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No mesmo dia em que curiosamente vi uma família muçulmana no Braga Parque, um homem e três mulheres adultas com crianças pelas mãos e o véu pela cabeça, li no Jornal de Notícias a referência a um par de frases ditas por um dos autores d'O Insurgente que desafiava à regulamentação da poligamia já que tanto se insiste na normalização do casamento entre homossexuais.

O real sentido por detrás da retórica é já de si sabido, vindo de onde vêm. Só para mexer aquele asco reinante a culturas onde a poliginia assumida, principalmente, e tudo o que de terrorista se lhe associa, ter o mesmo efeito pavloviano no avistamento de um casal de duas mulheres ou de dois homens. Mas quem achar a poligamia estranha entre as muralhas da Soberania portuguesa, desconhece certamente o que foi o império português e a manta de retalhos manteve intraportas.

Mesmo assim, o que pode faltar à legalização da poligamia em enquadramento nas nossas cabeças, sobra em razão a quem defende o alargamento do casamento como direito civil, devidamente regulamentado, a todos - e repito -todos os cidadãos. Na verdade, bem lidas as coisas, uma Constituição que, no seu Artigo 13.º, não permite que alguém fique privado de qualquer direito devido à sua orientação sexual também não o permite em relação à sua religião ou convicção político-ideológica.

Cabe então, à sociedade portuguesa e à classe política, discutir o casamento civil, apartando-o de vez do cordão umbilical (para não dizer mental) que o liga ao seu conceito judaico-cristão mais recente, e definindo-o mais coerentemente como um contrato abençoado pelo Estado e contraído por gente adulta e esclarecida, ao invés de andar meter o nariz nas mais de quantas maneiras de deitar e ser deitado. Ou isso, ou remendar a Constituição.

E não será para menos, a discussão é eminente e até que vai mesmo para lá da ameaça de chamamentos de imã ao amanhecer e minaretes na paisagem de torreões católicos de Braga. A associação Poliamor, que promove a legitimidade das relações amorosas entre várias pessoas, já marchou em Lisboa no passado dia 28 de Junho, no meio de LGBT’s e simpatizantes. Pois é, caríssimos arautos da boa moral, é tudo isto uma questão de tempo até que Gomorra se reerga.

P.S.: Enquanto acabo de escrever, tenho de fronte 2 membros da igreja Mórmon sentados na beira de um chafariz, provavelmente magicando com quantas mulheres casariam em mente.

1 comentário:

  1. Enfrentando cada vez mais pressão do governo, o presidente da Igreja Mórmon, Wilford Woodruff, anunciou o fim da prática da poligamia em 1890 para evitar o colapso da Igreja Mórmon nas mãos do governo americano. As esposas que já haviam casado não foram abandonadas, porém, não foi mais permitido a realização de nenhum casamento polígamo. Presidente Grover Cleveland perdoou todos os que tinham casamentos polígamos antes de 1890.

    Apenas grupos excluídos e minoritórios da Igreja mórmon praticam a poligamia.

    Bom texto.

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