Poderia ter acontecido noutro dia qualquer mas aconteceu no 7 de Novembro de 2006. Nesse dia tínhamos a ideia de criar um blogue feito de Braga com vistas para o mundo. Queríamos que fosse, tal como a nossa Avenida, central, cosmopolita, incisivo, irreverente, sério, afirmativo, assumido, personalizado e informativo. Volvidos três anos e um mês, concederão os nossos estimados leitores que não é excessivo afirmar que este blogue foi tudo isso e ainda mais do que houvéramos previsto e imaginado: o Avenida Central, graças ao contributo de inúmeras personalidades, foi uma permanente tertúlia do Minho, um espaço de acção cívica independente e um instrumento de participação democrática na cena política regional.
Aqui lançámos o debate público sobre o regresso dos carris à cidade de Braga. Aqui rejeitámos o bairrismo mais tacanho. Aqui defendemos a responsabilidade como chave para maior dignidade das mulheres. Aqui denunciámos a letargia do nosso tempo. Aqui citámos o melhor da imprensa local. Aqui lutámos contra a intolerância das religiões. Aqui festejámos as vitórias europeias da região. Aqui lamentámos as injustiças. Aqui chorámos pelo cinzento betão que nos embacia as vistas. Aqui sentámos Braga no divã. Aqui comentámos a actualidade política. Aqui calculámos o preço da distância. Aqui promovemos a unidade no Minho. Aqui mostrámos o que acontece na cultura. Aqui celebrámos o reconhecimento nacional. Aqui informámos antes de ser notícia. Aqui fizemos acontecer conversas improváveis. Aqui protestámos contra o centralismo. Aqui cantámos um requiem ao Minho. Aqui ilustrámos a poesia da nossa terra. Aqui projectámos o que ainda estava para nascer. Aqui debatemos o futuro. Aqui partilhámos experiências na blogosfera. Aqui noticiámos ao minuto. Aqui expusemos a Braga de que gostamos. Aqui vivemos as tragédias da nossa terra. Aqui parodiámos a Braga mais beata. Aqui partilhámos o Minho de excelência mundial. Aqui promovemos quotidianamente a cidadania. Aqui defendemos intransigentemente a liberdade, o respeito, a dignidade e a igualdade como princípios basilares da sociedade democrática.
Colaboraram regularmente com o blogue, Bruno Gonçalves, Bruno Simões, Carla Cerqueira, Cláudia Rocha Gonçalves, Dario Silva, Eduardo Jorge Madureira, Francisco Sande Lemos, Gonçalo Cruz, JMiguel Corais, José Carlos Santos, João Marques, João Martinho, Luís Soares, Luís Tarroso Gomes e Pedro Romano. Mais assíduos, Cláudio Rodrigues, Vítor Pimenta e Jorge Sousa assumiram-se como autores do Avenida no último terço da sua existência. Tudo embrulhado num design que nos permitiu comunicar com mais clareza e fidelidade - nesse capítulo, o mérito é todo do jovem designer gráfico vimaranense, Cláudio Rodrigues.
Também aqui escreveram, correspondendo amavelmente ao nosso convite, António Amaro das Neves, Bruno Gonçalves, Eugénio Queirós, Fernanda Câncio, Francisco Sousa, Henrique Barreto Nunes, João Delgado, João Tinoco, Luísa Teresa Ribeiro, Manuel Monteiro, Paulo Duarte SJ, Pedro Vieira, Ricardo Gonçalves, Ricardo Rio e Rui Rocha (esperamos não ter esquecido ninguém).
A todos os que aqui escreveram, aos nossos leitores, aos que nos seguiam através de leitores de feeds e aos nossos comentadores assíduos, um bem-hajam por este milhão de páginas folheadas (eram precisamente 1.077.245 na manhã de hoje...) para ler 3.230 artigos comentados por 22.088 vezes. Estamos-vos profundamente gratos por tudo quantos nos proporcionaram ao longo destes trinta e sete meses.
