquita Machado é o principal sintoma de que algo vai mal no mundo autárquico socialista de Braga. Habituado a partir com vantagens avassaladoras e a debater-se com opositores praticamente desconhecidos, Mesquita Machado sabe que, desta feita, as coisas estão muito mais difíceis. Em primeiro, porque Ricardo Rio não é um desconhecido e, pelo seu percurso, tem granjeado o respeito de sectores bem apartados da área ideológica que representa; em segundo, porque o desgaste da governação socialista do município é evidente, sobretudo nas áreas urbanas onde as derrotas se têm somado e cujo eleitorado, mais exigente, já desconfia das obras lançadas para o espectáculo mediático das inaugurações em véspera de eleições; por último, porque as sondagens já não sorriem à maioria socialista como sucedera noutros tempos.
Tudo somado, restarão ainda muitas dúvidas na cabeça de Mesquita Machado quanto à recandidatura. O dilema socialista assume contornos dramáticos: se Mesquita Machado avançar, com a vitória muito longe de estar garantida, o dinossauro autárquico arrisca-se a sair pela chamada «porta pequena»; mas se Mesquita Machado não avançar, então o facto seria interpretado como uma declaração antecipada de derrota e o caminho para a vitória da coligação estaria ainda mais facilitado.
Pontos Fortes
1. A popularidade de Mesquita Machado em alguns núcleos rurais do concelho permanece inabalável, rendendo votos que poderão ser importantes.
2. O volume de obras vai aumentar significativamente nos próximos meses e a aposta, sempre negada ao longo de décadas, na criação de espaços verdes será bem recebida pela população.
3. Quem está no poder parte sempre em vantagem. Mesquita Machado já disse que está em campanha desde o primeiro dia, mas nos próximos meses assistiremos a uma actividade de intensa promoção das actividades da autarquia.
Pontos Fracos
1. O desagaste inerente a décadas de gestão da maioria socialista na autarquia de Braga.
2. O avolumar da descrença na vitória que já se sente em alguns sectores do próprio partido socialista que pretendiam outras ideias e soluções para a cidade e o concelho.
3. A desertificação do centro da cidade, a degradação de algumas zonas que culminou com a derrocada fatal de Setembro, o atraso das obras na Variante Sul cujas responsabilidades nunca foram apuradas, a fuga da Bracalândia, o acentuar do caos urbanístico e a inabilidade para resolver os problemas de mobilidade dos bracarenses são os traços mais marcantes de um mandato que terá no último um volume de obras superior aos três anos anteriores.
Tudo somado, restarão ainda muitas dúvidas na cabeça de Mesquita Machado quanto à recandidatura. O dilema socialista assume contornos dramáticos: se Mesquita Machado avançar, com a vitória muito longe de estar garantida, o dinossauro autárquico arrisca-se a sair pela chamada «porta pequena»; mas se Mesquita Machado não avançar, então o facto seria interpretado como uma declaração antecipada de derrota e o caminho para a vitória da coligação estaria ainda mais facilitado.
Pontos Fortes
1. A popularidade de Mesquita Machado em alguns núcleos rurais do concelho permanece inabalável, rendendo votos que poderão ser importantes.
2. O volume de obras vai aumentar significativamente nos próximos meses e a aposta, sempre negada ao longo de décadas, na criação de espaços verdes será bem recebida pela população.
3. Quem está no poder parte sempre em vantagem. Mesquita Machado já disse que está em campanha desde o primeiro dia, mas nos próximos meses assistiremos a uma actividade de intensa promoção das actividades da autarquia.
Pontos Fracos
1. O desagaste inerente a décadas de gestão da maioria socialista na autarquia de Braga.
2. O avolumar da descrença na vitória que já se sente em alguns sectores do próprio partido socialista que pretendiam outras ideias e soluções para a cidade e o concelho.
3. A desertificação do centro da cidade, a degradação de algumas zonas que culminou com a derrocada fatal de Setembro, o atraso das obras na Variante Sul cujas responsabilidades nunca foram apuradas, a fuga da Bracalândia, o acentuar do caos urbanístico e a inabilidade para resolver os problemas de mobilidade dos bracarenses são os traços mais marcantes de um mandato que terá no último um volume de obras superior aos três anos anteriores.
Uma Ministra a Mais
© Reuters
Depois de ter cedido aos estudantes pela força dos ovos, Maria de Lurdes Rodrigues dá sinais de inegável fraqueza política na questão da avaliação dos docentes. Contudo, a falta de humildade não deixa a Ministra ter clarividência suficiente para compreender que o problema da avaliação não é a burocracia mas o modelo que foi imposto pelo Ministério da Educação.
Enquanto isso, os alunos dos colégios privados aprendem num ambiente tranquilo, sem sobressaltos, sem greves, sem professores desmotivados, sem estatutos que mudam de dia para dia e, tragicamente, sem Magalhães... Que pena que eu tenho deles.
Autárquicas 2009: Juntos por Braga
Na oposição à direita, Ricardo Rio reúne o consenso das três forças partidárias (PSD, PP e PPM) que compõem a coligação Juntos por Braga e só um veto despropositado da direcção nacional dos populares inviabilizaria a constituição da mesma.
Ricardo Rio, o candidato a Presidente da autarquia, é o elemento mais forte de uma candidatura cuja imagem tem sido muito bem gerida ao longo do percurso na oposição. Ao contrário do que sucedera no passado, o PSD não permitiu que a maioria desgastasse a imagem do seu candidato e Rio conseguiu o apoio de vários independentes, um conjunto que será certamente engrossado ao longo dos próximos tempos.
A estratégia da coligação deverá passar pela apresentação de propostas concretas que as populações possam reconhecer como alternativa naquilo que precisa de ser mudado e como continuidade no que merece permanecer inalterado. Enquanto isso, o nível de exposição pública terá que ser doseado para evitar o desgaste que a maioria socialista tentará infligir ao candidato da coligação.
Pontos Fortes
1. «Yes, We Can» bem podia ser o mote da mensagem de Ricardo Rio aos bracarenses. A crença na mudança e a dinâmica de vitória poderão ser altamente potenciadoras de um excelente resultado.
2. Ricardo Rio é a figura central da candidatura e também o elemento mais forte de entre os putativos membros da lista da coligação.
3. O desgaste da maioria socialista também joga a favor da coligação.
Pontos Fracos
1. A fraca penetração dos social democratas em alguns meios rurais do concelho e a pouca expressão em termos de juntas de freguesia jogam contra a coligação.
2. O alinhamento de algumas personalidades da direita com o poder instituído no concelho devido a interesses que extravasam o jogo político.
3. Quem está na oposição, parte sempre com uma desvantagem que também se traduz nos meios disponíveis para a campanha. O orçamento da campanha da coligação será certamente inferior ao do Partido Socialista.
