A Agere e o Lixo
Que o diga o rapazinho que, há não muito tempo, seguia à minha frente na Avenida Central. Em vez de atirar para o chão uma pequena garrafa de um refrigerante, bem-educado, resolveu colocá-la num caixote do lixo. Resultado: a mãe deu-lhe um estalo. A senhora caminhava à frente do miúdo e, quando ouviu o barulho provocado pelo lixo que caiu ao chão, olhou para trás e, vendo o filho junto do sítio da ocorrência, julgou que ele era o seu voluntário causador. Não era.
O fundo dos caixotes do lixo abre-se, vale a pena repeti-lo, apenas porque não suporta o peso de certos objectos aí depositados. Não é, pois, necessário a acção de qualquer vândalo para que haja continuamente lixo espalhado pelo chão da cidade. A Agere encarrega-se de usar o dinheiro dos bracarenses para comprar estes singulares objectos que, por si só, garantem uma sujidade permanente. Se uma alma caridosa e com habilidade para o desenho aparecesse, ficar-se-ia, pelo menos, a saber que os senhores da Agere adquirem os caixotes do lixo bem sabendo que são eles próprios (os caixotes, claro) que deviam ir para o lixo.
Os guerreiros do Douro
© CNART
Assinalando o 12º aniversário da criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa, o único criado até agora em Portugal, gostaria de colocar aqui uma referência ao conjunto de gravuras, do qual se apresenta aqui um detalhe. Trata-se de um painel, a pouca distância da margem do Douro, no lugar da Vermelhosa (Vila Nova de Foz Côa), que conserva representações de guerreiros, cuja gravação remonta à Idade do Ferro (séculos VIII a I a.C.).
Não deixa de ser curioso como estas representações pictóricas coincidem em boa medida com a descrição contemporânea feita por Estrabão, na sua Geografia da Ibéria, ao observar os guerreiros Lusitanos: “usam um pequeno escudo de dois pés de diâmetro, côncavo para diante, suspenso com talabartes de couro (…). Além disso, usam ainda punhal ou gládio. A maior parte usa couraças de linho; poucos, cotas de malha e um capacete de tríplice cimeira, ao passo que os demais têm elmos de nervos. Os peões usam também polainas de couro, e cada um traz diversos dardos; e alguns, lanças com ponta de cobre”. A mesma descrição coincide também com as conhecidas estátuas de guerreiros Calaicos, descobertas mais cá para o Norte.
Olhando para o programa da comemoração do aniversário do PAVC, podemos sem dúvida ajuizar que os habitantes de Cidadelhe (uma freguesia com 52 habitantes), em vez de terem estas actividades de dinamização, de terem quem conserve o seu Património classificado pela UNESCO, poderiam estar bem melhor servidos, com uma linda albufeira que lhes teria descaracterizado o vale, mas que os iria impressionar, sobrepondo a monumentalidade e engenho do homem do século XX, à monumentalidade da natureza.
É certo que não teriam água canalizada nem saneamento (que já vieram entretanto, como investimentos recentes no contexto da implementação do turismo cultural), mas vendo bem as coisas, podiam praticar windsurf na barragem. Que egoístas são, estes habitantes de Cidadelhe, que não pensam nas inundações sofridas a jusante, nem na energia que podia estar a ser produzida...
Castelos Andantes
Tenho um amigo que deve ter ficado radiante com a perspectiva do seu apartamento colado ao Aleixo, ficar no futuro livre das 4 ou 5 torres que vão deixar de o ser, para dar lugar a um empreendimento de luxo. De repente, passou a ter uma janela virada a um futuro bairro in, tão perto da Foz do Porto e talvez longe de imaginar que tão arriscado investimento pudesse ser algum dia tão espantosamente bem retornado.Ora, isso é só possível graças ao flexível modelo de habitação social português, uma flexi(n)segurança aplicada ao arrendamento social, que com mesma ligeireza com que distribui chaves de apartamento e RSI's, move e remove vidas raízes e rotinas de pás cheias de um lado para o outro, conforme as conveniências ou as exigências do Mercado e as complacências da democracia.
A solidariedade social precede assim o paternalismo social que dá lugar ao assistencialismo caritativo e que faz dos bairros sociais meros castelos-andantes ao serviço dos interesses higiénicos de algumas elites. Ali despeja-se o que não se quer ver e muda-se de lugar quando nos apetecer. Como um caixote do lixo.
O modelo português cobre-se de candura mas é na verdade tão nazi como um guetto, porque, será cliché, nunca promoveu a reinserção e descartou-se da responsabilização, quer dos seus beneficiários quer do próprio Estado. É desumano e sem respeito para com quem lá vive cumprindo com as suas obrigações de cidadão. É desumano e sem respeito para quem paga impostos legando ao Estado o zelo pela Igualdade de Oportunidades.
Neste caminho, o Aleixo só vai dar lugar a um "novo Aleixo", algures numa periferia ainda desienteressante do Porto, com as mesmas polémicas e o mesmo torcer de nariz ao comprimento dos quartos e à largura da sala. O outro, o dos ricos, fica com vista de vidros duplos virado ao Rio.
[modo férias]
© anabananasplit
Nos próximos oito dias estarei em modo férias, pelo que ficarei menos disponível para escrever. Ainda assim, tentarei manter o blogue actualizado e as crónicas semanais mantêm-se. Boas leituras.
Capítulo 2: das rivalidades
Nota: A desta semana é dos meus irmãos que, quase graúdos, fizeram anos ontem.
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Para saber mais:
Guerra aberta no Minho, António Casanova (http://www.blogger.com/www.superbraga.com)
Superbraga.com (http://www.blogger.com/www.superbraga.com)
As Dúvidas da RTP (II)
«ao ignorar o Jogo do Sporting de Braga na Turquia, não promovendo quem está disposto a lutar para subir no ranking Nacional e Europeu, privilegiando somente os que estão instalados, não ajudando assim a que os clubes possam subir pelo investimento e qualidade do espectáculo que proporcionam. É importante contribuir para que Portugal tenha mais equipas com nome na Europa, o que é bom para o futebol Português e para a divulgação de Portugal e das suas regiões.» [Ricardo Gonçalves, Deputado do PS eleito por Braga]
O deputado Ricardo Gonçalves, eleito pelo Partido Socialista no círculo de Braga, dirigiu um requerimento ao Ministério dos Assuntos Parlamentares e Comunicação Social acerca da negligência da RTP na transmissão do jogo do Sporting de Braga na Taça Intertoto. Adivinha-se que a resposta não andará muito longe dos ensaios que nos têm chegado. Mas, porque são justificativos claramente insuficientes, será necessário escalpelizar o que leva a Direcção da RTP a adquirir uma partida recreativa à Estoril SAD quando nem sequer sabe em que condições poderia transmitir a legítima representação nacional nas competições europeias.
A tomada de posição do deputado Ricardo Gonçalves é muito simbólica e significativa. Não só porque leva até à casa da democracia o debate acerca das sucessivas desfeitas que o serviço público de televisão tem feito ao Minho, mas também porque corporiza as preocupações de uma parte significativa dos eleitores do círculo de Braga. Diga-se a este propósito que a acção no terreno dos deputados do Partido Socialista, em particular de Ricardo Gonçalves e de Miguel Laranjeiro, tem sido bem notória e isso é muito relevante para a nossa democracia.
As Dúvidas da RTP
© Josh Dionne
No dia em que a RTP venceu o concurso para as transmissões das partidas da Liga Sagres, recebi mais uma hilariante comunicação da televisão do Estado. O Subdirector de Informação, Miguel Barroso, diz que «apesar do que dizem os jornais, desconhecemos efectivamente os contornos da transmissão efectuada pela televisão turca.»