Da palavra como fruição à palavra como missão, foram várias as motivações que percorremos ao longo destes três anos. O Avenida Central não tem fim. Até amanhã.
Braga, 16 de Dezembro de 2009
Pedro Morgado
Cólofon
Este blogue foi composto em caracteres Georgia (1993) e títulos em Lucida Sans (1985), tendo como fonte de cabeçalho a Garamond (originalmente desenhada em 1530). O esquema de página foi sofrendo alterações ao longo dos últimos três anos, sendo originalmente criado por Pedro Morgado e a partir de 1 de Junho de 2008 por Cláudio Rodrigues. Criado em 7 de Novembro de 2006 e concluído em 16 de Dezembro de 2009, foi publicado por Pedro Morgado. Escrito a partir de Braga, Guimarães, Arco de Baúlhe, Viseu, Barcelos, Famalicão, Porto, Chaves, Lisboa, Haia, Bruxelas, Cancun, Ultrecht, Havana, Barcelona e Málaga, entre provavelmente outros que me esquecerei de mencionar, durante a sua existência contou também com a colaboração de leitores, cronistas e outros autores, num total de mais de três mil artigos e vinte e dois mil comentários. Esteve hospedado na plataforma Blogger mas desdobrou-se pelo Twitter, Facebook, Flickr, Delicious, Technorati e Feedburner, tendo tido um total de mais de um milhão de visitas provenientes de mil novecentas e vinte e sete cidades do mundo.
Ómega e Alfa
2 anos largos volvidos desde que me associei a esta Avenida que me vou com ela nos mesmos termos com que nela entrei, a falar de Braga. Não que o Avenida Central em si tenha sido feito para ela, mas é certo que parte de Braga se fez com o Avenida. Essa nova cidade foi sonhada em postas de prosa corrida, curta e grossa, quantas vezes de sangue subido à cabeça. Nela se fez por colidir contra a sua rigidez institucional, perra como a Igreja que lhe enche as vias de moral e incenso, com as suas figuras pétreas, santos entretanto defuntos e outros, ainda que abanados, firmemente agarrados ao altar.
Por aqui, não se adormeceu no comodismo da gente, quantas vezes aparvalhada no milagre do crescimento a granel de Braga. Apontaram-se os problemas e discutiram-se soluções. Moveram-se os centros de gravidade do país (e do mundo) e colocou-se a discussão dos temas que nos dizem respeito no coração do penico. Na mesma tendência, o Minho e a sua capital incomodam agora os rankings, da excelência em ciência ao Futebol. Para bem dos nossos pecados, 3 anos depois, a cidade é cada vez mais bananeiro que roque santeiro. No(a) Avenida Central, local de chegada e partida, sala e modo de estar, mais que fim, hoje é início.
Por aqui, não se adormeceu no comodismo da gente, quantas vezes aparvalhada no milagre do crescimento a granel de Braga. Apontaram-se os problemas e discutiram-se soluções. Moveram-se os centros de gravidade do país (e do mundo) e colocou-se a discussão dos temas que nos dizem respeito no coração do penico. Na mesma tendência, o Minho e a sua capital incomodam agora os rankings, da excelência em ciência ao Futebol. Para bem dos nossos pecados, 3 anos depois, a cidade é cada vez mais bananeiro que roque santeiro. No(a) Avenida Central, local de chegada e partida, sala e modo de estar, mais que fim, hoje é início.
Mudar de Esquina
Chegada a hora de mudar de esquina, deixo-vos com um poema. É de Erich Fried (100 Poemas sem pátria. Lisboa: D. Quixote, 1979). Podem imprimi-lo e afixá-lo para o poderem reler de vez em quando.
