Estado Laico Evangelizador
© Francisco
A história que me têm contado é mais ou menos esta: há muito muito tempo houve um rei que doou um couto ao Mosteiro de Tibães. Ao longo de vários séculos, os monges cobravam impostos e administravam justiça em vastos territórios da Póvoa de Lanhoso à Póvoa de Varzim. No fundo, governavam(-se) à custa do património que o rei lhes doara, mas que era, por direito natural, do povo. No século XVIII, o Marquês do Pombal expulsou as ordens religiosas e ficou-lhes com parte das propriedades que haviam tido o mérito de construir e gerir.
Uma parte significativa do Mosteiro de Tibães foi então vendido a particulares, algumas das obras de arte do seu espólio transferidas para depósitos do Estado e o vastíssimo património que restou ficou entregue à volúpia do tempo, à incúria dos proprietários e à inconsciência do povo. Acabou profundamente degradado, tendo sido readquirido pelo Estado em 1986.
Iniciou-se então um longo processo de recuperação que ainda perdura e que devolverá ao espaço algum do encanto perdido. As intervenções avançam em várias frentes, incluindo a recuperação do espaço físico da cantina e da ala sul, pela recriação da biblioteca em formato digital e pela instalação de uma hospedaria e um restaurante.
Não posso deixar de manifestar toda a minha incredibilidade quando descobri, através da leitura de uma publicação religiosa distribuída em Lisboa, que o objectivo do restaurante e da hospedaria instalados no edifício público seria evangelizar. Leram bem, evangelizar. No jornal Cavaleiros da Imaculada lê-se que oito irmãs da ordem religiosa Trabalhadoras Missionárias «irão evangelizar através de um restaurante e de uma hospedaria. Servem as refeições e, no final, abordam temas actuais à luz do Evangelho e convidam as pessoas a rezar em conjunto.»
O Mosteiro de Tibães é um dos espaços mais belos do país, não podendo deixar de estar aberto à visita e à fruição de todos. Como tal, não podemos permitir que o Estado, que se quer laico, invista milhões de euros em intervenções em edifícios públicos para os entregar ao serviço da evangelização de alguns. Onde está a massa crítica de Braga e do país?
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neste caso acho que o estado primeiramente esta a tentar recuperar o patrimonio arquitectonico unico em Tibaes,e nao a fazer favores evangelicos. Mas condenado-lhe no entanto a falta de imaginaçao para serem eles proprios a explorar o conjunto, com novas estrategias e porque nao o tal museu internacional que falaou passar para Tibaes, acho mais facil a conciliaçao de funçoes com o mosteiro que com o estadio municipal de Braga, no qual o governo enterrou milhoes para entregar á religiao moderna( futebolismo).vamos ser mais coerentes naquilo que dizemos e naquilo que defendemos.
ResponderEliminarclaro que os evangelicos(de olho aberto) vao tentar utilizar o nome do mosteiro e a sua arquitectura para tentarem vender o seu peixe. do mesmo modo que as autarquias fazem as obras para promoverem o partido...
nao podemos ser mais papistas que o papa.a defender a separaçao entre politica e religiao...
"...A história que me têm contado é mais ou menos esta: há muito muito tempo houve um rei que doou um couto ao Mosteiro de Tibães. Ao longo de vários séculos, os monges cobravam impostos e administravam justiça em vastos territórios da Póvoa de Lanhoso à Póvoa de Varzim. No fundo, governavam(-se) à custa do património que o rei lhes doara, mas que era, por direito natural, do povo."
ResponderEliminarEste post demonstra duas coisas:
1º o seu autor está a leste da históra do mosteiro de Tibães e limitou-se a fazer uma descrição incipiente demonstrando um desconhecimento atroz relativamente à época da sua fundação e à própria função que ele desmepenhava na idade média.
Fala em Estado como se este na idade média fosse a mesma coisa nos dias que correm.
Esquece que eram as ordens as principais resposáveis pela prestação de serviços que hoje incumbem ao Estado: educação,administração de Justiça, saúde, etc.
Talvez uma pequena visita contribuísse para o esclarecimento.
2º Foi necessário ir à capital para ficar a saber que existe um plano de revitalização do mosteiro quando tal já é notícia à anos.
Como costumo dizer, o provincianismo não implica morar fora do centro urbano.