Quando já toda a gente sabe que a transmissão foi feita pela TRT 1 de forma directa e integral, a Direcção de Informação da RTP ainda confessa a sua ignorância na matéria.
Pobres Perante o Estado
«Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul.» [Mário Crespo, JN]
À medida que as classes médias vêm o fruto do seu trabalho taxado em variados impostos, um conjunto de parasitas vai-se alimentando à custa dos subsídios. Há cada vez mais pobres perante o Estado que são lordes perante a vida.
Há uns anos, lamentei juntos de alguém com responsabilidades o facto de haver quem recebesse bolsas de estudo da Acção Social enquanto ía de férias para as Caraíbas e se fazia deslocar em automóveis topo de gama. Mais não fizeram do que convidar-me à denúncia de casos concretos, tarefa à qual obviamente me furto.
Na verdade, convivemos com demasiada e preocupante frequência com situações desta índole e, por muito custe a alguns, a questão nem é étnica nem racial, mas uma doença que corrói por inteiro todos os sectores da sociedade portuguesa. Não há bom pai de família que não conheça uma artimanha para fugir aos impostos nem bom português que disso não faça gáudio enquanto toma o café depois do almoço.
Não há Governo que nos salve da subversão de tantas leis bem intencionadas. O que se espera é que, da próxima vez que inventarem um subsídio, se lembrem da televisão, da playstation e dos leitores de DVD que moram nas casas dos que se sustentam à custa do rendimento social de inserção nessa tal Quinta da Fonte e em tantas outras quintas deste malogrado país.
Coisas Que o Provedor Devia Saber...
«contactámos a Direcção de Informação, área do desporto, tendo-nos sido referido que o jogo não ia ser objecto de gravação na origem, pelo que não haveria possibilidade de a RTP proceder à sua transmissão. Penso, aliás, que a falta de gravação explicará o facto de não ter havido sequer imagens dos golos, o que determinou que o evento não tenha integrado os serviços noticiosos.» [mensagem recebida do Gabinete do Provedor]
Foi deste modo que o Provedor da RTP respondeu aos protestos que lhe chegaram pela negligência no acompanhamento do Sporting de Braga na Taça Intertoto. Lamentavelmente, a informação e as justificações apresentadas baseiam-se em factos falsos. Como é do conhecimento público, o jogo foi transmitido em directo pela televisão turca TRT e os golos até estão disponíveis no YouTube. Aguardamos melhores justificações para esta ausência de cumprimento do serviço público por parte da televisão que todos pagamos.
Entretanto, a Petição "RTP com Desporto para Todos" continua a dar que falar. O Diário do Minho tem feito uma excelente cobertura da iniciativa. Além de uma entrevista com a opinião dos promotores da petição, na edição de ontem podia ler-se a análise de Felisbela Lopes, docente de Comunicação Social da Universidade do Minho. O trabalho foi conduzido por Luísa Teresa Ribeiro que publica no seu blogue alguns dados muito interessantes para esta temática.
Já hoje, o Jornal de Notícias traz o protesto para a edição em papel, revelando a nova polémica de que lhe damos conta neste post. As imagens do YouTube desfazem todas as dúvidas.
Futebol com Braga
1. João Vieira Pinto pôs um ponto final na carreira de jogador de futebol, mas, na verdade, já a tinha terminado no dia em que abandonou o Sporting Clube de Braga. Ainda hoje recordo a recepção histórica do «menino de oiro» no Estádio Axa e o perfume com que encantou o estádio mais belo do mundo.
2. António Salvador voltou a surpreender e, ao contrário de todas as expectativas, anunciou a contratação de Alan, o extremo que alinhara no Vitória de Guimarães durante a última época.
O Caso Maddie
A liberdade de que os media usufruem serve para permitir a existência de opiniões diversas sobre um mesmo relato, não uma infinidade de relatos sobre o mesmo facto. O certo é que, demasiadas vezes, relativamente aos mais variados acontecimentos, sobra a opinião e escasseia o elementar relato dos factos. Isto faz com que, depois, haja, por exemplo, comentários ou debates feitos a propósito de ocorrências que não se sabe como ocorreram.
O caso Maddie forneceu um eloquente exemplo de fala-baratismo mediático, alimentado em grande medida por reincidentes "especialistas" em insensatez, em irresponsabilidade e, em certas ocasiões, na mais retorcida infâmia.
À Atenção da RTP
Pode assinar a petição aqui.
Que o Senhor Nos Faça Católicos como Eles!
O último congresso da Juventude Socialista foi uma mostra interessante desta dicotomia. De um lado, o novo líder da JS assume o casamento homossexual como «uma imposição do princípio da igualdade.» Do outro, o burlesco líder dos Socialistas Católicos que afirma coisas tão aberrantes como «à ideia de casamento está indissociável a constituição de uma família, que possa haver filhos, com pai e mãe.»
O que os une é o socialismo. O que os separa é a avidez com que os «católicos» daquele partido laico (?) tentam impor os seus valores a todos os concidadãos.
P.S. - Só espero que esse Cláudio Anaia se chicoteie todos os dias porque o senhor não fez a todos tão católicos como ele!!!
Silly Boy
© freakystyleypetey
Que me perdoem os sonhos das adolescentes coleccionadoras de fotografias do Cristiano Ronaldo nu (ou quase!), mas o rapaz não tem mesmo cabeça. Digam-me um único jogador que tenha saído do Real Madrid melhor do que entrou...
O Castro Máximo
© SMS
Este característico monumento de Braga foi desde cedo (ou seja, desde finais do século XIX) alvo da atenção dos primeiros arqueólogos portugueses, que centraram as suas investigações no Norte do país. Neste caso, Albano Belino, colega e amigo de Francisco Martins Sarmento, dedicou parte das suas investigações ao Castro Máximo, no local conhecido como Monte Castro, na freguesia de S. Vicente. Alguns anos depois, em 1935, Carlos Teixeira efectuou trabalhos arqueológicos no povoado fortificado, cujos resultados publicou em 1936. No início da década de cinquenta novas prospecções e escavações seriam coordenadas por Russel Cortez. A Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho levaria a efeito algumas sondagens no castro, em 1977 e 1978, não tendo contudo atingido uma extensão ampla.
Recentemente, o nome e vestígios deste sítio arqueológico, que aparenta ter sido um povoado de dimensões consideráveis, voltaram à praça pública a propósito da contrução do novo Estádio Municipal de Braga. Enquadrada neste grande projecto de construção, foi realizada uma operação de salvamento da zona afectada, em 2001, coordenada pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal.
O Castro Máximo foi um aglomerado habitado na Idade do Ferro e na primeira fase da Romanização, composto de estruturas familiares circulares, protegidas por três linhas de muralha e fossos, voltados para o lado da cidade actual. As pedreiras abertas há alguns anos nas encostas do Monte Castro dificultam uma percepção concreta das dimensões do povoado proto-histórico, admitindo-se porém que o mesmo ocuparia grande parte da elevação. Juntamente com as citânias de Briteiros e de S. Julião, o Castro Máximo é uma das hipóteses avançadas para a localização da “capital” dos Bracari ou Brácaros, a entidade étnica que habitava as bacias inferiores do Cávado e do Ave, aquando da chegada dos Romanos.
O pouco impacto que a afectação de grande parte do monumento parece ter provocado, bem como a inexistência de qualquer valorização dos vestígios ainda existentes, não deixam de contrastar com a fonte de informação científica e possível carga simbólica que este monumento poderia vir a assumir, além da possibilidade de requalificação e criação de uma pequena zona verde/monumental. O remanescente do povoado, correspondente a parte da Acrópole, está assinalado na foto acima com um traço vermelho, e ocupa o topo do monte original, ao qual se acede a partir da Av. Artur Soares.
