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Norte Sem Norte

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Santuario Santa Luzia - Viana do Castelo - Portugal
© SGandara

O Jornal de Notícias dedica um conjunto de reportagens à situação difícil em que se encontra o Norte de Portugal, encravado encalhado entre os seus próprios defeitos e os defeitos do país. Curiosamente, na lista do que o Norte tem e não tem, 11 das 13 categorias são dedicadas ao Porto. E este é o primeiro sintoma da doença do Norte: goste-se ou não, o portocentrismo é asfixiante para o Norte. Na verdade, quando se fala na crise do Norte quer-se dizer crise do Porto porque o Norte para além do Porto nunca saiu verdadeiramente da crise em que vive desde a Idade Média.

Esta Linha É Tua | 2

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Aldeia Submersa Vilarinho das Furnas Gerês Braga
© Rosete Pereira

O preço do desenvolvimento do país é invariavelmente pago pelos mesmos. Se em Vilarinho das Furnas, os benefícios pareciam superar os inconvenientes de construir a barragem, o mesmo não pode ser dito da mais do que anunciada barragem do Baixo Tua. Fazer submergir uma das mais belas linhas ferroviárias da Europa é destruir um património ímpar que o país deveria pôr a render. A Linha do Tua não pode morrer.

O Embuste | 3

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O Que Resta da Linha do Sabor - Estação do Pocinho

Com o encerramento das linhas do Tâmega e do Corgo, o Interior Norte fica praticamente riscado do mapa da ferrovia nacional. O processo de despojamento das populações transmontanos iniciou-se em 1 de Agosto de 1988, quando a Linha do Sabor foi definitivamente encerrada. Dois anos mais tarde e após um longo processo de degradação do serviço prestado, o Estado viria a encerrar a Linha do Corgo entre Vila Real e Chaves.

Em 1991, seria a vez de encerrar a Linha do Tua entre Bragança e Mirandela, numa decisão muito contestada e mesmo considerado uma alta traição às populações que alguns meses antes haviam eleito Cavaco Silva com destacada maioria. Tal como agora, foram invocadas razões de segurança... Mais recentemente, vários episódios tristes culminaram no encerramento do troço entre Tua e Cachão, um dos percursos ferroviários mais belos de toda a Europa.

A opção de encerrar toda a rede ferroviária do Interior Norte por razões meramente economicistas afigura-se-nos como imoral num momento em que o país compromete grande parte dos seus recursos na construção de uma linha de alta velocidade que servirá apenas a faixa litoral do país. A litoralização da ferrovia é um erro do tamanho do país, a que se soma a falta de visão estratégia que leva à destruição dos roteiros ferroviários turisticamente mais interessantes.

Agora que foi dada a machada final na ferrovia do Interior Norte, esperamos que haja, pelo menos, o cuidado de se preservarem as composições em circulação de modo a que não se repitam os tristes cenários que a fotografia documenta.

A ler: Quem tem medo do povo não merece o povo, por Pedro Garcias; Trás-os-Montes perdeu 300km de linha em 20 anos, no Diário de Notícias.

Uma Linha Douro

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O Rio visto da Linha do Douro

O Douro visto da secular Linha do Douro é um dos pedaços mais deliciosos de Portugal. Uma pequena extravagância de dez euros e oitenta cêntimos conduz-nos pelas maravilhosas paisagens entre São Bento e o Pocinho.

Quiseram os homens do nosso tempo que a viagem, que noutros dias se fez até Barca de Alva, passasse a findar no Pocinho. Virá o renascimento da linha, crê-se por aquelas bandas, mas enquanto esses dias não chegam deslumbremo-nos com o Portugal Abandonado que há por ali.

Nordeste: Um Portugal Abandonado [2]

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Paisagem de Miranda do Douro

Porque são mais do que muitos os afectos que me unem ao Nordeste Transmontano, acompanho de perto o quotidiano político daquelas terras. A abertura de um pólo da Universidade de Trás-os-Montes em Miranda do Douro a par do obsessivo apoio à construção de barragens são dois exemplos entre muitos da falta de visão dos seus líderes políticos, provas inequívocas de que ainda não compreenderam por onde deve passar o desenvolvimento estratégico da região.

Lamentavelmente, mais cedo ou mais tarde todos pagamos os erros. E quem mais sofre são as populações de uma terra altamente desertificada e deprimida.

As Estradas Mataram o Comboio do Douro

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Estaçao de Carviçais
© gransaco

«A Linha do Sabor, que ligava o Pocinho a Duas Igrejas, em Miranda do Douro, demorou 30 anos a construir. Mas os governantes que, depois da Revolução de Abril de 1974, tiveram a pasta ferroviária, em especial nos executivos liderados por Cavaco Silva, não precisaram de tanto tempo para acabar com aquela linha e encerrar os troços da Linha do Douro entre o Pocinho e Barca de Alva, da Linha do Tua entre Mirandela e Bragança, da Linha do Corgo entre Vila Real e Chaves e da Linha do Tâmega entre Amarante e Arco de Baúlhe.

Em menos de três décadas, colocaram fim a um património formidável que levou muitas mais a construir e que custou a vida a muitos trabalhadores. Todas estas linhas foram criadas para servir as populações mais isoladas do interior-norte e para permitir o escoamento de alguns produtos da região, como aconteceu com a Linha do Sabor, principal meio de transporte do minério da serra do Reboredo, em Moncorvo.

