Passados anos e vontades, golos e promessas a mim próprio, escolhi-a como lugar de estudo superior. Mal percebo, agora que penso, pois nem sei porquê... Entretanto outros dias e meses se sucederam, que já mal os conto, e vi-me um bracarense sem tão pouco senti-lo. Sou portanto mais um arcoense emprestado a Braga, ou um bracarense emprestado a Arco de Baúlhe, como na ambiguidade do Zé Brasileiro Português… de Braga! Mais um pacóvio numa cidade onde as batinas se cruzam com o coito vendido por um quinhão de doenças, a marginalização sexual com a moral dos senhores dela. Essa que vai por água abaixo, a cada apalpadela de tomates e palmadinha nas costas.
E reparo agora que o seu ar medieval, de uma luz que já não tem e que nunca teve, não lhe sobra do património que desde lá que foi restando. Esse das casas e edifícios, burgueses e senhoriais, públicos e religiosos, que lhe fizeram as ruas e as praças. Na senda da explosão demográfica à custa de subsídios e da migração dos rústicos, Braga cresceu para cima sem dar espaço para os lados. O cinzento dos blocos de aspecto nu ou de azulejo a estalar, ergueu-se acima da Roda Gigante e rodeou-a, em todos os becos e ruelas, de uma muralha labiríntica. Desfigurou-a como se Helena de Tróia metesse as bentas num caldeirão de àgua a ferver. Tornou-se, na santidade dos seus bispos e arcebispos, restantes homens de poder, um túmulo de betão. Nele jazem, por ressuscitar, a velha Braga das contradições, das casas e do comércio de finais de XIX e inícios de XX, quando as ruas se enchiam de emigrantes regressados, dinheiro e elétricos. Jaz a Braga dos anos 70 e 80, quando os meus tios e amigos deles se davam ao esforço de ir, desde o encosto do Minho sobre o Tâmega, até à Braga dos excessos e das novidades. Jaz uma capital de distrito que se confunde no norte, como um apêndice isolado, um enclave de um sotaque do Porto pejado de benfiquistas. Jaz uma cidade entregue a um Mesquita, que quando o vi, era mais baixo que eu e tão agarrado como Ramsés II - não terá tantos filhos quanto o Faraó, mas nunca fiando
Perdoem-me mas raramente me sinto agarrado a ela, nem ao clube com adeptos que não entendo, nem à cultura que parece tornar a brotar como fluía abundante e inédita, anos antes. Não me agarro porque por muito que me tenha dado o sexo, tão pouco me deu o coração. Faço antes dela uma relação liberal, lugar do café onde lhe olho o jardim em frente à Arcádia. Agora me lembro, com o chocolate quente, é esta Avenida Central que tanto desconhecia, também minha...
Caro Vitor, boa estreia.
ResponderEliminarNão entendes os adeptos do Braga por uma simples razão: "o Braga não é um grandes, é o enorme", e único. Isso basta.
Caro Vitor,
ResponderEliminarParabéns pelo teu texto e faz como se estivesses na tua Avenida.
Abraço,
PM.
Parabéns e espero continues com as tuas reflexões miscelâneas e estranhamente lúcidas.
ResponderEliminarUm texto que faz pensar.
ResponderEliminarGostei e voltarei
Braga a minha terra! Onde gosto de viver. Tem muitos defeitos, muito betão, muita política, muita gente a dizer mal...
ResponderEliminarNão sei por que cá andam.
Os cafés à hora do almoço na Brasileira, a cidade a passar pela janela.. que saudades! é esse espírito boémio e decadente, misturado com modernidades e modernices de gosto tantas vezes duvidoso que me fazem amar a minha cidade, com todos os seus defeitos e (apesar de tudo) algumas virtudes!
ResponderEliminarParabéns Pi!
** Denise
O texto está muito bom... Como sempre:)
ResponderEliminarParabéns!!
Não concordando com tudo concordo com a maioria e o texto está à altura de um verdadeiro "senhor da má língua", no bom sentido, claro!
ResponderEliminarGostei de te encontrar por aqui, sitio que tenho em muito boa conta e estima!
ResponderEliminarLamento encontrar-te a mágoa em cada bloco de betão bracarense...:
"Não me agarro porque por muito que me tenha dado o sexo, tão pouco me deu o coração".
Abraço!
Paulo
Gostei muito desta estreia. aguardo com curiosidade pela evolução temática desta coluna.
ResponderEliminarAbraço e parabens,
Toni