RTP com Desporto para Todos (III)
2. O Diário do Minho leva a petição até à capa do suplemento Tele-Escolha.
3. Enquanto a televisão do Estado subverte o serviço público que a Lei de incumbe e transmite jogos amigáveis, o Avenida Central [via Claques de Portugal] revela como poderá assistir ao Sivasspor-SC Braga, a primeira representação nacional da época em competições europeias. Para tal, basta descarregar este ficheiro e abri-lo no seu computador. Ao fazê-lo tem acesso à emissão online da TRT, a televisão turca que faz serviço público e não se esquece de transmitir as prestações das equipas nacionais nas competições europeias.
Podem continuar a assinar a petição, aqui.
Bonecas de Porcelana
A área delimitada pela Trindade e Santa Catarina, vigiada pela torre do Jornal de Notícias, no Porto, é sabido território de travestis e transexuais. Quase sempre aos pares, não vão ser agredidas. A cidade não tem muito com que se orgulhar na sua história recente.O encardido da carrinha do Projecto VAMP da Liga Portuguesa de Profilaxia Social [onde fiz voluntariado nas últimas semanas] ganha cor e o perfume das suas tragédias, amores e desamores, mas riem-se com elas e com a vida. Pouco mais lhes podia sobrar. Muitas têm um namorado e as fontes de rendimento repartem-se entre os espectáculos que dão em bares da cidade e o que tiram da rua. Fará parte da cultura Transgender, penso. O patronato conservador também dificilmente lhes daria outro trabalho e ali ganham bem mais dinheiro, para pagar os saltos altos, a maquilhagem, as lantejoulas, as hormonas e as cirurgias.
Uma das transexuais que mais descaradamente se instala no interior da carrinha, revela-me que começou a tomar hormonas aos 13 anos por sua iniciativa. Adquiriu-as facilmente na farmácia. A única vez que recorreu ao médico foi com o propósito de implantar silicone nas mamas – pagou e ele calou. Queixa-se que a classe médica não as compreende e as tenta influenciar do contrário.
Disse, como se fossem todos. Mas não generalizando, vai um fundo de verdade. Não há preconceito e paternalismo que não medre em muita cabecinha de profissional de saúde. A classe médica – e caia o Carmo e a Trindade – não é tão informada como parece. Nos distúrbios de identidade de género então, é uma confusão muito grande. Os pais chegam aos consultórios com eles pequenos e pequenas, a queixarem-se que brincam como não deviam brincar, que ensaiam as poses dos do outro lado. Debaixo daquele corpo neutro da infância, limpo e angélico, assexual, sobram coisas, que na mente das crianças, não deviam estar ali. Minimiza-se e vai-se dando demasiado tempo ao tempo.
Uma negligência, pois quando investigados e diagnosticados precocemente, com uma intervenção hormonal que retarde ou que modifique o rumo das alterações impostas na puberdade, podem obter-se resultados sem os traumas do semblante ossudo, a pedir mais de quantas intervenções cirúrgicas na idade adulta.
A transexual de que falo, começou tão jovem que do rosto e do corpo pouco mostra em réstia de masculino. É uma mulheraça, que engana qualquer desconsolado de boa família. Mas correu e corre riscos porque se deparou, num consultório, com um rosto tacanho e ignorante, tão igual aos dos que passam e as insultam na rua.
Hoje é Sexta!
Adenda - vejam a especial dedicatória do "Dias Que Voam" para os leitores do Avenida Central.
RTP com Desporto para Todos (II)
1. O Correio do Minho foi o primeiro jornal a fazer notícia com a petição por uma RTP mais plural.
2. O site VitóriaGrande disponibiliza banners de promoção da iniciativa.
3. Os blogues Braga 2009, Mesa da Ciência, VitóriaGrande, Vitória-1922, Deixa Tar Que Eu Faço, Um Certo Olhar, Torres de Belém, Finta & Remata, Fanatic Supporters, Velha Guarda PN, Espaço Ultra, D. Afonso Henriques, Ócio, Mário Ventura, Belem p'ra Sempre, Leixões SC, Planeta Soares, DaniGift, Bola Política também já se juntaram à petição.
Capítulo 1: "De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens"
Esta carta, que deveria ser apenas um pró-memória pessoal, fugiu do domínio privado e tornou-se, quase imediatamente, de domínio público, numa carta aberta involuntária. Este documento acabou por se tornar a bandeira de um movimento católico de contestação do Regime - e da Igreja do Regime - e, na sequência desta polémica, Dom António Ferreira Gomes seria votado a um exílio de dez anos.
Em 1958, Dom António Ferreira Gomes questionava o corporativismo do Estado Novo; afirmava que os frutos do trabalho comum deveriam ser divididos "com equidade e justiça social"; advogava que o direito à greve era defendido pela doutrina da Igreja; ousava propôr o sindicalismo livre e a criação de partidos.
Durante o Estado Novo as relações de poder eram quasi-medievais e a aristocrática ditadura e o clero uniam-se para dominar o povo e arrebanhá-lo para si. Um acordo de interesses informal, mas bem enraizado; um acordo que obrigava a ligeiros atropelos das doutrinas de ambas as partes, desde que a favor da pátria.
As palavras de Dom António Ferreira Gomes foram, então, como uma traição ao acordo Igreja/Estado e puseram em causa a sustentabilidade do Regime. Quatro anos antes do eclodir da Guerra Colonial e dezasseis anos antes da Revolução dos Cravos, a História poderia ter sido outra: e hoje seríamos, concerteza, um país diferente.
Nota: A Avenida de hoje é dedicada ao meu velhote, que fica hoje um pouco mais velhote.
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Para saber mais:
Católicos e Política, de Humberto Delgado a Marcelo Caetano, Pe. José da Felicidade Alves
Adérito Sedas Nunes e o bispo do Porto em 1958, José Barreto
Fundação Spes, http://www.fspes.pt/
RTP com Desporto para Todos
Desiludidos com os equívocos e as omissões da televisão pública, os adeptos do futebol nacional signatários desta petição esperam que a RTP cumpra as insistências do senhor Provedor no sentido de «que a cobertura não seja quase em exclusivo para os considerados três grandes» e que torne públicos os critérios de transmissão de eventos desportivos e de selecção das notícias que integram os blocos informativos generalistas.
Os promotores da iniciativa desafiam todos os cidadãos a juntarem-se a este justo protesto. Pode assinar a petição clicando aqui.
Actualizações
1. Mais de 120 assinaturas em menos de 2 horas. O site VitoriaSempre e o blogue BragaBlog já se juntaram ao protesto.
2. Mais de 300 assinaturas em 16 horas. O site SuperBraga.com e os blogues Belenenses, Arcada Nova, BrunoSpot e Ruptura Vizela também já se juntaram ao protesto.
3. 500 assinaturas em 20 horas. Os blogues BragaSempre e Colina Sagrada já aderiram ao protesto.
Serviço Público de Televisão
É em nome do tal «serviço público de televisão» que a RTP transmite no próximo Sábado um jogo a feijões entre um clube de Lisboa e outro da linha de Cascais. Já no Domingo, quando o Sporting de Braga jogar na Turquia a primeira representação nacional da época em competições europeias, a RTP estará a fazer «serviço público de televisão» à custa da telenovela.
