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Avenida do Mal

Sebastianismo Olímpico

As vidas dos Atletas portugueses em Pequim confundem-se com as suas vidas de trabalho em Mouquim (não me lembrei de outra localidade que rimasse). Tanto lá como cá, se espera o máximo deles, no escritório e no tartan, sem flexisegurança ou ordenados que a mais obriguem. É sempre uma vitória, dizemos, quando lá vão uns e outros, e se alarga a comitiva e a esperança (de quê?) com os mínimos garantidos (a fazer lembrar rendimentos sociais de inserção), mesmo que depois toda a gente desdenhe lugares de eliminação, pela sensação de mediocridade. Não deles, mas do país.

No desporto e nas artes, como na política e na ciência, esperamos sempre prodígios, sebastiões encomendados, que singrem de alguma forma e nos engrandeçam o ego e as vidas, sem que a nação se esforce minimamente em preparar o terreno para os prodígios medrarem. Nunca houve espírito de alta competição para lá do futebol e mesmo esse tem também o mérito enveneado.

Enquanto isso, Portugal espera que a sorte lhe caia em cima e veja bandeira erguida por alguém esquecido nos apurados. Nessa altura passa, o atleta, de besta ignorada a Messias digno de vassalagem. É de uma passividade quase religiosa, mas típica. Aliás, se algum dia arrancarmos mais medalhas que os Estados Unidos e a China juntos (coisa que nem em sonhos nos passará pela cabeça) será porventura o clímax do delírio místico em que se embebe a consciência nacional desde os Sermões do Padre António Vieira à Mensagem de Pessoa. É só insistir na fezada.

2 comentários:

  1. Para quê teimar em depositar nas mãos de meia dúzia de desportistas, a compensação das frustrações de um país sem rumo e eternamente adiado?
    Não se pode exigir mais aos nossos atletas, enquanto não existir uma verdadeira política para o desporto, bem como para a condução deste país.

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  2. "Definitivamente de manhã estou bem é na caminha..." - pseudo atleta português

    "Mongólia conquista medalha"...

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"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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