A discussão em torno de temas como o casamento homossexual, o aborto, a procriação medicamente assistida e a clonagem terapêutica tem-se cristalizado em torno de dois pólos que coincidem necessariamente com duas visões sobre o mundo: de um lado, os que acreditam na liberdade e autodeterminação de cada indivíduo e na sua capacidade para, no estrito respeito pelos outros, decidir a sua vida segundo os seus valores e princípios; do outro, os que se auguram no direito de decidir a vida dos outros, impondo-lhes as suas crenças numa espécie de ditadura da maioria e selvagem dos bons costumes, vexada, claro está, pelos escândalos que se sabem na penumbra em que vale tudo.
O último congresso da Juventude Socialista foi uma mostra interessante desta dicotomia. De um lado, o novo líder da JS assume o casamento homossexual como «uma imposição do princípio da igualdade.» Do outro, o burlesco líder dos Socialistas Católicos que afirma coisas tão aberrantes como «à ideia de casamento está indissociável a constituição de uma família, que possa haver filhos, com pai e mãe.»
O que os une é o socialismo. O que os separa é a avidez com que os «católicos» daquele partido laico (?) tentam impor os seus valores a todos os concidadãos.
P.S. - Só espero que esse Cláudio Anaia se chicoteie todos os dias porque o senhor não fez a todos tão católicos como ele!!!
Gosto do "Post Scriptum". Um verdadeiro exemplo de tolerância e aceitação da diferença! Sem uma ponta de preconceito!
ResponderEliminarCaro emanuel,
ResponderEliminarNão me conhece. Eu respeito a religião de todos e, como tal, não tolero que haja concidadãos que me queiram impor pela via legislativa os valores das suas religiões.
Caro Pedro,
ResponderEliminar"O que os une é o socialismo. O que os separa é a avidez com que os «católicos» daquele partido laico (?) tentam impor os seus valores a todos os concidadãos."
Exactamente quem são os católicos do partido que "avidamente" tentam impôr os seus valores a todos os concidadãos?
cumps.
Embora nem sempre concorde com João César das Neves, acho que é absolutamente oportuna uma frase que ele escreveu há uns tempos no DN: “Um cristão é tolerado desde que não se note que o é”.
ResponderEliminarEsta é só mais uma das questões que pelo oportunismo político está condenada a ganhar uma actualidade que não possui. Este debate é falso porque esta baseado em motivações erradas.
ResponderEliminarLois Lane,
ResponderEliminarDiscordo. A um cristão tolera-se tudo. Em nome da fé pode-se promover a discriminação de seres humanos, pode-se insultar os outros e pode-se furtar ao cumprimento das Leis do Estado (como sucedeu com as cenas de campanha em pleno dia de actos eleitorais).
Por outro lado, o cristão a que me refiro no texto pode fazer-se notar e dizer o que pensa sobre o casamento. Mais do que isso: pode viver o casamento CIVIL de acordo com os seus princípios. Só não tem o direito de impor o casamento CIVIL a todos segundo os seus princípios religiosos.
Emanuel,
Os socialistas católicos a que me refiro são os que assinaram o comunicado.
Caro Pedro,
ResponderEliminarMais do que a actuação concreta deste senhor, cujo nome nada me diz, creio que o que está em causa é o princípio da participação na vida pública.
Se eu for presidente de uma associação comercial posso lançar uma campanha para que o Estado reduza o período de abertura do comércio?
Se eu tiver um hipermercado posso defender que o Estado alargue os horários de funcionamento?
Se eu estiver à frente de uma federação de esteticistas posso mobilizar a minha organização para que o Estado financie a colocação regular de unhas de gel a todas a mulheres com mais de 18 anos?
E podem estas pessoas estar filiadas em partidos e dentro deles defender as suas posições, que têm obviamente consequências na vida das pessoas?
Creio que estaremos de acordo que, num Estado democrático, sim, cada um destes indivíduos tem liberdade para se bater por aquilo em que acredita, mesmo que eu não me identifique com a posição que é defendida, nem com o modelo de organização social que lhe está subjacente.
Nesta linha, parece-me estranho que alguém que até defende a democracia participativa critique o facto de um grupo dentro de um partido manifestar a sua posição.
Quer dizer que é ilegítimo que alguém dentro do partido a que pertence defenda aquilo em que acredita? Ou depende do que estiver na base dessa tomada de posição?
Como propõe que se faça a admissão de militantes? Que se pergunte aos candidatos à admissão se são católicos e se pretendem ou não actuar de acordo com a sua fé?