Após repetidas queixas junto do provedor e perante a ineficácia das suas insistências «para que a cobertura não seja quase em exclusivo para os considerados três grandes», torna-se ainda mais óbvia a imoralidade do financiamento público a uma empresa que, a coberto do «serviço público», mais não faz do que submeter o país à ditadura da maioria já sobejamente servida pelas lógicas comerciais das televisões privadas.
Mandato Nano
«A verdade é que num mandato marcado pela viragem para as iniciativas público-privadas, que continuam sem sair do papel, e por túneis tão eleitorais quanto comerciais, que continuam sem liberdade para arrancar, o mais experiente autarca “rosa” do país arrisca-se a chegar à eleições sem outra obra palpável para mostrar aos bracarenses a não ser a nanotecnologia. A Câmara aproveita, por isso, para se “colar” a uma obra dos governos de Portugal e de Espanha, com o únicoargumento de ter cedido o terreno para a implantação do propalado centro de investigação. Acontece que, apesar dos anúncios precipitados, continua por cumprir o objectivo de substituir a Bracalândia, que foi corrida para Penafiel, por novos parques à escala Disneylândia, que permitam “dar circo ao povo” numa altura em que “a falta de pão” não se compadece com promessas políticas. À falta de obras de “encher o olho”, afinal, este bem pode ser o “mandato nano”, que ateste, uma vez mais, que nas pequenas coisas é que está o segredo…» [José Carlos Lima, Diário do Minho]
Contra factos não há argumentos, mas escrever com tamanha lucidez não é para todos. José Carlos Lima coloca o dedo na ferida: Mesquita Machado vai terminar o mandato sem cumprir uma única das suas grandes promessas eleitorais. Pior do que isso, tem o ónus de ser o responsável pela fuga da Bracalândia, por meses de inferno nas obras da Variante Sul, pelo acentuar do betão dominante na cidade e pela derrota da sua política de isolacionismo que resultou no afastamento de Braga do projecto da Capital Europeia da Cultura 2012.
Apesar do "mandato nano" tudo continua em aberto em termos eleitorais porque, como todos sabemos, o segredo está mesmo nas coisas pequenas. Tão pequenas como a visão e a ambição de demasiados bracarenses. Infelizmente.
Andam a Devastar a Falperra!
Justiça Desportiva (Por Agora...)
© Márcio Cabral de Moura
Numa decisão juridicamente inatacável e repleta de justiça desportiva, o Tribunal Arbitral do Desporto decidiu incluir o Futebol Clube do Porto na próxima edição da Liga dos Campeões. O interesse súbito do Benfica e do Vitória de Guimarães na condenação do Porto resultava do benefício imediato que poderiam obter em consequência de actos de que não haviam resultado quaisquer prejuízos desportivos objectivos para qualquer uma das duas agreminações em causa.
Como tal, apraz-me verificar que a UEFA continue a contar com o clube que desportivamente conquistou a presença na Liga dos Campeões da época 2008/09 e ainda mais me satisfaz que tenha ficado em aberto a aplicação de um justíssimo castigo ao Futebol Clube do Porto na próxima edição daquela prova.
Adenda1 - Garantem-me que Simão e Aimar são jogadores do Porto. Será?
Adenda2 - Só os órgãos dominados por Lisboa condenaram Porto, Boavista e Gil Vicente. Guerra Norte-Sul?
Rainha-Mãe
«mas nunca deixei de me interrogar por que Afonso Henriques era sempre apresentado como o primeiro rei de Portugal... e não a mãe. E por que a data fundadora do estado português, finalmente "independente", tinha que ser associada à Conferência de Zamora (1143) e à circunstância trivial de um acordo de paz entre primos desavindos. Confesso que preferia que a História de Portugal tivesse, à cabeça, uma rainha e não um rei. E confesso também que partilho com Marsilio Cassoti um grande e antigo fascínio pela figura de D.Teresa, a rainha-mãe.» [Ademar Santos, abnoxio]
Nascido há 4 anos, o abnoxio é uma referência. Ademar Santos é um mestre na ironia, um exemplo no manejo da Língua e um visionário no pensar. Leio-o religiosamente todos os dias e ressaco-o nas ausências e pausas. Não é puro onanismo como comentava um leitor, mas antes elixir intelectual, porto seguro de paródia certeira sobre a insanidade que nos rodeia. Altamente recomendado.
A Barbearia Mais Antiga de Braga
© Maar
Carla Pessoa, no blogue Pozinhos de Perlimpimpim, retoma a questão da morte da barbearia mais antiga de Braga. Património de altíssimo interesse cultural, histórico e arquitectónica, a barbearia está à mercê das decisões da autarquia. Tal como escreve, «a Câmara Municipal de Braga, governada há mais de 30 anos por Francisco Mesquita Machado, não se tem pronunciado mas é a única entidade que pode fazer alguma coisa para salvar este riquíssimo património.»
Há interesses imobiliários para aquele local? Então encomendem o requiem para mais este pedaço da Braga antiga e colectiva de que todos gostamos...
O Engodo
© Miguel A. Lopes
Há duas formas elementares para aumentar o sucesso escolar - diminuir os níveis de exigência ou aumentar a qualidade da formação.
Quando se opta pela primeira solução, contribuiu-se para a degradação do ensino numa espiral de sucessivo facilitismo. O sucesso escolar converte-se num fim em si mesmo e, ao contrário do que possa pensar-se, o incremento artificial desse sucesso não é um promotor de igualdade e integração nem um motor para a economia do país. Pelo contrário, constitui-se como um terrível empecilho ao desenvolvimento social, acarretando o ónus de gerar falsas ilusões nos jovens estudantes e nas suas famílias.
Façamos o exercício meramente teórico de imaginar o que sucederia se uma escola médica decidisse aumentar o sucesso escolar dos seus alunos pela mesma via que foi seguida pelo Ministério da Educação. Primeiro facilitavam-se os testes de Farmacologia e deixava-se de se exigir que os alunos conheçam os grupos farmacológicos. Depois tentava-se resolver o problema da Anatomia e as avaliações passavam a perguntar coisas tão básicas como quantos estômagos temos?. Finalmente, dispensavam-se aos alunos de saber manter uma conversa coerente com os seus pacientes. No fim de tudo, teríamos uma escola médica absolutamente exemplar do ponto de vista do sucesso académico, mas teríamos hipotecado o compromisso social de formar médicos competentes.
Por via da mentira repetida à exaustão num registo de indignada vitimização, Maria de Lurdes Rodrigues e respectiva horda de seguidores convenceram a esmagadora maioria dos portugueses de que os esforços empreendidos pelo seu Ministério conduziram a uma efectiva melhoria dos conhecimentos e das competências dos alunos na disciplina de Matemática. Isto sucede porque a mediania do país, reflexo da mediania da Escola das passagens políticas e administrativas, não lhe permite perceber o tamanho da ficção dos resultados apresentados. No entanto, a honestidade e o bom senso políticos recomendam que as preocupações relativamente aos maus desempenhos dos alunos nas disciplinas nucleares - Matemática e Português - se mantenham inalteradas apesar do milagre estatístico operado nos corredores do Ministério da Educação.
A situação a que chegámos é altamente confrangedora. Nos dias que correm, um aluno chega ao ensino superior sem conhecer as noções matemáticas mais simples, sem nunca ter abordado temas tão básicos como ligações covalentes, sem imaginar quem se senta na Assembleia da República e, pior que tudo, sem ter a mínima noção do tamanho do desconhecimento.
E não há xoque tecnológico que nos valha...
A Febre dos Shoppings (II)
O Braga Parque anunciou que vai ocupar o espaço do actual estacionamento com mais um edifício que comportará 60 novas lojas. No momento do anúncio de uma ampliação de 15.000 metros quadrados, o administrador António Afonso insurgiu-se contra a febre dos shoppings que está a eclodir no eixo Braga-Guimarães-Famalicão.
