Avenida Central

S.C. Braga: O Melhor de Portugal

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Jorge Jesus e Luís Aguiar - Sporting de Braga

O Sporting de Braga ocupa a trigésima posição do Ranking Mundial de Clubes da Federação Internacional para a História e a Estatística do Futebol, sendo o clube português melhor posicionado neste importante ranking mundial.

Ao contrário do que sucedeu no passado, mesmo quando clubes portugueses ocuparam posições mais modestas, a comunicação social nacional, desportiva e regional tem passado ao lado deste facto inédito. É o jornaleirismo que temos...

O Novo Fôlego da Bipolarização

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Se a sociedade portuguesa já imitava a americana nas desigualdades, o sistema político português ganha agora novo fôlego para a bipolarização. Sem saber, o BE e o PCP - e o CDS - acabam de assinar a sua sentença de morte, a curto ou a longo prazo, com a nova Lei de Financiamento Partidário.

Ora, o PS e o PSD, com raízes mais profundas na estrutura económica, vão sorver todo o capital possível para esmagar qualquer concorrência nas campanhas eleitorais. As grandes empresas e interesses associados, que já pagavam em cargos de administração, arranjam assim a ponta solta que faltava na influência das políticas de governação.

E se já era difícil antes, o sonho de Alegre, em ver independentes e mais forças políticas pequenas na Assembleia da República, só pode ficar pela utopia, porque nem em ciclos uninominais conseguirão fazer frente aos outdoors e aos "microondas" dos political hitmen enviados das sedes nacionais partidárias.

Acontece no Minho | 29

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Tomás Kubínek
© Matthew Harrison

Foge, Foge Bandido (música)
[30 de Abril, 21h30m. CAE São Mamede, Guimarães]
Lado a, lado b, lado c, nada há no reaparecimento editorial de Manuel Cruz (Ornatos Violeta, Pluto) que se ponha a jeito de rótulos – o que,de algum modo, já se infere pelo nome do projecto: Foge Foge Bandido.

A Febre (teatro)
[29 de Abril a 2 de Maio, 22h. Centro Cultural Vila Flor, Guimarães]
Conhecido pelo grande público pelos papéis que interpreta nas séries da ficção portuguesa, bem como pelos seus memoráveis desempenhos nos palcos do Teatro Português, nomeadamente no TNSJ, João Reis não esconde a forte ligação que o une a Guimarães. "A Febre", a mais recente produção do Teatro Oficina, é um monólogo escrito por Wallace Shawn e traduzido por Jacinto Lucas Pires.

Gota D'Água (musical)
[1 de Maio, 21h30m. Centro Cultural Vila Flor, Guimarães]
A digressão nacional do musical brasileiro “Gota D´Água”, criado por Chico Buarque e Paulo Pontes, estreia em Guimarães, no Centro Cultural Vila Flor. Trata-se de uma adaptação da tragédia "Medeia", de Eurípedes, à realidade brasileira de 1975, dominada pela censura federal e repressão ideológica.

Lunático Certificado e Mestre do Impossível… (comédia)
[1 de Maio, 21h30m. Casa das Artes, Famalicão]
Tomás Kubínek (na foto) nasceu em Praga, tendo fugido do seu país com apenas 3 anos para escapar à invasão soviética de 1968. Depois de um período num campo de refugiados na Áustria, a família conseguiu asilo no Canadá, e foi aí, em Ontário, que Thomas viu o seu primeiro circo, com 5 anos de idade. A partir dessa experiência, tornou-se um apaixonado por palhaços, circos, teatro e magia. Uma paixão que ainda se mantém.

XIX FITU Bracara Augusta (música)
[1 e 2 de Maio, 21h30m. Theatro Circo, Braga]
O FITU assume-se como um dos mais importantes festivais do país e um dos mais reputados da Península Ibérica. Desde a primeira hora, traçaram-se objectivos que o distinguem das outras organizações congéneres, procurando que a saudável competição não se sobreponha ao convívio entre as tunas participantes.

Pedra D'Água (música)
[3 de Maio, 16h. Theatro Circo, Braga]
“As Mais Bonitas”, assim se chama o espectáculo de uma das mais importantes formações na área da Música Tradicional Portuguesa. O seu último álbum, “A Mais Bonita”, recolhe temas ancestrais como o “Vira dos Namorados”, “Cana Verde” ou “Lenço Bordado”.

Avenida Plural

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Apesar da presença regular na blogosfera bracarense, apenas conheci o João Marques a propósito da nossa participação conjunta no Trio de Blogues do Rádio Clube do Minho. Depressa percebemos que representava, no contexto das juventudes partidárias nacionais, uma verdadeira excepção. João Marques é licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo efectuado um estágio no Parlamento Europeu. Actualmente é advogado estagiário e Vice-Presidente da Secção Concelhia de Braga da Juventude Social Democrata (JSD). A partir de hoje será presença regular no Avenida Central com a sua Avenida Liberal.

Especialista em Arqueologia Urbana, o Professor Francisco Sande Lemos é o mais respeitado arqueólogo bracarense e um dos mais notáveis historiadores portugueses. Autor de inúmeras obras sobre História e Arqueologia, é um dos principais rostos do Programa de Salvação da Bracara Augusta, participando de forma verdadeiramente cidadã em todos os grandes debates sobre a protecção do património bracarense. É, pois, com enorme prazer que vos anunciamos que o Professor Francisco Sande Lemos passará a escrever Avenidas do Passado a partir da próxima Segunda-Feira.

E eis que se completa uma equipa de luxo. Bruno Gonçalves, Cláudia Rocha Gonçalves, Cláudio Rodrigues, Dario Silva, Eduardo Jorge Madureira, Francisco Sande Lemos, João Martinho, Jorge Sousa, Luís Tarroso Gomes e Vitor Pimenta são os rostos de uma Avenida que prometemos Plural. Da Esquerda à Direita. Do Direito à Arquitectura. Da Arqueologia à Medicina. Da Sociologia ao Design. De Cabeceiras de Basto a Barcelos. Da Penha ao Monte Castro.

Do Minho até ao fim do mundo, esta é a Avenida Central.

Capitalismo Social

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Capitalismo
© antoniohauaji

Há por aí um frenesi desvairado contra as obras do "neoliberalismo", do "capitalismo selvagem" e de outras categorias mais ou menos reais, mais ou menos abrangentes, que servem para os arautos dos "maus" costumes embandeirarem em arco e bradarem com toda a alma contra essas forças reaccionárias que promovem os valores do lucro e do sucesso individual.

Não vale a pena branquear os maus resultados da gula incontrolada daqueles que quiseram, a todo o custo, apostar em más soluções financeiras, cujo brilho dos cifrões ofuscou a bendita da razão. Coisa diferente porém é extrapolar indecorosamente e de forma desonesta sobre a imprestabilidade do capitalismo como sistema, ou apelar desesperadamente ao retorno do Estado, fingindo-se uma suposta, mas não provada, ausência do mesmo dos meios financeiros. Parece que o Estado esteve preso por correntes legais, políticas, económicas ou de outra espécie e que, perante o avanço triunfal dessa "corja neoliberal" teve de capitular sob pena de uma investida armada. Nada de mais falso, o Estado não se ausentou, o Estado permitiu. E esteve bem ao fazê-lo.

Tomamos, até há bem pouco tempo, por garantido que nada na economia de mercado poderia correr mal, ou ao menos mal de tal forma que pudessem estar em perigo os alicerces da estabilidade (im)perfeita do Estado social (ocidental). O "wake up call" não sendo desejável nem digno de celebração, tem contudo dimensões positivas. Voltamos à realidade dos sistemas feitos pelo Homem, à percepção da falibilidade de tudo o que criamos e seguimos. Muitos dirão que isto são tretas, que os poderes ocultos do capitalismo, a "mão invisível" da economia (corrompendo a imagem de Adam Smith) precipitaram esta crise e que se tivesse havido um Estado mais forte, com maior poder regulatório, mais presente, mais asfixiante diria eu, então nada disto teria acontecido. É provável que tenham razão. Mas acreditando neste pressuposto tomaremos como certo o que eu mais repudio, a omnipresença do Estado na sociedade.

