Pode contestar-se a forma e o estilo neobolivariano e chavista de Zelaya como de Morales, mas são meros produtos democráticos num contexto de profundas desigualdades sociais, onde os recursos de países como as Honduras ou a Bolívia, são entregues a meia dúzia de corporocratas. Neste sentido, qualquer derrube ideológico e transformação social feito na força das armas, tem o incontornável cheiro a enxofre de outros palcos na América do Sul - do Chile ao Panamá -, onde por obra e graça de algum fado superior, a determinação da liberdade e da cultura dos povos tem sempre um travão na boca da espingarda. Foi assim com quase todos os golpes de estado que minaram o segundo e o terceiro mundo, quase sempre alimentados pela cobiça do primeiro. A instituição militar aliás - arcaica e minguante do espírito humano - mostra aqui, mais uma vez, que é tudo menos o garante de uma sociedade democrática, senão antes a maior ameaça à democracia. Nenhum cidadão pode dizer-se livre enquanto a sua opinião for feita na sombra das armas e no crivo dos azeites de militares de alta patente como Pinochet ou Garcia Leandro.
Posto isto, e ao contrário do que pensam belicistas como Pacheco Pereira ou Maria de Fátima Bonifácio, uma Europa militarizada, a desviar os recursos para a formação de peões do exército - recheados de maus valores -, em prejuízo da educação, da investigação e do fomento da solidariedade, é o torreão de canhões que faltava na fortaleza que se tem tornado o Velho Continente. Nesse dia, a União Europeia, como protótipo de um novo Mundo, consciente, ciente e solidário dará um desastroso passo para trás.
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não partilho dessa sua visão pacifista (ou deverei dizer naive) dos acontecimentos.
ResponderEliminartanto quanto foi possível ler, a destituição do presidente está de acordo com a constituição. porém tenho dúvidas, quanto à forma como isso foi feito, ou seja, tenho dúvidas quanto à prisão e expulsão do Zelaya.
mas daí, a tirar conclusões contra os militares, vai um grande passo.
o 25 de abril também foi um golpe militar. e ainda bem que o foi.
Há um cumprimento constitucional, sim. Mas uma constituição cheia de subterfúgios não pode ser imune a alterações.
ResponderEliminarO meu caro no entanto tem dúvidas com a forma de destituição de Zelaya. Pois eu fiz um exercício sobre isso mesmo, não vejo porque tenham de ser os militares a fazê-lo - e a mando de quem?
O 25 de Abril, apesar de tudo, foi um efeito lateral de uma crescente irritação salarial de alguns capitães do exército. Duvido que o regime aguentasse mais tempo naquele entorpecimento. A verdade é que se não existisse instituição militar também não haveria ditadura.
"O meu caro no entanto tem dúvidas com a forma de destituição de Zelaya. Pois eu fiz um exercício sobre isso mesmo, não vejo porque tenham de ser os militares a fazê-lo - e a mando de quem?"
ResponderEliminara mando do parlamento e do tribunal constitucional que, como deve saber, declararam o referendo ilegal.
"A verdade é que se não existisse instituição militar também não haveria ditadura."
ResponderEliminarsó mais um comentário: se a minha avó não tivesse morrido, ainda hoje era viva.
Sim, declarada "ilegal". Não pode simplesmente a sociedade abster-se de votar ou de impedir por si a realização de um referendo que não queria? Porque é que os militares têm de ser os executores da "legalidade"?
ResponderEliminarEu percebo que se confunda nos meus argumentos lapalicianos. Mas se é tão óbvio para quê uma instituição militar numa sociedade democrática? Não faz sentido.
Não me tinha ainda apercebido, mas pelo que leio estamos a aproximar-nos do paraíso, ou muito perto disso.
ResponderEliminar«Mas se é tão óbvio para quê uma instituição militar numa sociedade democrática?»
Descendo mais um pouco, podemos dizer que não fazem falta nenhuma, num regime democrático, as forças da ordem. A ordem democrática tudo prevê e é claramente respeitada.
Essa deve ser a tendência, caro Miguel Braga. Qualquer deriva no belicismo e nas forças da autoridade, castradoras da liberdade, é um passo atrás - quer queira quer não queira.
ResponderEliminar"para quê uma instituição militar numa sociedade democrática? Não faz sentido."
ResponderEliminarsim? e quem iria defender a democracia das agressões externas? o vitor, com flores e balões?
