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Demagogia

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O aumento dos numerus clausus para a Medicina tem sido defendido intransigentemente por quase toda a gente. É uma medida que tem tanto de simpático e popular como de insensato, desnecessário, despesista e populista.

Os liberais defendem a tese de que a procura do curso deve justificar a abertura de mais vagas. Ainda que o Estado esteja a investir na formação de profisisonais de que não necessita. Ainda que o sector fique completamente desregulado. Ainda que se caia na mercantilização do ensino da Medicina com consequências gravosas para a qualidade do mesmo. Os desinformados, por seu turno, queixam-se da falta de médicos. Ainda que Portugal tenha mais médicos por habitante que a média europeia. Ainda que todos saibamos que o problema não está na quantidade de médicos mas na qualidade da organização do sistema de saúde.

O que todos se esquecem, Governo incluído, é que ser licenciado em Medicina não significa que se é medico. Para se poder exercer medicina de forma autónoma é necessário frequentar uma formação pós-graduada chamada Internato Médico. Caso as vagas de formação pré-graduada continuem a aumentar ao ritmo dos últimos anos, o Ministério da Saúde não tem capacidade formativa para garantir o ingresso no Internato Médico a todos os licenciados em Medicina.
Para que queremos licenciados que não podem ser médicos?

14 comentários:

  1. Pedro:

    Aqui sempre discordei da tua posição, não pelos mecanismos populistas que referencias mas porque é desejável numa sociedade moderna que haja cada vez mais gente formada e "menos patronato com a quarta classe". Não que a formação seja a solução para todos os problemas, porque não é, mas porque claramente é uma janela de oportunidades para resolver esses mesmos problemas.

    Essa concepção de que o ensino perde qualidade abrindo portas a mais gente é me muito estranha, quer dizer se eventualmente dos alunos de medecina que existem actualmente se tirassem 80% deles o ensino ficava ainda melhor...menos "mercantilizado"...não me parece. A qualidade não se pauta por minorias, essa é concepção antiga e clerical de que o conhecimento está restrito a uma elite, apesar de curiosamente essa elite ter sido formada negando conhecimento aos demais. Portanto podemos ter mais gente e bem formada, a medecina como qualquer outro tipo de conhecimento está ao alcance de qualquer um, é uma questão de profissionalismo.
    Repara quando defendo mais profissionais não estou a pensar em fornalhas de pessoal qualificado para depois lhes retirar regalias, estou a pensar numa sociedade competente, com formação e com a qualidade de vida correspondente.

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  2. A formação médica tem diferenças muito profundas em relação a todos os outros cursos: a organização do curso faz com que, no mínimo dos mínimos, três anos sejam passados em hospitais; os hospitais precisam de ter competência para ensinar, tanto a nível físico como humano; o ratio de assistente/aluno necessário é incomparável com qualquer outro curso porque não vamos ter 15 alunos a auscultar um só paciente (e isto já aconteceu). Se eu até posso concordar com este texto para outros cursos com uma estrutura diferente, não posso concordar para Medicina.

    Eu ando em medicina em Lisboa. A zona metropolitana de Lisboa está praticamente lotada com duas faculdades. Tenho colegas meus que vão fazer um estágio obrigatório de 3º ano para o Funchal. Ouvi o director dizer que está a pensar em acordos com hospitais no Alentejo...
    A minha faculdade fez um esforço tremendo em termos de aumento de vagas nos últimos anos e, simultaneamente, viu o seu orçamento por aluno diminuir drasticamente, o que se torna num esforço insuportável. A maior parte dos assistentes dos anos clínicos recebem ZERO euros pelo seu trabalho o que leva a educação dos futuros médicos para o fim da sua lista mto cheia de coisas a fazer e torna o termo "segurar paredes" parte do quotidiano dos estudantes.

