Mas daqui vem o abalo ao dogma do voto secreto como o mais democrático, no nosso fundamentalismo da urna. Nestas questões de escolha com grande impacto de futuro e em processos primários, limitados a esfera partidária ou a lugares comuns mais restritos e particulares, não vejo grandes desvantagens no voto assumido e discutido. É na minha opinião, bem mais fiável e democrático que o da urna, porque obriga a uma partilha de opiniões, muito maior empenho e dedicação das pessoas envolvidas e a uma maior exigência perante o candidato que apoiam, porque elas também fazem parte da sua cara e por isso, também do directo e contínuo escrutínio da acção governativa e do cumprimento das propostas. E aqui, como visto na nomeação de Obama em Iowa, com grande peso do voto jovem, muito mais atraente para a cidadania desde cedo.
É que vejamos o que acontece em Portugal. Os Partidos, na sua generalidade, raramente se sub-dividem em plataformas de interesses de sociedade claramente assumidas. Estas são expulsas para a esfera dos movimentos e pequenos partidos políticos, com objectivos limitados e por isso sem grande expressão e influência na vida do País. Em compensação há os guterristas, socratistas, alegristas, soaristas, mendezistas, menezistas, portistas (de Portas), nogueira-pintistas, cavaquistas, santanistas. Todos em redor da sua Nossa Senhora com interesses muito menos da generalidade que pessoais, com vínculos de irmandade e sem grandes perspectivas de mudar o país, que não na sua única e interesseira perspectiva do mundo, com o que lhes convém, em licenças de canteiro e cargos em empresas mais ou menos públicas.
E será aqui que residem parte dos males do aparelhismo partidário porque, apesar de cartão, é anónimo e muitas vezes escondido, hipócrita, parolo, clubista e sobretudo egocêntrico. Sustentado no silêncio pelos mecanismos do vício do sistema. O voto fechado é também frágil e traidor, porque quem elege, pode convencer(-se) que não elegeu e não se obriga ao acto de contrição pela mediocridade da escolha que fez, naquele êxtase de laissez-faire ou só para meter nojo. E por aí inconsequente e armadilhado como a cosa nostra, nas fidelidades.
Daí que me surpreenda a posição de Daniel Oliveira, dirigente bloquista e blogger, torcendo o nariz ao modelo na escolha do (seu) candidato democrata no Iowa. Pois o que me parece é que o Bloco de Esquerda, de longe o partido mais bem preparado e americanizado (que não se leve o termo à letra) do sistema, surgiu da união de várias plataformas com interesses diversificados, nas liberdades e nas visões do socialismo, mas com pontos em comum, e que lhe dão a solidez de um partido crescente que vai comendo parte do partido socialista e chupando o tutano da catatonia do PCP. E num partido sem um líder eleito, tal como nos Democratas em tempo de deserto, há sempre um consenso informal em torno de uma ou duas caras mais representativas, sendo neste caso o Senator Louçã o mais caucusiado de todos. Coisa que vai faltando aos restantes, nos outros eixos do espectro político, e que tanto tem enferrujado a Democracia e questionado a sua viabilidade nos últimos anos.
Foto retirada da BBC News
E num partido sem um líder eleito, tal como nos Democratas em tempo de deserto, há sempre um consenso informal em torno de uma ou duas caras mais representativas, sendo neste caso o Senator Louçã o mais caucusiado de todos. Coisa que vai faltando aos restantes, nos outros eixos do espectro político, e que tanto tem enferrujado a Democracia e questionado a sua viabilidade nos últimos anos"
ResponderEliminarLouça não é "caucusiado", nem líder informal.
Louça tem o cargo ( não há lider no BE)mais representativo, porque era o nº 1 da lista vencedora à mesa nacional por voto secreto.
Exactamente JMF, nº1 da lista à mesa nacional, não é exactamente um cargo de Liderança efectiva. Tal como Howard Dean é o chairman do Democratic National Committee do Partido Democrata Americano, que basicamente gere o partido e não é propriamente o candidato automático.
ResponderEliminarDaí que metaforicamente tenha dito que informalmente há uma união dos caucus do BE em torno de Louçã e, quanto mais não seja, assim identificado pelos potenciais eleitores.
Bem até foi um processo semelhante, não com as complexidades americanas, na sua escolha a candidato presidencial.
Mas não contesto o modelo do BE, até vejo grandes vantagens nisso.
Gostaria de vos convidar para um forum nortenho que esta a começar http://portucale.freeforums.org/ O forum é so sobre o norte de Portugal, sobre a nossa região e os nossos clubes do norte
ResponderEliminarCreio que estás a confundir um pouco a questão.