Para mim, a economia é um domínio onde os governos se devem imiscuir o menos possível. Aceito o seu papel de Xerife de Nottingham (convenhamos, até aos suecos custa pagar impostos), digo-o genuinamente, tem de ser assim para que possa desempenhar o papel que lhe está destinado, o de assistir aos mais fracos e corrigir distorções a montante na ordem social, ou seja garantir a efectiva igualdade de oportunidades. No entanto, pensar que um governo, qualquer que ele fosse, seja ou venha a ser, podia, pode ou poderá decretar e levar a cabo, com efeito universal, a impossibilidade do risco, da má gestão ou sequer da estupidez, equivale a pensar que o Estado pode e deve intervir na nossa esfera mais íntima de actuação, no nosso livre arbítrio. Desenganem-se os puristas dos valores. Ganância, corrupção, ENRONs, Madoffs e outos que tais sempre existirão num sistema capitalista. Neste ou noutro qualquer sistema o Homem ideal não ousa sair do etéreo mundo dos livros e ainda bem que o não faz, pois um mundo de deuses seria a maior desgraça que nos poderia acontecer.

Donde sem dogmas, sem falsos moralismos e sem vergonha liberal me confesso.

Da Gripe Suína ou Gripe Mexicana

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A Organização Mundial de Saúde decidiu aumentar o nível de alerta pandémico da Gripe da fase 3 para fase 4 o que significa que «existem pequenos surtos com transmissão pessoa-a-pessoa limitada» e de forma localizada. Na prática, os objectivos actuais passam por «conter o novo vírus em focos limitados ou retardar a sua disseminação de forma a ganhar tempo para implementar medidas de preparação/prevenção, incluindo o desenvolvimento de vacinas».

A chamada Gripe Suína ou Gripe Mexicana é uma variante do vulgar vírus da Gripe e as medidas de protecção recomendadas passam por minimizar os contactos com pessoas com sintomas de gripe, bem como evitar a frequência prolongada em locais fechados como Igrejas ou Centros Comerciais. De igual modo, apenas deverá recorrer aos Serviços de Saúde de Urgência se a sua situação clínica não for adiável nem resolúvel através de consulta no Médico de Família.

Em Portugal, ainda não foi registado nenhum caso de Gripe Suína e as autoridades estão a monitorizar a evolução da situação internacional, bem como a despistar eventuais focos de infecção nos viajantes que chegam das áreas de risco. Em caso de dúvida, contacte o seu Médico ou a Linha Saúde 24 (808 24 24 24), de forma a encontrar a melhor informação clínica que permita um diagnóstico adequado da sua situação.

Informação Adicional: Microsite da Gripe da DGS; Organização Mundial de Saúde.

Adenda: A OMS subiu o nível de alerta pandémico para a fase 5.

Do Porto à Póvoa e Famalicão

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© Dario Silva

Anos depois de o pequeno comboio da Póvoa a Famalicão ter desaparecido sem que ninguém desse por isso, ficou a memória de uma viagem à praia e a aposta secreta de que esta via férrea seria, já no novo milénio, a primeira das linhas a reabrir a Norte do Douro. Há algum risco de eu perder a aposta.

Que Boas Pessoas que Eles São

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EDP campanha

A EDP já sente que o seus prepotentes e megalómanos projectos de Barragem, que o Governo vendeu barato pela pica propagandística, não acolhem simpatia e que geram uma forte oposição de muitos cidadãos que habitam os locais visados. Sinal disto é que não esperaram muito, nem olharam a gastos, para lavar a cara e mudar a maré das coisas, mesmo sabendo que a maré da comprometida maralha que nos governa de grosso modo, lhes leva a água ao moinho desde o início.

Sob o mote "Quando projectamos uma Barragem, projectamos um futuro melhor", contratou Paulo Gonzo para compor um hit tipo genérico de novela ranhosa, estreado num concerto a 300 e tal metros de profundidade, para musicar uma imensa campanha na Televisão, jornais e na internet, louvando o respeito de sacristia que têm pela Natureza. Isto, mesmo quando se quer acrescentar, artificial e insensivelmente, milhões de metros cúbicos de água a vales e a paisagens naturais.

Aliás, para a EDP - e foi visível num dos debates a que se sujeitaram, ainda que com a condição de oradores privilegiados, sem contraditório em palanque, e com a defesa acirrada do prestável edil local - todo o superafectado Vale do Tâmega, o mesmo que faz a fronteira leste do Minho, não passa de um emaranhado de riscos curvos num mapa cartográfico. A preocupação ambiental , essa, é um mero exercício de marketing, porque a realidade mostra que não passa, nem passará, da esfera burocrática e de externalização dos problemas para institutos públicos e câmaras municipais sem capacidade, nem vontade política de os resolver - que se amanhem.

Pouco lhes interessa, na verdade, a qualidade das águas ou se o impacto ambiental das imensas albufeiras vai ou não afectar duramente milhares de anos de equilíbrio entre a presença humana e a natureza, se vai ou não aniquilar ecossistemas e terrenos de cultivo. Nem se dignam, sequer, a baixar as tarifas que cobram às populações que resolveram incomodar. Por muito que se rodeiem em palavras bonitas, e delírios de Noé, nunca conseguíram, nem vão conseguir, compensar as perdas em lado nenhum. O mapa hidroeléctrico do País é e será, na sua grande parte, uma trágica reprodução do país desertificado, descaracterizado e sem perspectivas de desenvolvimento.

Adenda: Assine a Petição Anti-Barragem: Salvar o Tâmega

Fascismo Nunca Mais

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«Vítor Mesquita, Luís Magalhães e Luís Rosa, dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), estão a ser alvo de inquéritos internos instaurados pelo PCP, partido de que são militantes, por não terem apoiado a lista B nas eleições do Sitava que decorreram a 19 de Março.» [Público]

Um partido que não admite que os seus militantes defendam propostas alternativas é uma congregação de ortodoxos que ainda não percebeu o verdadeiro significado do 25 de Abril.

Este Espaço Era Nosso

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Braga, Estação dos Correios

Uma Úlcera No Urbanismo | 2

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© stupidcupidz [Galeries Saint-Hubert]

Há um mês atrás discutiu-se aqui sobre o fenómeno shopping e a diferença entre shopping de rua ou shopping cogumelo. Não sou defensora acérrima nem de um nem de outro. Percebo apenas a necessidade de ter serviços comerciais abertos num horário mais alargado e a salvo das acções do clima. Além disso, deveriam funcionar também como catalisadores de acções urbanísticas de melhoramento e desenvolvimento.

Tenho pena que a escola tenha servido de pouco aos decisores quando chega a hora de intervir. Se assim não fosse, saberiam onde ir buscar modelos, ou encontrar quem os conhecesse para apostarem no cavalo certo.

Olhemos um bocadinho para a história e para o centro da Europa. Remontemos ao ano de 1836, século XIX. Um jovem arquitecto nascido na Holanda em 1811, teve a ideia de construir uma galeria comercial coberta com mais de duzentos metros que ligaria o Mercado de Ervas ao Mercado dos Vegetais, demolindo um grande número de vielas onde a burguesia não se atrevia a entrar.

Em 1845, o Conselho Local votou a favor deste projecto. Assim nasceram as Galeries Royales Saint-Hubert, no centro de Bruxelas. A Galerie du Roi, a Galerie de la Reine e a Galerie du Prince, formando um ípssilon. Para quem não conhece o "shopping" em questão, há ainda a referir que este contém um Teatro (lindo, lindo!), uma sala de cinema e pequenos apartamentos no último piso.

Outros exemplos existem na Europa destas operações urbanísticas de salubridade versus desenvolvimento versus visão económica.

Poderiam os projectos das galerias comerciais em Braga (e por Portugal afora) ser pensados como soluções para problemas urbanísticos? Poderiam estes ser pensados para durar séculos e ser admirados quase duzentos anos depois? Poderíamos construir cidade com base em modelos sólidos, funcionais e prósperos? A resposta é mais que óbvia.

Para quem não sabe (e é natural que muitos não saibam), a morte de alguns shoppings de rua é um problema de desenho. Antes de serem construídos, já morrem no papel, porque a maior parte tenta resolver "problemas" de rentabilização de áreas.

É preciso compreender que tudo nasce para solucionar um problema. A questão está na pergunta: Que problema quero eu resolver?

A discussão em torno dos shoppings de rua na cidade de Braga deveria passar por perceber onde falharam e onde acertaram os objectivos os já existentes, e de que forma os que hão-de vir podem contribuir para uma melhoria significativa do local onde vão ser implantados.

25 de Abril

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Monumento à liberdade
© lulubignardi [25 de Abril, Viana do Castelo]

Há por aí muito caudilho mal agradecido que, estivéssemos na velha senhora, nem se atreveria a desafiar os valores do regime com odes à sua antítese. Trinta e cinco anos volvidos, ainda escasseia a maturidade democrática para que reconheçamos sem falsas heresias que, não fora o vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, e ainda andávamos todos a prestar vassalagem a um déspota qualquer escolhido pelas armas ou pela herança genética sacro-santa.