    Por tudo isto, ao aumentar-se as vagas, quer seja com novas universidades quer seja nas que já existem, compromete-se a educação médica:
    - não há hospitais nem centros de saúde suficientes para aguentar com os alunos de pelo menos 3 anos, simultaneamente (se pensarmos que cada ano tem cerca 300 alunos só na minha faculdade, chegamos a um belo número);
    - não há médicos suficientes para treinar estes estudantes, pois há muitos que não estão dispostos a ter mais trabalho a troco de nada e há mtos que nem competência para tal têm;
    - não há financiamento suficiente por parte do Estado para cobrir todas as despesas.

    Para além de tudo isto, como o Pedro já disse, há o internato. Aqui as coisas ainda pioram mais: os diferentes hospitais e centros de saúde necessitam de ter idoneidade formativa reconhecida, o ratio de internos para médicos já formados ainda tem de ser melhor do que nas faculdades, não há dinheiro para pagar tantos salários a tantos internos. De que vale formar tantos licenciados (ou mestres com Bolonha) de um dos cursos que sai mais caro ao Estado (apesar de estar subfinanciado) se estes depois não vão fazer nada relacionado com isso? É que nem se pode advogar uma suposta escolha dos melhores, porque o actual exame de acesso à especialidade consegue ser tão cómico como um sketch do Gato Fedorento.

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  3. Antes demais todas as dificuldades enunciadas podem ser passadas para outros tipos de formação, e também não é justificação para um não aumento dos numerus clausus. Em Portugal toda a gente sente dificuldades, posso dizer que muitos deles bem mais dificeis de suplantar do que esses.
    Uma questão que não foi mensionada é que com o aumento de alunos existe um efectivo aumento de receitas...isso é linear.

    Os acordos referenciados para trabalhar em hospitais de diferentes pontos do pais é salutar, complicada é situação dos professores que depois de formados dificilmente conseguem ficar colocados num local fixo. A nobreza da profissão de médico exige que prestem assitência aonde há menos, daí até seja salutar ir para o Alentejo.

    No caso da sua faculdade deve haver problemas sérios de gestão, porque com o aumento de alunos e propinas é bastante mais fácil gerir uma unversidade, isto porque os meios necessários não aumentam propocionalmente com o aumento de alunos nem isso implica perda de qualidade, implica gestão eficaz e capaz.

    Não deixa de ser curioso que os argumentos usados não enobreçam nada a "classe"...
    Esses argumentos pura e simplesmente não servem, visto que são argumentos que partem dos defeitos e deficiências para justificar que deve ficar tudo na mesma. É como sugerir que não se mexa na corrupção porque há muita...parece estranho...não parece?

    Já agora fica este link que não parece corroborar o que diz o Pedro de ser o país com mais médicos na Europa.

    O sector da saúde em Portugal denuncia uma forte falta de médicos no país, já que, para cada 100 mil pessoas, Portugal tem 324 médicos, um valor muito baixo quando comparado, por exemplo, com os 606 médicos que Itália tem, segundo um relatório das Nações Unidas. O Governo respondeu, apostando na formação de clínicos estrangeiros com o intuito de colmatar a falta de médicos de família nos centros de saúde.

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  4. Não, o aumento de receitas não é linear. Ao aumentar as vagas, por muito pequeno que seja esse aumento (eu diria que bastam 3 vagas - é o número máximo de alunos por tutor no estágio clínico do 3º ano por exemplo), é preciso mais um assistente em diferentes disciplinas nos anos clínicos. Não é com 900€ das propinas x3 que essa faculdade vai conseguir pagar a todos esses assistentes. Aliás, como eu já disse, na FML a percentagem de alunos tem vindo a aumentar (mais de 30% nos últimos 5/6 anos) e, simultaneamente, o financiamento por aluno diminuiu 18%. Não é difícil perceber a ginástica financeira que é necessária.