Apesar de não ser religioso não me incomodo que este monumento (o mais importante da região e um dos mais importantes da Europa) seja recuperado e revitalizado desta forma. Era o que faltava que o Estado financiasse o jogo da bola ignorando o resto.
O Pedro confunde laicismo com extremismo.
O facto de ser laico não impede o Estado de apoiar as instiuições que operam em Portugal e que de uma maneira ou de outra contribuem para o apoio e desenvolvimento nas mais variadas áreas da sociedade.
É curioso que aqueles que apregoam o liberalismo e a diminuição das funções do Estado sejam simultanemente os primeiros a clamar pelo seu intervencionismo.
Então não seria interessante apoiar um enolvimento da sociedade nesta questão? Não foram os mecenas (privados) que apoiaram grande parte da recuperação do monumento?
Qual é o problema de se permitir a exploração do espaço por outra entidade durante um certo período de tempo quiçá renovável?
Quais os benefícios?Vários: o espaço seria vivo e poderia acolher diversas actividades desempenhando um centro de exploração da região ao nível do turismo religioso, cultural, gastronómico, etc...
O espaço não ficaria abandonado impedindo que se degradasse e exigisse posteriores intervenções.
Entre outras.
Era o que faltava que fosse o Estado a gerir o restaurante e a hospedaria.Essas não são as suas funções.E não me choca que seja uma entidade religiosa a geri-lo já que esse é o espírito do local.
A não ser que pretendesse que se instalasse lá o sardinha biba ou o pacha...quem sabe o enterro da gata?
Se pretendem evangelizar ou não isso já não sei, mas acredito que esta palavra tenha vários significados.Talvez mostrar ao mundo o papel das ordens que ocuparam o local, o trabalho levado a cabo a partir do mosteiro em toda a região durante a idade média e períodos subsequentes, talvez um centro de interpretação ou apoio à comunidade...
Mas na cabeça de alguns trata-se de colocar o turista a rezar ao fim da refeição.
Pode surgir agora o argumento da igualdade de culto: pois sim, mas isto não implica discriminação por si só já que não acredito que os muçulmanos ou judeus se pretendessem instalar no local para além do facto do monumento estar acessível a todos.
Já agora deixo um link que pode ajudar a compreeder a história do M.T. mas nada melhor do que várias visitas:
http://www.mosteirodetibaes.org/
p.s. será que me "portei mal" neste comentário?
anónimo Manuel Nunes.
Neste caso Pedro, não concordo de todo contigo.
ResponderEliminarPartilho da opinião dos comentários acima.
.........volte para Braga apanhou um vírus em Lisboa.
ResponderEliminarNão sei se devo intervir - não fui convidado a isso - mas gosto do têma. Assim, se for inconveniente, gostaria que me dissesse para, posteriormente, me abster de me manifestar.
ResponderEliminarDeste modo, e respeitosamente, gostaria de dizer que o Estado é, deve ser!, a organização politica e administrativa os cidadãos. Assim sendo o Estado, não deve, não pode!, ser indiferente aos interesses religiosos dos seus cidadãos. Tal como não deve ser indiferente a quaisquer outros interesses legítimos.
Assim, só deve, só pode!, apoiar com equanimidade todos os cidadãos e suas instituições.
Por estas razões acho muito adequada a opção de instalar uma comunidade religiosa no Mosteiro de Tibães.
Fernando Castro Martins
http://destemodo.blogspot.com
Acredito mais na exploração da "estalagem" por uma entidade privada não religiosa...Mas alguma entidade religiosa explora, em Portugal, uma estalagem do Estado?
ResponderEliminarNão creio...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarQuero endereçar os meus honestos parabéns para o Manuel lá de cima.
ResponderEliminarQuanto ao resto, o amigo Morgado continua com os seus gritos alarves, ao bom estilo "Estáááááááá no ar, o Bataaaaaaatooooooon...", na sua querela pseudo-tolerante de desinfecção, como se estas merdas da acção evangelizadora dos católicos (sempre os católicos, ó Morgado? Apanhaste tau-tau na catequese, foi?) causassem incómodo intolerável digno destas letras fúnebres com que o escriba-mor deste blogue nos prenda. Como se ele, o mui nobre escriba, estivesse a preencher um qualquer processo formal de sensibilização (atente-se no repto final bem ao modo (sem o estilo, obviamente) de "O Problema da Habitação" de Ruy Belo) anti-tudo-aquilo-que-desagrada-ao-pedro.
