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GNR Patrulhou Bem o Barco

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WrayGunn - Enterro da Gata 09
© samura

Não, não voltou a haver nenhum cargueiro desaparecido por esse oceano fora, nem nada que se pareça. Houve, isso sim, um inesperado protagonista no Barco Rock Fest, um festival de música que tem lugar na praia fluvial de São Cláudio de Barco (Guimarães), e que aspira a tornar-se, já em ano de capital europeia da cultura vimaranense (2012), um festival tão grande como o mítico Paredes de Coura.

O mal-estar instalou-se quando a Guarda Nacional Republicana (GNR), contratada para garantir a segurança no recinto, começou a fazer rondas pelo campismo com cães peritos em farejar drogas. Um dos elementos dos Born a Lion, banda da Marinha Grande que actuou na sexta-feira, foi apanhado com uma quantidade considerável de estupefacientes, detido e, como é estrangeiro, corre o risco de ser repatriado.

É comum acreditar, entre os festivaleiros, que nestes acampamentos tudo é permitido. A verdade, como sabemos, é que não é. Outra verdade, também, é que se em Paredes de Coura, por exemplo, as revistas à entrada e ao campismo fossem minuciosas, mais de 50% das pessoas seria detida ou identificada por posse e/ou consumo de drogas.

Este 'excesso de zelo' causou desconforto entre a organização, que falou em "abuso de autoridade", e entre as bandas que actuaram no sábado, quando o Avenida Central esteve presente no recinto. Saltou logo à vista o dispositivo policial ainda o recinto estava longe. Na rotunda a seguir ao Hotel das Taipas, uma meia-dúzia de viaturas policiais e duas dezenas de agentes tinham montada uma vistosa operação-stop. Dada a hora precoce (22h00), o dispositivo estaria a controlar as idas e não as vindas do festival.

O espaço tem, de facto, muitas semelhanças com o de Paredes de Coura. Situa-se ao lado de um rio (Ave), dispõe de uma praia fluvial, tem igualmente uma ponte a dar acesso ao campismo e várias árvores a ladear o espaço. Frente ao palco, a inclinação é ligeira, ao contrário da acentuada de Coura, mas cá atrás vê-se igualmente bem para os artistas. A filmagem funcionou bem, com várias câmaras a apresentarem imagens dos concertos numa tela enorme, visível da área de alimentação.

É nessa parte, precisamente, que ainda se nota o carácter novato do festival, este ano na sua terceira edição. Pouca oferta, com ementas manuscritas e quase todas semelhantes. É certo que a procura não foi elevada, mas, se fosse, estaria aqui um problema a resolver. Ainda assim, com as expectativas de internacionalização já para o próximo ano, é boa ideia tentar oferecer mais variedade gastronómica aos visitantes do festival, que podem não estar tão habituados à comida portuguesa.

Ouviam-se os últimos acordes dos vimaranenses Let The Jam Roll quando eram cerca de 22h30. Os interregnos para a mudança de bandas foram sempre muito curtos, exceptuando o que antecedeu a entrada em cena dos cabeças-de-cartaz Wraygunn. Acabados de entrar em cena, os senhores que se seguiram, Abandon Mute, demonstraram muita descontracção e à-vontade em palco, bem como vários apontamentos de relevo, mas pecaram por tentar ser mais uma cópia do que uma banda influenciada pelos Muse, facto que se pode comprovar ouvindo a faixa 'Hurricane' (a banda, sediada em Inglaterra, tocou ainda uma versão de Hyper Music, igualmente dos Muse).

smix smox smux @ sá da bandeira
© no i'm not, i'm very married

Logo depois, chegou o momento do festival, pelo menos para o vocalista e guitarrista dos Smix Smox Smux, Filipe Palas (na foto). Logo após abrirem o espectáculo com "Fim-de-semana", Palas começou um outro show, este não tão musical, onde abordou os incidentes com a GNR já referidos. Não se limitou, porém, a narrá-los, tratando de fazer troça dos elementos da força policial presentes no festival. "Fumem, bebam e vomitem-lhes em cima", foi uma das dedicatórias do claramente ébrio guitarrista. Não se ficou por aqui: chamou "filhos da p*ta" aos agentes, que supôs que se chamavam todos Joaquins e Antónios. O público rejubilava e sentia-se identificado com o músico, o único com coragem para dizer o que muitos pensavam.

