O Dia de Portugal (III)
© truques
A questão, sobejamente escalpelizada pelos hitoriadores, talvez dispensasse o devaneio, mas penso que é pertinente perguntar se terá existido Portugal antes de D. Dinis. A diversidade de respostas dependerá em boa dose daquilo que cada um valoriza na definição da portugalidade. No enatnto, penso que será consensual o papel decisivo deste rei no desenvolvimento da língua e cultura portuguesas, bem como na preparação do país para os desafios dos séculos que se lhe sucederam. O «plantador de naus a haver» foi o verdadeiro pai da cultura portuguesa.
Fernando Pessoa escreveu com insólita clarividência que a «prátia é a língua portuguesa» e diga-se em boa verdade que as expressões linguística e cultural colectivas são o traço mais distintivo e unificador da portugalidade. Hão-de fazer-se ouvir os que enfatizam a importância da construção do território, salientando os feitos da reconquista desde S. Mamede até Ourique. E existirão os que valorizam a independência política e administrativa, salientando o Tratado de Zamora, a Batalha de Aljubarrota e a Restauração da Independência. Mas, se outros argumentos não houvesse, os tempos mais recentes encarregar-se-iam de demonstrar que, num mundo em que as fronteiras territoriais e a autonomia política se desvanecem, a portugalidade continua a sobreviver à custa da unidade cultural e linguística.
A iniciativa da JSD de Guimarães teve o mérito de fazer renascer a discussão do simbólico nacional, mas muito dificilmente se alcancará sucesso. Convencido do substrato emocional que enforma estas discussões e perante as enormes fragilidades da petição da JSD, estou em crer que o Dia de Portugal continuará, ainda que muito discutivelmente, a celebrar-se a 10 de Junho por muitos e longos anos.
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Ora, D. Dinis não fez mais pelo país por causa da demência, ambição e ciúmes do seu único legítimo varão. D. Dinis teve dois filhos com D. Isabel, um varão e uma infanta. Entretanto teve mais sete (!) bastardos. Aquele que viria a ser rei de Portugal, o seu legítimo herdeiro, D. Afonso IV, era do piorio. Andou em guerra com seu pai, D. Dinis, mandou degolar um dos seus meios-irmãos, expulsou outro para Espanha e deixou-o na penúria. Além disso, mandou degolar D. Inês de Castro, a amada de seu filho herdeiro do trono. D. Dinis teve o grande azar de no meio de tantos filhos, o único que poderia ser rei, fosse uma "jóia" de pessoa.
ResponderEliminarComo gosto de história até achei piada ao tema. Dou da opinião que um dos nossos problemas culturais é não conhecermos a nossa história. No ensino é muito mais a história universal que se estuda e de Portugal ficam algumas linhas. Que pouco mais servem para glorificar os descobrimentos.
ResponderEliminarSó que começo a ter dúvidas sobre as vantagens de abordar a história desta forma. Há um bairrismo e um sentimento patrioteiro estranho. Será que a seguir alguém vai começar a reclamar Olivença?
Será isto sinal de alguma coisa?
Era "sou da opinião"
ResponderEliminarGostei do toque acerca de Olivença do Joca...
ResponderEliminarQuanto ao dia de Portugal, penso que a mentalidade dos portugueses aponte para algo do género do "deveria ser todos os dias"...
Para mim, dia da fundação do Condado Portucalense... Aí sim, nascemos... Acho que teria a sua lógica
E não me refiro ao Tratado de Zamora, mas sim á concessão do Condado de Portucale ao Conde D. Henrique (pai de D.Afonso Henriques), por parte do Rei D. Afonso VI de Leão e Castela.
ResponderEliminarEsse é o real nascimento daquilo que é hoje Portugal..
Dia não tenho mas a data é 1095 se não estou errado...esta informação foi espremida da cabeça, portanto, carece de confirmação...
"Hão-de fazer-se ouvir os que enfatizam a importância da construção do território, salientando os feitos da reconquista desde S. Mamede até Ourique."
ResponderEliminarPor acaso, a construção do território fez-se definitivamente com D. Dinis, que conquistou mais uns quilómetros em guerra contra Castela e assinou o Tratado de Alcanises em 1297, estabelecendo as fronteiras definitivas de Portugal. De lá para cá, a única coisa que mudou foi Olivença.
Quanto à Fundação do Condado Portucalense de que fala o há_dias, ela deu-se em 868 por Vimara Peres, o mesmo que conquistou o Porto e deu nome ao que viria a ser Guimarães (daí o gentílico "vimaranense"). A primeira tentativa de indepedência do Condado foi protagonizada em 1071 por Nuno Mendes, descendente de Vimara Peres. Derrotado e morto em batalha, o Condado foi extinto pelo rei Garcia da Galiza e recuperado apenas no ano de 1096 em doação a Henrique de Borgonha por Afonso VI de Leão e Castela. Tecnicamente, aliás, o que foi doado foram os condados de Portucale e Coimbra.