O QUE ACONTECE
Aconteceu
e acontece agora como dantes
e continuará sempre a acontecer
se não acontecer nada contra isso
Os inocentes não sabem de nada
porque são demasiado inocentes
e os culpados não sabem de nada
porque são demasiado culpados
Os pobres não dão por isso
porque são demasiado pobres
e os ricos não dão por isso
porque são demasiado ricos
Os estúpidos encolhem os ombros
porque são demasiado estúpidos
e os espertos encolhem os ombros
porque são demasiado espertos
Aos jovens isso não preocupa
porque são demasiado jovens
e aos velhos isso não preocupa
porque são demasiado velhos
Eis por que não acontece nada contra isso
e eis por que razão aconteceu
e acontece agora como dantes
e continuará sempre a acontecer
O QUE ACONTECE
Aconteceu
e acontece agora como dantes
e continuará sempre a acontecer
se não acontecer nada contra isso
Os inocentes não sabem de nada
porque são demasiado inocentes
e os culpados não sabem de nada
porque são demasiado culpados
Os pobres não dão por isso
porque são demasiado pobres
e os ricos não dão por isso
porque são demasiado ricos
Os estúpidos encolhem os ombros
porque são demasiado estúpidos
e os espertos encolhem os ombros
porque são demasiado espertos
Aos jovens isso não preocupa
porque são demasiado jovens
e aos velhos isso não preocupa
porque são demasiado velhos
Eis por que não acontece nada contra isso
e eis por que razão aconteceu
e acontece agora como dantes
e continuará sempre a acontecer
Falperra, Hoje, Como Há Mais de 3000 anos...
© Freguesia de Esporões
Finalizando hoje o Avenida Central a sua existência, de indiscutível importância para a cidade de Braga, em virtude da discussão de praticamente todas as áreas que a Braga dizem respeito e de um conjunto de aspectos de relevo nacional, muitas vezes marginalizados, não quis deixar de assinalar aqui também este encerramento com um último texto. E para o efeito faço aqui uma referência a um aspecto ligado ao que foram as minhas intervenções na ínfima participação que tive no blogue: o património arqueológico. E dentro da temática, uma referência à Falperra, monumento sobre o qual nunca aqui escrevi.
Não pretendo descrever, que para tal não sou o mais indicado, os vestígios arqueológicos existentes no topo do monte que completa o cenário envolvente da cidade de Braga, e que integra a simbologia e o imaginário dos Bracarenses, mas recordar, como Sande Lemos fez neste blogue, a necessidade de a Câmara de Braga se consciencializar que deve à cidade a “devolução” do monte de Santa Marta das Cortiças. “Devolução” sugerida pela Unidade de Arqueologia da UM, no interessante projecto que apresentou.
Devolvido à cidade como espelho onde se reflecte uma grande parte da história de Braga, desde há mais de 3000 anos. Por essa altura e pelos séculos fora, a considerável elevação atraiu a atenção dos homens, por vezes como habitat, por outras como fortificação, por outras como santuário… Como hoje continua a atrair, agora como janela para um passado impressionante e culturalmente rico.
O Fim da Avenida Central
Esta fotografia da parte final da Avenida Central foi tirada nos anos 30. O eléctrico ainda aqui parava (o símbolo no poste indicava uma paragem) e passava a caminho do Bom Jesus, o jardim da Senhora-a-Branca tal como o conhecemos não existia, o Palacete Matos Graça ainda ostentava a escadaria, os tectos magníficos, as pinturas nas paredes e as madeiras exóticas que a Câmara e um projecto (segundo sei do Arquitecto Noé Diniz) entenderam não ter interesse, a Velha-a-Branca ainda era “apenas” a casa de habitação e o consultório médico do então Presidente da Câmara de Braga. A cidade não tinha ainda entrado a sério na "modernidade".
