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Capitalismo Social

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Capitalismo
© antoniohauaji

Há por aí um frenesi desvairado contra as obras do "neoliberalismo", do "capitalismo selvagem" e de outras categorias mais ou menos reais, mais ou menos abrangentes, que servem para os arautos dos "maus" costumes embandeirarem em arco e bradarem com toda a alma contra essas forças reaccionárias que promovem os valores do lucro e do sucesso individual.

Não vale a pena branquear os maus resultados da gula incontrolada daqueles que quiseram, a todo o custo, apostar em más soluções financeiras, cujo brilho dos cifrões ofuscou a bendita da razão. Coisa diferente porém é extrapolar indecorosamente e de forma desonesta sobre a imprestabilidade do capitalismo como sistema, ou apelar desesperadamente ao retorno do Estado, fingindo-se uma suposta, mas não provada, ausência do mesmo dos meios financeiros. Parece que o Estado esteve preso por correntes legais, políticas, económicas ou de outra espécie e que, perante o avanço triunfal dessa "corja neoliberal" teve de capitular sob pena de uma investida armada. Nada de mais falso, o Estado não se ausentou, o Estado permitiu. E esteve bem ao fazê-lo.

Tomamos, até há bem pouco tempo, por garantido que nada na economia de mercado poderia correr mal, ou ao menos mal de tal forma que pudessem estar em perigo os alicerces da estabilidade (im)perfeita do Estado social (ocidental). O "wake up call" não sendo desejável nem digno de celebração, tem contudo dimensões positivas. Voltamos à realidade dos sistemas feitos pelo Homem, à percepção da falibilidade de tudo o que criamos e seguimos. Muitos dirão que isto são tretas, que os poderes ocultos do capitalismo, a "mão invisível" da economia (corrompendo a imagem de Adam Smith) precipitaram esta crise e que se tivesse havido um Estado mais forte, com maior poder regulatório, mais presente, mais asfixiante diria eu, então nada disto teria acontecido. É provável que tenham razão. Mas acreditando neste pressuposto tomaremos como certo o que eu mais repudio, a omnipresença do Estado na sociedade.

Para mim, a economia é um domínio onde os governos se devem imiscuir o menos possível. Aceito o seu papel de Xerife de Nottingham (convenhamos, até aos suecos custa pagar impostos), digo-o genuinamente, tem de ser assim para que possa desempenhar o papel que lhe está destinado, o de assistir aos mais fracos e corrigir distorções a montante na ordem social, ou seja garantir a efectiva igualdade de oportunidades. No entanto, pensar que um governo, qualquer que ele fosse, seja ou venha a ser, podia, pode ou poderá decretar e levar a cabo, com efeito universal, a impossibilidade do risco, da má gestão ou sequer da estupidez, equivale a pensar que o Estado pode e deve intervir na nossa esfera mais íntima de actuação, no nosso livre arbítrio. Desenganem-se os puristas dos valores. Ganância, corrupção, ENRONs, Madoffs e outos que tais sempre existirão num sistema capitalista. Neste ou noutro qualquer sistema o Homem ideal não ousa sair do etéreo mundo dos livros e ainda bem que o não faz, pois um mundo de deuses seria a maior desgraça que nos poderia acontecer.

Donde sem dogmas, sem falsos moralismos e sem vergonha liberal me confesso.

6 comentários:

  1. e é esta a social-democracia do PSD? :facepalm:

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  2. O capitalismo como política económica exprime-se em diversas formas. Em Portugal revela-se nitidamente sobre a forma de capitalismo de estado (http://en.wikipedia.org/wiki/State_capitalism), onde o aparato do estado está omnipresente na economia do país, paralizando o empreendedorismo, a inovação tecnológica e o culto de mérito.

    Genericamente, os "Madoffs de cá" ocupam ou ocuparam cargos públicos!

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  3. "Para mim, a economia é um domínio onde os governos se devem imiscuir o menos possível."

    Há gente que não aprende mesmo!

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  4. A matriz ideológica do PSD sempre se preocupou com as liberdades individuais, com a propriedade privada e com a prosperidade, sem que isso significasse uma alienação das preocupações sociais do Estado.
    Sinto-me, pois, perfeitamente à vontade dentro do espectro ideológico que o partido professa.
    Ninguém defenderá dentro do PSD o desaparecimento ou sequer o enfraquecimento do Estado, como eu o não faço, mas estou certo que uma esmagadora maioria se sente confortável com a ideia de que um Estado forte não é um Estado omnipresente ou omnisciente.
    Não deixa de ser interessante como a sociedade e os média toleraram com significativa bonomia a 3.ª via do socialismo (ou "blairismo"), mas quando se tenta adoptar uma idêntica actualização noutros espectros ideológicos, se comece imediatamente a duvidar da consistência dos mesmos.

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  5. "Há gente que não aprende mesmo!"

    Tem toda a razão...

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