Avenida Central

No Douro, Esqueceram-se

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© Dario Silva, 19-09-2009

A vida continua, o tempo é de trabalho e de colheita.O local chama-se Quinta de Campanhã e daqui se avista a Régua e a estação do Godim. Na outra encosta repousam-se os olhos na auto-estrada 24 (grátis), no rio Corgo, na linha do Corgo, no apeadeiro de Tanha.E hoje, para além de outras coisas certamente interessantes que aconteceram em Portugal, a CP operou o primeiro Comboio das Vindimas, uma experiência degustada por 250 pessoas.
Parabéns.

Esta Linha É Tua

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Linha do Tua
© Cláudio Rodrigues

Uma das piores características do nosso tempo é a alienação. Serenos, sempre demasiado serenos numa quase anestesia consciente, assistimos ao desmantelamento progressivo do nosso melhor património natural, cultural ou edificado. Tudo é feito com a melhor das intenções, sempre com a melhor das intenções numa quase exaltação de um interesse colectivo que, vamos ver, não passa da oportuna soma de meia dúzia de interesses individuais. O marketing é perfeito, sempre irrepreensivelmente perfeito numa transcendência altruísta que se serve com sucesso no prato do desconhecimento e da ignorância.

É pois com enorme consternação, mas sem grande surpresa que assistimos à morte lenta da Linha do Tua, uma preciosa pérola do melhor património nacional. Na verdade, desde que se soube que seria muito rentável para os accionistas de algumas empresas construir uma barragem no Baixo Tua, um conjunto de factos muito estranhos e ainda mais infelizes colocaram em causa o futuro daquela da linha e hipotecaram a sua operacionalidade no presente.

Incêndio na Estação de Tua
© Gilberto Santos

Como quem se dá ao luxo de queimar notas para acender fogueiras, o Portugal do Século XXI destrói o património que ainda resta perante a impotência das autoridades policiais, a inoperância do Governo e a complacência da opinião pública. Ainda esta semana, um incêndio devastou património da Estação do Tua (Carrazeda de Ansiães). Dia após dia, a Linha do Tua vai-se entregando à degradação e ao abandono que mais não são do que prenúncio de uma morte anunciada.

Ainda há-de crescer mato sobre a linha e do rio ainda hão-de fazer albufeira para alimentar uma barragem. Tudo em nome da salvação ecológica, sempre a salvação ecológica vendida da forma mais dúbia e desleal por via das paredes de betão que protegem ecossistemas. E o património, esse mal-amado desta gente tão pretensamente moderna, ninguém no-lo volta a devolver. Já só resta que acordemos antes que seja tarde demais.

100 Anos e 3 Dias

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Estação da Livração
© J. Lago

A Linha do Tâmega encerra poucos dias depois de soprar um centenário. É o fim de mais um braçal da linha do Douro por mor da política paradoxal do governo na ferrovia. O processo tem ainda a arrogância da falta de aviso prévio - o Governo "socialista" imita de forma mais aguçada e moderna os piores tiques do cavaquismo. Chega a ser salazarista porque ignora, como sempre ignorou, os interesse e a dignidade das pessoas, fria e desumanamente como o Estado Novo afundou Vilarinho das Furnas.

Tenho cada vez mais vergonha desta democracia moribunda, destes políticos de serventia, quais caixeiros-viajantes do status quo económico, de si próprios e da sua nomenclatura. Ainda hoje, o primeiro-ministro foi no seu tom de televenda incentivar à compra de automóveis em prol de uma indústria em falência. Fez o elogio do automóvel, menos democrático, menos cómodo e muito menos seguro que o transporte ferroviário. Estas coisas não acontecem por acaso no mesmo dia.

No próximo fim-de-semana, se não caio em erro, é inaugurado mais um broto do delírio rodoviário português: uma escusada variante de 20 milhões de euros a Arco de Baúlhe, com um seu caprichoso e absurdo viaduto, para o gáudio e o colarinho, os vivas ao discurso acicatado - o viagra que mantém de pé a santidade local, em adiantado estado de putrefacção de regime. Quando não nos damos conta do poder que legamos no voto, temos país que merecemos.

O Embuste | 3

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O Que Resta da Linha do Sabor - Estação do Pocinho

Com o encerramento das linhas do Tâmega e do Corgo, o Interior Norte fica praticamente riscado do mapa da ferrovia nacional. O processo de despojamento das populações transmontanos iniciou-se em 1 de Agosto de 1988, quando a Linha do Sabor foi definitivamente encerrada. Dois anos mais tarde e após um longo processo de degradação do serviço prestado, o Estado viria a encerrar a Linha do Corgo entre Vila Real e Chaves.

