Crenças e Valores
© Palmira Silva
«Às vezes desaparecem os valores e surgem as crenças. O Público de 2 de Maio continha um artigo intitulado “Tratamentos para alterar orientação sexual não são uma coisa do passado”. Tudo começou com a petição online de um homem de trinta anos que reclama “um comprimido, uma injecção”, para fazer face ao “enorme desgosto por sofrer de tendências homossexuais”. Na pesquisa do jornal, destacam-se pela negativa declarações de psiquiatras portugueses que surgem na tradição homofóbica de alguma psiquiatria, que felizmente o conhecimento científico há muito condenou. Dezenas de anos depois da homossexualidade ter deixado de ser considerada doença pela comunidade internacional, alguns dos nossos psiquiatras (com responsabilidades!) falam de “homossexualidade primária”, com “cunho biológico marcado” e de “homossexualidade secundária”, ou desenvolvem a possibilidade de “reenquadrar a identidade de género e as opções de relacionamento sexualizado”.
O problema não é saber se os psiquiatras podem tratar homossexuais, a questão é que não devem. É certo que muitos homossexuais revelam sintomas psicopatológicos, mas a análise cuidada dessas manifestações demonstra que elas são devidas à discriminação sofrida: quem não se sentirá mal se for alvo sistemático de troça ou de humilhação? O papel dos terapeutas, perante um eventual pedido, deverá ser o de capacitar para a luta contra a homofobia, ajudando a que sejam capazes de afirmar a sua orientação sexual primeiro junto de pessoas próximas, depois (se o desejarem) em contextos mais alargados.
Quando psiquiatras portugueses admitem “tratar” a homossexualidade (alinhando, portanto, na velha e ultrapassada ideia da “doença homossexual”), estão também a manifestar intolerância contra quem é diferente. As declarações são ainda mais graves quando já se iniciou entre nós a discussão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, porque não faltarão referências a estas posições como justificativas da não alteração da legislação sobre o casamento, embora elas não possuam qualquer justificação. O caso é ainda mais sério quando a posição ideológica provém de alguém com responsabilidade na Ordem dos Médicos, mas serve para todos: mais uma vez as vozes de alguma Psiquiatria portuguesa continuam ao lado da ideologia mais retrógrada, em vez de se colocarem no sentido do avanço da ciência.»
[Daniel Sampaio, Pública 10.05.2009]
A ler: Cronologia dos Acontecimentos, por Ana Matos Pires; Associações escandalizadas com terapias para mudar de orientação sexual, no Público; «O Carnaval dos homofóbicos», por Joana Amaral Dias.
A assinar: Petição à Ordem dos Médicos.
A celebrar: Hoje é o Dia Internacional Contra a Homofobia, celebrando a data em que a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Internacional das Doenças.
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Não podia estar mais de acordo ;)
ResponderEliminarJa agora, a campa com a célebre inscrição é de Leonard Matlovich (1943–1988). Parabéns pelo blog!
Quer se queira ou não a homossexualidade não é normal.
ResponderEliminarEsta é a minha opinião.
Espero que respeitem porque eu não discrimino os gays.
"quem não se sentirá mal se for alvo sistemático de troça ou de humilhação?"Quantos posts destes serão precisos para começar a haver um real entendimento da questão?
ResponderEliminarNesta ordem de ideias não há investigação cientifica que resista... Define-se um conceito e ai daquele que nele mexer. está a atentar contra a dignidade e a embarcar numa homofobia. Todos os «mecanismos» humanos, sejam eles de ordem física ou psicológica, são objecto de estudo. Porque não este? e em muitos casos, por muitos naturais que o seja, surgem complementos, de ordem química ou psíquica, para os complementar ou potenciar.
ResponderEliminarAssusta-me a ideia dos profissionais da saúde poderem negligenciar aqueles que acham diferentes deles. Não só serem homofóbicos, mas ignorarem grupos de risco, de cor diferente, etc. Assusta-me porque esses profissionais deveriam ser antes de mais os primeiros a aceitar e não recusar tratamentos.
ResponderEliminarAssusta-me ainda mais que a "guerra" que se trava contra a homofobia ainda parece estar numa fase inicial, quando a comparar-mos com a aquela que ainda se trava contra o racismo. Assusta-me muito ouvir "gente" nova com pensamento e atitude vincadamente a favor da homofobia.
É verdade Sandra, tantas vezes fico de boca aberta pelas barbaridades que ouço. E custa-me saber que não é com uma explicaçãozinha que vamos lá.
ResponderEliminarSerão precisos muitos mais anos.
Já várias vezes disse que um dia também gostava de ver por cá outro tipo de notícias, e não somente as que dão outra imagem...
ResponderEliminarIgreja no Congo destina 144 milhões de dólares a vítimas da SIDA
A Igreja Católica na República Democrática do Congo destinará mais de 144 milhões de dólares às vítimas da SIDA e ao combate contra o HIV. As 47 dioceses do Congo participaram da elaboração deste programa com o qual a Igreja quer unir-se aos esforços do governo e de outros organismos.
O presidente da Comissão episcopal responsável por esta área, D. Javier Kataka, bispo de Wamba, destacou que o programa beneficiará milhões de congoleses afectados pela doença.
O Ministro da Saúde do Congo, Auguste Mopipi, agradeceu os esforços da Conferência Episcopal na luta contra a pandemia e afirmou que a nação precisa da contribuição das confissões religiosas, da Igreja Católica em particular, para derrotar a doença.
O programa desenrola-se em quatro âmbitos: educação e prevenção; assistência médica, espiritual, psicológica e socioeconómica; aspectos éticos e jurídicos; comunicação.
Redacção/Zenit