Acrescento que concordo com o Pedro quando ele diz que a iniciativa da JDS de Guimarães não vai ter sucesso. Mas valeu a pena só pelo facto de ter agitado as águas, originado debate sobre a questão do dia nacional e ter posto um grupo de cidadãos anónimos a debater História. Coisa difícil num país que se agarra à Epopeia dos Descobrimentos "ad nauseum" e tem sérias dificuldades em mandar duas ou três seguidas para a caixa quando a coisa versa sobre outros períodos da nossa História.
ResponderEliminarUm pouco como o 24 de Junho de 1128, pode ser que a iniciativa da JDS seja um começo de alguma coisa boa. Repito: começo! Continuação e conclusão são outra coisa.
Caro Pedro Morgado,
ResponderEliminarVou reproduzir aqui um comentário deixado no outro post por engano...
Caro Pedro Morgado,
A Batalha de Sao Mamede foi, de facto, o momento fundador da nossa nacionalidade. Vejamos o que diz sobre esta materia Jose Mattoso, o maior mediavalista portugu�s (e que at� se inclina e bem, para que o "ber�o" de D. Afonso Henriques seja Viseu): " (..) a batalha tem um significado nacional, na medida em que pode classificar como "nacional" um movimento que está na propria origem da naçao. S. Mamede foi o primeiro acto de um movimento irreversivel que explica, mais do que qualquer outro acontecimento ou intervençao pessoal, as razoes imediatas da independencia do Condado Portucalense, como entidade politica que precedeu o reino de Portugal". Do mesmo autor, falando da Batalha de Sao Mamede, podemos ainda encontrar outras palavras que ilustram bem a importancia do acontecimento: "Encontro neste facto primordial da nossa historia (..) a prova que a acçao colectiva e mais fecunda e duradoura que a mais espectacular ac�o messi�nica por parte de figuras carismaticas e pseudo-salvadoras (..)
Tenho a certeza que a Batalha de Sao Mamede nao deixará nunca de se comemorar nesta terra de Guimaraes e em todo o pais que aqui nasceu."
Quem se dedica ao estudo da Hist�ria sabe que,na grande maioria dos casos, nao ha de facto um unico momento decisivo para que um determinado acontecimento se verifique. Regra geral tudo se deve a um conjunto de factores e a um conjunto de condicionantes de natureza diversa que, conjugados, determinam que algo aconteca. Contudo, quando tentamos encontrar uma acçao crucial ou um momento chave (neste caso uma data) devemos tentar procurar um momento que crie ruptura, e nao uma continuidade da mesma ruptura Ora Ourique e Zamora foram, precisamente, momentos de "continuidade na ruptura". Essa ruptura foi, obviamente, Sao Mamede
Mas de facto ainda ha outro momento que podemos apontar como legitimo para "celebrar" o nascimento de Portugal. Esse momento e Bula Papal de 1179, porque foi nesta altura que Portugal foi reconhecido "oficialmente" como Reino e D. Afonso Henriques como Rei (isto apesar de D. Afonso Henriques ja dominar efectivamente o territorio)...
Cumprimentos,
Olaf Oleiros
PS: As minhas desculpas pela falta de acentuaçao...
Como portugues escolho o dia 24 de Junho de 1128 para celebrar o dia em que um conjunto de homens lutou para construir a nossa Nação.
ResponderEliminarO Dia de Portugal deveria ser celebrado a 29 de Fevereiro. Assim, lembravamo-nos apenas de 4 em 4 anos que somos um país rico histórico e culturalmente, mas pobre em muitas outras coisas.
ResponderEliminarLOL! O pior mesmo, Francisco, seria se o carnaval calhasse em finais de Fevereiro. Aí nem de quatro em quatro anos pensavamos na nossa riqueza e pobreza, já que iamos estar mais interessados na festa do que nos problemas e virtudes da comunidade nacional.
ResponderEliminarO carnaval, acrescente-se, também lixa outra data candidata a Dia de Portugal: o 16 de Fevereiro, em memória da aclamação desse grande senhor da política e cultura que foi el-Rei D. Dinis.
Datas para cantar os parabéns ao país é coisa que realmente não falta, fruto de mais de oito séculos de História. É pena faltar a cultura geral, a consciência crítica e a cidadania activa para dar uso pleno e responsável a essa e outras riquezas nacionais.