Como é possivel em democracia impôr seja o que for? Se assim fosse provavelmente o aborto em Portugal ainda seria ilegal, já que estes "católicos socialistas" teriam "imposto" a continuação da criminalização do aborto.
ResponderEliminarEstes senhores acreditam que o casamento deve ser apenas entre pessoas de sexo diferente. Podemos concordar com eles ou não, mas temos o direito de achar que a nossa opinião é mais importante que a deles?
E é totalmente falso dizer que a um cristão se tolera tudo. Basta ver o que se passou no último referendo sobre o aborto. Alguns dos "Outdoors" do lado do "sim" (alguns partindo de partidos politicos) eram francamente insultuosos para a Igreja e cristãos em geral. Muitos cristãos assumidos que defenderam o "não" foram considerados retrógrados sem que os seus argumentos fossem sequer escutados e outros tantos foram acusados de querer impôr a sua vontade, porque defendiam as suas ideias. E tudo isso apenas porque eram cristãos assumidos.
A opinião pública portuguesa rege-se geralmente mais por modas do que por valores. Não apoiamos uma ideia porque ser correcta do ponto de vista ético ou moral. Apoiámo-la porque está na moda e porque outros países já o fizeram antes de nós e portanto é "moderna". Todos os que são contra são "retrógrados" e estariam melhor calados. Afirmamos a democracia, mas continuamos a querer calar os que pensam de forma diferente.
cumps,
Posso concordar consigo quando diz que o casamento homossexual é problema de cada um. Discordo totalmente na questão do aborto. Nem tudo aquilo que podemos fazer deve ficar decidido pelos nossos valores. Há coisas que são universalmente certas e universalmente erradas, como matar, violar ou roubar. Posso também concordar consigo quando diz que vivemos numa ditadura da maioria, afinal, tal como Rousseau dizia, nem sempre a maioria tem a razão.
ResponderEliminarImaginando que não conheces este blogue, deixo-te aqui uma outra visão sobre o mesmo ponto, do cbs [la force des choses]:
ResponderEliminarhttp://scriptoriumciberico.blogspot.com/2008/07/no-venho-aqui-dar-lies-de-moral.html
Segundo esta perspectiva dos Socialistas catolicos, o casamento entre um homem e uma mulher que nao podem ter filhos nao se justifica, certo?
ResponderEliminarAfinal, ja todos ouvimos falar em casos desses e ate em casos em que as pessoas simplesmente decidem nao ter filhos.
A questao estara, entao, em o casamento ser entre duas pessoas do mesmo sexo ou tem mais que ver com a procriacao?
(peco desculpa pela falta de acentos e cedilhas, escrevo de um teclado estrangeiro)
Lois Lane,
ResponderEliminarAlguma vez eu disse que o dito indivíduo não tem direito a dizer o que pensa? É claro que tem.
O que me custa é que haja grupos religiosos que querem que todos vivam segundo as suas leis. É disso que se trata: a religião deles não permite que os outros casem. Mas que estranha visão do mundo! E que usurpadora postura do espaço cívico de todos!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Pedro,
ResponderEliminarSentir-se-ia igualmente revoltado, se o senhor Anaia fosse ateu e as suas convicções fossem desprendidas de qualquer suporte religioso?
Emanuel,
ResponderEliminarSe um ateu pretender que as suas convicções limitem a liberdade individual dos outros é óbvio que terá a mais veemente censura da minha parte.
Se eu tiver visão da sociedade decorrente de motivações de ordem ideológica, económica ou de outra natureza similar, devo apresentar as minhas propostas, sabendo que elas têm necessariamente implicações ao nível do ordenamento social? Sim, porque estou a dar o meu contributo enquanto cidadão.
ResponderEliminarSe eu tiver uma visão da sociedade decorrente da fé que professo, devo apresentar as minhas propostas, consciente de que elas terão igualmente implicações sociais? Não porque estou a tentar impor a minha religião aos outros.
Caro Pedro, bem-vindo ao terreno do dogma. Mas também há quem lhe prefira chamar preconceito...
Pedro,
ResponderEliminarFrancamente, não é o que parece...
Sou bem "prafrentex" e um liberal nos costumes que não na economia, mas Manuela Ferreira Leite foi infeliz na frase que proferiu...Ela não queria dizer aquilo!Queria dizer, tão só, que o casamento tem por base um potencial de procriação (relação homem/mulher)mas é muito mais do que isso!
ResponderEliminarPor mim casamento é entre homem e mulher, entre mulher/mulher ou homem/homem será outra coisa a que ainda não sei que nome dar e que até pode ter consagração legal para diversos efeitos!Mas, por favor (e eu sou um liberal nos costumes)não lhe chamem casamento...