Avenida Central

A Barrela

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© Miguel Leite Pereira

O rio Olo, um dos últimos rios impolutos de Portugal, recorta o Alvão contando pontes velhas de aldeias de pedra até se precipitar caudaloso nas Fisgas de Ermelo, Mondim de Basto, numa queda de água de beleza rara na Europa. Maravilha tal que locais levaram uma moção à assembleia municipal, propondo a candidatura da mesma a Património Natural.

No entanto, de pouco pode ter valido a aprovação por unanimidade em torno daquilo têm como valor acrescentado. No País West Coast da Europa, o interior é apenas uma enorme fronteira até Espanha como se o risco fosse dessa largura. O Plano Nacional de Barragens tem projectadas 5 barragens para o Vale do Tâmega, que farão de toda aquela bacia um açude gigante. Pior, uma delas, desviará o rio Olo para alimentar uma outra, de Gouvães, a cargo da Iberdrola. Diria a cargo, porque para lá caminha. O período de discussão pública que teria um ano, foi, em manobras por detrás da cortina, encurtado em meses. Milagre do Simplex da conveniência em nome de favores maiores, será tudo entregue nas mãos dos concessionários já em Dezembro.

Assim que o betão começar a frenar a garganta, das Fisgas do Ermelo não se verá mais que um fio de água fragas abaixo, e do vale do Tâmega pouco restará dele escavado por um rio. Muito da nossa identidade paisagística e património colectivo completamente alagado. O que era natural dará lugar ao impacte artificial de uma albufeira de falsas promessas, à distância e a bem da alumiação do Portugal filho e no que resta em desgraça ao Portugal enteado.

Adenda: assine contra esta tragédia, a Petição anti-barragem: Pela vida no Tâmega e no Olo.

8 comentários:

  1. Há um nome para os tipos que pensam este país west coast assim e que permitem isto: filhos da puta. com todas as letras. o alberto pimenta até lhes escreveu um discurso.

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  2. Sou pelo ambiente.Mas por isso também sou pela água, aliás um bem escasso.Não percebo por que é que os ambientalistas são contra as barragens (água armazenada e energia limpa da qual somos totalmente dependentes...).
    Por mim não me importaria de acabar com o habitat alentejano - secura, secura e mais secura - se o pudesse "agredir" com mais dois Alquevas, mesmo pondo em causa a qualidade de algum vinho alentejano.Sou pela preservação do bom ambiente não do mau...

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  3. Caro contra-corrente.

    Percebo que veja nas barragens armazém de água. Mas a Barragem do Torrão, mais abaixo, mostra que o Tâmega tem um risco enorme de eutrofização que condiciona grandemente a sua exploração como reserva, além de estar demonstrado as enormes implicações para a saúde das populações este impacto sobre a paisagem.

    Mais, não acho que o aproveitamento energético em Portugal tenha de passar irremediavelmente pelas barragens. A solução é aliás obsoleta quando uma aposta na eficiência energética e na auto-suficiência seria de melhor contribuição para a economia e para o planeta.

    Este tipo de obras, além de desgraçar comunidades e o seu património natural e cultural é baseada em decisões anti-democráticas, em total desprezo pela opinião e vida das populações afectadas.

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  4. Concordo com o Vítor Pimenta. E se desperdiçássemos menos? E se poupássemos mais energia?
    É como com os parques de estacionamento... e se andássemos mais de transportes públicos e dexássemos os nossos centros históricos em paz?
    Mas que seria de nós sem automóveis, sem barragens para "fomentar" o turismo das motos de água, enfim, que seria da nossa única indústria - a da construção - sem tantos empreendimentos?

    (gostei de descobrir esta Avenida...)

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  5. Caro Vítor: do que se trata é de um crime inqualificável, roubando ao interior o pouco das potencialidades que tem para um futuro que, assim, de escuro passa a negro-torrão. Mas há uma crise na construção civil -- e as barragens vão alimentar a coisa por mais uns anos. Por falta de tempo não consegui mobilizar-me mais nesta luta. Mas pode ver alguns posts aqui:
    http://negrilho.blogspot.com/
    Por favor continue a mostrar a evidência e a dimensão do crime.

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  6. e o que é que aconteceu à petição? afinal fora criada por alguém que não providenciou um nome válido?

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  7. houve um lapso que está a ser corrigido. em breve a petição voltará a estar disponível no mesmo link.

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  8. parabéns Vítor pimenta pelo artigo que aqui expões. De facto, esta questão( problemática das barragens), que vai afectar todo o vale do Tãmega de uma forma madastra, enquanto destruidora do que a região tem de mais genuíno, tem que ser amplamente divulgada e posta á discussão. Quem conhece o programa nacional de barragens, seja da nossa região ou não, não fica indiferente ao facto de perceber que 5 barragens num só rio ( Tâmega), para um todo de 10 previstas para o Pais, é sacrificar todo um território (e a vida que nele existe) ao aproveitamento hidroeléctrico..é, literalmente, "afogar" o Tâmega com uma albufeira ( que será seguramente eutrofizada), destruir habitats ribeirinhos, modificar o clima, enfim... destruir um ecosistema natural, a troco de patacas!
    A questão do rio Olo, que aqui colocas, e que tb tem haver com uma das barragens previstas para o Tãmega ( Gouvães) é, no mínimo, dramática se efectivamente se concretizar. Diria mesmo que é impensável que alguém, algum dia, se tenha lembrado de "roubar" a água do Olo, a montante de um monumento natural( que vale pelo que é..com água, óbviamente!), para alimentar uma barragem... e cujo contributo, para efeitos de produção de energia, será tão insignificante quanto o é de importante que ninguém lhe tocasse.
    Senão repara: as 10 barragens do plano vão contribuir em cerca de 3% para a diminuição da factura energética do Pais. A barragem de fridão em menos de 0,01%. Imaginamos, então, em quanto contribuirá aquele pequeno rio ( que no Plano até chamam de ribeira do Olo) para a dita factura!?
    Só me apetece dizer: Foda-se!!!! Tenham juízo!! Deixem o Olo em paz!
    Alfredo Pinto Coelho
    Mondim de Basto

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