A discussão que aqui inciámos continua tanto nesta caixa de comentários como no blogue Atlântico. É óbvio que nestas matérias todas as generalizações são perigosas dada a multiplicidade de variáveis implicadas.
No que ao ser humano diz respeito, poder é o que melhor se compara ao território arduamente disputado entre os membros de várias espécies animais. Para esses animais território também significa mais do que sexo, mas significa sobretudo sexo.
Matt Ridley, citando Jaenike, detaca que o sexo tem custos e que isso pode ser observado na natureza: «se o sexo não tivesse um custo, não existiriam beija-flores.» Por outro lado, num registo que roça o machismo, Aristotle Onassis, um magnata turco, assume que «If women didn’t exist, all the money in the world would have no meaning.» Se calhar tem razão…
Serão o dinheiro e o poder formas de conseguir o melhor sexo? Sem dúvida. A dúvida é saber em que medida é que o sexo justifica e fundamenta as lutas de poder e se é seu fundamento único. A visão parece provocatória numa sociedade formatada pela tradição judaico-cristã, mas há várias observações da etologia que nos poderão conduzir nesse sentido. É possível que análises científicas mais apuradas acabem por nos esclarecer nos próximos tempos.
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Grande tema. Logo que arranje um tempinho aproveito para meter a colher ;)
ResponderEliminarPedro
ResponderEliminarPermite-me um comentário.
Embora a luta pelo poder, seja pelo território, seja pela comida, seja pelo "sexo" , é uma constante das espécies animais e vegetais, o verdadeiro móbil não são as mais valias individuais, mas o garantir da sobrevivência das espécies. Isto no sentido biológico puro e que tem marcado toda a investigação da vida (biologia).
Por isso acho redutor e até erróneo que te refiras aos animais como lutando pelo sexo, enquanto todas as evidências apontam para a reprodução, Veja-se o caso das Zebras que têm um pénis comprido o suficiente para um novo macho induzir o aborto numa fêmea prenha de um antecesor, ou os leões que matam as crias quando assumem o território de um anterior macho. Pode parecer cruel, mas são as regras da natureza. Nem todas as espécies se comportam assim é óbvio, sobretudo as que assentam na base da cadeia alimentar e que vencem pelo número de indivíduos.
Quanto aos seres humanos, os instrumentos são os mesmos, deturpamos é os móbeis... ou talvez não. Por muito estranhas que pareçam as associações de alguns casais famosos, provavelmente o maior móbil, é a continuidade da sua identidade, e um bom exemplo é o do Onassis, que sempre promoveu o seu império associando-se a pessoas famosas e abastadas. Mas provavelmente, o mais importante para ele era dar continuidade ao trabalho de uma vida.
O que nos distingue dos outros animais, neste campo, é a existência de uma identidade individual que se sobrepõe, em laraga medida, à idendidade da espécie.
JMP
O JMP levanta uma questão pertinente que ainda não tinha referido.
ResponderEliminarTal como o sexo serve para cumprir o nosso desígnio enquanto espécie, a nível consciente, as coisas não são tão lineares. Como ele refere (acerca do trabalho de uma vida), há pessoas que aspiram a reconhecimento, a serem lembradas na história. Para isso necessitam de vários poderes: dinheiro, prestígio social, força política, força militar, entre outros. Podemos chamar a este tipo de objectivo/necessidade "desejo de legado", enquanto perpetuação.
Irei debruçar-me sobre este assunto, de forma mais aprofundada, brevemente...
JMP e Hugo Monteiro
ResponderEliminarOs vosso constributos são excelentes. De facto, é mais correcto referirmo-nos à reprodução do que ao sexo.
Deixo aqui mais um contributo:
«Se a reprodução tem sido a recompensa e o objectivo do poder e da riqueza, então não surpreende que, frequentemente, também tenha sido a causa, e a recompensa, da violência. Presumivelmente é por este motivo que a Igreja, inicialmente, ficou tão obcecada com as questões relacionadas com o sexo, pois reconhecia que a competição sexual era uma das principais causas do homicídio e da confusão. Na cristandade, a sinomínia gradual do sexo e do pecado certamente baseia-se mais no facto de o sexo conduzir frequentemente à ocorrência de problemas que no facto de existir algo inerentemente pecaminoso no que diz respeito ao sexo.» Matt Ridley, A Rainha de Copas (O Sexo e a Evolução da Natureza).
JMP e Hugo Monteiro
ResponderEliminarOs vosso constributos são excelentes. De facto, é mais correcto referirmo-nos à reprodução do que ao sexo.
Deixo aqui mais um contributo:
«Se a reprodução tem sido a recompensa e o objectivo do poder e da riqueza, então não surpreende que, frequentemente, também tenha sido a causa, e a recompensa, da violência. Presumivelmente é por este motivo que a Igreja, inicialmente, ficou tão obcecada com as questões relacionadas com o sexo, pois reconhecia que a competição sexual era uma das principais causas do homicídio e da confusão. Na cristandade, a sinomínia gradual do sexo e do pecado certamente baseia-se mais no facto de o sexo conduzir frequentemente à ocorrência de problemas que no facto de existir algo inerentemente pecaminoso no que diz respeito ao sexo.» Matt Ridley, A Rainha de Copas (O Sexo e a Evolução da Natureza).
«Tal como o sexo serve para cumprir o nosso desígnio enquanto espécie, a nível consciente, as coisas não são tão lineares».
ResponderEliminarA questão é se as motivações conscientes (desejo de reconhecimento, desejo de poder, etc.) não são também formas de aumentar o sucesso reprodutivo (ou seja, são geneticamente determinadas).
Lembrem-se que a consciência também é uma aquisição evolutiva, e provavelmente deve o seu sucesso ao contributo que dá para o sobrevivência dos genes do indivíduo.
Nem sempre sexo na vida animal significa violencia ou poder. Na espécie bono, tal serve para alcalmar e socializar.Os machos em vez de lutarem preferem acazalar insdiscriminadamente com o consentimento obvio das f~emeas. Assim devia ser na espécie homo, um pouco como fazem os esquimós quando recebem visitas que partilhan a fêmea, e com serteza haveria muito menos guerras.
ResponderEliminarRomano:
ResponderEliminarAcredito nisso, mas também acho que há outras necessidades "especiais". Caso contrário, porque é que as pessoas sentem necessidade de ouvir música, ler um romance e ver uma galeria de arte? Creio que, à medida que a consciência se desenvolveu, foi ganhando hábitos próprios. Não descurando, porém, que a mente e o corpo estão ligados e que se influenciam mutuamente.
Uma das questões que costumo colocar:
Sendo o raciocínio e a consciência uma "plataforma" baseada no cérebro e o cérebro uma "plataforma" baseada em matéria (átomos), quais serão as semelhanças que existirão entre a estrutura de uma forma de pensar, e de toda uma sociedade, e um conglomerado de corpos físicos?
Estará tudo isto interligado de uma certa forma?