Ricardo Rio, o candidato a Presidente da autarquia, é o elemento mais forte de uma candidatura cuja imagem tem sido muito bem gerida ao longo do percurso na oposição. Ao contrário do que sucedera no passado, o PSD não permitiu que a maioria desgastasse a imagem do seu candidato e Rio conseguiu o apoio de vários independentes, um conjunto que será certamente engrossado ao longo dos próximos tempos.
A estratégia da coligação deverá passar pela apresentação de propostas concretas que as populações possam reconhecer como alternativa naquilo que precisa de ser mudado e como continuidade no que merece permanecer inalterado. Enquanto isso, o nível de exposição pública terá que ser doseado para evitar o desgaste que a maioria socialista tentará infligir ao candidato da coligação.
Pontos Fortes
1. «Yes, We Can» bem podia ser o mote da mensagem de Ricardo Rio aos bracarenses. A crença na mudança e a dinâmica de vitória poderão ser altamente potenciadoras de um excelente resultado.
2. Ricardo Rio é a figura central da candidatura e também o elemento mais forte de entre os putativos membros da lista da coligação.
3. O desgaste da maioria socialista também joga a favor da coligação.
Pontos Fracos
1. A fraca penetração dos social democratas em alguns meios rurais do concelho e a pouca expressão em termos de juntas de freguesia jogam contra a coligação.
2. O alinhamento de algumas personalidades da direita com o poder instituído no concelho devido a interesses que extravasam o jogo político.
3. Quem está na oposição, parte sempre com uma desvantagem que também se traduz nos meios disponíveis para a campanha. O orçamento da campanha da coligação será certamente inferior ao do Partido Socialista.
Unidos para Salvar o Minho
A união que faltou nas questões do turismo parece ter chegado ao Minho por via da crise no sector industrial. A Associação Industrial do Minho (AIMinho) e a União de Sindicatos de Braga (USB) «estão a trabalhar num documento conjunto que propõe medidas específicas de apoio à região» para fazer frente aos graves problemas estruturais que a conjuntura económica muito tem agravado. Com uma taxa de desemprego bem superior à media nacional, o distrito de Braga é um dos mais deprimidos do país, merecendo atenção redobrada do poder sediado em Lisboa.
Reduzir custos de produção é a prioridade. Entre várias medidas, a União de Sindicatos de Braga chama a atenção para um assunto que temos vindo a denunciar repetidas vezes no blogue Avenida Central: «no Porto é possível circular sem pagar portagens, até entre diferentes concelhos, entre Maia, Matosinhos e Gaia, mas em Braga e em Guimarães os troços dentro do mesmo concelho são pagos pelos cidadãos.»
Os promotores da iniciativa tencionam convidar a Universidade do Minho e as associações de comerciantes a tomarem parte num entendimento que já fora ensaiado na longínqua década de oitenta. Será interessante conhecer o posicionamento das autarquias nesta matéria. Ao contrário do que sucede noutros pontos do país, não se conhece no Minho ponta de contestação às portagens mais caras do país nem aos financiamentos discriminatórios dos transportes urbanos de Lisboa e do Porto.
Reduzir custos de produção é a prioridade. Entre várias medidas, a União de Sindicatos de Braga chama a atenção para um assunto que temos vindo a denunciar repetidas vezes no blogue Avenida Central: «no Porto é possível circular sem pagar portagens, até entre diferentes concelhos, entre Maia, Matosinhos e Gaia, mas em Braga e em Guimarães os troços dentro do mesmo concelho são pagos pelos cidadãos.»
Os promotores da iniciativa tencionam convidar a Universidade do Minho e as associações de comerciantes a tomarem parte num entendimento que já fora ensaiado na longínqua década de oitenta. Será interessante conhecer o posicionamento das autarquias nesta matéria. Ao contrário do que sucede noutros pontos do país, não se conhece no Minho ponta de contestação às portagens mais caras do país nem aos financiamentos discriminatórios dos transportes urbanos de Lisboa e do Porto.
Protestos em Coimbra, Silêncio no Minho
Em 2007 o Governo deu: 48.623.482€ à Carris (Lisboa); 17.454.580€ à STCP (Porto); 0€ aos SMTUC (Coimbra).
We are watching you...
O passado espreita-nos. Uma boa expressão para descrever este graffiti, pintado há algum tempo na parede do antigo edifício dos CTT, em Braga. Como se, efectivamente, os nossos antepassados da Antiguidade Clássica, dissolvidos em partículas de pó, observassem atentamente a forma como tratamos o património que nos deixaram.
Na verdade, a forma como tratamos o nosso património arqueológico não é julgada pelo passado, mas sim pelo futuro. As descobertas arqueológicas causam dores de cabeça, mas devem ser encaradas como um desafio. E se a nível do registo dos achados, nada temos a apontar, no caso do centro de Braga, porque a Universidade do Minho se encarrega do mesmo, com toda a mais-valia científica que representa, as soluções de conservação a posteriori deixam mais a desejar. E deixam a desejar sobretudo porque se arrastam longamente (veja-se o caso das Carvalheiras).
Infelizmente, a forma como os vestígios arqueológicos podem vir a ser musealizados quase nunca é discutida publicamente, até ao dia em que se toma conhecimento da solução encontrada, por vezes irreversível. E resta-nos confiar no bom senso e no bom gosto de quem decide. Em Portugal, estas soluções passam frequentemente por decisões políticas, mais do que por decisões de quem investiga e conhece o património. E isto acontece, não raras vezes, porque os cidadãos se desinteressam destas questões.
Voltando ao graffiti, é uma forma de demonstração pública apontada por muita gente como vandalismo (que por vezes é), e é verdade que muitas destas pinturas dificilmente podem ser consideradas como transmissoras de uma mensagem coerente. No entanto, penso que esta acção dos denominados “Stencil Terrorists” é interessante, porque pode ter uma posição subjacente (embora não assumida) e não a considero vandalismo, porque foi feita numa parede que, ao fim e ao cabo, vai ser demolida.
A Omelete e os Ovos
Não estará de boa cabeça Maria de Lurdes Rodrigues, mesmo que não tenha levado com os ovos nela – literalmente - como queriam alunos e professores, unidos pela primeira vez, pela mão desta ministra. Esse facto não é outro que não o grande feito do seu mandato, contra qualquer verso da lírica do “Another Brick in The Wall” dos Pink Floyd. E não é fácil fazê-lo, ou talvez seja, num Ministério com tamanha pressão psicológica. Se repararmos, da tutela da Educação nunca houve bem-dispostinho e bem-intencionado que não saísse grunho, paranóico-depressivo e potencial ministro das finanças ou líder do PSD – personagens que mesmo com manicure e peeling político teimam em não colher simpatia de ninguém.
É que isto de aturar canalha tem que se lhe diga quando a sociedade constrói a imagem de uma profissão pela qualidade de vida (o dinheiro que dá) e reconhecimento (a classe/estilo) que proporciona, e não pelo glamour das suas responsabilidades e importância-vital no bem-estar e prosperidade de uma comunidade.