Blogosfera Cor de Rosa (II)
«Estava com vontade de esgalhar uma, quando descobri algo ainda mais degradante para uma mulher do que pornografia: o blog de Laurinda Alves.» [Tiago Galvão, Atlântico]
Isto é um pouco do que a silly season faz à blogosfera nacional. Mesmo lendo com franca regularidade o blogue Atlântico, confesso que desconhecia a existência de Laurinda Alves na blogosfera até que, hoje de manhã, ouvi na Antena 1 a entrevista que deu ao Pedro Rolo Duarte. Gostei. Foi uma visão poética sobre a blogosfera.
Da desinformação...
Para a crónica de hoje, e por questões de consciência, vi-me obrigado a abordar aqui uma questão, que recentemente tem agitado as águas da comunidade de investigadores em Arqueologia e de alguns cidadãos interessados. Uma crónica de Miguel Sousa Tavares, no Expresso de 7 de Julho de 2008, provocou uma mais que justificada indignação, entre todos aqueles que consideram o Património Arqueológico como parte da nossa identidade colectiva e um recurso cultural viável.
Não vou rebater o texto de MST, posto que já muitos o fizeram, e de forma bastante clara, nomeadamente António Martinho Baptista (director do extinto Centro Nacional de Arte Rupestre) e Mário Reis (do Parque Arqueológico do Vale do Côa). Apenas transmito aqui a revolta que sinto ao ler textos como o de MST, que infelizmente são levados a sério. A mesma revolta que sentem investigadores portugueses, reconhecidos lá fora, e que dedicaram e dedicam o seu trabalho ao Vale do Côa, e ao salvamento de outros recursos que a ignorância e o “progresso” tentam fazer desaparecer. E ainda, a mesma revolta que sentem muitos portugueses do interior do país, que dispensam as opiniões deformadas e tendenciosas dos opinion makers da “metrópole”, do alto da sua arrogância neo-aristocrata. Opiniões de gente que olha para o interior como uma faixa de terreno que serve para ir à caça e para construir barragens. Barragens que irão iluminar os monumentos e avenidas da maior cidade do país, e que nunca ninguém ousará submergir.
Penso que se enquadra bem aqui um parágrafo recente do caro Prof. Sande Lemos, e que reproduzo: “Ninguém de bom senso, na Inglaterra, discute o valor das pedras de Stonehenge. Que em Portugal ainda se levantem dúvidas sobre o excepcional interesse da Arte e da Arqueologia do Côa e do Douro é mais um sintoma do Estado da Nação, considerado pelos inquéritos de opinião como Mau a Muito Mau.”
Bom domingo!
«Braga no centro do mundo da mobilidade»
A linha Porto-Vigo entrará em funcionamento em 2013 e será construída de forma faseada. A existência de uma estação em Braga vai permitir à cidade "reforçar a sua centralidade" e vai permitir "canalizar para a região grandes investimentos, com claras vantagens a nível empresarial", destacou Ana Paula Vitorino.A localização da estação da Rave em Braga não está ainda definida. Segundo a secretária de Estado dos Transportes, essa questão está ainda a ser estudada e a decisão tanto pode ser favorável à utilização da actual estação, com necessárias obras de ampliação, como vir a ser adoptada outra solução, num local mais afastado do centro da cidade.
A governante abre, no entanto, a porta a uma possível ligação ferroviária Braga-Guimarães. O Governo está neste momento a analisar vários eixos ferroviários complementares ao traçado da Alta Velocidade que poderão ser melhorados ou construídos de raiz. A ligação entre as duas cidades minhotas é um dos projectos em cima da mesa. "Se pensarmos a alta velocidade como as auto-estradas dos comboios, temos que pensar também nas seus complementos e vamos precisar de IC e estradas nacionais", ilustrou.» [Samuel Silva, Público]
1 + N
No mesmo dia em que curiosamente vi uma família muçulmana no Braga Parque, um homem e três mulheres adultas com crianças pelas mãos e o véu pela cabeça, li no Jornal de Notícias a referência a um par de frases ditas por um dos autores d'O Insurgente que desafiava à regulamentação da poligamia já que tanto se insiste na normalização do casamento entre homossexuais.O real sentido por detrás da retórica é já de si sabido, vindo de onde vêm. Só para mexer aquele asco reinante a culturas onde a poliginia assumida, principalmente, e tudo o que de terrorista se lhe associa, ter o mesmo efeito pavloviano no avistamento de um casal de duas mulheres ou de dois homens. Mas quem achar a poligamia estranha entre as muralhas da Soberania portuguesa, desconhece certamente o que foi o império português e a manta de retalhos manteve intraportas.
Mesmo assim, o que pode faltar à legalização da poligamia em enquadramento nas nossas cabeças, sobra em razão a quem defende o alargamento do casamento como direito civil, devidamente regulamentado, a todos - e repito -todos os cidadãos. Na verdade, bem lidas as coisas, uma Constituição que, no seu Artigo 13.º, não permite que alguém fique privado de qualquer direito devido à sua orientação sexual também não o permite em relação à sua religião ou convicção político-ideológica.
Cabe então, à sociedade portuguesa e à classe política, discutir o casamento civil, apartando-o de vez do cordão umbilical (para não dizer mental) que o liga ao seu conceito judaico-cristão mais recente, e definindo-o mais coerentemente como um contrato abençoado pelo Estado e contraído por gente adulta e esclarecida, ao invés de andar meter o nariz nas mais de quantas maneiras de deitar e ser deitado. Ou isso, ou remendar a Constituição.
E não será para menos, a discussão é eminente e até que vai mesmo para lá da ameaça de chamamentos de imã ao amanhecer e minaretes na paisagem de torreões católicos de Braga. A associação Poliamor, que promove a legitimidade das relações amorosas entre várias pessoas, já marchou em Lisboa no passado dia 28 de Junho, no meio de LGBT’s e simpatizantes. Pois é, caríssimos arautos da boa moral, é tudo isto uma questão de tempo até que Gomorra se reerga.
P.S.: Enquanto acabo de escrever, tenho de fronte 2 membros da igreja Mórmon sentados na beira de um chafariz, provavelmente magicando com quantas mulheres casariam em mente.
Prólogo
Todas as ideias nascem para ser boas ideias. Boas para quem as vê, boas para quem também vê assim. Os mundos sociais orbitam em torno de ideias e quanto maior peso social tiver uma ideia, melhor será essa ideia. A História é uma série de grandes ideias, muitas vezes contraditórias, que foram formando as várias ideologias dominantes nos vários períodos históricos. A Ocidente e a Oriente, a Norte e a Sul, a História foi seguindo as grandes ideias, arrependendo-se aqui e ali: as boas ideias não são boas para sempre, e é por isso que a nossa História é uma estória de destruir e voltar a construir.Para ficarem com uma ideia do que será esta crónica: discutiremos tanto as ideias que mudaram o mundo como as ideias que se perderam no mundo; especularemos sobre o que seria de nós se as boas ideias fossem outras e sobre o que será de nós, perdidos na pós-moderna multiplicidade ideológica.
