Acordaram os bracarenses por estes dias com a cidade cravejada de outdoors com uma sorridente menina que garante que «é bom dormir em Braga». A afirmação, parola mas legítima, tem o condão de se prestar aos mais diversos e hilariantes comentários, sem se chegar a grande consenso sobre as virtudes da mesma.
Desde logo, porque parece evidente que há entre nós os que simplesmente não dormem. Seja porque lhes pesa a consciência, seja porque a noite é o melhor cenário para as urdiduras que se sabem.
Outros há, contudo, que vindo para a cama em Braga aqui não vêm para dormir. A este propósito, conta o nosso amigo Honoré de Balzac do vimaranense Café Toural as confidências do tio Francelino: «na cidade dos três pês, damos uma ponteirada de quando em vez». Dada a oferta quotidianamente renovada nas páginas sociais do Correio do Minho, não admira que aqui viessem os de Guimarães e mais os de Vila Verde e Amares, Lanhoso e Vieira e outros tantos que por aí haverá sedentos do que se vende.
Há uns que aqui dormem porque o custo da habitação de outras cidades os impede de aí dormirem. E, se aqui acordam com o nariz encostado ao prédio da frente, ao menos chega-lhes o soldo para comer e pagar a prestação do empréstimo contraído.
Outros há que aqui dormem desde nascença e, como tal, o bom de aqui dormir há-de ser sempre de uma ignorância relativa. Se bem que é sempre bom saber que há quem não conhecendo outras camas se satisfaz com a sua.
Haverá, concerteza, os que aqui vêm passear e vendo a simpática menina que lhes afirma as virtuosidades de aqui dormir, aqui pernoitarão. Ganharão os hotéis a haver e os que já que há. Ganhará o comércio e, acreditamos, a economia da cidade.
Seja o que for, o Município de Braga investiu alguns milhares de euros numa campanha cujos contornos e objectivos permanecem incógnitos. Não está claro se os destinatários da campanha são os bracarenses ou os forasteiros e, pior que tudo, fica no ar a ideia que esta é, afinal, uma cidade dormitório, onde é bom dormir quando ainda se devia estar acordado.
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Eu sempre andei desconfiado que se dormia bem em Braga. É que tenho para mim a sensação de que andamos todos a dormir
ResponderEliminarMais uma campanha de "marketing" mal amanhada, dinheiro (praticamente) deitado ao lixo. A intenção até podia ser boa, mas valha-nos deus...
ResponderEliminarPedro posso estar enganado mas um cartaz igual a esse não está à bastante tempo à entrada de Braga quando se chega pela Falperra?
ResponderEliminarSe não é igual o slogan é o mesmo e já lá está à uns bons meses.
Ao menos o lema publicitário da minha cidade é, "é bom viver em Guimarães"...
ResponderEliminarEm Braga é o que temos, fruto da visão venezuelana do Chico.
ResponderEliminarUm grande texto Pedro, mas ao qual destaco a conclusão:
ResponderEliminar"..pior que tudo, fica no ar a ideia que esta é, afinal, uma cidade dormitório, onde é bom dormir quando ainda se devia estar acordado."
Parabéns
Claro, é uma campanha muito bonita.
ResponderEliminarConseguida.
Só falta mesmo o número de telefone...
Já vejo esses outdoors por aí há uns meses... no entanto desconheço quem promove essa campanha. É esta mesma que refere, no último parágrafo, ser do Município?
ResponderEliminarJoão, acho que já havia cartazes a dizer o mesmo, ou algo muito semelhante. Mas nada tinham a ver com a câmara. Eram publicidade ao Hotel D. João XXI, se não me engano. Aquela coisa verde alface, em frente Hotel Turismo.
ResponderEliminarÉ bom andar a dormir em Braga...
ResponderEliminarCambada de "lorpas"... a papar o sono.
Enfim, a 3ª cidade de um país da Europa mostra a sua garra.....
A 3.ª cidade foi o que disse?
ResponderEliminarPortugal é atrasado mas não tanto Dario Silva!
JLS eu sei quais são esses que dizes também. Havia um quem chega a Fraião vindo da auto-estrada.
ResponderEliminarOs que dizia também são em Fraiao, acho eu porque não conheço bem Braga. Depois do cruzamento em que se entra na variante para a AE um pouco mais abaixo num cruzamento está lá o dito cartaz à bastante tempo.
Por falar nesse hotel, esse sim promove a dormida "acordada" com aqueles cartazes.