Falo em relação aos professores como o faria em relação a um profissional de saúde. Quando a avaliação se prende com carreira e com remunerações - como se de uma empresa se tratasse - fica desde logo o caldo de missão entornado. Essa coisa da “qualidade de ensino” não se resolve por decreto, por critérios obtusos ou leis do actual mercado. Resolve-se naturalmente, se o ambiente não for de disputa mas antes de sincera partilha e responsabilidade entre professores, entre alunos e entre professores e alunos.
Com isto, nesse turbilhão de propostas e contra-propostas acerca do modelo de avaliação– que toda a gente tem como imperativo e urgente - faço opinião de que a avaliação de professores é inútil e só se lhe encontra necessidade num exercício de pura competição. A nossa sociedade e modelo económico têm por base princípios funcionamento de luta por sobrevivência - que já deviam estar largamente ultrapassados num mundo de abundância -, fazendo-nos legar grande parte das energias e recursos em actividades laterais sem qualquer outro significado prático que não azedar ânimos e ambientes. Aí a motivação individual tem dínamo em apenas querer parecer melhor que o colega, em louvores e propriedade - se isto é gozar a vida e tirar prazer dela, não percebo em que concepção se anda metido. Na verdade, com a crescente burocracia e papelada para preencher, está à vista que o mundo nem por isso anda melhor e ainda por cima com menos árvores.
Não há gente boa e capaz por obrigação. Há gente disponível para fazer o papel que faz melhor. Acredito que um professor responsável, como um médico, que queira ver o trabalho da sua equipa, da sua escola ou hospital, traduzido em resultados visíveis e positivos para a comunidade faz o esforço automaticamente e é essa a sua motivação para melhorar as suas capacidades profissionais. Mas isso pressupõe que seja num ambiente aberto o suficiente para debater, experimentar, aceitar e adaptar novos e melhores conceitos de ensino - sem paradigmas ou dogmas pétreos e inquebráveis. Perceberá melhor da coisa quem lida com a realidade no terreno e não um sociólogo ou economista metido na chancela, a testar modelos do alto do seu gabinete como quem joga Sim City.
É que isto de aturar canalha tem que se lhe diga quando a sociedade constrói a imagem de uma profissão pela qualidade de vida (o dinheiro que dá) e reconhecimento (a classe/estilo) que proporciona, e não pelo glamour das suas responsabilidades e importância-vital no bem-estar e prosperidade de uma comunidade.
Falo em relação aos professores como o faria em relação a um profissional de saúde. Quando a avaliação se prende com carreira e com remunerações - como se de uma empresa se tratasse - fica desde logo o caldo de missão entornado. Essa coisa da “qualidade de ensino” não se resolve por decreto, por critérios obtusos ou leis do actual mercado. Resolve-se naturalmente, se o ambiente não for de disputa mas antes de sincera partilha e responsabilidade entre professores, entre alunos e entre professores e alunos.
Com isto, nesse turbilhão de propostas e contra-propostas acerca do modelo de avaliação– que toda a gente tem como imperativo e urgente - faço opinião de que a avaliação de professores é inútil e só se lhe encontra necessidade num exercício de pura competição. A nossa sociedade e modelo económico têm por base princípios funcionamento de luta por sobrevivência - que já deviam estar largamente ultrapassados num mundo de abundância -, fazendo-nos legar grande parte das energias e recursos em actividades laterais sem qualquer outro significado prático que não azedar ânimos e ambientes. Aí a motivação individual tem dínamo em apenas querer parecer melhor que o colega, em louvores e propriedade - se isto é gozar a vida e tirar prazer dela, não percebo em que concepção se anda metido. Na verdade, com a crescente burocracia e papelada para preencher, está à vista que o mundo nem por isso anda melhor e ainda por cima com menos árvores.
Não há gente boa e capaz por obrigação. Há gente disponível para fazer o papel que faz melhor. Acredito que um professor responsável, como um médico, que queira ver o trabalho da sua equipa, da sua escola ou hospital, traduzido em resultados visíveis e positivos para a comunidade faz o esforço automaticamente e é essa a sua motivação para melhorar as suas capacidades profissionais. Mas isso pressupõe que seja num ambiente aberto o suficiente para debater, experimentar, aceitar e adaptar novos e melhores conceitos de ensino - sem paradigmas ou dogmas pétreos e inquebráveis. Perceberá melhor da coisa quem lida com a realidade no terreno e não um sociólogo ou economista metido na chancela, a testar modelos do alto do seu gabinete como quem joga Sim City.
Alta Tensão em Braga
« A revolta popular foi motivada pelo arranque das obras para colocação de um poste nos terrenos da vivenda que o empreiteiro Domingos Névoa possui em frente ao espaço de construção daqueleque será o Hotel Meliá de Braga. Apesar de instalado no terreno do construtor, o poste fica a menos de 10 metros de várias moradias, distância que é bem menor do que a que o separa da residência do empresário bracarense.» [Diário do Minho]
Ao que parece, a intenção inicial de enterrar as linhas de muito alta tensão para permitir a construção do Hotel Meliá foi abandonada. Incompreensivelmente, os monstros de metal estão a ser transferidos para terrenos de Domingos Névoa, ficando a escassos metros de algumas habitações em Nogueiró.
A ver se eu percebi bem: o que não serve para ficar junto ao hotel pode arrumar-se junto às casas daquela gente? Desengane-se quem pensou que já viu tudo nesta cidade... Por aqui, o inacreditável não pára de acontecer.
O Sexo Forte na Blogosfera
«O sexo forte da blogosfera continua a ser o masculino. As mulheres participam pouco nos blogues e, quando o fazem, muitas delas, optam pelo anonimato ou escondem-se atrás de um nickname. Foi o que concluíram três investigadoras da Universidade do Minho, em Braga, no âmbito de um estudo exploratório "As vozes femininas na blogosfera: um olhar sobre a realidade do Minho". Elas são usuárias menos frequentes e participam nos blogues para "expressão de pontos de vista", enquanto eles fazem-no pelo debate e intervenção.» [Diário de Notícias]
Penúria no Ensino Superior Público
A Universidade do Minho anunciou que vai encerrar algumas instalações para poder pagar os subsídios de Natal aos seus funcionários. Isto sucede porque as verbas do Ensino Superior têm sido distribuídas sem qualquer transparência da parte da tutela, aumentando as transferências para universidades com graves problemas de gestão e atirando para a penúria as universidades que não tinham problemas financeiros, numa política de castigo às instituições cumpridoras e de recompensa para com os incumpridores.
Discordo por completo da visão do Jorge Sousa. Antes da sangria financeira começar, a situação económica da Universidade do Minho era exemplar. As reduções drasticamente impostas por Mariano Gago são responsáveis pela situação dramática em que se encontra não só a Universidade do Minho mas todo o ensino superior público. Nada que admire, num país em a educação e a ciência estão longe de ser prioridade...
