Capítulo 1: "De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens"
Há 50 anos, Dom António Ferreira Gomes, na altura bispo do Porto, enviou uma carta a Salazar para antecipar a audiência que pedira ao Presidente do Conselho. Nela explicava que não podia assumir-se como "bandeira" de campanha dado o "carácter plebiscitário" das eleições. Fez questão, ainda assim, de fazer uma declaração de voto a Salazar, já que não o podia fazer ao público.
Esta carta, que deveria ser apenas um pró-memória pessoal, fugiu do domínio privado e tornou-se, quase imediatamente, de domínio público, numa carta aberta involuntária. Este documento acabou por se tornar a bandeira de um movimento católico de contestação do Regime - e da Igreja do Regime - e, na sequência desta polémica, Dom António Ferreira Gomes seria votado a um exílio de dez anos.
Em 1958, Dom António Ferreira Gomes questionava o corporativismo do Estado Novo; afirmava que os frutos do trabalho comum deveriam ser divididos "com equidade e justiça social"; advogava que o direito à greve era defendido pela doutrina da Igreja; ousava propôr o sindicalismo livre e a criação de partidos.
Durante o Estado Novo as relações de poder eram quasi-medievais e a aristocrática ditadura e o clero uniam-se para dominar o povo e arrebanhá-lo para si. Um acordo de interesses informal, mas bem enraizado; um acordo que obrigava a ligeiros atropelos das doutrinas de ambas as partes, desde que a favor da pátria.
As palavras de Dom António Ferreira Gomes foram, então, como uma traição ao acordo Igreja/Estado e puseram em causa a sustentabilidade do Regime. Quatro anos antes do eclodir da Guerra Colonial e dezasseis anos antes da Revolução dos Cravos, a História poderia ter sido outra: e hoje seríamos, concerteza, um país diferente.
Nota: A Avenida de hoje é dedicada ao meu velhote, que fica hoje um pouco mais velhote.
_________________
Para saber mais:
Católicos e Política, de Humberto Delgado a Marcelo Caetano, Pe. José da Felicidade Alves
Adérito Sedas Nunes e o bispo do Porto em 1958, José Barreto
Fundação Spes, http://www.fspes.pt/
Esta carta, que deveria ser apenas um pró-memória pessoal, fugiu do domínio privado e tornou-se, quase imediatamente, de domínio público, numa carta aberta involuntária. Este documento acabou por se tornar a bandeira de um movimento católico de contestação do Regime - e da Igreja do Regime - e, na sequência desta polémica, Dom António Ferreira Gomes seria votado a um exílio de dez anos.
Em 1958, Dom António Ferreira Gomes questionava o corporativismo do Estado Novo; afirmava que os frutos do trabalho comum deveriam ser divididos "com equidade e justiça social"; advogava que o direito à greve era defendido pela doutrina da Igreja; ousava propôr o sindicalismo livre e a criação de partidos.
Durante o Estado Novo as relações de poder eram quasi-medievais e a aristocrática ditadura e o clero uniam-se para dominar o povo e arrebanhá-lo para si. Um acordo de interesses informal, mas bem enraizado; um acordo que obrigava a ligeiros atropelos das doutrinas de ambas as partes, desde que a favor da pátria.
As palavras de Dom António Ferreira Gomes foram, então, como uma traição ao acordo Igreja/Estado e puseram em causa a sustentabilidade do Regime. Quatro anos antes do eclodir da Guerra Colonial e dezasseis anos antes da Revolução dos Cravos, a História poderia ter sido outra: e hoje seríamos, concerteza, um país diferente.
Nota: A Avenida de hoje é dedicada ao meu velhote, que fica hoje um pouco mais velhote.
_________________
Para saber mais:
Católicos e Política, de Humberto Delgado a Marcelo Caetano, Pe. José da Felicidade Alves
Adérito Sedas Nunes e o bispo do Porto em 1958, José Barreto
Fundação Spes, http://www.fspes.pt/
O velhote está muito embevecido com a maturidade do seu menino. Não seria possível um texto deste teor se não houvesse investigação e estudo, o que só confirma que os meus genes não foram desperdiçados.
ResponderEliminarFaço hoje 52 anos, com muito gosto, mas maior prazer é ter o filho que tenho.
Um Bem Haja ao meu rico filho
Fernando Castro Martins
grande texto. parabéns ao autor!
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar