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Um País de Asfalto e Betão

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País das Autoestradas
© Rodrigo

Portugal é um dos países com mais quilómetros de autoestradas de toda a União Europeia. Apesar disso, o Governo apresentou recentemente um plano que contempla 1316 novos quilómetros de estradas e auto-estradas, entre os quais se inclui a criação de uma terceira ligação entre Lisboa e o Porto. A opção é polémica, tendo sido alvo da pública e veemente oposição do PSD que erradamente, diga-se, inclui a construção da linha ferroviária de alta velocidade no mesmo pacote contestatário.

A sacralização das autoestradas enquanto motores de desenvolvimento é um tema recorrente na retórica dos sucessivos governos, mas estão por demonstrar os efeitos práticos da aposta. Pelo contrário, a experiência dos últimos anos demonstra que temos excesso de auto-estradas e que estas vias de transporte não se têm assumido como verdadeiras âncoras para o desenvolvimento integrado do país. Afinal, quanto do dinheiro que se injecta na construção de auto-estradas tem retorno em termos de diminuição dos custos associados com a elevada sinistralidade das estradas secundárias e também a nível do aumento da competitividade das nossas empresas? É uma pergunta que gostava de ver respondida, mas à qual, infelizmente, os nossos políticos teimam fugir.

A recente crise dos combustíveis, ao expor as fragilidades dos nossos sistemas de transportes colectivos, legitimou a ideia de que a aposta no transporte rodoviário individual, para além dos enormes custos ambientais, se constitui como um penoso contributo para o acentuar das desigualdades sociais em que vivemos. É consensual que os cidadãos estão hoje mais vulneráveis a interesses que lhe são alheios, como a especulação no mercado petrolífero, e que essa vulnerabilidade aumenta na razão directa da sua dependência do automóvel para as deslocações diárias.

5 comentários:

  1. É como a construção do novo aeroporto. Quando ficar concluido não vai ter aviões porque não há dinheiro para pagar o querosene.

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  2. A "alcatroamento" do país foi, e ao nível factual continua a ser, a escapatória de políticas e políticos para a falta de visão no modelo de mobilidade e comunicação necessário ao desenvolvimento do país.

    Associemos esta "falta" de visão com a tendência "nacional" do que o investimento público deve ser em megalómanas obras públicas e veremos o quão endividados seremos.

    Nestes casos (mega-investimentos públicos) temos de ser frios na análise:
    1. Se o modelo está falido então porque é que continua a ser O modelo utilizado?

    Simples, como e por quem são feitas estas estradas? E terão a resposta.

    2. Investimentos em grande escala é um grande erro no conceito de mobilidade e comunicação. Temos, já, os "alicerces" montados basta pequenas e pertinentes modificações para que se colmate o fosso de mobilidade e comunicação entre regiões (pois este é o verdadeiro problema).

    Sem dúvida a mobilidade e a comunicação é um conceito contemporâneo e sempre actual (passo o pleonasmo). Pois a necessidade de comunicação e mobilidade é uma constante no tempo.

    "(...)que erradamente, diga-se, inclui a construção da linha ferroviária de alta velocidade no mesmo pacote contestatário."

    Não penso isso. Pois, a linha ferroviária de alta velocidade (a ser implementada com o trajecto que está a ser idealizado é tudo menos de "alta-velocidade") é mais um exemplo de um erro em que os políticos e decisores tendem a persistir. Ou seja, a linha ferroviária sofre do mesmo mal que o "novo" plano de estradas: a megalomania, o excessivo endividamento, a falta de consideração de benefício/custo e a pretensa necessidade de agradar a quem constroi ou financia. (sei que é um chavão mas a realidade não engana)

    Ferrovia sim, mas com investimentos precisos, locais e pertinentes, não com este engodo (TGV) que servirá para a agradar a poucos (financiadores, construtores e políticos) e satisfazer regionalismos (veja-se o pretenso trajecto).
    Enfim, é o que temos e o que querem nós tenhamos.

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  3. Ontem estive no vale do Tâmega. Lá onde os Governos não investiram um tostão em décadas no caminho-de-ferro e depois o fecharam por falta de condições.

    Há lá uma estrada pronta a abrir, de quatro faixas. Grande, grande. Mas não há comboio.

    Agora nem as miseras dezenas de quilómetros até Amarante. Mas há 27 camionetas por dia de Amarante ao Porto. Como seria com um comboio de qualidade?

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  4. Há uma questão de visão política (e ideológica) subjacente a isto. O comboio (e no geral, os transportes públicos) é mais democrático, acessível a todos. Permite uma economia nos orçamentos familiares que podia ser canalizada para outras formas de consumo, por exemplo. E permite que os pobres tenham a mesma mobilidade das classes média e alta.

    Os carros permitem ao Estado sorver a dezena de impostos que lança sobre os automobilistas. E são uma espécie de símbolo de novo-riquismo de um país que não tem onde cair morto, mas onde se vendem mais topos de gama de que utilitários.

    E a população mais carenciada tem mesmo que comprar um carro, sob pena de não poder sequer ir ao médico. Ganham uns quantos, mas perdemos todos.

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  5. A propósito de auto-coisas, ocorre-me o seguinte pensamento que tomo a liberdade de partilhar com a plateia...

    "Em Portugal, as auto-estradas são como as vacas na Índia: não se lhes toca mas continuamos a passar fome".

    Tenho dito.

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