Havia de Vir-se Outro Salazar | 2

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Confesso que em 25 de Abril tenho de concordar com a voz jocosa e escaganifobética de Vasco Pulido Valente ontem na TVI. O anúncio da inauguração da Praça de Salazar em Santa Comba Dão, para hoje, mesmo na desculpa esfarrapada do Presidente da Câmara, foi um valente golpe de marketing para chamar peregrinos do Estado-Novo à capelinha do Presidente do Conselho. O BE, sem querer, só caiu na esparrela de lhe dar cobertura ao correr para censurar (ainda por cima) a iniciativa. Devia ter tratado a coisa com mais sentido de humor, até porque era certo e sabido que um qualquer mayor com dois dedos de testa lá no sítio, teria obrigatoriamente de aproveitar as sobras herdadas do velho e reinventá-las para vender uns penduricalhos e dormidas para animar a economia local.

Fosse eu o edil de Santa Comba, e baseado na obra recente de Felícia Cabrita, quem sabe se não encomendaria a Cutileiro, ou a uma oficina das Caldas, uma estátua à medida deste homem da ditadura... De resto, crispações a parte, limitar-nos a mandar os odres da História para debaixo do tapete, já se sabe, é só dar largas à repetição dos erros.

A Revolução Adiada

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Que é pois necessário para readquirirmos o nosso lugar na civilização? Para entrarmos outra vez na comunhão da Europa culta? É necessário um esforço viril, um esforço supremo: quebrar resolutamente com o passado. Respeitemos a memória dos nossos avós: memoremos piedosamente os actos deles: mas não os imitemos. Não sejamos, à luz do século XIX, espectros a que dá uma vida emprestada o espírito do século XVI. A esse espírito moral oponhamos francamente o espírito moderno.

Oponhamos ao catolicismo, não a indiferença ou uma fria negação, mas a ardente afirmação da alma nova, a consciência livre, a contemplação directa do divino pelo humano (isto é, a fusão do divino e do humano), a filosofia, a ciência, e a crença no progresso, na renovação incessante da Humanidade pelos recursos inesgotáveis do seu pensamento, sempre inspirado.

Oponhamos à monarquia centralizada, uniforme e impotente, a federação republicana de todos os grupos autonómicos, de todas as vontades soberanas, alargando e renovando a vida municipal, dando-lhe um carácter radicalmente democrático, porque só ela é a base e o instrumento natural de todas as reformas práticas, populares, niveladoras.

Finalmente, à inércia industrial oponhamos a iniciativa do trabalho livre, a indústria do povo, pelo povo, e para o povo, não dirigida e protegida pelo Estado, mas espontânea, não entregue à anarquia cega da concorrência, mas organizada duma maneira solidária e equitativa, operando assim gradualmente a transição para o novo mundo industrial do socialismo, a quem pertence o futuro.

Esta é a tendência do século: esta deve também ser a nossa. Somos uma raça decaída por ter rejeitado o espírito moderno: regenerar-nos-emos abraçando francamente esse espírito. O seu nome é Revolução: revolução não quer dizer guerra, mas sim paz: não quer dizer licença, mas sim ordem, ordem verdadeira pela verdadeira liberdade. Longe de apelar para a insurreição, pretende preveni-la, torná-la impossível: só os seus inimigos, desesperando-a, a podem obrigar a lançar mãos das armas. Em si, é um verbo de paz, porque é o verbo humano por excelência.

Meus senhores: há 1800 anos apresentava o mundo romano um singular espectáculo. Uma sociedade gasta, que se aluía, mas que, no seu aluir-se, se debatia, lutava, perseguia, para conservar os seus privilégios, os seus preconceitos, os seus vícios, a sua podridão: ao lado dela, no meio dela, uma sociedade nova, embrionária, só rica de ideias, aspirações e justos sentimentos, sofrendo, padecendo, mas crescendo por entre os padecimentos. A ideia desse mundo novo impõe-se gradualmente ao mundo velho, converte-o, transforma-o: chega um dia em que o elimina, e a Humanidade conta mais uma grande civilização.

Chamou-se a isto o Cristianismo.

Pois bem, meus senhores: o Cristianismo foi a Revolução do mundo antigo: a Revolução não é mais do que o Cristianismo do mundo moderno.

[Causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos, Antero de Quental nas Conferências do Casino de 1871]

Isto é parte de um discurso do séc. XIX. Já no séc. XX o Almeida Negreiros insurgiu-se contra o(s) Dantas. Podemos sinceramente dizer que, hoje, no séc. XXI, não estamos ainda rodeados de Dantas? Abril ainda não trouxe esta Revolução.

Sonho de Abril

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Celebram-se os heróis da revolução. Festeja-se o fim da guerra colonial. Recordam-se os eventos da revolução, minuto a minuto. Ouvem-se as músicas e contam-se as histórias. De parada militar em parada militar, todos os anos se discursa, em nome do Abril que nos deu a Democracia e a Liberdade.

A história de Portugal pós-abril confunde-se com a história de Portugal na CEE, à qual de imediato nos candidatamos. Com a entrada na CEE e às cavalitas dos 3 milhões de contos por dia, na era Cavaco, lá fomos disfarçando e readiando a crise. Vivemos deslumbrados com uma prosperidade que só seria real sem esbanjamento, com investimentos avisados e, sobretudo, com uma profunda alteração das mentalidades. Até que a torneira se fechou e outros Estados se tornaram membros. Disfarçamos uma crise que não é a crise global de hoje, nem é de 2001. Em bastantes aspectos, tampouco será uma do séc. XX. É uma crise civilizacional. Portugal não fica para trás. Para ficarmos para trás, era preciso ter estado a par daqueles (e "corrido" ao seu ritmo) com quem nos comparamos, alguma vez nos últimos séculos. A par, a nível económico, social e cultural. Outros souberam aproveitar as oportunidades. Com o Plano Marshall a Europa reconstruiu-se. Com a entrada na CEE a Espanha, aqui ao lado, conheceu uma enorme prosperidade, apesar dos seus alicerces, tal como os dos irlandeses, ainda não serem os mais famosos. Portugal corre sempre ao mesmo ritmo enfadonho e pouco ambicioso, desde há séculos. Os "anos dourados" dos fundos da CEE foram apenas uma espécie de doping.

Mas afinal, o sonho de Abril não era e é, para além do objectivo da Liberdade e da Democracia, também um projecto de nação? As celebrações de Abril pautam-se sempre, exclusivamente, pelo saudosismo da conquista dessa liberdade e dessa democracia. Deviam também servir como uma lembrança, como um estímulo constante na persecução desse projecto. Enfim, como um despertar que se adia.

Acontece no Minho | 28

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Zeca Afonso
© Armando Caldas

Sérgio Godinho (música)
[24 de Abril, 22h. Centro Cultural Vila Flor, Guimarães]
A Câmara Municipal de Guimarães oferece música de Abril para celebrar Abril. Em concerto de entrada livre, Sérgio Godinho terá um Grande Auditório cheio e com um brilhozinho nos olhos para o ouvir cantar.

Pedro Barroso (música)
[24 de Abril, 22h. Casa das Artes, Arcos de Valdevez]
Pedro Barroso estreia-se em 1969 no célebre programa da RTP Zip-Zip. Desde então, a sua carreira de quase 40 anos conheceu um crescendo permanente, evoluindo em paralelo com um país que conheceu fantásticas mutações políticas e sociais, elementos que desde sempre estiveram subjacentes às suas letras e melodias, a par dessa vontade imensa de cantar o amor e a verdadeira alma portuguesa.

Traz o Teu Cravo Também (música)
[24 de Abril, 21h21m. Velha-a-Branca, Braga]
Na noite da liberdade, o Estaleiro Cultural apresenta DJ set com a dupla do RUM Upload, Paulo Sousa e Sérgio Xavier.

Zeca canta Zeca (música)
[24 de Abril, 22h. Theatro Circo, Braga]
Neste ano cumprem-se 22 anos sobre a morte do compositor e cantor português Zeca Afonso, figura que deu grande contributo à cultura em Portugal e no mundo. Este espectáculo tem como intérprete principal José Carlos Barbosa, também ele “Zeca”. Nasceu em Viana do Castelo, em Agosto de 1956. Desde muito novo acompanhou a evolução da música portuguesa, particularmente dos compositores e cantores da resistência.

Rão Kyao (música)
[25 de Abril, 22h. Casa das Artes, Vila Nova de Famalicão]

Rão Kyao apresenta através das suas flautas de Bambu, com os magníficos arranjos a Oriente, sonoridade tão particular deste músico, uma homenagem à música tradicional Portuguesa e a Zeca Afonso.

