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A CEC 2012 e a Arquitectura | 2

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Há uns dias, e a propósito do post abaixo intitulado A CEC 2012 e a Arquitectura, perguntaram-me: “Achas que se devia apostar na reabilitação ou na construção de um edifico marcante?“

Bem, a questão não é assim tão complicada de responder, basta olhar para a História do Urbanismo e da Arquitectura. A aposta na reabilitação é o futuro enquanto sustentabilidade do território assim como um meio de melhorar os espaços existentes na cidades. Mas a história da arquitectura não vive só do passado, faz-se agora para que também seja a imagem da contemporaneidade no futuro. E neste aspecto, acredito que um estudo rigoroso das necessidades e possibilidades, ajudasse a este debate.

Por outro lado, não concordo com o Samuel Silva, quando ele diz que «o que será de Guimarães daqui a 100 anos quando olhar para trás e perceber que o mais interessante que construiu em século e meio foi o pavilhão verde do Multiusos».
A Arquitectura não é e não vive de obras com mais de 1000 m2. Não é a grandeza, nem o espectáculo. Poderá tornar-se grande, depois de ser boa. Por exemplo, a maior e mais apelativa pizza do mundo, poderá não ser a melhor.
Neste sentido, a obra mais marcante em Guimarães (por acaso um misto de reabilitação e raiz) até agora executada, a meu ver, é o CCVF. É quase, quase, quase, genial. E depois há umas quantas obras pequenas e médias, que enchem e enriquecem a cidade, sem necessitarem do néon “mamã, estou aqui!”

12 comentários:

  1. Cláudia,

    Apontei o exemplo do Multiusos quase em jeito de ironia. Aquele paralelipípedo verde vale mais pelo que se passa lá dentro do que pelo que é por fora.
    A verdade é que não vejo em Guimarães nenhuma obra marcante do ponto de vista arquetectónico feita de raiz nas últimas décadas.
    Há, obviamente, um trabalho exemplar de recuperação, mas não vejo muito mais.
    E o exemplo que apontas parte, uma vez mais, de uma recuperação de um espaço degradado.

    Como disse no texto no Colina Sagrada, não vejo é nada feito de raiz e penso que a CEC seria uma boa oportunidade.

    O caso recente de Viana do Castelo, que já foi sublinhado aqui no Avenida, é para mim um exemplo do que se pode e deve fazer nas nossas cidades.

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  2. Mais: A Pousada da Costa, o Cemitéria de Monchique, etc

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  3. José Luis (C.taipas)28 de junho de 2009 às 22:42

    Este tipo (SS), só sabe mesmo é criticar...Raramento o vejo a apontar algo de bom ou de positivo.
    Estava tão bem a nanar...
    Ou melhor a faer óó...

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  4. Fazer novo ou reabilitar o antigo é uma discussão pertinente. A carta de Leipzig(2008) recomenda reabilitar ou densificar.A primeira prioridade é reabilitar edificios, com uma postura de mistura entre conservaçao do passado considerando opresente e pensando o futuro. Só fazer novo quando o existente, não é susceptivel, mesmo recuperado, de albergar a nova funçao, sempor em causa o valor histórico. Esse novo deve ser construido como forma de ligar a cidade e não de a fazer crescer. no entanto o novo deve ter sempre qualidade arquitectonica passivel de deixar patente a sua marca no tempo.

    pelas palavras do grande mestre, Fernando Távora,


    ”Património é só um: passado, presente e futuro”.

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  5. as cidades são feitas de lugares, não de edifícios.

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  6. Cara Cláudia, a sua postura revela algum desconhecimento do que se tem feito a nivel de urbanismo um pouco por todo o mundo.

    Ao dizer que a questão acerca da aposta na reabilitação ou na construção de um edifício marcante não é "assim tão complicada de respodner" revela alguma desatenção em relação ao panorama mais actual... e dizer que a aposta na reabilitação é o futuro como meio de melhorar os espaços existentes nas cidades é uma grande falsidade...

    Como exemplo mais flagrante tem um sem número de casos de urbanismo que se aproveitam do chamado "efeito Bilbao", provocado pela construção do museu Guggenheim, da autoria do arquitecto Frank Gehry, e que conseguiu transformar uma cidade industrial num dos principais pontos turísticos de toda a Espanha, transformando completamente, através de um "edifício marcante", toda a cidade.

    Este efeito domino é, aliás, tudo menos fácil de responder.

    A questão, ao contrário do que diz, é muito complicada de responder.

    É um pouco como a questão o que é que apareceu primeiro, o ovo ou a galinha.

    O que é melhor? Utilizar um edificio marcante que sirva como propulsor do desenvolvimento do tecido urbano envolvente, esperando por um grande impacto (que poderá não acontecer) ou optar por ir reconstruindo lentamente algumas partes da cidade.