Discordo por completo da visão do Jorge Sousa. Antes da sangria financeira começar, a situação económica da Universidade do Minho era exemplar. As reduções drasticamente impostas por Mariano Gago são responsáveis pela situação dramática em que se encontra não só a Universidade do Minho mas todo o ensino superior público. Nada que admire, num país em a educação e a ciência estão longe de ser prioridade...
Autárquicas 2009: Bloco de Esquerda
O Bloco de Esquerda parte para o próximo acto eleitoral com muitas probabilidades de novo aumento do número de votos, muito à custa da grande aceitação do partido no eleitorado urbano mais jovem. A menos de um ano das eleições, ainda não se sabe quem encabeçará a candidatura Bloco, mas a abertura dos bloquistas a candidaturas de independentes facilita a escolha.
Em Braga, o Bloco de Esquerda encontrará no eleitorado jovem a sua grande base de apoio e, como tal, a escolha de um candidato capaz de capitalizar estes apoios e de captar a atenção do eleitorado mais velho seria a melhor aposta. Tal como referimos anteriormente, a hipótese de uma coligação com a CDU seria a garantia da primeira representação bloquista no executivo municipal de Braga.
As posições claras do partido em matérias sensíveis como a possível colocação da estátua do Cónego Melo em terrenos públicos ou nas questões da mobilidade são uma mais-valia num tempo em que a política se faz de desmesurados calculismos.
Pontos Fortes
1. O crescimento nacional do partido nas áreas urbanas joga a favor do Bloco na cidade mais jovem do país.
2. A posição clara e coerente do partido nas questões chamadas fracturantes são um ponto muito positivo e que será certamente valorizado pelo eleitorado.
3. A abertura a independentes também joga a favor do Bloco.
Pontos Fracos
1. A fraca penetração do Bloco nos meios rurais é uma das maiores fragilidades do partido.
2. A aritmética eleitoral pode deixar CDU e Bloco fora do executivo caso se repita a repartição de votos das eleições de 2005.
3. Tratando-se de um partido jovem e ainda sem uma base de apoio fiel, os votos no Bloco serão mais vulneráveis ao voto útil nos maiores partidos.
Em Braga, o Bloco de Esquerda encontrará no eleitorado jovem a sua grande base de apoio e, como tal, a escolha de um candidato capaz de capitalizar estes apoios e de captar a atenção do eleitorado mais velho seria a melhor aposta. Tal como referimos anteriormente, a hipótese de uma coligação com a CDU seria a garantia da primeira representação bloquista no executivo municipal de Braga.
As posições claras do partido em matérias sensíveis como a possível colocação da estátua do Cónego Melo em terrenos públicos ou nas questões da mobilidade são uma mais-valia num tempo em que a política se faz de desmesurados calculismos.
Pontos Fortes
1. O crescimento nacional do partido nas áreas urbanas joga a favor do Bloco na cidade mais jovem do país.
2. A posição clara e coerente do partido nas questões chamadas fracturantes são um ponto muito positivo e que será certamente valorizado pelo eleitorado.
3. A abertura a independentes também joga a favor do Bloco.
Pontos Fracos
1. A fraca penetração do Bloco nos meios rurais é uma das maiores fragilidades do partido.
2. A aritmética eleitoral pode deixar CDU e Bloco fora do executivo caso se repita a repartição de votos das eleições de 2005.
3. Tratando-se de um partido jovem e ainda sem uma base de apoio fiel, os votos no Bloco serão mais vulneráveis ao voto útil nos maiores partidos.
Capítulo 18: da importância
D. António Marto, vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, afirmou ontem, em Fátima, que a missão dos professores "é ainda mais importante do que a dos próprios políticos". Falava da importância do trabalho dos professores enquanto "educadores das crianças e da juventude e, por conseguinte, do futuro do próprio país".
No texto da Carta Pastoral "A Escola em Portugal", aprovada ontem pela Conferência Episcopal Portuguesa, pode ler-se até que "o Estado tem sido, por vezes, em virtude das políticas dos diversos governantes, um obstáculo à melhoria da qualidade da escola portuguesa".
Em nenhum lugar do artigo, porém, surge a justificação para o facto de, na opinião do Bispo de Leiria-Fátima, "o trabalho dos professores ser mais importante que o dos próprios políticos". É certo que os políticos não são "educadores das criança e da juventude", mas os professores também não são responsáveis pelas políticas educativas; se as duas ocupações têm objectivos distintos, parece-me óbvio que a comparação da importância das duas não é mais que iníqua.
Poderia também falar do facto de muito professores preferirem educar para as políticas educativas (ou contra elas) a educá-los nas disciplinas que leccionam, mas parece-me que a questão fundamental quando se debate a Educação não são nem os professores nem os políticos.
Os alunos não têm aprendido nada com este debate - foram até noticiados casos que parecem indiciar uma ligeira regressão -, mas já há ameaças de greves de um mês. Se os professores não são capazes de avaliar o próprio trabalho, como saberemos que avaliação do trabalho dos outros (e falo dos alunos) é justa?
Dois Ponto Zero [13]
A ler: Autárquicas Braga - temas da agenda política, por Jorge Sousa; A maioria nas mãos de Alegre, por Pedro Correia; Andar ao Alto..., por Fernando Castro Martins.
A votar: Prémios Precariedade 2008
A votar: Prémios Precariedade 2008
Fazer História
Quantos clubes portugueses já viram dois jogadores do seu plantel na mesma convocatória da selecção nacional de futebol?
Das Bibliotecas de Braga
Corria o mês de Outubro de 2005 quando, em conjunto com outros colegas de vários cursos da Universidade do Minho, lançámos o Projecto Mais Academia com o propósito declarado de construir uma alternativa à dinastia que vem gerindo a Associação Académica da Universidade do Minho ao longo dos últimos anos.
Ainda antes da campanha começar, colocámos vários cartazes nas imediações dos campi da Universidade, apresentando aquelas que seriam as principais bandeiras do nosso projecto. De entre todas, a que recebeu maior acolhimento entre os estudantes foi a ideia de se criar uma sala de estudo aberta 24 horas por dia. A proposta fora tão mobilizadora e feliz que os opositores trataram de replicá-la no rol de promessas que apresentaram aos estudantes.
Apesar das vitórias do Projecto Mais Academia na Mesa da Reunião Geral de Alunos e no Conselho Fiscal, quis a maioria da minoria dos estudantes votantes que os protagonistas continuassem a ser os mesmos na Direcção da AAUM. Apesar das promessas, a sala nunca viria a concretizar-se e Braga e a Universidade do Minho continuam sem uma sala onde estudar vinte e quatro horas por dia e, pior do que isso, não tem uma única biblioteca aberta aos fins de semana.
Ainda antes da campanha começar, colocámos vários cartazes nas imediações dos campi da Universidade, apresentando aquelas que seriam as principais bandeiras do nosso projecto. De entre todas, a que recebeu maior acolhimento entre os estudantes foi a ideia de se criar uma sala de estudo aberta 24 horas por dia. A proposta fora tão mobilizadora e feliz que os opositores trataram de replicá-la no rol de promessas que apresentaram aos estudantes.