"Qualquer deriva no belicismo e nas forças da autoridade, castradoras da liberdade, é um passo atrás"
sim, sim... até deviam acabar com a polícia. para quê forças de autoridade numa democracia? ninguém percebe a necessidade dessas forças castradoras da liberdade, se em democracia toda a gente é respeitadora da lei...
desculpe que lhe diga, mas os seus comentários são de alguém que vive noutro planeta.
"não partilho dessa sua visão pacifista (ou deverei dizer naive) dos acontecimentos.
ResponderEliminartanto quanto foi possível ler, a destituição do presidente está de acordo com a constituição. porém tenho dúvidas, quanto à forma como isso foi feito, ou seja, tenho dúvidas quanto à prisão e expulsão do Zelaya.
mas daí, a tirar conclusões contra os militares, vai um grande passo.
o 25 de abril também foi um golpe militar. e ainda bem que o foi."
Se fosse ao contrário era o comunismo a avançar.
Confundir o regime salazarista com este caso é ignorãncia.
O presidente das honduras foi eleito, marcelo e salazar eram ditadores.
JR, pode chamar-me utópico, mesmo assim falei num caminho diferente da actual escalada de autoridade. Como se a criação de polícias fosse a solução para algum problema. É facil, sim, mas desumanizante.
ResponderEliminarO Vítor Pimenta deve ter andado a ler Rousseau.
ResponderEliminarConcordo perfeitamente que devemos fazer todos os esforços para caminhar para uma sociedade o mais pacífica possível.
Mas não podemos esquecer a realidade das coisas. E pelo que nos revela a história não sei se alguma vez lá vamos chegar.
Para o Hugo Chavez,Daniel Ortega e outros "brilhantes defensores" do povo e de uma esquerda pseudo-vanguardista,realmente é uma "chatisse das grandes"verificar que as golpadas do tipo "Chavez"já não têm cabimento.Democracia já,para Cuba,Venezuela,Nicarágua,etc.Abaixo o falsos moralistas.
ResponderEliminar"O presidente das honduras foi eleito"
ResponderEliminarsenhor anónimo não basta ser eleito. é preciso cumprir a constituição. e portanto Zelaya foi muito bem destituído.
"Concordo perfeitamente que devemos fazer todos os esforços para caminhar para uma sociedade o mais pacífica possível"
sim, miguel braga. devemos todos caminhar para uma sociedade de carneiros mansos para seremos todos levados à matança mais facilmente.
É isso mesmo, toca a despachar todos aqueles que não são democratas à nossa maneira com o exército na rua contra o povo.
ResponderEliminarNós é que sabemos o que é bom para aqueles povos comunistas primitivos.
Não cumpriu a constituição?
Toca a despachar o governo português por não dar uma casa a cada pessoa e por cobrar propinas.
A constituição diz que todos temos direito a habitação e educação gratuita.
Democratas que nós somos!
O Vítor Pimenta iria gostar de conhecer Thomas Moore quando diz que não deveriam existir exércitos.
Se o meu caro anónimo se refere ao mártir do Catolicismo, autor de "Utopia", tem a coincidência de ter nascido no mesmo dia que eu - mas em 1478. Não li nada dele ainda, apesar disso.
ResponderEliminarO Joaquim Rocha, tem uma outra visão que respeito - mas demasiado paroquiana do mundo, vê tudo à escala do território e do muro que se tem de defender com os dentes todos. Pior é as bufas da guerra e da violência, além de causar danos em gerações de seres humanos, são imunes a fronteiras.
Para o Pimenta: we are the world, we are the children!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminar"O presidente das honduras foi eleito"
ResponderEliminarPois foi!
É como muitos autarcas deste país, também foram eleitos... e mais não digo.
Meus caros todos vocês com essa visão do "o mundo é assim, é por natureza gerador de conflitos, não há nada que se possa fazer", revelam que são não mais que meras disquetes se quiserem, ou numa mais recente cd ou pen, sabem porquê?
ResponderEliminarEstão completamente formatados, e são a produção em série de mentalidade oca da qual o sistema é detentor. Vocês são donos de uma visão tão curta que não vai mais pra além do vosso umbigo.
Não percebem que são manipulados pela cooperação estratégica de todas as instituições, politicas, judiciais e até religiosas para pensarem que "há algo do qual nos devemos defender", "há algo que vem aí nos destruir", "temos que nos armar até aos dentes", "os militares defendem verdadeiramente os nossos interesses".
Por favor, chamem-me "filho da janis joplin", utópico como Thoreau, ou Byron. Eu digo-vos:
Não liguem ao que eu digo, mas quando derem com a cabeça na parede forjada pela vossa propria estupidez não digam que não avisei.