Os detectores de metal e os sítios arqueológicos [1]
Há pouco tempo, Luís Raposo, Director do Museu Nacional de Arqueologia, publicou uma crónica de opinião na qual explanou a sua perspectiva relativamente à delicada situação da utilização fortuita de detectores de metal nos monumentos arqueológicos. Independentemente das ideias por ele manifestadas, ou dos procedimentos que sugere, a temática é assaz complexa.
Durante a nossa formação não nos apercebemos, na verdade, da dimensão do problema, e limitamo-nos a interiorizar que essas acções são criminosas e, como tal, puníveis. Acontece que a Lei, por vezes, não assume propriamente uma função educativa, sobretudo quando raramente é aplicada.
Recentemente, enquanto falava com alunos da Escola EB 2 3 de S. Salvador de Briteiros, apercebi-me de que muito pouca gente tem a efectiva consciência do que é correcto ou errado, relativamente aos sítios e ao espólio arqueológico. Efectivamente, a maioria dos alunos tem concepções erradas de que os objectos arqueológicos têm valor monetário (e que é o sustento dos arqueólogos), de que a sua recolha (entenda-se, desenterrar objectos) é livre, e que, o mais engraçado, os arqueólogos só têm que se congratular com isso, porque escusam de fazer o trabalho “mais difícil”.
Ou seja, apesar de serem perspectivas um pouco ingénuas, e talvez normais em estudantes do ensino básico, a verdade é que as mesmas se estendem a grande parte dos adultos. E aqui reside o problema maior. Verificam-se danos irreversíveis em monumentos, cujos autores podem não ter de facto consciência de que o que fazem é errado. Daí que estes sejam facilmente detectáveis, porque por vezes acabam por procurar os arqueólogos para se informarem do valor das peças (que frequentemente é pouco ou nenhum).
Mas outros há, os casos mais graves, que não têm ingenuidade nenhuma, como porventura o autor dos saques ilustrados na imagem, no Concelho de Boticas. Estes sabem bem o que procuram, e destroem completamente os níveis arqueológicos em busca de tudo o que seja metálico, só porque alguém, há muitas décadas atrás, recolheu ali um objecto em ouro.
Tendo em conta o isolamento de grande parte dos sítios arqueológicos, convenhamos que a fiscalização (para a qual, na verdade, o Estado não dispõe de meios) é quase uma utopia.
podia ser insuficiente, mas umas horas de arqueologia nos planos de estudo de história (nos vários ciclos de estudo) poderia contribuir para, pelo menos, educar para esta questão.
ResponderEliminarpenso que o problema é, essencialmente, de ignorância. e esta, apesar de não poder ser liminarmente exterminada, pode ser controlada.
Caro João,
ResponderEliminarDe facto a componente de Arqueologia/património é muito reduzida nos planos de estudos das cadeiras de História. Estes são ocupados com um programa teórico enorme (em nenhum ano, quando frequentei o ensino básico, se completou o programa), mas deficitário no que se refere à educação dos alunos para com os monumentos. Claro que esta situação varia consoante os próprios professores, os conhecimentos que têm e uma maior ou menor ligação à Arqueologia. Existem escolas secundárias que agendam saídas de campo com os alunos, e quase todas fazem visitas de estudo a monumentos. Mas isto é apenas um dia, ou uma tarde.
Não se podendo eliminar a ignorância, podia-se reduzir consideravelmente. Mas isto é como tudo...