Apesar das vitórias do Projecto Mais Academia na Mesa da Reunião Geral de Alunos e no Conselho Fiscal, quis a maioria da minoria dos estudantes votantes que os protagonistas continuassem a ser os mesmos na Direcção da AAUM. Apesar das promessas, a sala nunca viria a concretizar-se e Braga e a Universidade do Minho continuam sem uma sala onde estudar vinte e quatro horas por dia e, pior do que isso, não tem uma única biblioteca aberta aos fins de semana.
Autárquicas 2009: CDU (PCP + PEV)
O Partido Comunista Português apresenta-se a votos ao fim de quatro anos em que voltou a fazer oposição sem representação no executivo municipal devido ao castigo dos eleitores pelo alinhamento com Mesquita Machado no mandato anterior (de 2001 a 2004).
Ainda não se conhece o rosto principal da candidatura, mas isso não será problema já que existem no partido vários elementos com capacidade para encabeçar uma candidatura de credibilidade. Carlos Almeida foi aquele cuja actividade política teve mais visibilidade ao longo deste mandato. Se a pouca idade do comunista bracarense pode ser vista como um handicap, a imagem de renovação poderia jogar a favor da CDU, sobretudo no duelo com os bloquistas. Rodrigues Dias é outra hipótese possível e representaria maturidade, competência e credibilidade, numa candidatura muito forte do PCP para recuperar o eleitorado perdido à esquerda.
Outra hipótese que tem sido aventada é a formação de uma coligação com o Bloco de Esquerda, certamente catalisadora de resultados eleitorais que garantiriam representação no executivo municipal.
Pontos Fortes
1. A conquista da Junta de Freguesia da Sé que, certamente, será reconquistada dá força aos comunistas em termos de eleitorado urbano.
2. A fidelidade do eleitorado comunista joga claramente a favor.
3. A apresentação de propostas concretas ao eleitorado é uma arma potente na captação de novos eleitores.
Pontos Fracos
1. A ausência do executivo municipal retirou muita visibilidade aos comunistas sobretudo nas questões autárquicas.
2. A imagem de um partido que representa a velha esquerda conservadora também não joga a favor do PCP.
3. A dificuldade em aceitar contributos de fora do partido é outro dos factores que não ajudam à conquista de novos eleitores.
Ainda não se conhece o rosto principal da candidatura, mas isso não será problema já que existem no partido vários elementos com capacidade para encabeçar uma candidatura de credibilidade. Carlos Almeida foi aquele cuja actividade política teve mais visibilidade ao longo deste mandato. Se a pouca idade do comunista bracarense pode ser vista como um handicap, a imagem de renovação poderia jogar a favor da CDU, sobretudo no duelo com os bloquistas. Rodrigues Dias é outra hipótese possível e representaria maturidade, competência e credibilidade, numa candidatura muito forte do PCP para recuperar o eleitorado perdido à esquerda.
Outra hipótese que tem sido aventada é a formação de uma coligação com o Bloco de Esquerda, certamente catalisadora de resultados eleitorais que garantiriam representação no executivo municipal.
Pontos Fortes
1. A conquista da Junta de Freguesia da Sé que, certamente, será reconquistada dá força aos comunistas em termos de eleitorado urbano.
2. A fidelidade do eleitorado comunista joga claramente a favor.
3. A apresentação de propostas concretas ao eleitorado é uma arma potente na captação de novos eleitores.
Pontos Fracos
1. A ausência do executivo municipal retirou muita visibilidade aos comunistas sobretudo nas questões autárquicas.
2. A imagem de um partido que representa a velha esquerda conservadora também não joga a favor do PCP.
3. A dificuldade em aceitar contributos de fora do partido é outro dos factores que não ajudam à conquista de novos eleitores.
Comunidade de Leitores no Theatro Circo
© eu-blogue
O Theatro Circo está a promover a Comunidade dos Leitores, uma iniciativa que reforça a vocação ecléctica da sala de espectáculos. valter hugo mãe (na foto) propõe «um itinerário por oito livros que servirão de pretexto para se falar de muitos mais. Destinada a um público acima dos dezasseis anos, de qualquer formação escolar, a iniciativa será orientada com alguma informalidade, visando incentivar a participação dos leitores.»
Aplaudidas pela crítica, as obras seleccionadas compõem-se do conjunto mais nobre da nova literatura portuguesa, destacando-se os nomes de José Luís Peixoto, Jorge Reis-Sá, Manuel Jorge Marmelo e do próprio valter hugo mãe. Aqui fica o programa completo.
11.Novembro, A Baía dos Tigres (1999), Pedro Rosa Mendes
25.Novembro, Nenhum Olhar (2000), José Luís Peixoto
09.Dezembro, Anos 90 e Agora, Uma Antologia da Nova Poesia Portuguesa (2004), org e selecção Jorge Reis-Sá
06.Janeiro, Amar não Acaba (2004), Frederico Lourenço
20.Janeiro, Jerusalém (2005), Gonçalo M. Tavares
03.Fevereiro, o remorso de baltazar serapião (2006), valter hugo mãe
17.Fevereiro, Aonde o Vento Me Levar (2007), Manuel Jorge Marmelo
03.Março, A Ressurreição da Água (2008), Maria Antonieta Preto
Justiça de Fafe: Novas Oportunidades
Não gostei nada do que aconteceu em Fafe. Todavia, tenho que concordar com João Gonçalves quando escreve que a senhora Ministra «anda a alimentar uma anarquia nada mansa no "mundo" da educação».
Escândalo Português de Negócios
Espreitar mais ou menos regularmente os jornais de Espanha ou de França permite, sem dificuldade, perceber que há problemas que não são especificamente portugueses. A lista de sarilhos comuns é, aliás, extensa e não vale a pena referir qualquer exemplo. Um tanto peculiar é, todavia, a indiferença com que, entre nós, “quem de direito”, para usar uma carcomida expressão, lida com situações de imensa gravidade quando protagonizadas por gente com poder de facto. É certo que pode haver excitações iniciais, que, por vezes, se prolongam para além do que é habitual, mas, pouco depois, mal é ouvido o toque a rebate para outra indignação, tudo é, finalmente, agulhado para seguir o percurso normal do esquecimento.Um antigo presidente da Câmara Municipal de Esposende, Alberto Figueiredo, falando enquanto accionista do Banco Português de Negócios, fez, ontem, no programa Prós e Contras, denúncias seriíssimas sobre as malfeitorias de uma “teia” constituída por gente facilmente identificável que não deviam cair em saco roto. “Tem de haver justiça”, disse ele, mas deu, depois, conta da sua falta de esperança em que ela exista. Qualquer pessoa se identifica facilmente com esta desencantada observação. De facto, poucos se arriscarão a dizer que a justiça acerta o tiro quando é chamada à caça grossa.