Por fim, e imaginem bem a coincidência para terminar, estou em crer que estas bujardas já tiveram razão de ser. Tiveram. Infelizmente, para o Pedro, na altura em que poderia fundamentadamente escrever o que escreve sobre o Estado e a religião, ainda andava a gatinhar aos círculos ao som do Vitinho. Hoje, amigo Morgado, os tempos são outros. As palavras são outras. As prioridades, imagina bem, são outras. Já ninguém se lembra deles, até algum de nós determinar que se deve voltar a falar do que está morto. Vá, que eu sou bonzinho, moribundo. Se toda a gente falar disso, aí, sim, renascem. Esses símbolos que te aterrorizam estão gastos. Padecem. Muito. De um mal maior.
Ah, (bem me parecia que não terminava no parágrafo anterior), Pedro, tu que desejas muito muito muito muito ter um blogue sério, daqueles respeitáveis que aparecem citados nos jornais (também eles sérios e respeitáveis) onde se discutem as relações bilaterais, o desarmamento da Coreia, as invasões russas, onde se criticam as crónicas dos hebdomadários, enfim tudo e tudo, creio que deverias (não, não estou a mandar) ter freio no entusiasmo, óvistes?
Atentamente
Pedro Morgado,
ResponderEliminarExceptuando a parte do papel do Marquês de Pombal na extinção das Ordens Religiosas, que penso ter sido nulo, concordo com o conteúdo do seu post.
Para os que tanto se indignaram, gostaria que me informassem qual o montante financeiro que a igreja católica vai dispender para usufruir de um espaço que não lhe pertence, com o objectivo declarado de angariar mais "clientela".
Cumprimentos
Caro Ribeiro, eu não sei quanto o Estado vai gastar nem sei se vai gastar de todo.
ResponderEliminarPorventura terá sido feito um concurso público ou a própria entidade religiosa tenha dado garantias e contrapartidas.Podem até ser usufrutuários. Mas é óbvio que não se trata de um negócio do género estádios da bola.
Dou aqui uma dica: pedir informação aos responsáveis do mosteiro antes de falarmos daquilo que não sabemos.
Mas também fico estupefacto quando se coloca em causa a gerência de uma simples estalagem e de um restaurante quando se fizeram 10 estádios dados de bandeja a clubes inúteis como o Sporting de Braga e outros que vivem à custa das autarquias.
Será que isso não merece a nossa indignação tal como a nova notícia da construção de um centro de estágios, novamente para essa entidade repleta de empreiteiros chamada SCB (já para não falar nos outros)?
Acredito que do ponto de vista turístico esta medida será muito boa porque será uma atracção a nível Europeu.Não é todos os dias que podemos estar alojados num mosteiro onde a tradição eclesiástica ainda persiste.Com uma mais valia: o turista tipo será do segmento médio alto e não o bebedolas que vem ver o ZHRAVINSKI da conchichina contra o glorioso SCB, limitando-se a comer cerveja durante a sua grande estadia de 17 horas na nossa cidade.
Mas nada melhor do que pedir a um responsável do mosteiro que nos elucidasse aqui no blog.
Anónimo Manuel Nunes
p.s. Caro dr Etc, não me faça elogios por favor porque ainda vão pensar que sou eu a faze-lo com outro nome!
Caro Manuel Nunes,
ResponderEliminarConcordo consigo em relação aos estádios de futebol.
Mas quando diz "...fico estupefacto quando se coloca em causa a gerência de uma simples estalagem e de um restaurante...", acredita que o que está em causa é só mesmo isso?