A casa que vemos em primeiro plano do lado direito, embora sem grande interesse especial, já não existe. Como é hábito, foi substituída por uma reles imitação em cimento. Por cá não se usa restaurar o antigo quando vale a pena ou demolir sem medo para fazer edifícios novos, modernos e marcantes (só o estádio teve direito a esse luxo). Prefere-se a hipocrisia de fingir que se restaura o centro histórico, mostrando aos turistas um cenário asséptico de telenovela que esconde prédios, na verdade, tão maus como os de Lamaçães (quantas casas realmente antigas ainda haverá no nosso centro histórico?).
Posso associar a esta foto uma série de coincidências pessoais, talvez insignificantes: vivo aqui perto nos últimos anos, a Velha-a-Branca nasceu numa das casas que se vê na foto, estudei na escola primária atrás do fotógrafo e admiro os transportes sobre carris. E claro, é a minha avó - na altura recém chegada a Braga e agora com 90 anos - que está à janela!
Apostar na Indústria Cultural
© Cláudio Rodrigues, Centro Cultural Vila Flor (Guimarães)
2012 será um ano decisivo para a projecção do Minho em termos internacionais. O projecto de Guimarães Capital Europeia da Cultura é uma oportunidade única para a região que deve ser meticulosamente preparada na perspectiva de sugar até ao tutano todo o capital mediático que a cidade e a região conseguirão captar naquele período.
Apostar num Minho Sobre Carris
© nmorao
No dia em que este comboio partir de Braga para Guimarães estaremos mais fortes, com mais possibilidades de negócio e com melhores formas de comunicação. No dia em que o comboio voltar a chegar a Fafe, como reivindica o seu edil, estaremos todos mais coesos e com mais oportunidades de desenvolvimento. No dia em que for possível viajar de comboio entre Braga, Barcelos e Viana estaremos todos mais unidos. No dia em que o transporte interurbano se fizer sob carris, podemos afirmar que ao terceiro maior centro urbano do país foi dado o que merece. Até lá, continuaremos a pagar em impostos o Metro de Lisboa, do Porto, da Margem Sul e do Mondego...
Apostar no Turismo do Minho
© carlosvasconcelos40, Gerês
Numa região fortemente deprimida pela crise e severamente fustigada pelo desemprego, a aposta no turismo pode ser decisiva para o relançamento da economia local. Do turismo natureza do Gerês ao turismo urbano do quadrilátero e do turismo religioso de Braga ao turismo cultural de Guimarães, muitas são as potencialidades inexploradas da nossa região. O Minho não se pode render à tirania do Porto e
Apostar na Reabilitação Urbana
© jx13061306, Ponte de Lima
Ponte de Lima e Guimarães são, inegavelmente, os dois melhores exemplos da reabilitação urbana que se deseja para o Minho. Cidades bem pensadas do ponto de vista urbano são necessariamente cidades mais aprazíveis, mais valorizadas e mais felizes. Que o exemplo se faça escola.
Apostar nas Colectividades da Região
© NickVG
Se a indústria desportiva nos invade o espaço mediático porque é que não havemos de aproveitá-la para nos mostrarmos e nos promovermos internacionalmente? Sporting de Braga, Vitória de Guimarães, Gil Vicente, Moreirense, Trofense, Vizela, ABC de Braga, Óquei de Barcelos, Francisco de Holanda, Hóquei de Braga e por aí em diante são os grandes embaixadores da nossa marca. Apoiar o que é nosso é valorizar a nossa terra.
Apostar no Conhecimento e na Inovação
© nobilis007, Campus de Gualtar
O estímulo à inovação tecnológica, a aposta em nichos de excelência na investigação científica e o reforço da articulação entre as instituições de Ensino Superior e as empresas da região são vectores fundamentais para o desenvolvimento integrado do Minho.
Apostar no Comércio Tradicional
© vÂniAkOstA, Centésima Página (Braga)
Promover que é nosso e fazer bater mais forte o coração das nossas cidades e vilas está ao alcance de todos. Se o comércio tradicional tiver inteligência para se modernizar sem se descaracterizar, ganham os comerciantes e ganham as nossas terras com mais gente e mais vida nos seus centros históricos.
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