Crise na Escola Pública [2]
Já se percebeu que não há nada de substantivo na intransigência da Ministra nem tão pouco nas «pulsões e tiques autoritários do governo» denunciados pelo deputado Manuel Alegre. Diz-se até que, à semelhança do que aconteceu no passado, a aparente intransigência será substituída por um corrupio de "circulares" que, de tão mitigada, tornarão a lei contestada num diploma de irreconhecível aplicação prática.
Sendo assim, porque é que o Partido Socialista escolheu os docentes como alvo da sua suposta determinação? Quem segue com atenção a cena mediática não se surpreende com a aridez com que o Governo tem tratado os episódios mais recentes do capítulo educativo. A educação não consta das prioridades dos portugueses e José Sócrates, hábil gestor do jogo mediático, sabe que a guerra com os docentes trará dividendos em termos de imagem pública. Um Governo que cede como este cedeu perante camionistas amotinados nas ruas causando graves distúrbios à ordem pública e que recua como este se prepara para recuar na questão do Estatuto dos Açores não é coerente quando se recusa a valorizar a opinião dos docentes nesta matéria.
Infelizmente, a obstinação desta Ministra da Educação não pode ter um final feliz.
Sendo assim, porque é que o Partido Socialista escolheu os docentes como alvo da sua suposta determinação? Quem segue com atenção a cena mediática não se surpreende com a aridez com que o Governo tem tratado os episódios mais recentes do capítulo educativo. A educação não consta das prioridades dos portugueses e José Sócrates, hábil gestor do jogo mediático, sabe que a guerra com os docentes trará dividendos em termos de imagem pública. Um Governo que cede como este cedeu perante camionistas amotinados nas ruas causando graves distúrbios à ordem pública e que recua como este se prepara para recuar na questão do Estatuto dos Açores não é coerente quando se recusa a valorizar a opinião dos docentes nesta matéria.
Infelizmente, a obstinação desta Ministra da Educação não pode ter um final feliz.
Re: Despesas Militares Comparadas
Vital Moreira chama a atenção para o dinheiro que a Irlanda poupa em despesas militares calculadas em percentagem do PIB quando comparada connosco. Portugal devia começar a pensar seriamente em gastar menos dinheiro no sector militar, cujo desenvolvimento estratégico está claramente sobrevalorizado tendo em conta a participação do país na União Europeia e na NATO.
A Crise Social do Minho
«O distrito de Braga tem 11% dos desempregados do país. A falência das pequenas empresas está a acelerar a inscrição de pessoas nos centros de emprego.» [Jornal de Notícias]
A crise social do Minho continua a galopar a um ritmo verdadeiramente assustador. O arrastar dos problemas do Vale do Ave a que se juntaram as novas dificuldades das empresas do Vale do Cávado têm tido um efeito avassalador na vida quotidiana de milhares de minhotos. Longos, freguesia do concelho de Guimarães, que «já viu partir metade do povo» é uma triste metáfora de tudo o resto: o Minho está deprimido e não se conhecem soluções estruturantes para inverter a tendência de declínio.
A Barrela
© Miguel Leite Pereira
O rio Olo, um dos últimos rios impolutos de Portugal, recorta o Alvão contando pontes velhas de aldeias de pedra até se precipitar caudaloso nas Fisgas de Ermelo, Mondim de Basto, numa queda de água de beleza rara na Europa. Maravilha tal que locais levaram uma moção à assembleia municipal, propondo a candidatura da mesma a Património Natural.
No entanto, de pouco pode ter valido a aprovação por unanimidade em torno daquilo têm como valor acrescentado. No País West Coast da Europa, o interior é apenas uma enorme fronteira até Espanha como se o risco fosse dessa largura. O Plano Nacional de Barragens tem projectadas 5 barragens para o Vale do Tâmega, que farão de toda aquela bacia um açude gigante. Pior, uma delas, desviará o rio Olo para alimentar uma outra, de Gouvães, a cargo da Iberdrola. Diria a cargo, porque para lá caminha. O período de discussão pública que teria um ano, foi, em manobras por detrás da cortina, encurtado em meses. Milagre do Simplex da conveniência em nome de favores maiores, será tudo entregue nas mãos dos concessionários já em Dezembro.
Assim que o betão começar a frenar a garganta, das Fisgas do Ermelo não se verá mais que um fio de água fragas abaixo, e do vale do Tâmega pouco restará dele escavado por um rio. Muito da nossa identidade paisagística e património colectivo completamente alagado. O que era natural dará lugar ao impacte artificial de uma albufeira de falsas promessas, à distância e a bem da alumiação do Portugal filho e no que resta em desgraça ao Portugal enteado.
Adenda: assine contra esta tragédia, a Petição anti-barragem: Pela vida no Tâmega e no Olo.
Tomba Gigantes do Minho
© Rosário Marques
1. Atlético de Valdevez eliminou Gil Vicente. Valorosa prestação dos alto-minhotos, a eliminarem os de Barcelos depois de haverem derrotado o Olhanense de Jorge Costa na eliminatória anterior.
2. Esperemos que o Sporting de Braga reponha a normalidade constitucional na Madeira ainda antes do Presidente da República intervir. Não será fácil.
3. Não vi o jogo desta noite. Onde é que estava a irascibilidade do Paulo Bento quando os árbitros validaram este golo ou se esqueceram de marcar este penálti contra o Sporting?
A (Re)Acender Debate Sobre as Cidades
«Os assuntos ligados a cidades são cada vez mais comuns na blogosfera do país. São intervenções que contribuem para a participação cívica e promovem a reflexão. [...] "Um blogue genuinamente produzido por um cidadão, ou um grupo de cidadãos, sem interesses políticos é uma excelente forma de participação cívica", diz o investigador, realçando que "muitos destes blogues nascem da impossibilidade do comum cidadão publicar nos jornais regionais". Por outro lado, João Canavilhas não se esquece de referir a outra face de blogues urbanos: "Há blogues que são apenas mais um palco para as oposições e blogues anónimos que servem apenas para achincalhar os autarcas".» [Público]
Versão completa disponível aqui e aqui.
A blogosfera, quando me foi apresentada por amigos que fundaram o Bola na Área, e que entretanto tomaram outros caminhos, pareceu-me inicialmente algo de exótico e de parecido com esses projectos científicos embrulhados numa película a que se deu o nome de biosfera. Ou seja, a blogosfera era para mim uma bolha experimental, um espaço fechado e ao mesmo tempo aberto a novas experiências. Sendo a sobrevivência ainda hoje o grande desafio da humanidade e mesmo dos tubarões das finanças que nos atiraram para as bordas do precipício de bancarrota, atirei-me ao desafio de tentar não morrer no novo oceano que se abria à minha frente. De braçada em braçada, cheguei a uma conclusão que também já foi refrão de uma música: isto de ser blogger é um exercício de natação obrigatória, num ambiente muito diferente da limpeza das experiências biosféricas, ou seja, por aqui não há cú que não dê traques. O ar é bafiento mas ao mesmo tempo perfumado. No fundo, tudo é uma questão de perspectiva.
