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Ler os Números

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Invariavelmente, a divulgação dos rankings dos exames nacionais precede uma vasta apologia das virtudes do ensino privado. Contudo, o bom senso recomenda que, numa matéria sujeita a tantas condicionantes sociais, económicas e geográficas, a leitura dos números não seja tão simplista como tem sido apresentada pelos órgãos de comunicação social.

Como bem nota Mariana Vieira da Silva, quem escreveu que as escolas privadas são melhores que as públicas, deveria ter ido mais longe e asseguar que «as escolas do litoral também são melhores que as do interior». Obviamente ninguém o faz. O mapa dos resultados mostra uma acentuada clivagem entre as classificações médias nos distritos do litoral e do interior, mas é uma evidência que a realidade social, económica e cultural e, por consequência, as dificuldades que se interpõem no processo de ensino-aprendizagem de um aluno de Montalegre, Mogadouro ou Murça são de ordem diversa das que se interpõem no percurso de um aluno de Braga, do Porto ou de Lisboa.

Pegando no exemplo dos três colégios da Companhia de Jesus, Pedro Sales demonstra a falácia do propalado milagre educativo dos colégios privados nacionais. Do que conheço da Companhia de Jesus, não tenho qualquer dúvida de que o ensino ministrado nos três colégios daquela ordem religiosa é de insuspeita qualidade. Apesar disso, o Colégio de S. João de Brito (Lisboa) surge na 3ª posição nacional, o Colégio da Imaculada Conceição (Cernache, Coimbra) na 91ª e o Instituto Nun'Álvares em 161º lugar. O que os distingue é o facto dos dois últimos não poderem seleccionar os seus alunos e, como tal, incorporarem alunos de regiões socialmente deprimidas.

É por tudo isto que concordo com Vital Moreira quando escreve que «a diferença está menos nas escolas do que nos alunos», crença que em nada belisca a defesa da missão da escola pública. Já se imaginou um país em que não existisse uma única oportunidade para os que são socialmente mais desfavorecidos e, como tal, mais vulneráveis ao abandono e ao insucesso?

2 comentários:

  1. Imagina Pedro se todas as escolas públicas se dessem também ao luxo de seleccionar alunos (como algumas já fazem)!

    Os privados gerem o seu negócio e não têm o dever de fazer serviço público. Já para as escolas públicas o fado é outro...

    Um desafio seria ver o processo de selecção de alunos nas públicas que lideram o "ranking".

    Pessoalmente considero que este tipo de "rankings" isolados não passam de "marketing".

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  2. Caro NA,
    Não só concordo como acho que esse é o exercício sério para perceber de que forma é que a escola pública pode continuar a trabalhar para minorar as desigualdades sociais.

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