Braga por um Túnel (II)
«Nós», em Sentido Restrito
«Uma das frases mais aplaudidas aconteceu quando Sócrates se referiu indirectamente à ideia de Manuela Ferreira Leite que a família se destina à procriação. "Entre nós e a direita há uma diferença de valores e de mundivisão. É impossível uma pessoa do PS dizer isso, porque é uma frase pré-moderna e até pré-concílio do Vaticano II", disse.» [SIC]
José Sócrates tem toda a razão quando afirma que as ideias de Ferreira Leite sobre a família são pré-modernas e pré-concílio Vaticano II. Engana-se o primeiro ministro quando acha que é impossível que alguém no PS pense o mesmo. É tão possível que até se sabe que há umas senhoras deputadas socialistas que integram aquela obra que quer que o mundo volte para trás do concílio do Vaticano II.
Em Portugal, o principal problema dos partidos políticos do centro é a miscelânea ideológica que os atira para a condição de meras corporações de interesses. Não duvido que Pedro Passos Coelho aceita os valores e mundivisão que Sócrates hoje apregoa sobre a família ou que Manuel Alegre corrobora muitas das preocupações sociais de Ferreira Leite. Afinal onde começa e acaba o «nós» que os une e os separa?
Avenida Plural
No entretanto, novos desafios profissionais levaram o Pedro Romano a suspender por tempo indeterminado a sua excelente participação no blogue Avenida Central. Ao longo destes seis meses, o Pedro espicaçou o debate, dando particular relevo aos assuntos económicos e lançando um olhar liberal sobre a sociedade e a vida. Em nome de todos os que, tal como eu, criaram o ritual de ler a Avenida Marginal, desejo ao Pedro Romano as maiores felicidades nas novas avenida da vida.
O País dos Gabinetes de Veludo (II)
«Justifica-se, pois, que os contribuintes de todo o país paguem uma Cinemateca dedicada a satisfazer em exclusivo os refinados gozos cinéfilos dos lisboetas. Depois, como poderiam frágeis bobinas de celulóide atravessar desertos e monções para serem mostrados a bosquímanos boquiabertos? Daí que tenha que se dar razão a Bénard da Costa: se os portuenses querem uma Cinemateca, peçam ao dr. Rui Rio e ao La Feria que lhes arranjem uma.» [Manuel António Pina, JN]
Trio de Blogues, no Rádio Clube
Festival muB 08
© watermoonone
O 1º Festival de Música Urbana de Braga começa na próxima Sexta-Feira e animará a cidade durante todo o fim de semana, fazendo-se ouvir num dos espaços culturais mais interessantes do país - o Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa. Para além de 9 participações nacionais, o festival contará com Your Ten Mofo (Áustria), Yndi Halda (Reino Unido, na foto), I Like Trains (Reino Unido), La Muneca de Sal (spanha) e Don´t Mess with Texas (Croácia).
Mais informações no blogue e no myspace do evento.
Visões sobre Braga (I)
©
«Braga, situada no Norte da Península, foi uma das últimas cidades a ser acometida pelos seus invasores. E, graças à civilização grega, não lhes foi permitido entrar aqui sem grandes dificuldades, tanto mais que encontraram pela frente não só os homens como as mulheres brácaras, cuja heroicidade ficará gravada em letras de oiro na nossa história. Daqui o facto de Octávio César conceder a Braga o honroso título de Augusta, como que a querer testemunha a admiração que lhe havia causado um povo, cuja civilização não estava muito longe da sua, pelo amor arreigado ao seu torrão natal, à sua liberdade e às riquezas que a Natureza prodigamente lhe proporcionava.» [A. Ménici Malheiro, em Braga Contemporânea]
Jazz Transatlântico em Braga
O Espaço Cultural Pedro Remy volta a ser o palco para mais um concerto de jazz de grande qualidade. Os NYNDK são um colectivo transatlântico que, integrando músicos de Nova York (NY), Dinamarca (DK) e Noruega (N), mistura a refinada calma do espírito escandinavo com a agressividade nova iorquina. O espectáculo está agendado para o próximo dia 15 de Julho, Terça-Feira, pelas 22h. Para mais informações, consultar o myspace da banda.O País dos Gabinetes de Veludo
Sejam quem forem os responsáveis por esta lista que encontrei no Público, fica-lhes mal o desconhecimento de que parte significativa dos cursos da Universidade do Minho funciona em Guimarães. É a crónica dos centralistas gabinetes de veludo que, num autismo recalcitrante, vivem alegremente noutro país bem arredado do nosso Portugal.
Sedes Ex Machina
Na literatura, há inúmeros exemplos de autores que, nas suas obras, recorrem ao Deus ex machina para resolver os imbróglios narrativos. No mundo não propriamente ficcional, um eloquente caso de Deus ex machina é a Sedes. Às vezes Deus, quase sempre ex machina, a associação condescende em, periodicamente, ser descida sobre o palco da política para salvar o país com uns ditos, que os sucedâneos dos narradores das tragédias gregas tão devotamente cuidam de amplificar. Hoje, uma vez mais, a Sedes ex machina ofereceu as palavras que, para usar a terminologia da Wikipédia, resolverão as dificuldades aparentemente insolúveis da nação.
Advogados Estágios
Ideias para Braga: Avenida da Liberdade
Ao contrário do que sucede um pouco por todo o país, em Braga não há debate público - as obras do regime são apresentadas como factos consumados sem que diferentes alternativas sejam postas à consideração da crítica. Não admira, portanto, que numa altura em que estão prestes a avançar as obras de prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade até à Rua 25 de Abril, surja a ideia de prolongá-lo ainda mais até perto do Parque de Campismo de Braga.
O prolongamento anunciado pela autarquia tem a virtude de aumentar a área pedonal do centro, mas não resolve os graves problemas que resultam do elevado tráfego na boca do túnel, apenas transferindo os elevados níveis de poluição para outra zona da Avenida.
Ao enterrar o trânsito em toda a extensão da Avenida da Liberdade, aumentava-se ainda mais a área pedonal, criando um eixo desde o centro medieval até à zona da Ponte. Com uma solução deste tipo, evitava-se a existência de uma única boca de saída do tráfego, distribuindo-o por várias saídas ao longo do trajecto do túnel e permitia-se a ligação directa entre o Parque da Ponte, o Parque de Exposições e o Monte do Picoto, onde haveria de nascer o grande, desejado, eternamente adiado e persistentemente prometido "Parque da Cidade".
Esta proposta não inventa nada. Em Madrid, por exemplo, fizeram nascer o melhor túnel de Espanha sob a Avenida de Portugal. O resultado esta à vista de todos.
Política à Americana
© Joe Crimmings Photography
«But he has his work cut out. The “people” section on his website divides Americans into 17 categories: Latinos, women, First Americans, environmentalists, lesbian, gay, bisexual and transgendered people, Americans with disabilities, Asian-Americans and Pacific islanders and so on. There is no mention of whites, or men.» [Economist]
Assim termina o artigo que a revista Economist desta semana dedica às eleições presidenciais norte-americanas, deixando entender que Barack Obama negligencia o voto dos homens brancos dos Estados Unidos da América e que isso pode comprometer a sua eleição.
O artigo vem na linha das investidas de uma certa direita que censura de forma repetida todas as tentativas de colocar na agenda mediática as várias discriminações que ainda persistem no quotidiano das nossas sociedades. A mensagem que interessa passar é a de que já não se pode ser um vulgar homem heterossexual branco do interior da América. Mais do que isso, pretende-se inculcar na opinião pública a ideia de que Obama é o algoz das 'modernices' que destroem os equilíbrios naturais da sociedade, assumindo-se como detractor dos valores da família, do direito ao porte de armas e da hegemonia social do homem.
O artigo é tão parcial que ignora a compartimentação de públicos feita por McCain (Mulheres, Veteranos, Advogados e Desportistas). Ironicamente, o sítio do candidato republicano também não menciona "brancos" ou "homens", mas isto são meros detalhes.
Contra a Pobreza, Taxar Taxar!