    O tal estágio clínico que eu vou ter agora pautou-se por uma enorme confusão para garantir todas as vagas necessárias e de forma a causar o mínimo de transtorno possível aos alunos (se é que se pode dizer que um aluno deslocado que vive em Lisboa durante as aulas e vai parar a Setúbal não é transtorno). É que para ser bolseiro o nível financeiro tem de ser muito baixo mas é difícil para alunos DESLOCADOS fazer face a despesas adicionais e a faculdade não dá qualquer tipo de ajuda. O meu ano tem mais alunos do que os anos que nos precedem e não quero imaginar sequer como será no próximo ano. Já ouvi o director falar em Sines (especialmente para aqueles que vão entrar agora), ou seja, uns tempos em Lisboa outros no Alentejo e por aí fora. Eu até tenho a sorte de ser de Lisboa e, como tal, não pago casa aqui. Quem é de fora e tiver de pagar dois alugueres SIMULTANEAMENTE para não perder o aluguer simpático que tem em Lisboa é que é capaz de não achar muita piada ou então procura casa de mês a mês (quando ainda se estuda, o que bate o problema gravíssimo dos professores que, curiosamente, choca o país todos os anos - fazer o mesmo aos médicos ou àqueles que ainda nem são médicos já não choca).

    Se calhar acham que três alunos por tutor é um nº baixo, mas eu já estive em enfermarias com apenas dois colegas (e um assistente) e achei muito - entalados entre camas e ficamos mto em cima do paciente e perde-se mto tempo à espera que cada um faça aquilo que é suposto fazer. E isso nem é o pior: eu diria que é desconfortável para um paciente ter um médico mais três estudantes a palpar-lhe o abdómen seguidinhos.

    Se eu ouvi alunos que já acabaram o curso a dizer que muitas das vezes não havia espaço para todos, imagino como é que será com 330 alunos (é o nº de alunos do meu ano) nos anos clínicos em apenas um ano em uma faculdade. Considerando que metade dos hospitais em Lisboa têm acordo com a FCM-UNL e a outra metade com a FML (não é bem 50-50), não é difícil de imaginar que estão pelas costuras.

    A situação já está péssima agora: abrir mais vagas nas faculdades existentes é impossível. A FML tem o Hospital de Santa Maria e o Edifício Egas Moniz para os 2 primeiros anos e eu cheguei a ver pessoas em pé em anfiteatros, a ter aulas práticas de Anatomia em salas em que não havia lugar para todos os alunos e alguns tinham de se sentar em mesas ou ficarem em pé durante 2 horas. Oiço alunos dos anos clínicos a dizerem que ficaram a segurar paredes a manhã toda sem fazer nada...

    Não há muitas pessoas dispostas a ensinar, logo é impossível selecionar os melhores. Eu já tive assistentes que são meus colegas do 6º ano. Fizeram um excelente trabalho mas demonstra bem como aqueles que já estão formados não estão, na sua vasta maioria, dispostos a trabalhar por nada. E a vasta maioria não recebe de facto nada apesar de perderem horas a ensinar, a fazer orais e a corrigir exames. Não é difícil perceber que pessoas que até já têm família e trabalham muitas horas não estejam interessadas em trabalhar ainda mais sem terem nada em troca.

    Em relação aos internatos, este ano abriram pouco mais de 1000 vagas. Neste momento entram mais de 1200 alunos por ano nas faculdades de medicina (há menos de 10 anos atrás eram cerca de 500) e cada vez há mais alunos em Espanha e na República Checa. Legalmente, esses alunos terão o direito de concorrer em pé de igualdade com qualquer aluno português. Qual o objectivo de abrir vagas que não serão possíveis de atingir mais tarde nos internatos??
    O número de vagas nas faculdades aumentou imenso nos últimos anos mas os efeitos não se vêm de um momento para o outro. Não se pode continuar a pedir sempre a mesma solução arriscando criar um novo problema.

    Há faltas em certos sectores (como a medicina familiar) mas isso não é culpa dos estudantes actuais e as vagas no internato de medicina geral e familiar já aumentaram e vão aumentar ainda mais. Eu já ouvi professores meus dizerem que metade dos alunos dentro daquela sala serão médicos de família, o que comparado com os 15% de há pouco tempo atrás é mto... Se a culpa não é nossa, porque é que somos nós que teremos de pagar a conta ao recebermos uma educação pior??? A minha educação será assim e acabou-se: tentar defender aqueles que virão da mesma forma que eu gostaria que aqueles que vieram antes me tivessem defendido é algo que eu gosto de fazer e considero como um dever.