A desertificação do interior, com a fuga dos mais novos para o litoral e os tradicionais destinos de emigração, o desinvestimento da tutela nas linhas e no material circulante e a ditadura contabilística precipitaram o fim do comboio de via estreita em grande parte das linhas secundárias do Douro, deixando muitas povoações ainda mais isoladas e abrindo caminho ao incremento da rodovia e das empresas de camionagem.

É verdade que os troços encerrados não eram rentáveis, como não o são os metros de Lisboa ou do Porto, por exemplo. Mas, para muitas populações, o comboio era o único meio de ligação que tinham, e nem mesmo a abertura de novas estradas acabou totalmente com esse isolamento. O mais grave é que o encerramento das linhas deixou os carris a saque e inúmeras estações, algumas de grande beleza, ao abandono.»

Excelente trabalho do jornalista Pedro Garcias a ler integralmente no Público de hoje.

Nordeste: Um Portugal Abandonado

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A necessidade de uns dias de pleno descanso levou-me até ao Nordeste Transmontano, as terras que guardam as minhas raízes e parte do meu coração. Esta é a crónica de uma viagem por terras únicas cravejadas de gente acolheadora, num Portugal que está abandonado. O abandono sente-se na mágoa das gentes e no silêncio dos espaços. Lugares que já foram torrentes de vida humana, são hoje sustento para ervas daninhas. Lugares onde a única sinfonia humana é a das paredes que se desmoronam por falta de manutenção.

O Nordeste precisa, urgentemente, de um plano de salvação. E a salvação só consegue por duas vias: por um lado, com o emparcelamento das pequenas propriedades, criando áreas de cultura de produtos de qualidade superior, seja vinho, seja azeite, seja castanha ou batata e, por outro lado, com a criação de áreas de turismo, capazes de atrair ainda mais turistas e competir com outros centros nacionais e internacionais. Fazer de todo o Nordeste um museu humano para ver, de onde em onde, os poucos que por lá vão subsistindo está a levar uma desertificação e a uma decadência atrozes, cujas consequências serão, a curto prazo, ainda mais dolorosas.

Não se percebe o abandono da 'cidade perfeita' erigida no Barrocal do Douro, em Picote, quando foi construída a barragem. Tanto as casas dos engenheiros como a pousada poderiam constituir-se como um importante pólo de turismo de qualidade para toda a região das Arribas do Douro. Este complexo está, felizmente, em vias de ser classificado pelo IPPAR.

Não se percebe o abandono da maioria das estações da antiga linha que ligava o Pocinho a Duas Igrejas, nem a incapacidade para construir uma ciclovia no seu trajecto. Como também não percebe o abandono de tantos e tantos edifícios das antigas escolas primárias dispersas pelas aldeias e lugares de todo o Nordeste. Com poucos recursos seria possível criar centros dedicados ao apoio à terceira idade em alguns destes locais e, noutros, núcleos de divulgação turística.

Não se percebe o abandono da Lama Grande, um dos pontos mais altos da Serra de Montesinho. Neste caso, a casa do Parque Natural, que já fora em tempos alugada para turismo de montanha, está tristemente vandalizada, tendo inclusivamente sido retirados 3 dos 4 painéis de energia solar que lhe serviam de sustento energético.

Apesar de tudo, Bragança e Miranda conseguiram fazer o seu passado histórico e monumental conviver lado a lado com o futuro. São cidades bem dimensionadas, bonitas e acolhedoras. Sendim, que chamou a si o epíteto de Capital das Arribas, consegue potenciar-se turisticamente por via das iniciativas culturais que promove: uma aposta igualmente ganha. Casos de sucesso, mas muito pouco para uma região que ocupa um vasto território e alberga muitas das histórias que compõe a História do país.

É tempo de recuperarmos o Portugal que continua abandonado e que, antes de descobrirmos Tailândias e Méxicos, saibamos (re)descobrir o nosso país.

Investimentos que (re)colocam o Nordeste Transmontano no mapa

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Num momento em que tanto se fala acerca dos aeroportos nacionais, a Câmara Municipal de Bragança está apostada em colocar aquela cidade no mapa aeroportuário português, constituindo-se como alternativa ao aeroporto do Porto e destino de voos turísticos de baixo custo. A instalação de uma empresa de Braga, a Aeronorte, com oficinas de reparação de aeronaves, e a aquisição de um sistema de apoio à navegação aérea (investimento de 1,3 milhões de euros) representam uma conjugação de investimentos públicos e privados capazes de tornar o Aeródromo de Bragança apetecível para as operadoras aéreas.

Segundo o Presidente da Câmara de Bragança, citado pelo Primeiro de Janeiro, aquele aeródromo é, no conjunto da rede dos 24 aeródromos do país, o que reúne melhores condições, quer em termos de comprimento quer em termos de qualidade da pista.

Este projecto despertou interesse nos promotores do FunZone Villages, um grande investimento projectado para o Nordeste Transmontano que prevê a construção de um empreendimento turístico com aldeamento de luxo de 200 moradias e 2.000 camas, 9 restaurantes, parques aquáticos, barragem privada, estação de tratamento de esgotos, centro médico, pista artificial de esqui e uma praia privada onde será possível praticar surf. O equipamento estará também totalmente vocacionado para receber pessoas com deficiência [via Jornal de Notícias e Público].

A aposta em equipamentos capazes de potenciar o investimento privado é um exemplo a ser seguido pelas autarquias do país que tantas vezes concentram a sua actividade na criação de serviços desnecessários a custos exorbitantes que não são mais que um pretexto para a criação de empregos clientelares.
"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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