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Capítulo 12: comer com os olhos

Como vimos nas crónicas anteriores, Braga é - como todas as cidades, aliás - uma construção de memórias. A cidade constrói-se no presente e para o futuro, mas constrói-se, antes de mais, a partir do que sempre foi. Hoje falamos de comer e beber, esperando despertar o vosso apetite de saborear Braga. Porque o fim-de-semana é já daqui a poucas horas, fica o convite para uma degustação de produtos da nossa Braga bimilenar.

Porque do princípio é que se começa, penso não ser despropositado lembrar o Bolo Romano®, um "bolo" encontrado na Braga antiga e registado como propriedade privada na Braga de hoje. Da mesma casa são as tradicionais Frigideiras, quiçá a mais famosa delícia bracarense. A diferença entre os dois está na idade e na relatividade do tempo: as Frigideiras, mais novas, ainda não são do tempo da privatização das memórias e estão por todo o lado; o Bolo Romano, por outro lado, esquecido nuns tempos em que seria de todos, foi recentemente recordado e patrimonializado. Porque é de todos mas antes de todos é privado, quem quer comer come, mas no fim paga.

Ainda sobre pastelaria e direitos de naming, uma recente memória polémica: o Bolo-rei Escangalhado® que para alguns já alimentava as memórias dos antigos, para outros é criatividade e engenho de uma só pessoa. Seja o consumidor partidário de uma ou de outra - ou até de nenhuma das duas -, o bolo será sempre "o escangalhado", seja dos oficiais, seja dos oficiosos.

Já que afinal sempre começámos pelo fim, pela sobremesa, não podemos esquecer-nos do célebre Pudim à Abade de Priscos, dos tradicionais moletinhos de dia do pai ou do característico sabor a canela dos Fidalguinhos.

Adaptando-se a diferentes sentidos do gosto, a gastronomia bracarense tradicional desdobra-se numa diversa oferta: do peixe-rei Bacalhau ás Papas de Sarrabulho que acompanham os Rojões, do Arroz de Pato ao Arroz "Pica no Chão", do Arroz de Polvo ao simples Caldo Verde. Tudo regado, claro, com vinho verde da região.

Porque é Ramalho Ortigão quem diz: "Há só um banquete português que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente: é a ceia da véspera de Natal nas nossas terras do Minho".

Bom apetite!

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