Vasco Pulido Valente escreveu no Público (18.Jan.2008) que «um grupo de professores não permitiu que o Papa Ratzinger - um académico, um filósofo e um teólogo - fosse à Universidade de Roma, “La Sapienza”». Não me importam os motivos que levaram Vasco Pulido Valente a escrever tal coisa, mas a defesa do rigor e da verdade não se compadece com tamanha reinterpretação dos factos.
Na realidade, o Papa não foi impedido de discursar na Universidade de Roma. Depois do anúncio da sua visita, Marcelo Cini, professor daquela universidade, escreveu uma carta a contestar a presença do Papa. Este manifesto viria a ser subscrito por mais de 600 professores e obteve o apoio de vários alunos. Conhecida a contestação, o Papa decidiu anular a visita.
Confesso que não me revejo nem nos fundamentos nem na forma daquele manifesto. Mas, independetemente de concordar ou não com as razões do descontentamento, a verdade é que o direito à opinião é uma pedra basilar do sistema democrático. Aliás, tem sido ao abrigo desse direito que a Igreja Católica e os seus agentes têm repetido barbaridades científicas.
Se em Espanha a Igreja Católica se arroga no direito (legítimo!) de convocar uma manifestação política para condicionar o resultado das eleições legislativas, não se percebe o tamanho da surpresa quando, uns quilómetros a leste, alguns professores manifestam a sua incomodidade com a presença do líder de uma religião repetidamente avessa ao avanço do conhecimento científico. Parece óbvio que a anulação da visita, da exclusiva responsabilidade do Vaticano, não foi inocente.
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Vivemos numa era de fundamentalismos: fundamentalismo religioso, ciêntifico, nacionalista,etc...
ResponderEliminarapesar de não ser católico e de me levantar variadas vezes contra posições daquela instituição, não posso deixar de lamentar este facto. a visita do chefe de estado da igreja era perfeitamente legítima da mesma forma que os protestos da comunidade estudantil também o seriam caso não caíssem no extremismo.quiçá teriam a oportunidade de demonstrar o desagrado a Ratzinger pelas suas posições sobre o julgamento de Galileu de uma forma civilizada.
o extremismo não deriva apenas do islão mas na nossa incapacidade em ouvirmos os outros e os respeitarmos.
julgo que estamos perante uma comunidade científica que se isola num mundinho de laboratórios, longe de tudo, afastada da realidade.
chocou-me o facto de ter ouvido um académico dizer que ciência não precisa da religião. de facto n precisa, mas não se pode afastar de alguns valores que esta perfilha: solidariedade, justiça,humanismo, entre outros.ciência sem estes valores não é ciência e estará condenada a viver no sub-mundo dos valores éticos e princípios.
volto a sublinhar que não sou católico mas não deixo de "beber" da sabedoria que esta nos pode trazer e dos bons exemplos,tal como dos maus.
porventura, Ratzinger não se exprimiu correctamente sobre o julgamento de Galileu: limitou-se a dizer que fora justo. porventura, segundo os trâmites formais da justiça de então o processo tenha sido o indicado, contudo, a justiça não se resume a uma verdade formal mas deve tentar alcançar uma verdade material: a verdade concreta dos factos.
Todos aqueles que assumem os valores humanísticos que foram semeados no período clássico não podem deixar de condenar veementemente todo e qualquer tipo de intolerância já que mesmo o mais rigoroso método ciêntifico tem direito a contraditório.
por fim resta-me congratular pelo facto da Justiça (ainda) não ser feita com recurso a microscópios e a máquinas "infalíveis".tal significa que nós ainda temos o poder sobre os nossos destinos.
Tenho dito.
Vivemos numa era de fundamentalismos: fundamentalismo religioso, ciêntifico, nacionalista,etc...
ResponderEliminarapesar de não ser católico e de me levantar variadas vezes contra posições daquela instituição, não posso deixar de lamentar este facto. a visita do chefe de estado da igreja era perfeitamente legítima da mesma forma que os protestos da comunidade estudantil também o seriam caso não caíssem no extremismo.quiçá teriam a oportunidade de demonstrar o desagrado a Ratzinger pelas suas posições sobre o julgamento de Galileu de uma forma civilizada.
o extremismo não deriva apenas do islão mas na nossa incapacidade em ouvirmos os outros e os respeitarmos.
julgo que estamos perante uma comunidade científica que se isola num mundinho de laboratórios, longe de tudo, afastada da realidade.
chocou-me o facto de ter ouvido um académico dizer que ciência não precisa da religião. de facto n precisa, mas não se pode afastar de alguns valores que esta perfilha: solidariedade, justiça,humanismo, entre outros.ciência sem estes valores não é ciência e estará condenada a viver no sub-mundo dos valores éticos e princípios.
volto a sublinhar que não sou católico mas não deixo de "beber" da sabedoria que esta nos pode trazer e dos bons exemplos,tal como dos maus.
porventura, Ratzinger não se exprimiu correctamente sobre o julgamento de Galileu: limitou-se a dizer que fora justo. porventura, segundo os trâmites formais da justiça de então o processo tenha sido o indicado, contudo, a justiça não se resume a uma verdade formal mas deve tentar alcançar uma verdade material: a verdade concreta dos factos.
Todos aqueles que assumem os valores humanísticos que foram semeados no período clássico não podem deixar de condenar veementemente todo e qualquer tipo de intolerância já que mesmo o mais rigoroso método ciêntifico tem direito a contraditório.
por fim resta-me congratular pelo facto da Justiça (ainda) não ser feita com recurso a microscópios e a máquinas "infalíveis".tal significa que nós ainda temos o poder sobre os nossos destinos.