«O conceito de pobreza de Sócrates não é bem pobreza - é indigência. Ele acha que quem ganha mais de 1000 euros/mês já está por cima da carne seca. Não está. Nem, na maior parte das vezes, com 1500 euros/mês.» [JPH, Glória Fácil]
João Pedro Henriques acerta na mouche: este é o principal problema do PS de José Sócrates e, para mal da nossa democracia, do PSD de Manuela Ferreira Leite. Com a crise a bater à porta, os dois principais partidos parecem apostados em taxar a classe média trabalhadora para distribuir subsídios não só aos indigentes, mas também aos que continuam a fugir aos impostos, sendo pobres perante o Estado e lordes perante a vida.
O problema desta fórmula é que a crise vai adensar-se e a classe média há-de fartar-se do desfilar de medidas completamente ineficazes para o equilíbrio dos seus orçamentos familiares. E tanto a corda estica que algum dia há-de quebrar.
A Miséria do Futebol Nacional
Enquanto isso não sucede, o circo do futebol português continua a tornar-se absolutamente insuportável e já nem a justiça civil parece dar garantias de isenção quando as questões a dirimir envolvem algum dos chamados três grandes. É bom não esquecer que os maiores responsáveis pela miséria putrefacta a que chegámos são precisamente esses três clubes que meio país, incluindo juízes e políticos, idolatra.
Braga antes de Augusto:
incerteza e especulação
© VR2006
Tendo visitado recentemente a página da Wikipédia, concretamente o artigo ali publicado com o título “História de Braga”, não pude deixar de reparar com uma maior atenção para o capítulo denominado “Pré-História”. Neste capítulo fala-se de vários vestígios conhecidos de ocupação humana na zona de Braga, anteriores à Romanização, nomeadamente a Mamoa de Lamas e a necrópole dos Granjinhos. Menciona-se também a existência de vários povoados da Idade do Ferro na área do Concelho, o período histórico que antecedeu a integração no Império Romano: o Castro Máximo, o Castro de Monte Redondo, Santa Marta das Cortiças, entre outros. Após a enumeração, surge a seguinte frase: “Apesar de estes serem os únicos castros que chegaram até hoje (...), existe ainda um grande castro, a Cividade.”
A frase aqui citada, à qual se seguiram várias considerações, bastante discutíveis, acerca da existência de um núcleo urbano pré-romano em Braga, impressionou-me bastante, ainda que o “existe” tenha sido cautelosamente escrito em itálico. Impressionou-me também o argumento invocado de que o “castro” existe, mas não se sabe onde é, porque estará debaixo de Monumentos Nacionais, o “que impede a realização de pesquisas arqueológicas profundas”!! Além do facto de a razão invocada não ser válida, é demasiado tendencioso atestar a existência de um núcleo urbano, numa determinada época, do qual nenhum vestígio jamais foi detectado em décadas de escavações arqueológicas em Braga (algumas sob Monumentos Nacionais, naturalmente).
É verdade que esta temática tem sido sobejamente discutida nos meios científicos, mas não é suposto uma base de dados informativa basear-se em argumentos cientificamente mais sólidos? Talvez por inabilidade da minha parte, não encontrei nenhuma referência a um autor ou autores do texto aqui referido. No entanto, já me tinha dado conta das abordagens unilaterais dos textos da Wikipédia, onde também se encontram publicadas algumas ideias pouco fundamentadas em relação à Citânia de Briteiros...
Matrimónio Civil
Manuela Ferreira Leite optou numa recente entrevista em vincar, e bem no meu entender, a sua posição quanto à integridade no acesso e à finalidade do casamento. E este, segundo MFL, tem apenas um fim procriativo. Uma família de gente casada, portanto, procria. Todos os outros emaranhados de pessoas que se ficam pelas ligações afectivas são apenas colectividades ou IPSS's.No entanto, e mesmo com imaculadas intenções, MFL comete um sofisma e uma injustiça com o significado dessa instituição, como a concebe, no Portugal profundo (entenda-se que não é exclusivo da ruralidade), quando afirma que o Casamento visa a procriação. O que se vê nesse Portugal das Sete Saias da Ignorância, tão igual ao de véus e burkas, é exactamente no sentido contrário. A procriação antecede, em muitas vezes, o casamento.
Se não vejamos. Fruto da nossa exemplar educação sexual, guiada pelos mesmos "valores morais" que suportam a família tradicional, não são invulgares as meninas que, não sendo casadoiras e ainda com o corpo por se esticar nas suas formas adultas, de um dia para o outro, se vêem a braços com a barriga inchada, um véu e uma grinalda. Elas e eles. Por outras palavras, o que a sociedade portuguesa tem sempre para oferecer a uma adolescente grávida é o casamento, com tudo o que vem em anexo.
Ora, esse casamento, como solução da vergonha e remissão dos pecados, com as suas frustrações e a sua violência psicológica, não o desejo realmente a mais nenhum “grupo de risco” ou forma geométrica de amor. Por aí está o pior serviço que se tem feito a essa - sublinho - "instituição", que assim dita parece que tem filial na baixa lisboeta e escritórios no offshore da Madeira.
É esta confusão que um laico não percebe: interpretar o casamento civil como Matrimónio, confundindo-o com o Sacramento e no de que de cristão tem, em sacrifício e pena, até a hora da morte. Mas pelo mal dos pecados de uns, não se pode tornar lacre de Concordata um direito civil que tem por fim fazer as pessoas felizes e não condená-las à canonização...
Doença de Huntington
«Sabemos muito pouco acerca do papel do gene de Huntington, mas sabemos com doloroso pormenor como, porquê e onde pode errar e quais são as consequências para o corpo. O gene contém uma única «palavra» repetida várias vezes: CAG, CAG, CAG, CAG... A quantidade de vezes que a «palavra» está repetida varia de pessoa para pessoa. Se a «palavra» está repetida trinta e cinco vezes ou menos, o leitor não terá problemas. Se a «palavra» se repete trinta e nove vezes ou mais, na meia-idade o leitor começará a perder o equilíbrio lentamente, ficará cada vez mais incapaz de cuidar de si próprio e morrerá prematuramente.» [Genoma, Matt Ridley]
A doença ou coreia de Huntington é uma patologia neurológica determinada geneticamente e ainda sem cura que, em Portugal, tem uma prevalência de 3 a 7 doentes por cada 100.000 indivíduos. Ao contrário do que sucede noutros países, não temos grande tradição na criação de grupos de apoio a familiares ou associações de doentes para melhor lidar com os problemas que quotidianamente se interpõe nas suas vidas.
O blogue Doença de Huntington em Portugal procura criar uma plataforma de troca de ideias, comentários e desabafos, mas também um ponto de informações em língua portuguesa para familiares de doentes. Apela-se portanto ao contributo de todos. O autor do blogue poderá ser contactado através do e-mail pt.huntington@gmail.com.
Liga Sagres: A Violência Já Começou
Infelizmente, a intolerância não deu tréguas e a violência, perpetrada por adeptos estranhos às gravações, começou ainda antes dos confrontos desportivos: em Braga arremessaram duas chávenas contra adeptos do Vitória de Guimarães e, segundo relatos, também terá havido alguns problemas em Guimarães.
O perpetuar da violência associada ao fenómeno desportivo resulta da naturalidade com que vamos aceitado estes actos bárbaros e gratuitos. É urgente travar a espiral de intolerância e censurar as atitudes irresponsáveis, mesmo quando perpetradas pelos que pertencem a cada um dos nossos clubes - não há nenhuma, repito, nenhuma justificação para que a violência tome conta das rivalidades que se interpõem entre as nossas cidades.
