"Numa área da educação [sexual] tão ligada às questões éticas, morais e religiosas, é inadmissível que haja esta espécie de ditadura da Assembleia da República", diz Isabel Lima Pedro, do MOVE, defendendo que a liberdade de escolha dos pais é a melhor solução para todos. [Expresso]
Nem vale a pena fazer grande alusão "às questões éticas, morais e religiosas". Na maior parte dos casos acredito que será um mero eufemismo para "fé" ou "religião", o que torna qualquer discussão absolutamente inútil.
Bem sei que a própria lei confere esse direito de orientação da educação - inclusive da religiosa - aos pais. Mas, na minha opinião, é um direito que deve ser exercido com responsabilidade, sem fundamentalismos, com moderação e no melhor interesse, não dos pais, mas (sempre) dos filhos.
O que este grupo de pais defende, aparentemente, é a substituição de "inadmissível" ditadura da Assembleia da República por uma outra, ditadura, que já entendem como admissível. E a expressão ditadura não é despropositada, pois, de facto, a liberdade de escolha [menos a dos adolescentes] é a melhor solução para todos.
Existe uma diferença inegável entre um adolescente de 10 anos e um adolescente de 17 anos e 364 dias. Por um lado, consigo compreender a posição dos pais se aplicada à fase inicial da adolescência. Por outro, já não consigo compreender, de todo, como é que pais que são, obviamente, envolvidos e dedicados e que, certamente, procurarão a melhor educação possível para os seus filhos, concebem essa educação sem conferirem algum grau (evolutivo, ao longo da adolescência) de liberdade de escolha aos seus filhos. Aliás, se essa liberdade não existe, também não pode existir responsabilidade e esta não nasce do nada, magicamente, aos 18 anos.
Por uma vez que seja, deixem que quem governa faça aquilo que os jovens, a quem a medida exclusivamente se dirige, já reivindicam há muitos anos. Aquele vasto grupo da população que não pode votar e raras vezes vê os seus anseios respondidos pela classe política. Já agora, outra das reivindicações, essa mais recente, é o voto aos 16 anos.
Emn democracia é difícil gerir tantos poderes por vezes antitéticos...
ResponderEliminarPor esta ordem de razões gostava de saber se devem ser os mesmos adolescentes a determinar o programa educativo da escola? ou a organização desta? OU somente são «peritos» em educação sexual?
ResponderEliminarCaro Miguel,
ResponderEliminarNão percebo em que medida é que uma coisa implica a outra. De todo.
O facto de os trabalhadores reivindicarem os seus direitos, faz deles peritos em legislação laboral e em economia?
A oposição de certos grupos de pais a esta medida faz deles peritos em Educação Sexual?
Não confunda as coisas, por favor. A definição dos conteúdos programáticos e dos métodos pedagógicos compete a determinadas pessoas. Mas não são estas, nem os pais que vão ser o "alvo" dessas definições. De um modo geral, quanto à educação, o input de professores e de alunos, muito mais do que o dos pais, é extremamente valioso, pois presenciam e vivem a realidade escolar, ao contrário dos pais, por muito dedicados que sejam.
O que eu afirmei quanto à liberdade-responsabilidade não é nada de extraordinário. O salto que você faz para a definição de conteúdos programáticos, não me parece ser, de todo, uma consequência lógica do que eu afirmei.
Mas para lhe ser sincero, o curso de Psicologia da Universidade do Minho considera que aos 18 anos (alguns ainda com 17) são capazes de escolher as cadeiras do seu 1º ano (e subsequentes). Não se trata, evidentemente, de definir o conteúdo programático. Mas de uma mera liberdade de escolha, consciente e informada. Não são idiotas nenhuns, sem vontade própria. Podem não ser doutorados na matéria, mas os adolescentes sabem quais são as suas necessidades, os seus gostos e os seus interesses.
Noutros países, como nos EUA ou Canadá, acham-nos capazes de construir os cursos com minors e majors. Passo a passo, evidentemente. Mas essa autonomia, independência não se atinge sem liberdade ou responsabilidade, magicamente, aos 18 anos. Quer se queira, quer não, essas ideias próprias existem.
Já pela sua ordem de ideias, um adulto que tivesse liberdade para defender o que quer, que tivesse interesses próprios ou comuns aos seus pares, não teria legitimidade para os defender, pois só um doutorado (e sabe-se lá se isso chegaria) é que poderia defender tal coisa.
Não, para invocar ou exigir direitos não é preciso ser um sábio. E quanto à educação sexual não se trata, pois, de um mero interesse ou desejo. Trata-se de um direito.
Concordo com o argumento, o facto dos trabalhadores reivindicarem os seus direitos, não faz deles especialistas em matéria laboral.
ResponderEliminarMas usando da mesma argumentação, também posso dizer que uma reivindicação por ser reivindicação não significa necessariamente que seja boa e necessária. Mesmo quando os próprios dizem dela ser um «direito» seu. Assim, não é pelo facto de um grupo de pessoas reivindicar o afastamento de pessoas estrangeiras porque lhes estão a tirar o seu local trabalho, «um direito seu», não significa que a mesma deva ser atendida.
Claro que aqui não se trata de colocar em questão a necessidade da educação sexual. Reconhecida por todos como necessária. Mas sim discutir-se o ambiente ou local onde deva ser dada.
Certamente que se se entender por educação sexual um conjunto de princípios de técnicas para conseguir prazer e evitar-se uma gravidez, creio que a escola conseguirá os melhores «técnicos»; se falarmos da educação sexual como educação para os afectos, não creio que consiga rivalizar com o ambiente familiar. Entendido este num sentido normal, não puxando para o assuntos os casos tipo ou extremos onde este ambiente familiar não possa seque proporcionar o mínimo de afecto.
Mas apesar de tudo, gostaria muito de ver implementada esta educação sexual nas escolas,segundo o programa que bem entendessem, acompanha de distribuição de todos os meios para evitar os ditos «dissabores». É que como diz, chegamos à etapa daquilo que para o qual a escola não tem educado: a etapa da responsabilização. Com toda a educação ministrada e com o apoio te todos os meios técnicos, seria altura de responsabilizar aqueles e aquelas que, de modo, leviano, pensam que se pode fazer tudo porque há sempre um meio técnico ao dispor para remediar o mal...