GNR (música)
[25 de Abril, 23h. Queima das Fitas, Póvoa de Lanhoso]
Em noite de abertura, a Queima das Fitas do ISAVE apresenta GNR, a mítica banda do Porto que se celebrizou nos anos oitenta e noventa. Os Flow 212 abrem a noite.

Frida Hyvönen (música)
[25 de Abril, 22h. Theatro Circo, Braga]
A dar continuidade ao “Musa - Ciclo no Feminino”, o palco da sala principal acolhe a estreia nacional da voz simultaneamente doce e ácida de Frida Hyvönen e aos seus temas “pop”, ora envolvidos por um clima sombrio, ora nascidos de uma ingénua alegria infantil. A sueca traz a Braga um dos concertos do ano no Minho.

Paridade Fantasma

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"O que está em causa é um problema de autenticidade". [...] "Se a dra. Elisa Ferreira e dra. Ana Gomes forem eleitas no Porto e em Sintra e o PS eleger sete eurodeputados, só haverá uma mulher - Edite Estrela - e se elegerem dez eurodeputados, haverá duas mulheres", acusou [Nuno Melo]. [Público]

"Há uma coisa que não faremos de certeza absoluta que é candidatar pessoas candidatos fantasmas. Aquilo que o PS está a fazer, candidatar pessoas às autarquias e ao Parlamento Europeu, é coisa que com a minha direcção nunca acontecerá. Tenho regras muito restritas sobre isto", frisou. [DN]

Esta parece-me ser um boa norma de conduta política. Honesta e transparente. Mas não é sobre isso que me proponho a escrever, como tampouco é especialmente dirigido em especialmente dirigido a algum partido.

Para além da "honestidade", há um outro aspecto em causa: o cumprimento das quotas de mulheres (em rigor, trata-se de uma representação mínima de 33,3% de cada um dos sexos). Pode-se concordar ou não com a imposição legal de quotas nas listas às várias eleições. Acho que, naturalmente, deve existir um equilíbrio de géneros, que claramente não existe.

A garantia que se pretende dar através da impossibilidade de se colocarem mais de dois candidatos do mesmo sexo, consecutivamente, na ordenação da lista, é uma garantia meramente formal. Aliás, uma rápida análise das listas [BE][PCP][PS][PSD][PP] revela que, grosso modo e com excepção do PCP, estas tendem a cumprir este requisito apresentando uma mulher a intervalar dois homens; o contrário é bastante mais raro.

Por outro lado, já se sabe que as suspensões, por uma ou outra razão, são extremamente frequentes. O exemplo dado pelo Nuno Melo é, de facto, flagrante (convém dizer que se o PP eleger os mesmos dois deputados, não vai lá estar nenhuma mulher). Esta Lei da Paridade, quer através de manipulações premeditadas, quer através da "tradição" de suspensões de mandato, ameaça tornar-se um mero formalismo, uma pseudo-paridade, existente apenas no momento de apresentação das listas. As listas para as autárquicas e para as legislativas trarão mais luz a esta questão.

Dia.D: Conversas sobre Design no IPCA

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Jazz em Contos por Hugo Machado

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O CUSP (centro utopias sonhos e projectos) é um espaço que abriu muito recentemente, localizado na rua Nova de Sta Cruz, num grande portäo vermelho, logo a seguir a um prédio em construção ao lado fábrica Confiança.

Único no seu design interior, como o nome indica, ambiciona tornar-se num pólo cultural bracarense, sobretudo, mas näo só, vocacionado para o jazz.

Assim, hoje à noite, no seu primeiro evento cultural, terá Hugo Machado como convidado. O objectivo passa por divulgar jazz para quem não gosta de jazz, falando e passando música sobre a sua história.

Makro (Lamaçães)

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Braga, 1594

Não é por acaso que tanto se fala de D. Diogo de Sousa. Durante os 27 anos que este arcebispo governou Braga, transformou por completo a cidade dando-lhe a configuração urbana que grosso modo ainda hoje mantém. Entre muitas outras obras, D. Diogo mandou abrir, do lado exterior das muralhas medievais, diversos largos de dimensões então invulgares. O mapa* acima reproduzido foi elaborado somente umas décadas após esta revolução urbanística e dá-nos uma boa noção de como ficou a cidade. Braga, ao contrário do Porto por exemplo, tornou-se uma cidade aberta. E, quinhentos anos depois, ainda é por esses largos de D. Diogo, hoje praças e avenidas, que nos orientamos na cidade antiga.

Actualmente – e não será certamente um privilégio só de Braga – nas zonas novas da cidade somos forçados a publicitar todos os grandes espaços comerciais. Assim, vivemos na zona do Feira Nova, tomamos café junto à Bracalândia ou compramos qualquer coisa numa loja perto da Makro ou do Modelo de Frossos. Claro que, bem vistas as coisas, estas zonas são até privilegiadas pois em muitos outras zonas nem sequer podemos contar com isso.

Isto tudo vem a propósito de há dias, ao chegar a Braga, ter visto um outdoor que anunciava “Makro (Lamaçães)”. Então afinal a Makro não é na zona da Makro?

*é curioso notar que toda a gente conhece o mapa mas tem grande dificuldade em percebê-lo; creio que com a legenda que acrescentei e com uma espreitadela no Google Maps se torna mais fácil

Agora, Também Sem Praça de Touros

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Viana do Castelo é a primeira cidade portuguesa que decidiu pôr fim às touradas. O presidente da Câmara Municipal, Defensor Moura, defende que o sofrimento dos animais durante as touradas não é compatível com o perfil de cidade saudável que Viana quer manter. A praça de touros já foi comprada pela autarquia vai ser demolida para dar lugar a um Centro de Ciência Viva. [Parlamento Global, com Audio]

Depois de Viana do Castelo já se ter declarado anti-touradas e após a nega de Mesquita Machado aos rumores de uma tourada por altura do S. João, a Câmara Municipal de Viana do Castelo vai levar a sua declaração às últimas consequências: a demolição da praça de touros.

Mas, não obstante estes sinais positivos nalgumas localidades do Minho, convém lembrar o que dizia o Pedro Morgado em Fevereiro passado:

Contudo, as notícias mais recentes mostram uma realidade bem distinta: ao fim de muitos anos sem este espectáculo violento, Braga prepara-se para receber uma tourada; em Guimarães, as festas Gualterianas voltarão a ser palco de uma tourada; e na Póvoa de Varzim, a tourada continua a fazer-se regularmente na Praça de Touros. Infelizmente, a modernidade não está ainda ao alcance de todos...


Correcção, segundo o Rui Rocha: Há ai um pequeno lapso: a decisão de declarar viana como cidade anti touradas está inerente à demolição da praça. Os vianenses souberam das duas decisões no mesmo dia.

O Marketing Religioso | 2

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2-febrero-08blog

Tal como em Espanha, a Igreja Católica Portuguesa prepara-se para entrar no jogo eleitoral apelando ao voto nos partidos de direita. Será que os capelães hospitalares, pagos a expensas do erário público, também farão campanha eleitoral?

O Marketing Religioso

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«Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade.» [D. José Policarpo, 25/12/2007]

«Aliás, os médicos que avaliam os casos de milagre são na maioria das vezes ateus e agnósticos.» [D. José Saraiva Martins, 22/04/2009]

O marketing religioso é um indústria verdadeiramente impressionante. Vejam como os ateus, o maior drama da humanidade, às vezes servem para a própria Igreja tentar legitimar o que é cientificamente impossível de demonstrar.

Por outro lado, não há médico, seja ateu ou religioso, que tenha competência para afirmar que esta ou aquela cura «não é explicável cientificamente». O máximo que se admite é que aquele médico diga que naquele momento não encontra explicação científica. Isto é coisa bem distinta do que atestar a inexplicabilidade de um facto.

Quem quiser acreditar em milagres que acredite, mas por favor não nos passem atestados de menoridade.

Primeiro Round

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É pior do que eu pensava. Os candidatos do PSD e do PP pensam que as eleições Europeias são uma sessão da Assembleia da República. O do PS pensa que tem uma qualquer obrigação de responder, em defesa do governo, tal como faz no seu blogue, como já o tinha prometido fazer. Aliás, as intervenções do Vital Moreira foram quase todas na "defesa honra".

Apesar disso, há quem considere que o Nuno Melo ou o Paulo Rangel estiveram bem no debate. O problema é que não foi no debate certo. Todas as vezes que abriram a boca para falar da política governativa nacional não estavam a debater o que era suposto. Por isso, foram uma autêntica nulidade. Por praticamente se ter limitado a ripostar, o Vital acabou por também o ser. Isto, claro, falando no debate que interessava: o das europeias. No não-debate das legislativas, o Vital levou quinze a zero.