Por muito que alguns queiram, o mundo desportivo minhoto não se divide em bracarenses e vimaranenses; divide-se, infelizmente, entre adeptos respeitadores e adeptos irresponsáveis.
O Dia de Portugal (III)
© truques
A questão, sobejamente escalpelizada pelos hitoriadores, talvez dispensasse o devaneio, mas penso que é pertinente perguntar se terá existido Portugal antes de D. Dinis. A diversidade de respostas dependerá em boa dose daquilo que cada um valoriza na definição da portugalidade. No enatnto, penso que será consensual o papel decisivo deste rei no desenvolvimento da língua e cultura portuguesas, bem como na preparação do país para os desafios dos séculos que se lhe sucederam. O «plantador de naus a haver» foi o verdadeiro pai da cultura portuguesa.
Fernando Pessoa escreveu com insólita clarividência que a «prátia é a língua portuguesa» e diga-se em boa verdade que as expressões linguística e cultural colectivas são o traço mais distintivo e unificador da portugalidade. Hão-de fazer-se ouvir os que enfatizam a importância da construção do território, salientando os feitos da reconquista desde S. Mamede até Ourique. E existirão os que valorizam a independência política e administrativa, salientando o Tratado de Zamora, a Batalha de Aljubarrota e a Restauração da Independência. Mas, se outros argumentos não houvesse, os tempos mais recentes encarregar-se-iam de demonstrar que, num mundo em que as fronteiras territoriais e a autonomia política se desvanecem, a portugalidade continua a sobreviver à custa da unidade cultural e linguística.
A iniciativa da JSD de Guimarães teve o mérito de fazer renascer a discussão do simbólico nacional, mas muito dificilmente se alcancará sucesso. Convencido do substrato emocional que enforma estas discussões e perante as enormes fragilidades da petição da JSD, estou em crer que o Dia de Portugal continuará, ainda que muito discutivelmente, a celebrar-se a 10 de Junho por muitos e longos anos.
Juntas Médicas (II)
Não querendo particularizar, é preciso ter cuidado com as análises emocionais que se fazem dos diferentes casos: as histórias apresentadas nunca são sujeitas a nenhum tipo de contraditório. E gente a tentar aproveitar-se do sistema para uma reforma antecipada é o que não falta em Portugal.
Assim escrevi em Novembro de 2007, na sequência da polémica criada em torno da recusa de uma reforma antecipada por uma Junta Médica. O tempo acabou por nos dar razão e eis que, miraculosamente, a dita funcionária foi curada por obra e graça das alminhas e do Bom Jesus de Braga, ele mesmo!
Em reacção à notícia do milagre causado pela ameaça de processo disciplinar, Vital Moreira sugere a instauração de um processo disciplinar à médica que atestou «a suposta incapacidade da senhora» e critica os media «que levianamente levaram a sério a óbvia trapaça», sem fazer qualquer referência à intervenção directa do Ministro das Finanças neste assunto.
Convém não esquecer e deve relembrar-se para memória futura que, em reacção à «óbvia trapaça» difundida pelos media, o senhor Ministro das Finanças deu instruções à ADSE «para que funcionária continue de baixa médica e não tenha que se apresentar ao serviço na junta de freguesia.»
A Indiferença dos Nossos Dias
Tinha 49 anos de idade e morreu na sala de espera de um hospital americano perante a indiferença de pacientes e funcionários. Um dos maiores perigos a que os doentes mentais estão expostos é a desvalorização de algumas das suas queixas orgânicas, muitas vezes interpretadas como expressões da doença mental. Na verdade, os doentes mentais também podem ter doenças de outro foro e, como se percebe pela história desta americana, necessitar de cuidados médicos emergentes.
Seja como for, a indiferença dos nossos dias está a corroer-nos as entranhas.
Cinema em Braga
Se alguém, entretanto, espreitar o quadro de “As estrelas do Público”, que avalia dez filmes recentemente estreados e que, portanto, se encontrarão facilmente por aí em exibição, verificará que apenas três recebem alguma menção de muito bom (Indiana Jones e o reino da caveira de cristal e Nós controlamos a noite) ou de excelente (O segredo de um cuzcus).
Claro que as estrelas que os críticos atribuem aos filmes têm uma valia que não convém inflacionar, mas, seja como for, dos três filmes distinguidos, apenas um, e não o melhor, pode, presentemente, ser visto em Braga. Mesmo que feito com outras variantes, o exercício apontaria para idêntica conclusão: como espectadores de cinema – e, não raramente, em outros domínios sucede o mesmo –, temos cada vez mais por onde escolher, mas nem por isso temos mais possibilidades de escolha.
O Dia de Portugal (II)
«E qual deveria ser o – verdadeiro – Dia de Portugal? Existem várias hipóteses, diferentes alternativas. 24 de Junho (de 1128), dia da Batalha de S. Mamede, ou 25 de Julho (de 1139), dia da Batalha de Ourique – momentos decisivos da ascensão e aclamação de D. Afonso Henriques enquanto Rei, e, por arrastamento, da formação e da consolidação de Portugal. 5 de Outubro (de 1143!), dia da assinatura do Tratado de Zamora, que reconheceu – pela primeira vez – a independência do nosso país. 1 de Dezembro (de 1640), quando se restaurou a independência. Porém, o dia que mais atributos reúne para merecer a designação de – verdadeiro – Dia de Portugal é 14 de Agosto. Nesta data, em 1385, a Batalha de Aljubarrota – culminar de uma crise que proporcionou (por uma vez) uma notável coesão entre os diferentes estratos da população – assegurou, mais do que a sobrevivência da nação, a sua futura expansão: confirmou como rei D. João I, que fundou a dinastia de Avis e gerou a Ínclita Geração, primeira responsável pelos Descobrimentos.» [Octávio Santos, Público]
A Batalha de Aljubarrota foi tal e qual Octávio Santos a descreve, assumindo-se como um dos marcos da História de Portugal, mas isto não significa que a convertamos em Dia Nacional. E o mesmo poderá ser dito sobre a forma apaixonada como alguns têm defendido o 1º de Dezembro ou o 24 de Junho.
A discussão acerca do verdadeiro Dia de Portugal é essencialmente sentimental e a questão essencial é delinearmos o simbolismo que lhe pretendemos associar. Temo bem que a tarefa seja da mesma índole daquela a que condenaram Sísifo, porque a definição de Portugal, que poderíamos resumir na formulação simplista «o que é ser português?», motiva quase tantas respostas quantos portugueses existam.
Erros, Gatos e Grunhos
Em Braga, a paródia faz-se à custa do «cemitério de gatos com campas individuais» que o João Braga mais o Machado e o Martins instalaram nas margens do rio Este. O abandono a que entregaram o rio é tanto que, em quatro anos, nenhuma autoridade municipal se apercebera do cemitério felino.
Em Vila de Nova de Famalicão, Jorge Reis-Sá lamenta «o estado a que chegaram as nossas cidades», denunciando a publicidade como o pior dano colateral do capitalismo. não é caso único, mas o repto está lançado. O caso não é único e a descrição poderia ser decalcada para o inferno visual em que transformaram Braga.
Hoje foi o dia em que ganhou mediatismo o encerramento de um blogue por ordem judicial. Assim aconteceu na Póvoa de Varzim e o episódio trouxe à memória o destino do blogue bracarense «Por um Canudo» que, pejado de escritos incómodos, se eclipsou da noite para o dia.
Enquanto dura a liberdade, detenhamo-nos por um instante nas palavras da jornalista Luísa Teresa Ribeiro, numa excelente dissecação aos grunhos de Portugal...