Quem navega nestas águas livres sabe que está sempre à beira do naufrágio e do consequente afogamento. Porque se navega contra o vento e contra as correntes. A experiência que tenho no blog Porto de Leixões, lançado em Dezembro do ano passado, tendo por tema a discussão de assuntos ligados à vida de Matosinhos, levou-me a encontrar uma espécie de pedra filosofal. Concretamente, sei hoje que o caminho infalível para não agradar mesmo à própria família é escrever num blog as histórias que se contam nos cafés. A guarda pretoriana não tolera a amplificação tertuliana.
De Dezembro para cá, os dois bloggers do Porto de Leixões, hoje apenas um (eu), sentiram o mais diverso tipos de pressões. De início levei a "coisa" para a brincadeira mas rapidamente vi que era a sério. Com dificuldades em conotar o blog, as forças políticas locais – hoje em grande convulsão – tentaram perceber uma conspiração que não era mais que uma constipação, ou melhor, um espirro de dois cidadãos num espaço da Internet. Dois cidadãos sem filiação partidária, sem ligações directas ao poder local e sem aspirações políticos. Porém, desde logo dois perigosos agitadores.
É este lado que francamente me agrada na blogosfera: a facilidade com que, mesmo sem querer, fazemos ferver uma água turva e suja. Onde chafurdam há muitos anos profissionais da política mascarados de democratas. Eles e toda a sua vasta clientela, agarrada aos lugares que ocupam como o mexilhão das rochas das praias do concelho de Matosinhos durante as marés-vivas. Dá para perceber que debaixo do lodo há uma imensidão de criaturas extraordinárias, sendo quase todas acéfalas.
Não sei o que se passa em Braga mas imagino. Apenas lhe faltará ser rodeada de mar para ser considerada um jardim. Por ser uma cidade capital de distrito e com uma dimensão superior àquela onde vivo, pressinto as dificuldades de quem aí bloga mas sinto também o prazer que pode ser proporcionado por um voo rasante sobre a podridão humana. De tal não resultará propriamente o melhor perfume mas também já todos sabemos que mesmo os bons cheiros são muitos vezes resultado dos mais execráveis produtos.
O deleite é, pois, o grande perigo de quem se arrisca nesta aventura. Sobretudo porque é adictivo.
[Eugénio Queirós é jornalista do Record e autor do blogue Porto de Leixões]
Avenida, Dois Anos
Em nome de toda a equipa do Avenida Central, agradeço a todos os que se juntaram a nós nesta celebração do segundo aniversário. Um agradecimento especial para Ana Matos Pires, Fernanda Câncio, CAA, Ricardo Rio, Pedro Correia, Vitor Pimenta, Cláudio Rodrigues, Jorge Sousa, José Luís Araújo e Rui Vasco Neto pelas palavras que nos dirigiram nos seus blogues.
Também o jornal online ComUM dedicou mais um olhar atento à blogsfera minhota, a propósito do aniversiário do Avenida Central.
Também o jornal online ComUM dedicou mais um olhar atento à blogsfera minhota, a propósito do aniversiário do Avenida Central.
A (re)integração urbana de um conjunto monumental
© FTRC
Nós, Portugueses, olhamos de forma recorrente para os países estrangeiros, particularmente para os países europeus, como exemplos modelares, em vários aspectos. Olhamos particularmente para a vizinha Espanha com uma profunda admiração, e por vezes até o facto de o salário mínimo nacional ser superior, no país de nuestros hermanos, é motivo suficente para amaldiçoar a Restauração, o Mestre de Avis e Afonso Henriques. É a postura típica de muitos Portugueses, que não olham para os aspectos negativos dos nossos vizinhos europeus e, sublinhando os bons exemplos, nada fazem para alterar as coisas no seu próprio país.
Avançada esta opinião, e informando que gosto muito de Espanha (não por achar que eles são melhores ou piores), a referência que aqui vou fazer a um projecto não tem nada que ver com o contexto descrito no parágrafo anterior, mas sim com a necessidade de conhecermos exemplos de integração urbana do Património, com os quais podemos ou não concordar. E o exemplo que segue é um projecto na cidade espanhola de Cartagena, na comunidade de Murcia.
A descoberta de um teatro romano Alto-imperial em 1988, dentro dos limites do centro histórico de Cartagena, não foi encarada como um problema, antes como parte da solução para o problema da regeneração urbana daquela zona da cidade. Os restos do edifício, de grandes dimensões, foram compreendidos pela cidade actual, como uma potencial imagem de marca, quer pela monumentalidade que conserva e ostenta, quer pelo significado histórico que representa, quer pela nova dinâmica cultural que poderia vir a conferir à urbe.
Depois de observadas as condições de conservação, as limitações existentes e os exemplos de valorizações efectuadas, surgiu o projecto integrado, da autoria de Rafael Moneo, antecedido pela ideia fulcral de “um monumento visitável que se devolve à sociedade para a sua própria contemplação e disfrute, e como transmissor dos indicadores da identidade da Cartagena Romana”.
Pegando nesta ideia, a mesma pode perfeitamente estar subjacente a uma integração urbana de um equipamento monumental e simbólico da Bracara Avgvsta dos Flávios (o Teatro Romano do Alto da Cividade), na Braga actual, como parte inalienável da sua identidade.
Dois Ponto Zero [12]
A ler: O Milagre, por António Barreto; Os Anos Perdidos, por João Gonçalves; O Silêncio de Belém, por Pedro Correia; Aperfeiçoamentos, por Nuno Gomes Lopes.
A ver: O Port3mouth é uma Treta, por Henrique Monteiro; A Democracia da Madeira, por Apdeites; Imagens de Outras Eras, por jmc.
A experimentar: Click Here to Try Drugs, por Cláudio Rodrigues.
A ver: O Port3mouth é uma Treta, por Henrique Monteiro; A Democracia da Madeira, por Apdeites; Imagens de Outras Eras, por jmc.
A experimentar: Click Here to Try Drugs, por Cláudio Rodrigues.
A Crise da Escola Pública
A excessiva burocratização do serviço docente com a consequente secundarização das actividades lectivas de contacto com os alunos que sempre se constituíram como o grande encanto da profissão e a imposição de um modelo de avaliação viciado por enormes injustiças na selecção dos professores titulares e eivado de graves deficiências de concretização são os grandes justificativos para o facto de mais de quatro quintos da classe docente estar hoje em protesto.
Uma escola repleta de professores que dão aulas porque não têm outro emprego onde ganhar o suficiente para sobreviver é o saldo dramático destes anos de reiterada teimosia da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues. A estratégia do deliberado achincalhamento público fez grassar o ressentimento docente e a desmotivação é o sentimento mais dominante no seio das escolas públicas. Quem não percebeu que não se pode reformar a escola denegrindo os docentes está a mais no Ministério da Educação.
