Avenida Central

O Fim da Avenida Central

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Esta fotografia da parte final da Avenida Central foi tirada nos anos 30. O eléctrico ainda aqui parava (o símbolo no poste indicava uma paragem) e passava a caminho do Bom Jesus, o jardim da Senhora-a-Branca tal como o conhecemos não existia, o Palacete Matos Graça ainda ostentava a escadaria, os tectos magníficos, as pinturas nas paredes e as madeiras exóticas que a Câmara e um projecto (segundo sei do Arquitecto Noé Diniz) entenderam não ter interesse, a Velha-a-Branca ainda era “apenas” a casa de habitação e o consultório médico do então Presidente da Câmara de Braga. A cidade não tinha ainda entrado a sério na "modernidade".

A casa que vemos em primeiro plano do lado direito, embora sem grande interesse especial, já não existe. Como é hábito, foi substituída por uma reles imitação em cimento. Por cá não se usa restaurar o antigo quando vale a pena ou demolir sem medo para fazer edifícios novos, modernos e marcantes (só o estádio teve direito a esse luxo). Prefere-se a hipocrisia de fingir que se restaura o centro histórico, mostrando aos turistas um cenário asséptico de telenovela que esconde prédios, na verdade, tão maus como os de Lamaçães (quantas casas realmente antigas ainda haverá no nosso centro histórico?).

Posso associar a esta foto uma série de coincidências pessoais, talvez insignificantes: vivo aqui perto nos últimos anos, a Velha-a-Branca nasceu numa das casas que se vê na foto, estudei na escola primária atrás do fotógrafo e admiro os transportes sobre carris. E claro, é a minha avó - na altura recém chegada a Braga e agora com 90 anos - que está à janela!

14 comentários:

  1. Crónica e fotografia fabulosas!

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  2. Parabéns à sua avó, é uma bela idade.

    Porque foi que teve de se dar cabo de tudo o que tínhamos de melhor?

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  3. Como diria um amigo meu "saudades de um tempo que não vivi".
    As pessoas daquele tempo seriam mais escravas e infelizes que as de agora?

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  4. Magnífico!
    No texto, na imagem e na oportunidade!!!

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  5. Como devia ser bonita braga nessa altura. Eu como jovem bracarense só me posso roer de inveja por nunca ter conhecido a minha cidade assim. Se calhar já nem pedia assim, só pedia como tenho gravado na minha memória a avenida. O que é feito das árvores gigantes que lá existiam? Só uma coisa, se calhar é uma recordação confusa que eu tenho, mas quando eu devia andar pelos 5 ou 6 anos lembro-me de tipo uns presépios, só que no tempo do S.João, que eram movidos a água que se encontravam na avenida na zona onde havia umas árvores muito grandes. Não sei se alguém me poderá confirmar isso ou se foi num passeio qualquer que tenha feito com os meus pais. Já agora felicito a sua avo pela bela idade que tem.
    P.S. ou é de mim ou a rua era muito mais larga nesse tempo? Se calhar permitiria uma maior mobilidade, porque nesta zona quando tentam passar dois autocarros é o fim do mundo.

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  6. Isto hoje foi a dar-lhe nos posts que é para compensar os dias sem escrita.
    NS

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  7. Não é Braga, desenganem-se! É o sopro de uma modernidade puta que se revela atrás do cifrão e do favor. É uma doença de todas as cidades, digo, de (quase) todos os homens. Não houvesse estes espaços e tudo pareceria normal!
    Denunciemos!
    Afinal ainda há gente acordada!

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  8. Aconselho a acederem a http://www.ted.com/talks/jaime_lerner_sings_of_the_city.html e ouvirem (ou lerem, porque tem legendas em português) e a http://www.youtube.com/watch?v=-KhVoYnpAi0 o que se pode, ou deve, fazer a uma cidade.
    É pena que os nossos autarcas não entendam o "português do Brasil" e não sigam as 'dicas' deste homem que esteve 45 anos à frente de um município (bom, há quem, do lado de cá, esteja a tentar tirá-lo do pódio), considerado hoje como um dos melhores locais para se viver.

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  9. Eu também estudei no D.Pedro V.
    Esta casa, é onde está agora aquela galeria comercial que vai dar à Rua do Raio?

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  10. ao João:
    - por volta de 1982/83 a avenida central foi remodelada (ainda tenho ideia das obras), desapareceu o "corredor" central e o trânsito passou a circular apenas junto aos prédios, dos lados sul e norte.
    - mais tarde, algumas árvores grandes foram abatidas para a construção do parque de estacionamento em 1994/95 (nesta altura o trânsito já só circulava no lado norte). A outra parte das árvores foi morrendo, não sei se de morte natural. As árvores antigas têm já 95 anos de idade

    ao Rui:
    - a casa, de onde creio que a foto foi tirada, é a que ainda existe por cima da Portugália; a casa que foi demolida era a da loja Euroásia para os mais novos ou do Pinto Relojoeiro para os mais velhos (segundo me contaram, a partir dos anos 50 e durante os 20 anos seguintes era costume abrir a porta da loja e gritar "ó Pinto, olha a morte!")

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  11. Belo! Texto e imagem!
    Porque é que está inactivo há tanto tempo este sítio FABULOSO???

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  12. Esta foto, é da casa onde vivia a sua bisavó Senhora D. Esmeralda (Mãe da Senhora sua Avó, D. Luísa). Ainda se vê a "coroa" do relógio “reclame”que o "Pinto Relojoeiro" tinha por cima da porta de entrada da relojoaria.
    Recordo muito bem a sua avó, Senhora de cabelos lisos brancos que eu muitas das vezes a acompanhei nos seus passos vagarosos, protegidos com uma bengala. A Senhora D. Esmeralda, apesar de a conhecer (em meados de 1961) com uma idade já avançada sempre acalentava simpatia e afabilidade. Sua Avó, a Senhora D. Luísa, sai á Mãe.

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