Conquistado o público, o concerto foi memorável. Uma ou outra dedicatória à GNR, mais discreta, intrometeu-se até final. O tempo não foi muito (não chegou a meia-hora de concerto), mas o público ficou claramente agradado com a banda, que se destaca mais pelas letras e sonoridade pueril e imaginativa do que propriamente pela capacidade vocal dos seus elementos. No final, a já célebre "Intifada" levou o público ao quase êxtase. Houve também um outro encore, que nem todos viram: os quatro agentes da GNR presentes no recinto dirigiram-se, no final, ao backstage e esperaram o vocalista, que foi identificado, levou um processo-crime e terá de comparecer em tribunal por, supõe-se, desrespeito à autoridade.

Os doismileoito entraram em palco logo depois, nada dispostos a alinhar em mais problemas com as autoridades. Apresentaram vários temas do seu álbum de estreia homónimo, que conta com vários registos interessantes, com boas letras, melodias e, agora sim!, boa voz. Foi um concerto estupendo dos maiatos, que começaram a atrair quase todo o público presente e disperso pelo recinto do Barco Rock Fest.

Entretanto, foi a vez dos poderosos Wraygunn encerrarem o dia. Fazendo menção à ilusão de pensar que Portugal é um país com liberdade de expressão, Paulo Furtado, mais contido nas palavras (assegurou que não ia ser malcriado) lamentou o aparecimento do "Grupo Novo Rock (GNR)" no festival, chegando a lançar suspeitas sobre os comportamentos dos agentes: "Esta música [Drunk or Stoned] pode parecer que é sobre os elementos do Grupo Novo Rock, mas não". Com quase uma hora e meia de concerto, os Wraygunn puseram o público aos saltos, com as habituais excentricidades do carismático frontman Furtado. "She's a Go Go Dancer" ou "Everything's Gonna Be Ok" lançaram a confusão na frente do palco, onde a pequena multidão fez mosh e houve alguns aventureiros a fazer, pasme-se, crowd surfing.

Não estariam mais de 1500 pessoas no espaço, durante a actuação da banda de Coimbra. As expectativas da organização não terão sido atingidas, pois em nenhum momento pareceu crível ser possível igualar, num só dia, as 3700 pessoas que estiveram no festival em 2008 (o objectivo era duplicar esse número). Porém, como Paulo Furtado referiu, Paredes de Coura também já foi, em 1993, um festival "muito pequenino, e agora é um dos melhores da Europa em termos de música independente".

No final da noite, a tenda electróncia animou os resistentes. Palas, que tinha prometido lá ir, não ficou por muito tempo. Estava visivelmente abalado pelo sucedido. A actuação das autoridades marcou, pois, um festival com pernas para andar. Resta ver como irá correr o próximo ano. Potencial não falta, vai é ser preciso criar mais alguns incentivos, porque o público continua a aparecer aos pouquinhos.

22 comentários:

  1. Só para rectificar:

    Filipe "Palas" é sem aspas, porque é o nome que vem no BI.

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  2. Outra rectificação, acabada de confirmar:

    Nenhum elemento dos Smix Smox Smux levou processo-crime nem foi notificado para comparecer em tribunal, pelo que essa "notícia" não passou de boato de noite excitante.

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  3. "Não se ficou por aqui: chamou "filhos da p*ta" aos agentes, que supôs que se chamavam todos Joaquins e Antónios. "


    É isso mesmo, a polícia é a inimiga pública número um.

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  4. A questão aqui não é apenas quem chamou o quê a quem, mas sim o abuso de autoridade por parte da banda Grupo Novo Rock. Que não actuou no palco principal, mas mexeu com os festivaleiros :)

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  5. O Aveinda Central só viu "os últimos acordes dos Let the Jam Roll"????