    Para ser possível abrir mais vagas era necessário um investimento gigantesco que seria insuportável pelo OE: novos hospitais, novos edifícios para as faculdades, mais dinheiro para pagar aos docentes... E isto só ao nível pré-graduado porque seria outro tanto para garantir um nível mínimo de qualidade nos internatos. Por isso, há duas opções:
    - manter o número de vagas actual, apesar de já ser bastante elevado, rezar pelo melhor e esperar que a formação médica seja boa, sabendo que o número actual de vagas é suficiente para cobrir as necessidades
    - abrir mais vagas sem nenhum tipo de justificação lógica, gastar milhares de euros em cada aluno, piorar a formação médica de forma generalizada e enviar uns quantos para o desemprego.

    E, já agora, Itália tinha 30000 médicos no desemprego. Aliás, arrisco-me a dizer que continua a ter 30000 médicos no desemprego ou até mais. E quando alguém diz que vai fazer Erasmus para Itália em Medicina, o comentário que geralmente se segue é: "Não vais fazer nada. Boa vida!". Isto é o "prestígio" que a formação médica italiana tem...

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  5. Ah, esqueci-me de um pormenor: um país que tinha um ratio pior (sinceramente não sei como está agora) do que o português e que investiu imenso em novas faculdades de medicina e em mais vagas nas que já existiam. Agora tem candidatos a mais e vagas a menos na formação pós-graduada. Esse país é o Reino Unido.

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  6. Para que queres licenciados que não exercerão aquilo para que se formaram??...

    Para Primeiros Ministros, ora...:)

    Abraço.

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  7. O aumento de receitas é linear, nem sequer vou discutir isso, é das mais elementares verdades de gestão...mais propinas...mais receitas.
    Bem essa é obra, se existe um rácio de um assistente por três alunos então o problema que se põe agora já se punha previamente, não são os alunos que subsidiam os assitentes, é por via dos impostos, é por vias indirectas, investimento do Estado na educação...
    O Estado desinvistiu na educação em geral, assim sendo as dificuldades que se possam sentir no ensino de medicina sentem-se em qualquer outro curso, noutros casos não se sente tanto porque existe a capacidade de se criar alicerces com as empresas...que ainda assim são muito fracas investidoras.

    Mais uma vez bate-se na mesma tecla, as dificuldades no ensino não são desculpa para fechar as portas do ensino superior...muito pelo contrário. Aliás suponho que defendam a formação, a educação, agora como encaixam a necessidade de formação se ao mesmo tempo querem evitar que mais gente tenha acesso ao ensino superior? Parece estranho esse raciocínio.

    Enunciam a falta de condições para dizer que não é possível abrir vagas, acho estranho...muito estranho mesmo que não aproveitem esta oportunidade para exigir mais condições e abraçar a oportunidade de termos cada vez mais gente qualificada em Portugal.
    A mim parece-me que são na realidade motivações corporativistas semelhantes às de engenheiros, advogados...

    Para abrir mais vagas não seria necessário abrir mais hospitais...isso é rídiculo, se existe efectivamente falta de médicos como é possível dizer que não há hospitais para receber mais estudantes de medicina...isso não faz mesmo sentido nenhum. Além disso era salutar um ivnestimento na edcuação por aprte do Estado, chama-se investimento a médio prazo, por obviamente depois tendo uma sociedade qualificada as contrapartidas desse investimento eram bastante compensadoras.

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  8. Exigir condições exige-se há anos!!! A questão é exactamente essa!! Se não nos dão condições ACTUALMENTE não poderemos nunca defender um aumento de vagas que prejudica a formação médica, seja qual for o argumento de defesa (apesar de eu continuar a achar que o gasto sem objectivo prático por parte do Estado é despropositado). A FMUP anda à espera de um edifício novo há tantos anos que eu acho que já nem eles sabem há quanto tempo, o ICBAS está a cair aos pedaços há anos (e a promessa de um edifício novo tb tem anos), há edifícios na FML que já deveriam estar construídos e a funcionar e ainda nem o concurso público foi aberto.