Sobraram dois candidatos, da CDU e do BE, que, sem frutos para o debate, abordaram questões europeias, acabando por vezes a divagar, como os outros, para questões que estão foram do âmbito das competências, poderes e responsabilidades dos deputados europeus.

Distinguiram-se dois grupos. Os que falam da Europa porque sabem e os que não falam da Europa porque não sabem.

Update: No mesmo sentido, ler o João Galamba no Jugular.

Que Prioridades Políticas? | 2

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O presidente da Junta de Freguesia de Lomar considera que a obra do parque da Ponte Pedrinha só peca por tardia. Manuel Dias recordou que o projecto estava previsto desde 1998 [DM(?), via Farricoco]

Sei que há várias vozes discordantes de mim, mas o tempo vai revelando que os exemplos proliferam. Talvez uma fatalidade de quem está a governar há tanto tempo, mas nalguns casos, como neste, não será tempo demais?

Dizia a Ana Galvão há uns tempos «que quem marca a 'agenda' é quem manda e quem estabelece prioridades é quem decide. Tudo está sujeito a crítica, porque os calendários e as prioridades mudam conforme as pessoas e os interesses em presença. Interesses da cidade, acrescente-se. Dos cidadãos.». «Chama-se a isto ter responsabilidade politica, e saber o que é melhor para os Bracarenses.» - diz a Judite Alves a propósito da carta educativa.

Existem exemplos "agendados", uns mais e outros menos. Aliás, uns atravessaram mandatos, como este; outros, como a reabilitação do Rio Este (ideia antiga mas bandeira da última campanha), são incompreensivelmente adiados (demorou-se praticamente um mandato a requerer o estudo de impacte ambiental, que até acabou por ser célere); já agora, outros ainda, como o parque do vale de Lamaçães, são executados aludindo a um timing planeado desde o início. Em rigor, a maior parte deles foram um dia "prioridade", estiveram na "agenda". Pelo que alegar uma perda de interesse após o final/na renovação do mandato não faz grande sentido. Pelo contrário, espera-se que as promessas antigas sejam cumpridas.

Assim, não tenho problema em repetir que me parece «evidente que existem processos de decisão ou de execução inexplicavelmente morosos ou simplesmente inexistentes - ou, nalguns casos uma impotência política». Tal como me parece «indiscutível que [...] um investimento como o do Estádio constitui um marco assinalável» e que a necessidade de contrair um empréstimo de cerca de 75 milhões de euros para a construção de um monumento será, «necessariamente, um termo de comparação para com os demais (des)investimentos e (não) tomadas de decisões».

Legalize It

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Taxar em 69 % o valor patrimonial injustificado detectado com a quebra do sigilo bancário chega a ser, em alguns casos, pouco diferente de uma regulamentação do comércio de droga, sexo ou de armas. O valor do "imposto", no absoluto, até está ao nível de qualquer um dos Impostos Especiais de Consumo (sobre tabaco, álcool ou produtos petrolíferos). Só faltará mesmo uma autoridade que averigúe dos critérios de qualidade e da defesa do consumidor. Neste aspecto, o PS foi mais longe que o BE, muito mais conservador porque se fica apenas pelos cogumelos e pelas bolotas.

Uma Úlcera no Urbanismo | 1

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© ivan.

Hoje, em poucas cidades se faz cidade. Custa-me, aliás, a crer que os senhores autarcas saibam o que significa cidade. Cidade: o elemento geográfico, meio físico de troca de vivências, crescimento social, maturação da cultura, desenvolvimento. 

A especulação chegou ao ponto da estagnação do cérebro. Vende-se, permuta-se, fazem-se pausas em PDMs, infringem-se leis, olha-se para o bolso e para os futuros possíveis carros para mostrar a pança cheia. Não se pensa no que se faz, como se faz, apenas se faz.

Braga, capital da Camorra à portuguesa (terra de Secondigliano), dos clãs do betão. Capital dos pedaços de ninguém, das sobras, das falta de visão sustentável, da falta de brio, do desleixo consciente.

Na imagem que ilustra o post, vê-se uma das novas áreas "desenvolvidas" à espera que alguém lhe dê vida. À espera... Mas quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Os novos zonamentos propostos na cidade, não prescindem nem em 1% do uso do automóvel. Com certeza para alimentar o ego a muitos.

Veja-se também o caso do novo centro empresarial de Ferreiros. Ainda em fase de loteamento, é um autêntico labirinto tentar chegar a ele, e é apenas visível da saída da auto-estrada A11.

Ninguém parece saber que as cidades têm que ser permeáveis em todos os sentidos. Têm que funcionar como um corpo, sem interrupções, sem congestionamentos, sem coágulos, sem colesterol, sem úlceras, etc.

Por fim, vale a pena ler o texto do João Sousa: Urbanismo de Ocasião, do qual deixo um pequeno excerto.

“Temos de admitir que somos um povo do “desenrasca”. Quando nos surge um problema somos os melhores a resolvê-lo no instante mas, no entanto, sem pensar a longo prazo. Vemos esta atitude aliada a praticamente tudo o que fazemos e como não podia deixar de ser, os resultados vêem-se, à distância! Somos um país com um território repleto de particularidades: de um lado o mar, do outro as florestas; a norte as montanhas e a sul as planícies. Quase que podemos dizer que temos de tudo. Ora, com tanta diversidade geográfica presente dentro de fronteiras, modelos não nos faltam de como gerir o território e planear o seu desenvolvimento sustentável.”

De Nova Iorque para Braga

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Programação 2009 Espaço Pedro Remy

Russ Lossing Underground Trio é uma formação oriunda de Nova Iorque que se apresenta em Braga,depois de uma digressão pela vizinha Espanha. O Underground Trio interpretará temas do disco “Swimming Dragon” que, embora ainda não tenha visto a luz do dia (sairá pela editora suíça HatHut), constitui uma das razões mais fortes para esta mini-tour pela Península Ibérica. De resto, Russ Lossing mantém uma forte ligação com a lisboeta Clean Feed (uma das melhores editoras do mundo, diz a crítica), e Masa Kamaguchi vive na cidade condal (Barcelona) há já algum tempo, pelo que a Península é um dos pontos focais da actuação do trio.

O concerto acontece às 22 horas do dia 25 de Abril, no Espaço Cultural Pedro Remy.

Dois Ponto Zero | 25

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A ler: Desonestidade de Quem?, por Fernanda Câncio; A Mensagem Contraditória do PS, por Nuno Gouveia; A Origem das Espécies, por Tomás Vasques.

O Décimo Túnel

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© Dario Silva

Às 12h22 de quinta-feira, dia 16 de Abril de 2009, foi varado aquele que será o 10º túnel da Linha do Minho, o 4º em via dupla electrificada.
A Variante Ferroviária da Trofa utilizará a breve prazo este novo túnel que se estende ao longo de 1,529 metros, dos quais 1,090 são em construção mineira a que corresponde uma escavação mineira de 98,100 m3.

Avenida Plural

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Fundador da cooperativa cultural Velha-a-Branca, o mais pujante dos projectos culturais independentes do Minho, Luís Tarroso Gomes é um dos principais vultos da cultura bracarense. Profundo conhecedor da cidade, o jovem advogado tem pautado o seu percurso cívico por regulares intervenções na defesa do património histórico mais valioso. É pois um enorme privilégio poder contar com o Luís Tarroso Gomes nesta Avenida Central de palavras.

Também por estes dias, o Avenida Central irá ganhar outro reforço de peso. Autor do site O Comboio e de inúmeras exposições fotográficas sobre a ferrovia (a vigésima sexta começa dia 25 de Abril em França), Dario Silva é um profundo conhecedor (e amante) dos comboios. Minhoto, nascido numa terra marcada pela passagem da linha férrea ao longo de todo o século XX, Dario Silva assinará regularmente os Passageiros da Avenida, uma crónica que será uma ode ao melhor da ferrovia nacional.

Com todo o mérito, Cláudia Rocha Gonçalves é o rosto da primeira participação feminina no Avenida Central. Estudante de Arquitectura e autora do blogue mastiga e deita fora tem sido uma referência na blogosfera minhota, impregnando-a de bom gosto arquitectónico e literário. Aos domingos, escreverá Entre Avenidas.