Em 1991, seria a vez de encerrar a Linha do Tua entre Bragança e Mirandela, numa decisão muito contestada e mesmo considerado uma alta traição às populações que alguns meses antes haviam eleito Cavaco Silva com destacada maioria. Tal como agora, foram invocadas razões de segurança... Mais recentemente, vários episódios tristes culminaram no encerramento do troço entre Tua e Cachão, um dos percursos ferroviários mais belos de toda a Europa.

A opção de encerrar toda a rede ferroviária do Interior Norte por razões meramente economicistas afigura-se-nos como imoral num momento em que o país compromete grande parte dos seus recursos na construção de uma linha de alta velocidade que servirá apenas a faixa litoral do país. A litoralização da ferrovia é um erro do tamanho do país, a que se soma a falta de visão estratégia que leva à destruição dos roteiros ferroviários turisticamente mais interessantes.

Agora que foi dada a machada final na ferrovia do Interior Norte, esperamos que haja, pelo menos, o cuidado de se preservarem as composições em circulação de modo a que não se repitam os tristes cenários que a fotografia documenta.

A ler: Quem tem medo do povo não merece o povo, por Pedro Garcias; Trás-os-Montes perdeu 300km de linha em 20 anos, no Diário de Notícias.

O Embuste | 2

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Hoje será o dia em que, para além da Linha do Corgo, também a Linha do Tâmega encerrará. Provavelmente serão invocadas razões de segurança... Dá para acreditar?

O Embuste

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Carrazedo
© automotora

Após inundar o país de alcatrão, o Governo avança com a destruição do que ainda resta da rede ferroviária mais pitoresca de Portugal. O encerramento da Linha do Corgo, hoje anunciado como provisório, é mais um capítulo do desencanto com que a maioria socialista vem governando o país.

O anúncio de que o encerramento é provisório constitui-se como novo embuste, depois de conhecidos os contornos do fecho da Linha do Tua. Como se sabe, apesar do Governo sempre prometer que o encerramento seria provisório, consumou-se recentemente a morte definitiva daquela linha, considerada um dos mais belos trajectos ferroviários da Europa.

O encerramento da rede de linha estreita é um erro estratégico brutal que sintetiza a falta de visão dos nossos governantes ao longo do último quartil do século XX e do início do século XXI.

Uma Linha Douro

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O Rio visto da Linha do Douro

O Douro visto da secular Linha do Douro é um dos pedaços mais deliciosos de Portugal. Uma pequena extravagância de dez euros e oitenta cêntimos conduz-nos pelas maravilhosas paisagens entre São Bento e o Pocinho.

Quiseram os homens do nosso tempo que a viagem, que noutros dias se fez até Barca de Alva, passasse a findar no Pocinho. Virá o renascimento da linha, crê-se por aquelas bandas, mas enquanto esses dias não chegam deslumbremo-nos com o Portugal Abandonado que há por ali.

Nordeste: Um Portugal Abandonado [2]

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Paisagem de Miranda do Douro

Porque são mais do que muitos os afectos que me unem ao Nordeste Transmontano, acompanho de perto o quotidiano político daquelas terras. A abertura de um pólo da Universidade de Trás-os-Montes em Miranda do Douro a par do obsessivo apoio à construção de barragens são dois exemplos entre muitos da falta de visão dos seus líderes políticos, provas inequívocas de que ainda não compreenderam por onde deve passar o desenvolvimento estratégico da região.

Lamentavelmente, mais cedo ou mais tarde todos pagamos os erros. E quem mais sofre são as populações de uma terra altamente desertificada e deprimida.

As Estradas Mataram o Comboio do Douro

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Estaçao de Carviçais
© gransaco

«A Linha do Sabor, que ligava o Pocinho a Duas Igrejas, em Miranda do Douro, demorou 30 anos a construir. Mas os governantes que, depois da Revolução de Abril de 1974, tiveram a pasta ferroviária, em especial nos executivos liderados por Cavaco Silva, não precisaram de tanto tempo para acabar com aquela linha e encerrar os troços da Linha do Douro entre o Pocinho e Barca de Alva, da Linha do Tua entre Mirandela e Bragança, da Linha do Corgo entre Vila Real e Chaves e da Linha do Tâmega entre Amarante e Arco de Baúlhe.

