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Festival Eurovisão da Censura

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A forma como vamos perdendo a capacidade de nos indignarmos perante repetidos atropelos aos Direitos do Homem é verdadeiramente inquietante. Na noite de hoje, perante os holofotes do mediatismo mais inútil, o Festival Eurovisão da Canção realiza-se em Moscovo, num palco tingido pela triste cor da discriminação e da censura.

1. A música «We don’t wanna put in» da Geórgia foi censurada pela organização do evento na sequência das pressões do regime russo que exigiam que o trocadilho «put in» fosse removido da canção. A Geórgia abandonou o evento, organizando uma alternativa bem mais democrática e o Presidente Saakashvili georgiano clama, muito sensatamente, contra a vergonha da Eurovisão.

2. Depois de muitas ameaças, vários manifestantes foram detidos em Moscovo quando participavam numa marcha de protesto contra a discriminação dos homossexuais. Como se sabe, a Rússia não respeita os direitos das minorias sexuais, atentando repetidamente contra os Direitos Humanos. O porta-voz da Câmara de Moscovo afirmou que «semelhantes manifestações não só destroem as bases morais da nossa sociedade como provocam conscientemente desordens que irão ameaçar a vida e a segurança dos moscovitas e dos hóspedes da capital», enquanto que a Igreja Cristã Ortodoxa embarcou na tese de que «a propaganda da homossexualidade é, em qualquer caso, um crime contra a infância».

3. Os organizadores do Festival Eurovisão da Canção pediram à representante da Alemanha, Dita von Teese, para mostrar menos decote na actuação desta noite. Segundo os senhores da Eurovisão, o decote da senhora von Teese não é apropriado para um «espectáculo televisivo familiar».

São apenas três exemplos da censória defesa da moral e dos bons costumes que impregna os nossos dias. Tolerantes perante os pequenos abusos, abrimos caminho às imposições mais ignóbeis e aos atropelos mais graves aos Direitos Humanos que todos devíamos professar. As «diferenças culturais entre os países participantes» não são justificativo bastante para que possamos prescindir da liberdade de expressão, seja escrita ou performativa, do direito à manifestação e da defesa universal da igualdade entre todos, independentemente do sexo, do género, da cor de pele, da orientação sexual ou da religião.

A ler: Gays em desgraça na cidade de Moscovo, por José Milhazes.

15 comentários:

  1. O Festival da Eurovisão sempre foi tudo menos música.Até porque a maior parte da música que lá passa é absolutamente miserável. É um fait-diver para mostrar o quão unida é esta Europa.

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  2. a forma como estas coisas acontecem, assusta-me cada vez mais e deixa-me pouco optimista quanto ao futuro.

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  3. O Festival é só mesmo politiquice!! Quem vê o festival e vê os pontos atribuidos pelo jurado de cada país, apercebe-se que só dão aos países com quem tem maiores ligações...

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  4. O festival sempre foi feito de pequenos abusos e pequenas censuras. não se pode esperar que um esc feito na Russia tenha o mesmo nível de tolerância que um feito na Holanda ou na Grécia, quer aos participantes, quer aos clubes de fãs. Não me surpreende nem me choca. Chocam-me sim este tipo de comportamentos dentro do espaço europeu onde fazem da tolerância cultural, sexual e religiosa uma bandeira. Falas do governo russo como se até a data do esc fosse exemplo para o respeito dos direitos humanos... nunca o foi, porque é que hoje, o havia de ser.

    cumps

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  5. " É um fait-diver para mostrar o quão unida é esta Europa."

    O que é que aquele festival tem a ver com Europa?

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  6. "O que é que aquele festival tem a ver com Europa?"

    Nada, na verdade. Chama-se EUROvisão e os participantes são países europeus. Por isso, só pode ter a ver com Africa.

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  7. Questiono que moral tem este blog para criticar a censura.
    O próprio Censura comentários. Pelo menos, a mim, já censurou, Sr Pedro Morgado.
    Um pouco de vergonha não lhe fazia mal nenhum.
    PS: Espero que isto passe.

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  8. Caro Karoglan,

    Este blogue é um espaço privado que não prescinde de definir as regras que os nossos leitores devem respeitar para nele poderem escrever. Se houve algum comentário moderado é porque, com toda a certeza, violou os princípios que defendemos.

    Como bem compreende, este espaço tem uma identidade de que não prescindimos e na qual apenas participa quem livremente quiser.

    Na escola pública ou num Festival Eurovisão da Canção, a questão é diferente: a escola pública deve incluir e não excluir; o festival da canção, sendo financiado e participado pela televisão pública, deve evitar o desrespeito pelos princípios fundamentais da nossa democracia.

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  9. A Rússia já não é comunista pois não?
    Quanto à censura concordo com o Karoglan.
    Já fui aqui censurado por coisas absurdas.

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  10. "Nada, na verdade. Chama-se EUROvisão"

    Obviamente não percebeu o cerne da minha dúvida; quanto à geografia, é bom descobrir que Moscovo ainda pode vir a ser capital europeia da cultura.

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  11. Dário Silva:

    Moscovo sempre foi considerada uma cidade europeia. Pode consultar os mapas que quiser.

    Quanto ao resto, era à Europa "política" que se referia?

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  12. "era à Europa "política" que se referia?"

    Sim, não vejo nenhum tipo de ligação entre o folclore do festival e a Europa. Revejo-me tanto no festival que só agora soube que o mesmo se se realizou há dias.

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  13. Atenção a isto: Onde Judas perdeu a roupa

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  14. Público a opinião da minha amiga "Artista Maldito", porque exprime exactamente o que eu penso sobre o assunto.

    "Não choca nada o decote da Dita Von Teese. É perfeita, por isso, estéticamente é bela.
    Já a outra senhora de mamas abundantes devia encolhê-las, detesto ver mulheres grandes e a mostrar abundâncias.
    A censura e os bons costumes não passam de moralismos a encapotar outros males da sociedade, esses bem graves, como os "arranjinhos" políticos, as mafias instaladas, os favorecimentos, etc., etc.
    E continuo a dizer, a Dita von Teese é esteticamente agradável e mesmo nua não chocaria ninguém. As criancinhas vêm coisas bem piores, uma delas é o mau exemplo dos Pais."

    Seguem exemplos de actuações, onde faltou a estética e o erotismo de uma Dita von Teese. Não me digam, que sou cega do olho alemão. Dita von Teese é americana.

    A espanhola Soraya vestida com pouco tecido. Os 12 pontos de Andorra livraram-na de ficar em último lugar.

    As contorções da ucraniana Svetlana Loboda com três bailarinos quase nús eram evidentes.

    A turca Hadise mostrou no palco bastante pele.

    AySel & Arash mostram as pernas longas e as dela bem núas.

    O Grego Rouvas arriscou grandes saltos, tendo a mão sempre no mesmo sítio.

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