    Como exemplo falhado dessa aposta na reabilitação de espaços abandonados ou com menos condições na cidade temos a iniciativa do "SAAL - Serviço ambulatório de apoio local" que foi levado a cabo no período pós 25 de Abril e que ia fazendo construções pontuais, com grande participação da população, que entrava na discussão e conformação dos projectos de forma activa.

    O problema é que esta atitude tornava o processo de construção de cada uma dessas unidades demasiado lenta. E a transformação da cidade, a esse ritmo, aconteceria de uma forma demasiado espaçada no tempo, e durante esse mesmo tempo muitas outras construções e "atentados urbanos" seriam levados a cabo.

    Deste modo, e no cenário actual em que a especulação imobiliária continua a falar mais alto, pensar que se pode mudar a cidade através da "reabilitação" é uma ideia completamente falsa.

    O que é necessário, antes de mais, é mudar a mentalidade, o próprio carácter da cidade. Mudar a forma de encarar o potencial da cidade. Foi assim que se conseguiu mudar Bilbao, ou por exemplo Curitiba (este sim um projecto exemplar a nivel de urbanismo, com o esforço de Jaime Lerner, e que deveria ser um caso de estudo base para todas as novas propostas de urbanismo) ou até mais recentemente o que aconteceu em Medellin, na Colômbia. (antigo cartel transformado agora num destino turístico por excelência, também apenas através da construção de alguns edifícios emblemáticos)

    Por isso aconselharia algum cuidado extra antes de tentar simplificar a resposta a uma pergunta que, actualmente, é tudo menos simples e se conforma como uma questão nevrálgica do urbanismo moderno.

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  7. Caro Vergilio Borges,

    Percebo o que quer dizer, mas não posso concordar consigo em alguns aspectos.

    Continuo a achar que não é assim tão complicado responder a esta questão. Ao longo dos anos de trabalho e com alguns exemplos em cima da mesa, chego à mesma conclusão que o nosso colega num comentário acima: "Só fazer novo quando o existente, não é susceptivel, mesmo recuperado, de albergar a nova funçao, sem pôr em causa o valor histórico." Poderá não ser tão linear quanto isto para outros casos. Mas neste, para Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, é o que entendo correcto.

    Claro que se torna num efeito dominó decidir pelo melhor método quando construímos cidade e temos de apostar no melhor cavalo, mas aí entram outros factores em questão, factores que normalmente extrapolam os limites da arquitectura e do urbanismo teóricos.

    Pessoalmente, o caso de Bilbao não me gagrada como solução. Foi, e é mais jogo de marketing que arquitectura. Desenvolveu toda uma cultura de romaria à cidade e colocou-a no roteiro arquitectónico. Apesar disso, não concordo com esse método de fazer cidade, mesmo em parte tendo funcionado. É demasiado show-off.

    Eu colocaria a discussão sobre as operações SAAL noutro post que não este, pois foge ao âmbito do tema mencionado no post: A Capital Europeia da Cultura e a Arquitectura.
    Pessoalmente agrada-me a participação da população nos projectos e construções, como forma de aumentar o sucesso das intervenções, tal como sucedeu no bairro da Malagueira em Évora, dos finais dos anos até hoje.

    Mudar a cidade com a "reabilitação" só? Não, não creio que nos termos actuais seja possível.
    Apostar, também, na reabilitação no caso de Guimarães Capital da Cultura? É óbvio que sim!

    Para terminar, Curitiba é verdadeiramente dos melhores exemplos que se pode apontar em como fazer e transformar cidade e creio muito sinceramente que entra nas referências de muitos gabinetes, pelo menos tenho acompanhado projectos nesse sentido.

    A minha resposta foi dada com Leveza, mas pensada, pois não é uma resposta de agora. Tem sido formulada nos últimos anos.

    Com todo o respeito, Cláudia.

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  8. bilbao através de um edificio marcante, que se tornou na imagem da cidade.
    Curitiba teve como ponto fulcral não um edifico nem uma reabilitação mas sim uma forte aposta inicial na mobilidade da suas gentes nomeadamente na criação de condições para os transportes publicos. faixas proprias, etc. com o trocar natural do carro pelo autocarro houve então lugar à criaçao e requilifição de novos espaços verdes publicos. por isso a cidade pode ir muito além tanto da requalificação com de novos edificios como é exemplo e muito bem referido num comentario anterior da cidade de curitiba.
    ver também algumas cidades-rede holandadeses que fazem da função mobilidade a sua principal fonte de desenvolvimento.

    para mim, em Portugal, nenhuma cidade pode apostar seja em novos edificios seja na requalificação dos seus centros historicos como essencia da sua sustentabilidade enquanto a mobilidade e acessibilidade das mesmas não for pensada a fundo.

    rp

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  9. pois, isso é verdade, mas é preciso ver também que, mesmo na cidade de Curitiba, houve uma ideia chave. Lerner sempre acreditou que seria necessário, para reformular a cidade, que os seus cidadãos tivessem algo a que se agarrar, uma nova imagem que pudesse depois transmitir alguma carga identitária. A existência de elementos com os quais os habitantes se possam imediatamente identificar e que constituam e conformem a imagem que eles têm do sítio onde vivem é essencial.