Tenho dito.
O Papa não foi impedido de discursar. Verdade! Anulou a sua presença.
ResponderEliminarO papa não se disponibilizou para conversar com a Universidade de Roma sobre dois assuntos:
1 - Argumentação avançada na sua tese ciência e fé;
2 - Afirmação de 1990 (ainda cardeal) em Parma "o processo contra Galileu foi razoável e justo"
Quem não se sente não é filho de boa gente!
Toninho Regadas
Caro Regadas, o seu argmento é tão retórico quanto básico.
ResponderEliminarquanto ao primeiro ponto, respondo com uma pergunta:será que depois de toda a demonstração de fundamentalismo científico havia condições para se realizar a visita?qual a razão da anulação da mesma?
quanto ao segundo ponto, lamento que a igreja não assuma os seus erros na pelnitude contudo quando convidamos alguém para nossa casa não a podemos coagir a falar sobre aquilo que ela não quer.mais, sendo aquela uma visita de um chefe de Estado, existe uma agenda previamente estipulada sobre os assuntos a abordar.tal acontece nas conferências internacionais, convenções, etc.como tal, não se abordam todo o tipo de assuntos.
porventura você perfilha da opinião daqueles académicos que vivem no seu microcosmos e não admitem que quem pense de forma diferente entre lá sequer.veja-se o caso da visita do presidente do Irão à univ. de culombia nos EUA.foi convidado e insultado (apesar deste merecer um bom puxão de orelhas) por aqueles que o convidaram.lamentável!
continuo a aformar que o fundamentalismo não se restringe à religião mas atinge em grande medida a comunidade académica.
porventura, aqueles que apontam o dedo ao Papa por não aboradar questões que se passaram no século xv,xvi, etc são os mesmos que dizem que os países africanos não podem continuar a usar o oclonialismo como uma arma de arremesso já que aquele já terminou à 30 anos...
ainda quer esta gente falar sobre Direito e Justiça...
Respostas básicas (do fundo do meu basismo):
ResponderEliminar- a visita do Papa foi cancelada por decisão do Vaticano;
- não sei o que é fundamentalismo científico mas sei o que é hipocrisia;
«A fé não cresce a partir do ressentimento e da rejeição da racionalidade"
"A sensibilidade pela verdade é mais uma vez sufocada sob a sensibilidade pelos interesses" citei o Papa.
Toninho Regadas
Para variar, caro Pedro, não concordo com a tua análise.
ResponderEliminarDepois de um protesto daqueles o Papa estava coagido a não visitar a Universidade. E mais...
O comentário anterior é meu.
ResponderEliminarCAA
Não sabe o que é fundamentalismo científico? Olhe-se ao espelho e encontrará a resposta.Por vezes estas estão mesmo à nossa frente.
ResponderEliminarE mais, depois da tanta manifestação de intolerância, considera que havia condições para continuar a visita?Porventura se Ratzinger lá fosse surgiriam os arautos da verdade (como você) bradando que este era um provocador!
ResponderEliminarquanto a citações, todos sabemos que meia frase desprovida do contexto não é uma verdade absoluta, veja-se o que sucedeu no caso na manipulação de um texto do Papa aquando da sua visita à Turquia.
e volto a acrescentar que não sou Católico e que por variadas vezes já me levantei contra aquela instituição.contudo não tenho horizontes curtos.
Tenho dito.
Aconselho a leitura do discurso que o Papa faria
ResponderEliminarhttp://catolicosnarede.wordpress.com/2008/01/20/discurso-que-o-santo-padre-faria-na-universidade-de-la-sapienza/
Toninho Regadas
Caro Regadas, aquilo que o Papa diria seria da inteira responsabilidade dele e vincularia a instituição que representa.
ResponderEliminarOra então o senhor Regadas é apalogista de que quem tem um discurso diferente do nosso deve ver coarctado o seu direito de expressão?
mas então que valores defende o senhor?os valores daqueles que são por nós contra aqueles que não são?então acusa o vaticano de perseguição durante a idade média e o renascimento (e com toda a razão!) e ao mesmo tempo comete o mesmo erro?
qual é o seu ideal de Estado Democrático?
todos aqueles que pretendem opinar devem sujeitar-se à avaliação do lápis azul dos "ratos de laboratório"?
e volto a relembrar que aquela acção foi levada a cabo por uma minoria radical de académico o que por si só diz tudo.
é caso para dizer: livrai-nos de sermos governados por este tipo de gente!deverá o papa resignar-se ao seu canto no Vaticano e não sair de lá?
Enfim...
As minhas postas devem ser dificeis de interpretar.
ResponderEliminarSou apologista que o Papa deveria ter aparecido, enfrentado os homens de "lápis azul", mas não o fez. Aqui surge a confusão, é convidado como Papa, discursa como Professor, retira-se como Chefe de Estado. Daí a confusão do Senhor Anónimo. O Estado Vaticano decidiu que o Chefe de estado não podia ser defendido pelo professor nem salvo pelo Papa.
Toninho Regadas
Caro Regadas: O Papa é simultaneamente chefe de Estado do Vaticano, e não deixa de ser um teologo.
ResponderEliminare volto a perguntar, já que ainda não me respondeu: considera que depois de tanta demonstração de fundamentalismo havia condições para levar a cabo a visita?