Da Crise Académica

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«A greve dos estudantes, dos professores e dos investigadores franceses contra a lei da autonomia de gestão das Universidades francesas dura há 11 semanas, não há qualquer sinal que aponte para o fim do conflito e, a pouco tempo do fim do ano escolar, ninguém sabe o que vai acontecer.» [Expresso]

O título da notícia é de que os «universitários franceses podem passar sem exames». Enganador quanto à realidade que confessa no texto e que demonstra um enorme desinteresse dos media portugueses pelo assunto. Tal não se verifica apenas em relação à realidade universitária francesa. Também no Canadá houve, recentemente, uma greve que durou três meses e só terminou por "decreto" do governo.

Curiosamente, «autonomia de gestão das Universidades» é um forte ponto de discussão em Portugal. Do mesmo modo, partilhamos as mesmas preocupações que existem no Canadá: «job security for professors on short contracts, length of contracts and more funding for grad students».

Em parte contra mim falo quando pergunto: porque razão existe esta relativa apatia por parte estudantes, professores e investigadores? É certo que se vão discutindo as coisas. Alguns professores questionam-me por vezes, enquanto estudante, porque razão é que não reclamamos mais, de todo, ou a tempo e horas. Que me lembre, as últimas grandes manifestações de estudantes passaram-se no tempo em que a Ferreira Leite era ministra da Educação.

Noticiava-se hoje o 40º aniversário da Crise Académica de 1969 [vídeo RTP], quiçá o momento mais alto da contestação estudantil em Portugal, com as repercussões que veio a ter no regime. Os tempos são diferentes, mas a Universidade, praticamente a todos os níveis, volta a estar em crise. Basta percorrer alguns blogues de professores universitários como o Universidade Alternativa, o Que Universidade? ou o Polikê?, para se perceber do que falo.

Se do lado dos estudantes o interesse e a discussão tem sido menor. Basta recordar, por exemplo, que - e é um mal geral - passamos por um aumento enorme de propinas, por Bolonha e pela forma como o processo foi executado sem se ter feito grande alarido. Mas se as coisas chegam ao ridículo de as listas dos estudantes para o Senado Académico da UM (já agora, ganho, da parte dos estudantes, por membros da actual AAUM) serem todas irregulares; então, não será preciso dizer muito mais.

Tipicamente seriam os estudantes a dar esse passo de manifestações, mas será que a discussão interna dos e entre professores e investigadores é uma "manifestação" suficiente face à crise que a Universidade vive? As greves feitas na França e no Canadá não foram brincadeira. Duraram três meses e revelam uma enorme determinação. Qual será o ponto de ruptura em Portugal?

Braga: Imagens de Marca

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Google Street View em Braga

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Google street view
© ottosohn
Lisboa, Porto e [, no início do Verão,] Braga são as cidades que se seguem no Google Street View. Portugal surge assim como o nono país "registado" fotograficamente pelo serviço da gigante da Internet a nível mundial, e o quinto em termos europeus. [...]

Um caso recente é o do Reino Unido onde inclusivamente uma organização civil fez chegar uma queixa ao organismo britânico que trata a matéria da privacidade, não obtendo contudo resposta favorável. [TeK]

Não conheço estudos sobre o potencial impacto que o Google Street View tem/teve noutros (apenas) oito países, mas, servindo em parte como turismo virtual, imagino que poderá beneficiar bastante o turismo real bracarense.

Contudo, mesmo admitindo-se que não vá contra a lei (neste caso britânica), vão-se colocando (e não é pela legalidade que se deixam de colocar) alguns problemas a nível da privacidade (texto-carta original que o TeK refere). É um assunto que a representante da Google Portugal não deixa de abordar, mas que está bem presente e é sentido pelas populações.

Em todo caso, não é a mera privacidade que apoquenta alguns dos críticos: estes alegam que irá facilitar, por exemplo, o assalto a habitações. Recentemente, os habitantes de Broughton, uma terra relativamente perto de Londres, formaram um cordão-humano e "expulsaram" o carro da Google Street View, invocando esses argumentos. Será que vamos assistir a algo do género em Portugal?

Corrupção em Foco

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Paulo Rangel afirmou ter recebido de Ricardo Rio uma proposta para que "pessoas condenadas por crimes de corrupção" fiquem inibidas "de exercer funções públicas posteriores, nomeadamente no domínio empresarial". [...] "[Esta semana] vamos ter aqui um conjunto de medidas anti-corrupção, designadamente o enriquecimento ilícito, e é porventura possível enquadrar este ponto nestas propostas" [RTP]

A proposta do Ricardo Rio, que há dias comentei, é assim levada à Assembleia da República. É sem dúvida um passo muito positivo.

Desconheço, contudo, qual será o conteúdo total do pacote "anti-corrupção" que o PSD levará a votação (consta que outros partidos apresentarão outros pacotes sobre a mesma matéria). A nível de leis, a corrupção não se resolve com medidas avulsas ainda que eventualmente meritórias, como a do Ricardo Rio será. É urgente uma reforma estruturada (e não impulsiva ou segundo e como resposta a oportunismos) e uma orientação político-criminal nesse sentido.

Estou convicto de que a actual bandeira do enriquecimento ilícito - aparentemente, é essa a "principal" medida do pacote - pouco resolverá. Não se sabe ainda quais são as alterações (diz-se que será quanto ao ónus de prova) à proposta que o PSD apresentou, mas sou bastante crítico da anterior (como refiro no título desse post, não acredito que será, como quase querem fazer crer, o santo graal da luta contra a corrupção).

De qualquer forma e ainda que seja uma medida igualmente contestada pelo sector mais liberal, um passo intermédio lógico, antes de se quase instrumentalizar a criminalização de algo que pode nem se relacionar com corrupção, será este que o PS (após uma década de reivindicação da esquerda) tomou hoje: permeabilização das regras do sigilo bancário, ainda que se dirija, em primeira mão, ao combate à evasão fiscal.

Acontece no Minho | 27

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jorge palma
© Sara Matos

Um Amor de Perdição: Estreia Nacional (cinema)
[17 de Abril, 21h30m. Casa de Camilo, São Miguel de Seide]
Esta poderia ser a história de um encontro entre Simão (Tomás Alves) e Teresa (Ana Moreira), sob fundo de conflito entre duas famílias da burguesia portuguesa… Simão é um adolescente quase criança, solitário, intransigente, narcisista, destrutivo e suicidário que atrai como uma aura fatal, uma luz negra, a maior parte das pessoas com quem se cruza. Mas Teresa existe, ou é apenas uma ideia, uma imagem, um reflexo? Teresa é uma aparição. Um pretexto para uma revolta amoral e violenta, para “Um Amor de Perdição”.

Voo Nocturno, Jorge Palma (música)
[18 de Abril, 22h. Centro Cultural Vila Flor, Guimarães]
Ao longo dos últimos anos, Jorge Palma foi finalmente compreendido por aquilo que é: um magnífico escritor de canções capazes de unir muita gente à volta de uma mesma emoção traduzida em música.

Those Dancing Days (música)
[18 de Abril, 22h. Theatro Circo, Braga]
Quinteto formado unicamente por mulheres, Those Dancing Days é o nome escolhido para dar início ao MUSA, ciclo no feminino dedicado às mulheres, produzido por mulheres, com assinatura de mulheres. As primeiras vêm de Estocolmo, são muito novinhas mas suficientemente criativas para chegarem longe. Pop nórdico cuja voz de timbre pouco vulgar de Linnea Jönsson é do melhor que se faz por aí.

Ventos Animais, Mão Morta (música)
[18 de Abril, 22h. Auditório do Parque de Exposições, Braga]
Depois da extensa digressão dedicada a "Os Cantos de Maldoror", de Isidore Ducasse, os Mão Morta preparam-se para espalhar "Ventos Animais", numa série de concertos em que o mais importante é a visita ao seu vasto património poético-musical. É este o mote para o concerto de 18 de Abril, em Braga.

Danae & os novos crioulos (música)
[18 de Abril, 21h30m. Casa das Artes, Vila Nova de Famalicão]
Danae Estrela, cantora e compositora de Cabo Verde, lança em Março deste ano um novo trabalho “ CAFUCA”. Conta com um formato musical simples mas que não vai deixar ninguém indiferente pela originalidade dos instrumentos envolvidos e pela riqueza e diversidade de sons e influências musicais.

Aibreán (música)
[18 de Abril, 21h30m. Casa das Artes, Arcos de Valdevez]
A Casa das Artes é palco de um concerto de música folk inserido nas Noites Intercélticas de Arcos de Valdevez 2009. Os Aibreán são um grupo irlandês composto por quatro elementos, contando no seu currículo de trabalho com apresentações em palcos como o Sydney Opera House (Austrália), Ireland's National Concert Hall (Irlanda), bem como o destaque principal do Festival Belgium's Dranouter (Bélgica).