Cumprimentos
A reinstalação de uma pequena comunidade religiosa no Mosteiro de Tibaes faz parte do plano de reabilitação, recuperação e musealização desse local historico. Que alem do edificio que remonta (de forma documentada) ao inicio de seculo XI inclui uma cerca de 40 hectares que constitui uma area verde fantastica às portas de Braga. E inclui ainda espaços para exposições e eventos (espreitem o palco ao ar livre, já quase pronto,criado com a recuperação do claustro do refeitorio) e um centro de documentação das ordens monasticas e dos jardins historicos (a cerca ganhou em 1998 o premio Carlo Scarpa da Fundação Benneton). Além da já citada hospedaria e restaurante (a que deveria ser acrescentado uma cafeteria) a serem geridos pela futura comunidade religiosa. O objectivo logico do projecto de recuperação foi tentar trazer para Tibaes uma comunidade Beneditina o que, pelo que sei, não foi possivel, depois de contactados os mosteiros beneditinos de Singeverga (que precisavam de um maior isolamento) e do Rio de Janeiro. A opção pelas monjas francesas (na semana passado saíu uma reportagem no diario do minho sobre o assunto) foi portanto uma opção posterior, tratada em conjunto com a igreja de Braga. A opção por esta comunidade especifica deve-se ao facto da mesma gerir habitualmente espaços de restauração para sustentar a própria comunidade. Não me choca nada esta opção (incomoda-me mais que o local se torne excessivamente elitista como uma pousada de Portugal) mas também não concordaria com ela se isso transformasse o espaço num local de evangelização ou proselitismo. Não creio ser o caso, a historia vinculada na publicação (que nao vi) lembra-me mais aqueles panfletos distribuidos em portugal que denunciavam de forma extremamente conservadora e intolerante um suposto (e inaceitavel para o grupo) caminho ecumenico do santuario de fatima. Mas por falar na palavra ecumenico, apesar de não me chocar a vinda dessa comunidade não considero ser essa a melhor solucao para o espaço de Tibaes. Seria na minha opinião muito mais vantajoso para Braga e mesmo para a Igreja ter ali uma comunidade ecumenica e interreligiosa (para quem ve na palavra ecumenico apenas o dialogo entre grupos cristãos). O sucesso de Taize,cujo encontro anual aconteceu em Lisboa à poucos anos, embora naturalmente de caracteristicas e dimensões completamente diferentes, é um bom exemplo a ter em conta. Acho que essa solução se casaria muito melhor com a vocação cultural do espaço e com o funcionamento (muito activo por sinal) da igreja paroquial(que não deixou de ocorrer com a expulsão das ordens religiosas nem com a venda de parte da propriedade a particulares, que durou mais de um seculo, antes da aquisição do imovel em 1986 pelo estado). Alem de que poderia ser complementado na vertente de pesquisa historica (a funcionar com o termino das obras em Outubro, ) com actividades/residencias artisticas que, novamente na minha opinião, não deveriam ser de qualquer tipo, mas aquelas identificadas com questões éticas, socias e ambientais que caracterizam e desafiam os tempos que hoje vivemos. Alias esse poderia ser o eixo organizador e diferenciador (ethical perspective view) de um espaço museologico internacional em Braga, que não acho, por exemplo, que encontre no estadio de Braga as condições essenciais em que deveria estar enquadrado. Porque deveria conciliar uma vertente historica com uma contemporanea (como é feito com sucesso em inumeras situações museologicas) e porque não deveria prescindir de um significativo espaço verde envolvente. Tibaes tem estas condições, mas acredito também que um espaço como esse deveria estar no centro historico, o que não é o caso. Para terminar gostaria de acrescentar que o facto de Tibaes vir a tornar-se em breve um espaço habitado é o tema de uma intervenção artistica colectiva (Labor e Assombro - percursos habitados no espaço monástico) que acontece actualmente e na qual participo enquanto artista e organizador (até 21 de Setembro). E não poderia deixar de aproveitar a oportunidade do tema e algum desconhecimento sobre o que ali se passa para convidar os interessados a visitá-la (há visitas guiadas todos os sabados às 17h) e se for o caso, a conhecerem esse espaço magnifico tão proximo da cidade. Que precisa fundamentalmente de vida, como acredito que as obras em curso vão poder reforçar.
ResponderEliminarCaro Ribeiro, julgo que o tempo do receio fundamentalista religioso em Portugal já lá vai. O monumento em si continuará aberto ao público, de forma livre e desintressada.
ResponderEliminarSou um frequentador assíduo do M.T. mesmo antes da sua compra pelo Estado (eram ruínas e mais ruínas).
Penso que relativamente ao seu uso e exploração cada um terá a sua ideia mas no final de contas penso que a maioria não ficará chocada ou incomodada com esta solução.
O comentário do Foldenfjord contribui para mais um esclarecimento livre de preconceitos.
Julgo que se tivesse havido a preocupação de informar em vez de levantar o receio e a indignação anti religiosa todos nós poderíamos estar a discutir novas formas de ajudar a divulgar este património.