Ainda que a maioria dos votos venha a confirmar este governo, não é crível que a reforma da educação se possa fazer contra a vontade da quase totalidade dos professores. Como se sabe, o ensino não entra nas prioridades da esmagadora maioria dos portugueses e não será um assunto determinante na hora de escolher o governo. Por isso mesmo, os políticos estão incumbidos de colocar a educação no lugar certo da hierarquia de prioridades do país, criando condições para que o sistema de ensino contribua decisivamente para desenvolver o país, melhorar as condições de vida das populações e o atenuar as desigualdades socias.
Um governo responsável não pode assobiar para o lado quando uma classe inteira sai à rua para protestar. É por isso que Maria de Lurdes Rodrigues e José Sócrates, com a complacência do Presidente da República, são os principais responsáveis pelo clima gravoso que se vive na escola pública e que culminará com a sua completa degradação.
Esta Ministra da Educação confunde determinação com intransigência e prepotência, estando numa situação de completo descrédito junto da classe docente, o verdadeiro motor do ensino público português. Quando diz que «não há outro modelo disponível», Maria de Lurdes demonstra uma arrogância que envergonha a democracia.
O afastamento da Ministra e a suspensão imediata deste modelo de avaliação são as únicas saídas possíveis para repor o normal funcionamento da escola pública ainda a tempo de a salvar. Se tal não acontecer, caberá aos professores mobilizarem e sensibilizarem a sociedade civil para a defesa da escola pública. Vergar os professores será trágico.
Das memórias do meu percurso na escola, guardo o entusiasmo com que uma das minhas professoras de português expunha os conteúdos e nos desafiava a reflectir sobre eles. Ainda recordo o dia em que nos contou que encarava a profissão docente como um verdadeiro sacerdócio e que, apesar da dedicação a tempo inteiro, fazia-o com verdadeiro encanto e motivação. Depois de muitos anos sem contacto por via da minha mudança de cidade, encontrei-a na passada quarta-feira. Estava velha, gasta, cansada, desmotivada e lamuriosa. No fundo, era o espelho da escola pública.
Uma escola repleta de professores que dão aulas porque não têm outro emprego onde ganhar o suficiente para sobreviver é o saldo dramático destes anos de reiterada teimosia da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues. A estratégia do deliberado achincalhamento público fez grassar o ressentimento docente e a desmotivação é o sentimento mais dominante no seio das escolas públicas. Quem não percebeu que não se pode reformar a escola denegrindo os docentes está a mais no Ministério da Educação.
Ainda que a maioria dos votos venha a confirmar este governo, não é crível que a reforma da educação se possa fazer contra a vontade da quase totalidade dos professores. Como se sabe, o ensino não entra nas prioridades da esmagadora maioria dos portugueses e não será um assunto determinante na hora de escolher o governo. Por isso mesmo, os políticos estão incumbidos de colocar a educação no lugar certo da hierarquia de prioridades do país, criando condições para que o sistema de ensino contribua decisivamente para desenvolver o país, melhorar as condições de vida das populações e o atenuar as desigualdades socias.
Um governo responsável não pode assobiar para o lado quando uma classe inteira sai à rua para protestar. É por isso que Maria de Lurdes Rodrigues e José Sócrates, com a complacência do Presidente da República, são os principais responsáveis pelo clima gravoso que se vive na escola pública e que culminará com a sua completa degradação.
Esta Ministra da Educação confunde determinação com intransigência e prepotência, estando numa situação de completo descrédito junto da classe docente, o verdadeiro motor do ensino público português. Quando diz que «não há outro modelo disponível», Maria de Lurdes demonstra uma arrogância que envergonha a democracia.
O afastamento da Ministra e a suspensão imediata deste modelo de avaliação são as únicas saídas possíveis para repor o normal funcionamento da escola pública ainda a tempo de a salvar. Se tal não acontecer, caberá aos professores mobilizarem e sensibilizarem a sociedade civil para a defesa da escola pública. Vergar os professores será trágico.
Das memórias do meu percurso na escola, guardo o entusiasmo com que uma das minhas professoras de português expunha os conteúdos e nos desafiava a reflectir sobre eles. Ainda recordo o dia em que nos contou que encarava a profissão docente como um verdadeiro sacerdócio e que, apesar da dedicação a tempo inteiro, fazia-o com verdadeiro encanto e motivação. Depois de muitos anos sem contacto por via da minha mudança de cidade, encontrei-a na passada quarta-feira. Estava velha, gasta, cansada, desmotivada e lamuriosa. No fundo, era o espelho da escola pública.
Capítulo 17: obama, só mais meia dúzia de linhas
1. São muitos os teóricos que afirmam o presente como a pós-modernidade; uma época que rompe com um passado recente caracterizado - entre muitos outros aspectos - pelos grandes discursos.A eleição de Obama, porém, é a afirmação inequívoca de que os grandes discursos não acabaram. Se com a popularização do lazer, a política e o discurso político passaram para segundo plano, as novas formas de comunicação permitiram tornar os discursos políticos numa nova forma de lazer.
Não restam dúvidas da incrível capacidade retórica de Barack Obama, mas se ele não tivesse recorrido aos canais não convencionais de comunicação política, não teria, sequer, vencido as primárias.
Com o recurso a ferramentas web populares como o Facebook ou o Youtube, Obama chegou perto de um público-alvo que se veio a revelar um dos mais importantes para a sua eleição: os jovens norte-americanos. Através da Internet, Obama conseguiu reunir milhares - talvez milhões - de entusiastas dispostos a trabalhar gratuitamente para um sonho que lhes era comum: "mudar o mundo".
2. Outra questão importante é a diferença entre o pré e o pós eleição. Antes da eleição, o mundo olhava os americanos como o povo mais estúpido do mundo por ter eleito, por duas vezes consecutivas, George W. Bush. Agora, após a eleição, esse mesmo mundo olha os mesmos americanos como o exemplo máximo da civilidade por ter escolhido um negro como Presidente.
Li, um pouco por todo o lado, que a eleição de um negro representava a "reconciliação entre duas américas divididas". A páginas tantas, falava-se mais frequentemente do tom de pele de Obama do que do seu papel como futuro Presidente dos Estados Unidos da América.
Obama representa, de facto, uma vitória contra o preconceito, mas demonstra também a justeza da igualdade de oportunidades. Porque nunca é demais lembrar que Obama, de negro, pouco tem; "meia-pele", quiçá.
Para além da pele, Obama pouco terá em comum com a maioria dos negros que representam uma importante minoria étnica nos Estados Unidos. Foi criado pela mãe, branca, e pelos avós maternos, brancos, e estudou em algumas das melhores escolas e numa das melhores universidades americanas.
Teve oportunidades e condições de vida que poucos negros têm, por isso a vitória de Obama não é tanto uma reconciliação entre duas américas, mas será, porventura, um cessar de fogo e uma boa desculpa para quebrar as barreiras étnicas num país que representa o melting pot.
P.S.: A Avenida Ideal desta semana é publicada, excepcionalmente, ao Sábado por causa da celebração do segundo aniversário do blogue. A partir da próxima semana, voltará de novo a ocupar cinco minutos das vossas Sextas-feiras.
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