A Palavra A (debate)
[21 de Abril, 21h30m. Convívio, Guimarães]
Fenómenos comunicativos do início do século, blogues e redes sociais assumem-se como meios determinantes no exercício de todas as liberdades à escala global. Negócios feitos entre Matamá e Manhattan, circulação de informação mais rápida que a própria sombra, fazedores de opinião no conforto do sofá: estes são os novos horizontes da nossa capacidade de comunicar.

De Automóvel Pelo Ex-Jardim de Portugal

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A destruição da paisagem minhota e a auto-mobilização geral foram assuntos que me pareceram apropriados para iniciar, em 2002, a minha colaboração na edição Minho do Público. Lendo o que recentemente Pedro Morgado aqui tem escrito, julgo que não é descabido recuperar esse texto inaugural:

“Durante muito tempo, o Minho foi bastante elogiado pelo seu bucolismo.

Embora outras características recomendáveis – como, por exemplo, a transbordante alegria da população – não ficassem esquecidas, a qualidade da paisagem sempre mereceu a primazia de uma quase generalizada exaltação, não desprovida, por vezes, de um ou outro traço mais marcadamente kitsch.

‘A paisagem minhota, no coração do Minho, é a dum gracioso presépio, um desses presépios lindos, em que figurassem os aprazíveis reis magos, na sua visita ao prodígio da Galileia’, escrevia Teixeira de Queirós. O Conde de Aurora notava igualmente que ‘no Minho é tudo pequenino, tudo é de brincar, tudo é teatral como um presépio; tudo é graça, tudo é beleza’. Com mais ou menos encómios, as opiniões convergiam. O Minho era, para usar uma expressão do séc. XIX, da autoria de José Augusto Vieira, ‘o jardim de Portugal!’.

A região também tinha uma contabilidade negativa. Durante séculos, foi um movimentado campo de batalhas. E era pobre. Só com o advento do regime democrático é que a água, a luz e o saneamento básico começaram a chegar à maioria das casas rurais minhotas. Em nome da melhoria das condições de vida da população foi, entretanto, legitimada uma série de atentados contra o património cultural e ambiental, como se o desenvolvimento fosse impossível sem deixar um rasto de destruição.

Os tempos mais recentes têm transformado uma parte substancial do Minho num sítio em que os terrenos agrícolas foram decorados com bombas de gasolina e stands de automóveis. A degradação da paisagem minhota, já tão danificada pela construção caótica, tem sido ainda acelerada pela multiplicação de estradas. O modelo de crescimento desordenado não é uma especificidade minhota, nem sequer nacional. Mas, tem, sempre e em todo o lado, os mesmos nefastos resultados.

O tipo de crescimento em voga tem estimulado o uso do automóvel, tornado hoje um objecto quase indispensável. Sucede que, citando o antropólogo Edward T. Hall, ‘o automóvel isola o homem do seu ambiente, bem como de contactos sociais. Permite apenas os tipos de relação mais elementares, que põem muitas vezes em jogo a competição, a agressividade e os instintos de destruição. Se quisermos redescobrir o contacto perdido tanto com os seres humanos como com a natureza, teremos que achar uma solução radical para os problemas colocados pelo automóvel’.

Talvez valha a pena pensar nisto.”

Talvez.

Um País de Asfalto e Betão | 3

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© david collins

Quando soube da construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Praça da Galiza (junto à Central de Camionagem), dei comigo a pensar da crescente dificuldade que é estacionar de forma gratuita na cidade de Braga. As dificuldades impostas ao estacionamento no centro até poderiam inserir-se numa política de estímulo ao uso de transportes colectivos, mas a realidade demonstra que a falta de alternativas torna o uso do carro verdadeiramente imprescindível.

Braga continua a construir-se para o uso do carro. Há mais de um ano, um conjunto assinalável de cidadãos mobilizou-se por uma proposta alternativa de desenvolvimento: construir uma rede de transportes urbanos sobre carris, com ligação à rede ferroviária interurbana que deveria ligar Braga ao Porto, Barcelos, Famalicão e Guimarães. Apesar da simpatia com que as nossas ideias foram recebidas, as políticas municipais de transportes mantêm-se inalteradas, não se conhecendo mais do que pequenos ajustes pontuais no serviço prestado pelos TUB.

Neste país que se faz de asfalto e betão, grande parte do que produzimos evapora-se em combustíveis, consome-se em borracha de pneu e desgasta-se em viagens verdadeiramente desgastantes. A alternativa está à vista de todos.

Dá Deus NUT's a Quem Não tem Dentes

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Vale do Tâmega/Sra da Graça
© samura

A redefinição das Comunidades Intermunicipais (CIM) para organizar o aprontamento das bocas perante a postura da galinha dos ovos do QREN dá origem a engraçados mapas. Fenómeno caricato tal, e não só no litoral minhoto, que não tendo congruência com a realidade e as sinergias entre as populações dos concelhos que as integram, dizem mais do oportuno relacionamento "pessoal e institucional "entre autarcas.

Se não vejamos. A CIM do Ave, arranjou um inesperado membro em Mondim de Basto, concelho encostado a Vila Real e do mesmo distrito, porque a boa relação entre os edis de Cabeceiras de Basto e Mondim assim o ditou. Foi como um convite para a sueca. Por outro lado, e talvez para não se ter de sentar à mesa com tais personagens, o presidente da Câmara de Celorico de Basto deixou-se ficar na tainada do Tâmega com a gente interessante de Amarante, Baião ou de Marco de Canaveses, e isto apesar de muita de população do seu concelho fazer vida e negócio com muitos dos concelhos do Ave. Já Ribeira de Pena então, para não se sentir um enclave com a debandada, delegou-se para a CIM de Alto Trás-os-Montes.

O trágico é que com o capricho e o oportunismo das circunstâncias, a Região de Basto perdeu uma ocasião única (definida até por defeito) para ter os 4 concelhos que a compõe unidos num mesmo espaço administrativo - fosse do Ave ou do Tâmega - e sentados à mesma mesa. Tal desígnio potenciaria a Região de Basto como um pólo de influência e como Marca forte no mercado competitivo do sector primário ou do Turismo. Sem isso, ficam os empreendedores órfãos e os consumidores confusos.

Já o parecia antes, mas nunca como agora dizer-se de Basto teve tanto de romântico como dizer-se da Galécia ou do Al-Andaluz. Temos pena...

A Pior Escolha Possível?

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As reacções e considerações são díspares, mas o Paulo Rangel, em si, parece-me que não é uma má escolha. O que poderá fazer dele a pior escolha possível é o seu actual cargo de líder parlamentar.

1. Não tendo grandes dúvidas de que dará um bom deputado europeu, apesar de ser discutível se ele é a melhor escolha para cabeça de lista. O PSD teria muitos nomes sonantes, mais adequados a essa figura.

2. A justificação para o timing do anúncio (53 dias) relaciona-se exactamente com o cargo do Paulo Rangel: "facilita a compatibilização da nomeação com a tarefa de líder parlamentar". O que poderá muito bem ser uma treta, já que também dizem que foi para não "desfoc[ar] a atenção na crise" e a verdade é que o anúncio ofuscou uma significativa notícia da crise em Portugal, como lembra o Daniel Oliveira.

3. O Paulo Rangel começa activo, ou falador. Começou logo por anunciar que não vai aceitar “a mordaça que Vital Moreira pretende por aos problemas nacionais na campanha”; manifestando ainda uma profundíssima confusão entre o que é nacional e o que é europeu com a promessa de que irá ser uma “força política de ruptura capaz de inaugurar um tempo novo para os portugueses.

4. O tempo o dirá, mas a escolha da Ferreira Leite implica que durante alguns meses a principal figura do PSD no parlamento e a que tem tido maior destaque e intervenções na política nacional vai andar a falar de alhos e bogalhos. Falar de política nacional nas eleições europeias é um tiro no pé. O Rangel dificilmente conseguirá evitar isso. Se evitar, o PSD fica mudo. A ideia de uma possibilidade de uma "compatibilização da nomeação com a tarefa de líder parlamentar" é um risco enorme, injustificado e desnecessário. A brincadeira poderá custar bastantes votos ao PSD, apesar de haver gente que não concorde.

5. É difícil de perceber a própria aceitação do Paulo Rangel. Nenhum político em ascensão que tenha ambições para algo maior no curto-médio prazo se candidata às europeias. Tem pouca visibilidade. Para ele é uma travagem a fundo. A ideia de sacrifício tem sido difundida. Mas só percebo esta opção como uma espécie de admissão de que a Ferreira Leite, não obstante ter obtido "uma vitória contra o ninho de víboras que a ajudou a eleger", não irá conseguir sobreviver às legislativas. De certo saberá o que se passa nos bastidores.