    As motivações corporativistas a mim pouco me interessam. Tenho o meu valor e estou disposta a lutar para atingir os meus objectivos. Se um dia eu ou um filho meu entrar no hospital e for mal atendido porque o médico não recebeu a educação que deveria ter recebido, aí sim, interesso-me.

    Os estudantes de medicina e os internos não têm nem conhecimento nem autonomia LEGAL (os internos é só durante uma parte do treino) para exercerem medicina livremente. Um estudante não deve andar a atender pacientes como se um médico completamente formado se tratasse porque não tem nem o conhecimento nem a experiência para tal - precisa sempre de alguém que o acompanhe e que o ensine. O curso de medicina já tem autoaprendizagem que chegue noutras situações. Ou seja, os estudantes e os internos não devem nem podem servir para tapar buracos nos sítios onde esses buracos existem.
    Um ratio de 3 alunos para um assistente pode ser mau em certas situações e um ratio de 1 médico para 1 interno é obrigatório. Há bastantes hospitais que não têm capacidade formativa sequer em variadíssimas especialidades (tanto para alunos como para internos) - basta ver os mapas de vagas para os internatos.

    Logo, impõe-se a necessidade de melhores hospitais novos ou remodelados e de mais médicos dispostos a ensinar aquilo que fazem melhor até para se selecionar os melhores (nunca esquecerei a piada que uma assistente fez sobre o facto de termos ou não boas notas: "A mim tanto me faz. Não será por isso que fico sem emprego, porque não há gente que queira fazer isto"). Sem isso, é impossível existir qualidade no ensino e isto exige um investimento excessivo por parte do Estado e que, ainda por cima, criará (se é que já não lançou a semente) desemprego.
    Não faz sentido, num país que tem de facto carências graves em diferentes áreas para além da saúde, gastar milhões e milhões de euros a formar pessoas altamente competentes numa determinada área para as lançar directamente para o desemprego. Em Itália há licenciados em medicina a conduzir táxis há anos. Compensa o investimento? A mim não me parece.

    Voltando ao exemplo da Itália, uma pequena pesquisa no Google revelou aquilo que eu já suspeitava: o aumento de vagas resultou numa diminuição da qualidade de ensino, o que fez com que as dezenas de milhares de desempregados nem pudessem considerar emigar, porque não eram considerados competentes para tal pelos países de destino. Querem médicos destes em Portugal? Querem médicos destes a tratar os vossos pais, os vossos filhos, os vossos amigos? Eu não.

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  9. Esqueci-me de dois pontos:
    - o aumento da receita não é obrigatoriamente linear quando se aumentam as vagas porque as verbas destinadas podem sofrer cortes, que é o que tem acontecido ano após ano ao mesmo tempo que eu vejo o numerus clausus a aumentar ano após ano.
    - os alunos do secundário que querem medicina geralmente defendem com unhas e dentes o aumento das vagas (até porque aumenta as hipóteses de entrarem). Um mês depois de entrarem já mudaram de ideias e não se deve a ideias corporativistas que tenham ouvido porque estas até não circulam propriamente muito, especialmente entre os caloiros. Mudam de ideias porque vêem as condições em que têm aulas e ouvem os alunos mais velhos dizerem que ainda é pior nos anos clínicos. E isto acontece ano após ano após ano.

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  10. Bem os argumentos são os mesmos, a repetição não os torna propriamente mais válidos.
    No entanto convém dizer algumas coisas que foram ditaas e que não fazem sentido:
    - Pode-se aumentar o número de médicos sem correr riscos de desemprego...estamos muito longe do desemprego em medicina.

    - Quando falamos de receitas falamos de algo que a empresa, universidade...etc é capaz de receber como fruto do seu trabalho, serviço...assim as verbas vindas do Estado não estão nesse lote, quando falamos de ensino público é como se a empresa fosse o Estado...é um erro comum pensar assim...mas é preciso saber bem as diferenças entre público e privado.

    -A dificuldades não são desculpa para "fecho de portas"...caso contrárioo país estava parado.