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  6. Ou seja, quando a polícia faz o que é suposto fazer... viram-se todos contra ela?
    LOL

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  7. O Palas confirmou-me que ia ter de ir a tribunal... isso não foi boato.

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  8. Cláudia Rocha Gonçalves25 de agosto de 2009 às 10:49

    Eheheh! Ò Bruno, desculpa se não acreditei em ti, mas o Palas disse-me ontem que não ia a tribunal, nem tinha um processo-crime.

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  9. Meus amigos ser jovem pode ser muito divertido, mas as leis são para todos. Cumprir a lei não é excesso de zelo.

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  10. Na boa, Cláudia. Só escrevi porque foi o próprio Palas que me disse. Também não queria falar sem saber. Mas pronto, melhor para ele. Deve-se ficar pela multinha da praxe.

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  11. Não me lembro de ter falado contigo, Bruno. Não vou a tribunal, não vou ter multa nenhuma e nem chamei filhos da puta á polícia

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  12. Inacreditavel... Por isso as boas bandas não saem do anonimato em Portugal!!!..."os ultimos acordes de Let the Jam Roll"... um bem haja ao "Avenida Central" por fazer mais do mesmo... :S

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  13. Mais uma linda festa de Agosto...

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  14. Até pode haver muita semelhança com Paredes de Coura, mas quanto à qualidade da água do Ave, esta deixa muito a desejar...

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  15. lol esta noticia toda é muito gira primeiro insulta a autoridade depois vai ser presente a tribunal onde é que isto vai acabar... ahhhh em lado nenhum segundo o visado lol mas afinal quem escreve isto ? para alem de ser estupido dar importancia a quem nao sabe tem um postura digna e precisa destas coisas para animar o povo, o que ressalta neste texto todo é a falta de qualidade de todos os intervenientes excepto a GNR (é chato ter de cumprir leis porra mas para isso ainda há um pedaço de selva algures no planeta para todos esses)

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  16. Palas,

    falei contigo logo após falar com o Ronaldo. Estavas ao lado. Pergunta-lhe, pode ser que ele se lembre.

    Quanto à multa, ainda bem que não tens. Se não chamaste "filhos da p*ta" à GNR chamaste algo muito parecido, não fui só eu a ouvir. ;)

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  17. Bruno, o Palas que assina o comentário acima pode não ser o Palas de que falas. Ser ou não ser, eis a questão.

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  18. gostei do criterio da policia...navalhas passam a vontade meia duzia de charutos ja e um enorme problema...enfim mas o que achei realmente pena foi terem posto uma tenda para jogar pro e puzzle buble isso e k foi um bcd triste

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  19. Ó pá! Tão a discutir o quê? Um concerto é uma via verde para o consumo de pó? Não? Então a polícia fez o seu trabalho! Ponto!

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  20. o excesso de zelo manifesta-se em duas coisas: a primeira é que a repressão fez-se sobre os consumidores, não li nenhuma menção a serem detidos quaisquer traficantes. O segundo é que sabemos de que é que estamos a falar, drogas leves, e isto sendo perfeitamente legal uma pessoa embriagar-se até ao coma.
    Foi digamos mais um moralismo excessivo, uma ganância de protagonismo por parte da gnr que propriamente cumprimento do dever. Esse faz-se essencialmente quando a integridade (fisica ou patrimonial) de alguém é posta em causa, e isso como sabemos não era o caso.

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  21. Ó Dylan, queres dizer que gostaste das salmonelas do Coura este ano?

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  22. Boas!
    Bruno como és capaz de falar de um festival se só foste um dia? Para tua informação esta foi a 4ª Edição, e não fales da falta de variedade nas ementas pois não encontras nenhum festival onde comes uns rojões ou uma massa á lavrador em pratos de barro e com talheres de inox....
    para a próxima informa-te e vai ao festival os dias todos e não meia dúzia de horas antes de escreveres sobre um festival....

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