Em menos de três décadas, colocaram fim a um património formidável que levou muitas mais a construir e que custou a vida a muitos trabalhadores. Todas estas linhas foram criadas para servir as populações mais isoladas do interior-norte e para permitir o escoamento de alguns produtos da região, como aconteceu com a Linha do Sabor, principal meio de transporte do minério da serra do Reboredo, em Moncorvo.

A desertificação do interior, com a fuga dos mais novos para o litoral e os tradicionais destinos de emigração, o desinvestimento da tutela nas linhas e no material circulante e a ditadura contabilística precipitaram o fim do comboio de via estreita em grande parte das linhas secundárias do Douro, deixando muitas povoações ainda mais isoladas e abrindo caminho ao incremento da rodovia e das empresas de camionagem.

É verdade que os troços encerrados não eram rentáveis, como não o são os metros de Lisboa ou do Porto, por exemplo. Mas, para muitas populações, o comboio era o único meio de ligação que tinham, e nem mesmo a abertura de novas estradas acabou totalmente com esse isolamento. O mais grave é que o encerramento das linhas deixou os carris a saque e inúmeras estações, algumas de grande beleza, ao abandono.»

Excelente trabalho do jornalista Pedro Garcias a ler integralmente no Público de hoje.

Nordeste: Um Portugal Abandonado

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A necessidade de uns dias de pleno descanso levou-me até ao Nordeste Transmontano, as terras que guardam as minhas raízes e parte do meu coração. Esta é a crónica de uma viagem por terras únicas cravejadas de gente acolheadora, num Portugal que está abandonado. O abandono sente-se na mágoa das gentes e no silêncio dos espaços. Lugares que já foram torrentes de vida humana, são hoje sustento para ervas daninhas. Lugares onde a única sinfonia humana é a das paredes que se desmoronam por falta de manutenção.

O Nordeste precisa, urgentemente, de um plano de salvação. E a salvação só consegue por duas vias: por um lado, com o emparcelamento das pequenas propriedades, criando áreas de cultura de produtos de qualidade superior, seja vinho, seja azeite, seja castanha ou batata e, por outro lado, com a criação de áreas de turismo, capazes de atrair ainda mais turistas e competir com outros centros nacionais e internacionais. Fazer de todo o Nordeste um museu humano para ver, de onde em onde, os poucos que por lá vão subsistindo está a levar uma desertificação e a uma decadência atrozes, cujas consequências serão, a curto prazo, ainda mais dolorosas.

Não se percebe o abandono da 'cidade perfeita' erigida no Barrocal do Douro, em Picote, quando foi construída a barragem. Tanto as casas dos engenheiros como a pousada poderiam constituir-se como um importante pólo de turismo de qualidade para toda a região das Arribas do Douro. Este complexo está, felizmente, em vias de ser classificado pelo IPPAR.

Não se percebe o abandono da maioria das estações da antiga linha que ligava o Pocinho a Duas Igrejas, nem a incapacidade para construir uma ciclovia no seu trajecto. Como também não percebe o abandono de tantos e tantos edifícios das antigas escolas primárias dispersas pelas aldeias e lugares de todo o Nordeste. Com poucos recursos seria possível criar centros dedicados ao apoio à terceira idade em alguns destes locais e, noutros, núcleos de divulgação turística.

Não se percebe o abandono da Lama Grande, um dos pontos mais altos da Serra de Montesinho. Neste caso, a casa do Parque Natural, que já fora em tempos alugada para turismo de montanha, está tristemente vandalizada, tendo inclusivamente sido retirados 3 dos 4 painéis de energia solar que lhe serviam de sustento energético.

Apesar de tudo, Bragança e Miranda conseguiram fazer o seu passado histórico e monumental conviver lado a lado com o futuro. São cidades bem dimensionadas, bonitas e acolhedoras. Sendim, que chamou a si o epíteto de Capital das Arribas, consegue potenciar-se turisticamente por via das iniciativas culturais que promove: uma aposta igualmente ganha. Casos de sucesso, mas muito pouco para uma região que ocupa um vasto território e alberga muitas das histórias que compõe a História do país.

É tempo de recuperarmos o Portugal que continua abandonado e que, antes de descobrirmos Tailândias e Méxicos, saibamos (re)descobrir o nosso país.
"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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