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  11. "- Pode-se aumentar o número de médicos sem correr riscos de desemprego...estamos muito longe do desemprego em medicina."

    Mostre um estudo que diga isto. Mostre um estudo que mostre a capacidade real de formação de médicos internos. Mostre um estudo que diga que o estado tem capacidade para pagar tantos ordenados. Sem internato não há autonomia, ou seja, ninguém é médico mas apenas licenciado ou mestre em medicina.
    A capacidade para formação de internos é extremamente limitada e podíamos aproveitar os erros dos outros para evitar que isso acontecesse cá também. O Reino Unido tinha um problema de falta de médicos (cerca de metade dos 324 de Portugal) e aumentou as vagas como se não houvesse amanhã e agora não tem capacidade para formar tantos internos e já se ouve os "junior doctors" a dizerem que vão emigrar ou seguir outras carreiras. As vagas para medicina em Portugal são mais do dobro do que aquilo que eram há uns anos atrás: onde é que se vai pôr tantos internos juntamente com os que vêm, principalmente, de Espanha e da República Checa?

    "-A dificuldades não são desculpa para "fecho de portas"...caso contrárioo país estava parado."
    As dificuldades já existiam antes do aumento das vagas e pioraram ainda mais nos últimos anos. Eu sinto e sei que estou a receber uma educação pior do que aqueles que entraram em 1998 ou 1999, por exemplo. Gostaria, pela a saúde de todos (literalmente), que não piorasse ainda mais. Os recursos não são ilimitados e nos últimos anos tomaram-se e impuseram-se decisões como se fossem. Dando muito pouco ou mesmo nada, duplicou-se o número de vagas quando a situação já nem era ideal anteriormente. É óbvio que a qualidade diminuiu e que vai continuar a diminuir.

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  12. Existe falta de médicos, essa é uma evidência. Os estudos esses são os mesmos que a Sara apresenta...nenhuns. O Estado tem essa capacidade, porque basta perceber o que este esbanja para favorecer os seus parceiros de corrupção para perceber isso...não é estudo, é mesmo a realidade que todos conhecemos, as derrapagens orçamentais, os investimentos suspeitos, a corrupção...tudo isso é dinheiro que de forma mais ou menos directa se retira do circulo normal das prioridades de uma democracia séria.

    A realidade interna de uma faculdade específica de medicina é uma coisa, querer usar isso como critério para dizer que não é possível em nome da qualidade de ensino aumentar o número de alunos...enfim é um critério pouco rigoroso.

    Digamos que segundo os critérios aqui apresentados os primeiros alunos de medicina serão os melhores de sempre...o que vos põe a vocês (actuais alunos) muito mal colocados. Aliás acho que em nome da coerência vocês deviam rejeitar-se a exercer (e logicamente a receber dinheiro) enquanto os padrões de qualidade não fossem repostos. Não vejo isso a acontecer. Eu digo honestamente, se estivesse nas vossas condições e não estivesse a ser bem preparado...eu próprio me recusava a exercer.

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  13. Se um país que tem 169 médicos por cada 100 000 habitantes como o Reino Unido tinha há pouquíssimos anos atrás tem um NHS como o deles e nós com mais de 300 médicos (estou a comparar valores da mesma altura) por cada 100 000 temos o que temos, não deixa de ser cómico... Bem, nós até temos mais do que a Espanha em termos relativos e os médicos espanhóis vêm para cá por alguma razão...

    Se em 1998 entravam cerca de 600 alunos e agora entram quase 1300, não é difícil perceber que algo está a mudar. O problema é que ninguém se preocupou em ver o quê e os resultados demoram mais de 6 anos a surgir.

    Se o Ministério da Saúde espera para ver quantos candidatos é que se inscrevem para os internatos para saber o número de vagas é porque não tem capacidade para muito mais e AINDA a procura adequear a oferta à procura. Se tivesse mais oferta, mostraria até para garantir um maior número de profissionais (até provenientes de outros países).