Em todo o caso penso que os comentários que por aqui vão aparecendo ajudam a menorizar aqueles que se julgam no tempo da primeira república.
Deixem lá os moços recuperar aquilo... afinal, julgo eu, só se deixa evangelizar quem quer...
ResponderEliminarAliás, até acho que devíamos todos participar numa mega oração conjunta para velar pelo estado das coisas...
Até está na moda ir à missa ao domingo na Sé...
Agradeço todos os comentários. Mas ninguém respondeu à questão essencial: deve o Estado Português investir milhões para ceder espaço à evangelização de alguns?
ResponderEliminarRecordo a este propósito da onda de indignação nacional que se criou quando a IURD tentou comprar alguns coliseus e teatros. Nesse tempo a maioria católica ficou bem silenciosa... Lembram-se?
hO mANEL NA CONEGA;
ResponderEliminarfINALMENTE ESTAIS DE PARABÉNS.
qUANTO AO QUE LÁ HÁ A FAZER O MELHOR É PERGUNTAR AO nasco O ÚLTIMO REITOR DO CONVENTO
Caro Pedro,
ResponderEliminar1) Ao dizer que descobriu qual é a eventual intenção das religiosas que vão ser instaladas em Tibães através de uma publicação que nem todos conhecerão, pode levar a que alguém que não esteja por dentro do processo de restauro fique com a ideia de que houve uma tentativa de ocultação de factos.
Este projecto existe há anos – talvez até já se arraste há demasiado tempo – e tem sido repetidamente apresentado e reapresentado.
Aliás, o Pedro escreveu um post no dia 26 de Junho de 2007, aqui no Avenida Central, em que diz: “[o projecto prevê] a reinstalação de uma comunidade religiosa no antigo noviciado, que irá gerir uma pequena hospedaria e um restaurante a instalar no antigo hospício» (http://avenidacentral.blogspot.com/2007/06/projectos-de-braga-iii-restauro-do.htm).
O que é que de fundamental mudou para que o projecto que parecia pacífico lhe cause agora tamanha indignação?!
2) A história que aqui apresenta de maneira sucinta é de uns monges que “se governavam à custa do património que o rei lhes doara, mas que era, por direito natural, do povo”. Quem não conhecer a verdadeira história e dimensão de Tibães achará no mínimo estranho que o Estado invista milhões em tal espaço. Se o objectivo era dizer que a história está prestes a repetir-se e que também agora a Igreja se vai aproveitar do património do povo, a formulação é infeliz.
3) Amputar a dimensão da fé a Tibães é negar a sua história. A instalação de uma comunidade religiosa pode ajudar a manter a alma do Mosteiro, potenciando todo o investimento que tem sido feito. A intervenção em Tibães tem-se pautado pela tentativa de manter a ligação à comunidade e de fazer daquele um monumento com vida. E a vida de Tibães – e temos de admiti-lo por mais anti-clericais que sejamos – passa pela Igreja.
4) Perguntar se o Estado deve “investir milhões para ceder espaço à evangelização de alguns” é demagógico. O projecto de/para Tibães é muito mais do que a instalação das monjas. Tentar reduzir a recuperação de Tibães à criação de condições para que a Igreja Católica possa evangelizar é deturpar tudo o que tem vindo a ser feito ao longo dos anos.
5) Tibães é um dos bons exemplos de um trabalho continuado, que tem conseguido sobreviver a diferentes cores politicas e ciclos económicos. A instituição luta para conseguir meios para desenvolver um trabalho de excelência. Tornar polémico um projecto que tem sido consensual, numa altura em que os meios financeiros são muito escassos, é terrivelmente perigoso para o futuro deste património. Ou duvida que acaba de servir de bandeja um motivo para que, na hora de decidir os apoios financeiros, a escolha recaia sobre outras intervenções bem longe de Tibães e de Braga?
Lois Lane,
ResponderEliminar1. «O que é que de fundamental mudou para que o projecto que parecia pacífico lhe cause agora tamanha indignação?!» Descobrir que aquele não será um restaurante laico gerido por religiosas, mas antes um restaurante evangelizador em propriedade do Estado (que é de todos e não apenas dos que querem evangelizar).