    E dessa forma o tema da mobilidade não foi agarrado de uma forma abstracta mas antes de uma forma muito concreta, com o desenho das "estações-tubo" que imediatamente se tornaram um icone da cidade (para além de introduzirem outras inovações que tambem facilitavam o bom funcionamento do sistema).

    Isto é fulcral. As cidades precisam de emissores de identidade. Daí que começar a reformulação de uma cidade através da construção de um edifício desses não seja nada errado.

    A sra Cláudia diz que o caso de Bilbao não lhe agrada porque é "demasiado show-off". A questão é que se for perguntar alguma coisa aos habitantes de Bilbao eles não podiam estar mais contentes. E pouco lhes importa se a transformação que ocorreu se deveu devido à construção de um museu de planos irregulares e inclinados ou não.

    O que interessa é que por causa disso têm agora uma nova rede de metro. Aliás o metro tornou-se também um icone da nova cidade, e as entradas desenhadas pelo arquitecto Norman Foster passaram a ser designadas de "Fosteritos" e toda a gente os conhece.

    Não interessa se o edifício em questão está bem ou mal projectado, se o tipo de arquitectura usado é relevante ou não. Não interessa discutir o processo de fazer arquitectura do senhor Gehry. Se é mais ou menos intrincado, se é aleatório ou não. Se aquilo é escultura ou arquitectura. Isso são questões paralelas, tal como o é a possibilidade de ser "show-off".

    O que interessa é o que esse tal "show-off" permitiu. E a transformação do perfil da cidade, de uma antiga cidade industrial, decadente, cinzenta, que não recebia turistas e que nem sequer conseguia cativar os próprios habitantes acabou por se transformar. E a transformação ocorreu em toda a cidade. O epicentro foi o museu mas as repercussões que essa intervenção teve ultrapassaram grandemente a escala do seu lugar de implantação e tiveram reflexos à escala metropolitana e até mesmo do próprio país.

    Se se conseguiu isso através de um pouco de "show-off" então o "show-off" deve ser uma coisa boa.

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  10. e curitiba é o exemplo perfeito de como, a partir de pequenas modificações, se pode ir atingindo toda a cidade.

    começou-se com a mobilidade, desenharam-se novas paragens. de seguida desenharam-se novos sistemas de distribuição viária (o sistema trenário). Depois definiu-se um perfil de rua, em que a densidade era maior quanto maior a proximidade a esses eixos estruturais.

    Depois começou a aumentar-se o número de áreas verdes. Foram-se construindo alguns parques temáticos.

    Chamou-se o Niemeyer para desenhar o "olho".

    Iniciaram-se políticas de educação, que envolviam construção de bibliotecas (os chamados fárois do saber), a consciencialização para a separação do lixo (a cidade com maior percentagem de reciclagem dos seus lixos), melhoraram-se os cuidados médicos etc, etc, etc.

    Mas as campanhas de marketing, a presença de um sistema político ditatorial no início da transformação da cidade e toda a imagem que se criou à volta do projecto foram importantes.

    Normalmente não é fácil, ou é mesmo impossivel, conseguir concentrar todas estas possibilidades numa intervenção sobre uma cidade.

    Daí que seja preciso "atalhar". Se não é possivel ir fazendo estas transformações de forma continuada ao longo dos anos, recorre-se ao que hoje se denomina de "acupuntura urbana", através da construção de algumas infraestruturas que possam potenciar a mudança. (em curitiba existe o IPPUC, um organismo que controla todas essas transformações, e que se mantem independentemente do partido politico que esteja no poder na camara, mas isso é um caso unico, se fosse sempre assim talvez não fosse preciso recorrer ao "efeito Bilbao" tantas vezes).

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  11. José Luís,
    Talvez o problema na nossa terra (se é que é das Taipas) seja demasiada gente que anda a dormir como o senhor preconiza.

    Deve acompanhar pouco a minha intervenção pública, caso contrário saberia que são vários os casos da Guimarães positiva que aponto.

    Aliás, o meu contributo para a discussão à volta da arquitectura tem mesmo essa pretensão: ajudar a fazer melhor. Se fizesse crítica pela crítica, não apresentara alternativas.

    Já agora: quais são as suas?

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  12. Samuel Silva,
    Sou vimaranense das Caldas das Taipas, ainda o Sr. estava na cegonha...
    Quanto á resposta, dar-lha-ei daqui a l00 anos, como diz no seu post.

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