    Há vários locais com falta de médicos mas se formos a somar todos, duvido que o nº seja absolutamente astronómico e que seja difícil de compensar em alguns anos com um numerus clausus superior que já existe há vários anos (e do qual ainda ninguém viu os efeitos).

    Os próprios médicos estão mal informados sobre aquilo que se passa nas diferentes faculdades. Ainda há pouco tempo, ao recorrer a uma médica que aparenta ter cerca de 45 anos, ela perguntou-me quantos éramos. Quando eu lhe diss que éramos cerca de 300 (este ano já somos 330), ela ficou admirada. Perguntou primeiro o porquê das médias continuarem tão altas (porque o número era semelhante ao do ano dela) e depois perguntou como é que ainda havia falta de médicos considerando que há mais faculdades do que no tempo dela. Ainda mencionou o facto de um número tão grande não ajudar nada na aprendizagem (por experiência própria).

    A realidade das diferentes faculdades de medicina (com as possíveis excepções da UM e UBI q têm sofrido injecções consideráveis de fundos - provavelmente por serem as mais recentes) é relativamente semelhante àquilo que eu já descrevi (com uma ou outra particularidade decorrente de um currículo diferente ou coisa do género). Conheço pessoas que frequentam ou frequentaram todas elas e todas se queixam mais ou menos do mesmo e, curiosamente, a situação não tem melhorado nada qnd comparo aquilo que quem já lá andou diz com aquilo que quem lá anda agora diz.

    O grupo de missão para a saúde disse, em 2003, que mantendo o nível de então (que já aumentou consideravelmente) haveria um excedente de 6350 médicos entre 2000 e 2020 em relação ao número de médicos que se reforma neste período. Isto não inclui licenciados de outros países europeus, os quais também têm de entrar nas contas porque é obrigatório que concorram em igualdade de circunstâncias com os licenciados em Portugal.

    A abertura de mais vagas foi uma medida acertada (até a Ordem o admite). Porém, não podemos entrar na demagogia de sempre e dizer que a culpa de tudo o que está mal no SNS é a falta de médicos. Para os sucessivos governos, a solução mais fácil para atacar os problemas do SNS e atirar areia para os olhos de todos foi abrir mais vagas. Investiram pouquíssimo e vão mantendo o país inteiro a dizer que há falta de médicos e que é esse o problema principal, até que um dia vão acordar para uma realidade bem mais complicada e repararem que a solução tem de ser bem mais profunda.
    Quando o governo falha promessa atrás de promessa em relação às faculdades que já existem (há quantos anos o ICBAS e a FMUP esperam por um novo edifício? e há quanto tempo é que o novo pólo da FMUC já devia estar pronto? e os outros edifícios da FML que já deviam estar concluídos e ainda nem abriu o concurso? - só para falar de coisas visíveis aos olhos de todos), torna-se difícil perceber como é que eles pretendem financiar ainda mais vagas quer nas que já existem quer nas eventuais faculdades que decidam abrir. Nem se percebe como é que vão pagar a mais internos e mais médicos do que aqueles que já existem. É o critério que melhor se vê e que necessita de menos estudos. É pena é que só quem lá anda é que o vê. As tv's portuguesas gostam mais de ir ver a realidade espanhola e checa do que a portuguesa, que é a deveria interessar mais porque é daqui que sai a maioria dos futuros médicos e é esta que os contribuintes portugueses pagam.

    Não percebo em que é que o deixar de exercer vai ajudar muito. Quem se recusa a exercer já está formado. Se a sua formação foi má na faculdade, deixar de exercer (e de aprender - no internato aprende-se...) ainda é pior, porque ainda vai perder a prática do (pouco) que sabe.

    Há duas coisas muito diferentes: uma delas é a falta de médicos que possa existir em certos locais; outra coisa bem diferente é a disponibilidade do governo para pagar para que haja esses médicos. Ao fechar maternidades, SAP's e afins, acho que se percebe que não há lá grande disponibilidade. Por outro lado, não se percebe onde é que tencionam pôr tanta gente se andam a fechar tanta coisa por motivos financeiros e a concentrar tanto nas cidades de maiores dimensões...

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