Privacidade | 2

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The European commission has launched legal proceedings against the UK government for alleged breach of EU data protection laws caused by controversial internet advertising company Phorm.

Telecoms commissioner Viviane Reding said UK law will have to change to ensure the confidentiality of communications by prohibiting interception and surveillance without a user's consent. [Guardian]


No meu primeiro post aqui no Avenida Central abordei de uma forma geral a temática da privacidade, dando, entre outros, um exemplo do Reino Unido. É curioso que se dê mais atenção a isto no Brasil do que em Portugal (uma passagem por algumas edições online de jornais não revelou grande destaque; se é que o noticiam, nalgum "canto" do site), com notícias não só sobre a instauração do processo, mas também sobre outros casos relacionados [1, 2, 3].

Até porque os abusos, mais ou menos ocultos, também acontecem por cá, mesmo pela mais insuspeita das organizações, reafirmo que esta é uma preocupação que deve ser partilhada por todos.

O Reino Unido irá ser, porventura, obrigado a alterar as suas leis. As nossas serão melhores? O seu cumprimento é devidamente fiscalizado? Pode-se afirmar que são efectivas, quando é possível montar uma base de dados de 2.75% da população portuguesa, mediante o pagamento de uma multa até 15 mil euros?

Um País de Asfalto e Betão | 2

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Autoestradas do Norte de Portugal
© Expresso

Segundo o jornal Expresso, Portugal tem nove auto-estradas que não são necessárias. O critério da análise baseia-se no volume de tráfego a partir do qual se justifica construir uma auto-estrada e aponta três auto-estradas no Norte (A7, A11 e A24), duas no Centro (A14, A17) e quatro no Sul (A10, A15, A13 e A6). É importante salientar que o critério não é muito fiável. Desde logo porque compara autoestradas pagas com autoestradas sem custos para os utilizadores, mas também porque uma análise por troços revelar-se-ia radicalmente diversa da apresentada. Seja como for, e excluindo a região do Nordeste Transmontano, o país está consideravelmente bem servido em termos de auto-estradas e «não é expectável que a taxa de motorização da população portuguesa venha a crescer, sobretudo a curto prazo».

Contrastando com o fetiche das autoestradas, as políticas governamentais continuam a negligenciar o investimento em alternativas ao transporte rodoviário, nomeadamente no desenvolvimento de uma verdadeira rede de transportes ferroviários. Portugal está muito abaixo da média União Europeia em termos de ferrovia e, apesar de felizes, as propostas do Governo nesta matéria são claramente insuficientes para fazer face ao atraso do país.

Deserto a Norte

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President Pöttering in the choice box
© European Parliament
Além de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, o quiosque multimédia [Choice Box] vai percorrer mais quatro cidades portuguesas (Beja, Évora, Lisboa e Santarém) [Público]

Serão ainda seleccionadas duas sugestões por dia de cada Estado-membro para serem transmitidas em ecrãs gigantes em algumas cidades europeias, como por exemplo Bruxelas. [Tek]

Em Portugal as instalações em 3D estarão disponíveis no Funchal, Faro, Setúbal, Montijo, e Portalegre. [IOL]

Por «as mensagens gravadas t[erem] um tempo limite de 20 segundos» e por se destinar a «chamar a atenção para as eleições europeias em Junho», a Choice Box até pode ser absolutamente inconsequente...

Mas pelo mero simbolismo da coisa, não ficaria mal incluir o centro e o norte do país.

Um País de Asfalto e Betão

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País das Autoestradas
© Rodrigo

Portugal é um dos países com mais quilómetros de autoestradas de toda a União Europeia. Apesar disso, o Governo apresentou recentemente um plano que contempla 1316 novos quilómetros de estradas e auto-estradas, entre os quais se inclui a criação de uma terceira ligação entre Lisboa e o Porto. A opção é polémica, tendo sido alvo da pública e veemente oposição do PSD que erradamente, diga-se, inclui a construção da linha ferroviária de alta velocidade no mesmo pacote contestatário.

A sacralização das autoestradas enquanto motores de desenvolvimento é um tema recorrente na retórica dos sucessivos governos, mas estão por demonstrar os efeitos práticos da aposta. Pelo contrário, a experiência dos últimos anos demonstra que temos excesso de auto-estradas e que estas vias de transporte não se têm assumido como verdadeiras âncoras para o desenvolvimento integrado do país. Afinal, quanto do dinheiro que se injecta na construção de auto-estradas tem retorno em termos de diminuição dos custos associados com a elevada sinistralidade das estradas secundárias e também a nível do aumento da competitividade das nossas empresas? É uma pergunta que gostava de ver respondida, mas à qual, infelizmente, os nossos políticos teimam fugir.

A recente crise dos combustíveis, ao expor as fragilidades dos nossos sistemas de transportes colectivos, legitimou a ideia de que a aposta no transporte rodoviário individual, para além dos enormes custos ambientais, se constitui como um penoso contributo para o acentuar das desigualdades sociais em que vivemos. É consensual que os cidadãos estão hoje mais vulneráveis a interesses que lhe são alheios, como a especulação no mercado petrolífero, e que essa vulnerabilidade aumenta na razão directa da sua dependência do automóvel para as deslocações diárias.

A Nossa Avenida

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Gosto de avenidas. E, talvez porque há 31 anos a subo e desço, gosto da nossa Avenida da Liberdade. Após várias décadas de crescimento contínuo da cidade, a centenária avenida (1909) parece-me ainda hoje a única avenida de Braga.

A avenida que conheci uns anos após esta imagem tinha ainda passeios largos e com desenho, tinha árvores, tinha bancos, tinha passadeiras e semáforos, tinha dois sentidos de trânsito à superfície, tinha paragens de autocarro, tinha quiosques, tinha esplanadas e cafés decentes, tinha importantes edifícios, tinha prédios construídos em épocas e com feitios muito diferentes (mas quase todos com um grande pé-direito no rés-do-chão), tinha comércio e serviços com anúncios em néon e lojas com grandes montras. Não tinha muros nem murinhos, nem rampas para caves, nem passeios de cimento, nem postes de iluminação variados, nem grandes canteiros de relva inúteis entre os prédios e os carros, nem dezenas de caixas de telefone, tv por cabo e electricidade nos passeios.

A avenida perdeu grande parte da sua dignidade mas ao contrário de muitas outras artérias da cidade, não é aborrecido percorrer os seus mil metros. Se em toda a cidade recente tivéssemos mais avenidas como a da Liberdade e menos ruas, pracetas, rodovias, variantes, viadutos, passagens aéreas e afins teríamos certamente uma cidade a sério.

Avanços Científicos no Tratamento da Depressão

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o depression
© alexnnero

A depressão é uma doença que afecta o cérebro, levando à alteração da configuração de alguns dos seus constituintes celulares (neurónios e células da glia), das comunicações que se estabelecem entre eles (por exemplo, as sinapes) e da concentração de algumas substâncias que nele circulam (por exemplo, sabe-se que neurotransmissores como a serotonina estão diminuídos).

Apesar dos sucessos resultantes do desenvolvimento de novos fármacos antidepressivos, a verdade é que muito está por conhecer no que diz respeito à depressão e ao modo como actuam os medicamentos que têm ajudado a tratá-la. Uma das hipóteses explicativas da acção dos anti-depressivos baseava-se no facto destes fármacos induzirem neurogénese (isto é, o nascimento de novos neurónios) numa área cerebral chamada hipocampo. Contudo, um estudo de investigação desenvolvido na Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho veio demonstrar que, mesmo bloqueando o nascimento de novos neurónios, os antidepressivos continuavam a actuar.

Tal como adianta o Jornal de Notícias,
«os efeitos dos fármacos antidepressivos no aumento da produção de novos neurónios no cérebro não estão directamente relacionados com a melhoria dos sintomas da depressão, como até aqui se pensava. Este estudo revelou ainda que os efeitos terapêuticos dos antidepressivos estão relacionados com a sua acção na morfologia dos neurónios em diferentes áreas cerebrais e na forma como estes comunicam entre eles.»

Na prática, estas descobertas são muito importantes para o aperfeiçoamento dos fármacos já existentes, mas sobretudo para o desenvolvimento de novos medicamentos que actuem directamente nos locais mais afectados pelo desenvolvimento da doença. Segundo alguns dados epidemiológicos, a depressão afecta cerca de 20% da população portuguesa.

O trabalho científico foi desenvolvido por João Bessa e Nuno Sousa, Professores e Investigadores da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho, e foi publicado numa das mais conceituadas revistas mundiais de psiquiatria.
"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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