Um “voucher” da Bertrand
A rapariga deu-me, primeiro, a factura e, depois, disse-me que tinha direito a “um voucher”. Eu perguntei-lhe por que é que não dizia, por exemplo, “um vale” em vez de “um voucher” e ela encolheu-os ombros. Poderia, sei lá, haver alguma subtileza semântica que ela pudesse querer preservar, uma alusão a um episódio memorável de um filme desconhecido, uma passagem mais palpitante de um romance ainda ignorado. Nada havia, contudo, para justificar a importação da palavra.Olhei para o pequeno papel com o crédito da Livraria Bertrand e a palavra “voucher”, afinal, também lá estava. A rapariga deve, portanto, ter sido contaminada pela ignorância de uma dessas prováveis criaturas do marketing, que agora se usam muito nos “sectores da cultura”, que copiam uns expedientes estrangeiros, mantendo-lhes designações que muito impressionam a clientela mais pretensiosa e mais parola.
ahah! e enquanto não levas um voucher para um forfait...
ResponderEliminarEnquanto houver muita clientela pretensiosa e parola... é assim que se ganha a vida.
ResponderEliminarO que choca é o português parolo que aceita estes estrangeirismos sem reclamar.
ResponderEliminarSim Pedro...
ResponderEliminarA malta anda a "comer" estrangerismos técnicos em catadupa... que fazer?
É fruto da globalização, do "benchmarking", que contaminaram as empresas em "workshops" e outros "inputs" do género.
É que hoje não há orçamentos, há "budget"... não há intuição, há "felling"... não há parceiros, há "partners"...