ResponderEliminar«Nestas questões de escolha com grande impacto de futuro e em processos primários, limitados a esfera partidária ou a lugares comuns mais restritos e particulares, não vejo grandes desvantagens no voto assumido e discutido.»
Isto que acontece nos EUA, também acontece (ou vai acontecendo) em Portugal, pelo fenómeno das directas.
Quanto ao voto secreto, comparas o que é externo aos partidos (o não debate de ideias e voto esclarecido), em Portugal, com o que se passa, dentro dos partidos (apesar de a ideia de partidarismo ser falsa, devido à participação de independentes nos caucases) nos EUA.
Tens é de comparar o que se passa dentro dos partidos portugueses, com o que se passa nos caucasses. E o resultado a que chegarás é que é essencialmente o mesmo. É assim que são escolhidos os candidatos a PR, é assim que vão sendo escolhidos os candidatos a Primeiro-Ministro. Mas até é pior cá, porque não é algo que esteja aberto a "independentes".
Se o aparelhismo partidário, cá, é "clubista", tenho muitas dúvidas que lá, estes caucases que correspondem a pequenos "distritos" não chegem a conclusões também "clubistas", no sentido do que é melhor para eles, mais do que para o país. Aliás, algo muito criticado é o fenómeno semelhante ao que se passou cá com o Valentim Loureiro e os "seus" electrodomésticos que andou a oferecer. Isto acontece, particularmente, nestes primeiros Estados.
Outra enorme confusão que fazes é esta:
«Os Partidos, na sua generalidade, raramente se sub-dividem em plataformas de interesses de sociedade claramente assumidas.»
Nos EUA não existem partidos propriamente ditos. Se Portugal tivesse um sistema idêntico então: BE, PCP, PS, MRPP e outros, corresponderiam a um "partido"; enquanto que PP, PSD, PNR, PPM e outros pertenceriam a outro "partido".
«Os Partidos, na sua generalidade, raramente se sub-dividem em plataformas de interesses de sociedade claramente assumidas.»
Ora, em Portugal essa sub-divisão está feita logo à partida, lá não. É apenas isso.
Provavelmente. Mas as directas não são eleições por voto secreto, em listas com com um programa, e contados os votos , nas distritais e concelhias, infere-se para os resultados nacionais?
ResponderEliminarBem, provavelmente eu encaminhei mal a questão. Mas digo por exemplo que ao nível dos partidos maiores há esta falta de participação activa dos cidadãos na influência das políticas do país. Digo porque conforme há as facções sindicalistas, como plataformas, ligadas ao PSD, PS e PCP deveriam haver, na fisiologia dos partidos, outros grupos bem diferenciados empurrando para outras questões para além das do trabalho.
Ideia se calhar, fora do contexto do sistema português, mas podiam bem funcionar como uma manta de retalhos cosidos por um fio comum que as caracterizasse como parte do mesmo partido, jogando e reunindo-se em torno de uma ou várias figuras. Isto torna a vida partidária mais viva e participada, sempre e não só por alturas de Eleições.
Mas para breve faço outra reflexão sobre o que eu acho do voto assumido e discutido noutras assembleias e eleições que não as partidárias...
Nos EUA não existem partidos propriamente ditos. Se Portugal tivesse um sistema idêntico então: BE, PCP, PS, MRPP e outros, corresponderiam a um "partido"; enquanto que PP, PSD, PNR, PPM e outros pertenceriam a outro "partido".
ResponderEliminarNão há partidos nos EUA?
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_partidos_pol%C3%ADticos_nos_Estados_Unidos_da_Am%C3%A9rica
José Manuel Faria, não percebeu o que eu disse.
ResponderEliminarImagine que Francisco Louça é um dos candidatos "Democratas", Jerónimo de Sousa outro, Sócrates outro, Manuel Alegre outro, etc, etc.
Nos EUA, esses indivíduos fariam parte do mesmo "partido". O Partido Democrata e o Partido Republicano não têm uma estrutura e uma máquina partidária como as que temos cá. Como já deve ter reparado, cada candidato tem os próprios seus orçamentos e apoios financeiros. Não é propriamente uma "vaquinha" comum que é partilhada por todos os candidatos. Mas são todos "Democratas".
Hão-de existir muitos milhares de partidos a mais do que aparecem nessa lista, mas são partidos sem qualquer expressão. Nos EUA funciona, de facto, o bipartidarismo.
Em Portugal também existem muitos pequenos partidos, cuja função é, sejamos francos, praticamente inútil. Se analisarmos certas votações, podemos mesmo questionar se a própria família dos candidatos votará neles... Tamanha é a sua expressão.