2. A formulação diz o que está escrito e nada mais. A extrapolação é sua.
3. Jamais me passou pela cabeça amputar a história religiosa do Mosteiro. No entanto, isso pode conseguir-se com a sobriedade e a isenção que se devem exigir ao Estado, tal como sucede nos Mosteiros da Batalha ou dos Jerónimos, que até são Património da Humanidade, apesar de se dispensarem do frete de ceder a qualquer confissão religiosa espaços para o lucro e a evangelização.
4. O que questiono neste post é TÃO SOMENTE a entrega de uma parte do projecto a monjas e jamais a globalidade da intervenção que, aliás, é extremamente positiva.
5. Tornar polémico um projecto que tem sido consensual, numa altura em que os meios financeiros são muito escassos, é terrivelmente perigoso para o futuro deste património. Este argumento é profundamente demagógico e convida ao pior bairrismo. O convite a que fechemos os olhos quando a intervenção do Estado resvala para a evangelização e dinamita a isenção e a laicidade desejáveis são um perigoso sinal da imaturidade democrática em que ainda vivemos.
O interesse da terra não nos pode fazer transigir na defesa da Igualdade, da Liberdade, da Laicidade, da República e da Democracia.
P.S. - é curioso notar como a firmeza ideológica de alguns leitores vacila sempre que o tema é a religião. Razões que a razão desconhece cada vez menos!
Pedro,
ResponderEliminarAh, ok! Monjas pode ser; monjas com vontade de evangelização é que não. Estava à espera de monjas cujo carisma fosse promover a gastronomia, fazendo a oração da manhã pel’ “O Livro de Pantagruel”?!...
A congregação religiosa que vai ser instalada em Tibães é conhecida há vários anos (uma pesquisa na net dá-nos uma notícia de 2002 – http://www.paroquias.org/noticias.php?n=2395 –, mas acredito que a divulgação pública seja anterior a essa data), por isso a revolta é extemporânea.
Não estou a sugerir que se troquem os ideais pelos fundos necessários para continuar o trabalho em Tibães. Apenas acho que está a deitar lenha para uma fogueira que não existe.
Tendo em conta a história do Mosteiro, a instalação de uma comunidade religiosa parece-me uma mais-valia para dar vida ao local, que não põe de forma alguma em causa a laicidade do Estado.
Quer algo mais rico do que complementar o centro de informação sobre a vida monástica, único no país (http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Braga&Concelho=Braga&Option=Interior&content_id=969955), os percursos e os espaços históricos com a vivência real do dia-a-dia monástico?
Seguir modelos já usados noutros monumentos é fazer mais do mesmo. É obrigatório que todos sejam iguais?
Tibães tem um enorme potencial para ficar na histórica como um dos bons exemplos de recuperação patrimonial. E património não são apenas as paredes e afins. Há muito que este conceito tem um sentido muito mais lato.
Para além disso, fazendo uma pesquisa sobre o trabalho que as monjas têm vindo a desenvolver noutros locais, não me parece que a perspectiva da sua instalação em Tibães seja assim tão terrível. Acho que o Mosteiro tem a ganhar com a sua presença, que mais não seja mais vida.
Por último, é curioso notar como a firmeza ideológica faz ver fantasmas onde eles não existem quando o tema é religião. E aí perde-se a razão.
Estou embevecido com os argumentos... Ainda por cima, estas senhoras nada têm a ver com os monges que habitaram o mosteiro...
ResponderEliminarCongratulo-me com a qualidade de alguns argumentos e deprime-me ao vazio de outros.
ResponderEliminarAs intervenções da pessoa que assina por Lois Lane inserem-se na primeira categoria
Avante, pois, com o património cultural e religioso dentro dos edifíos históricos e arquitectónicos vocacionados para estes fins.
E não se estorvem experiências diferentes: todos têm lugar!
http://destemodo@gmail.com
é uma vergonha que haja quem queira que os meus impostos sirvam para financiar a evangelização de uma religião.
ResponderEliminareu ainda não sabia desta pouca vergonha, mas vou escrever para a direcção do mosteiro, para o ministério da cultura e para o provedor de justiça a reclamar.
isto viola o princípio da igualdade religiosa. o estado não pode favorecer uma confissão religiosa.
é uma vergonha que haja aqui uma cambada de gente a tentar impor-me uma religião que não quero.
Bem dizia o Romário que há pessoas que quando estão caladas dizem poemas.
ResponderEliminarO Pedro Morgado encaixa-se neste lote.