O Dia de Portugal
© Jorge Ferreira
«1143: quem não sabe esta data não é bom português!» Assim aprendi na infância. A data (5 de Outubro de 1143) tem andado maltratada, mas o Tratado de Zamora é o facto político que consuma a fundação de Portugal, mais propriamente a transmutação do Condado Portucalense em Reino de Portugal. Antes disso, tiveram lugar várias batalhas, de entre as quais se destacam a Batalha de S. Mamede e a Batalha de Ourique.
Os últimos tempos têm feito renascer o debate em torno do Dia de Portugal (já o havia abordado nos comentários deste post) e a JSD de Guimarães está a promover uma petição para que o Dia de Portugal seja transferido para o 24 de Junho, dia da Batalha de S. Mamede. Escrevem os jovens políticos que «foi a 24 de Junho de 1128 que D. Afonso Henriques travou uma batalha com tropas leais a sua mãe, D. Teresa, saindo vitorioso, abrindo caminho à Fundação de Portugal.»
O intento é legítimo e promete agitar a política local, reunindo vimaranenses das mais diversas cores partidárias no apoio à iniciativa, mas dificilmente se encontrará consenso sobre a data que havemos de consagrar a Portugal. Na verdade, o 24 de Junho (de 1128) figura entre um conjunto de datas possíveis, entre as quais se destacam 25 de Julho (Batalha de Ourique), 14 de Agosto (Batalha de Aljubarrota), 5 de Outubro (Tratado de Zamora) ou 1 de Dezembro (Restauração da Independência).
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Eu acho que é óbvio para todos que o dia de Portugal devia ser o dia do nascimento de Portugal e isso é, definitivamente, dia 5 de Outubro! Não consigo compreender porque raio é que o dia de Portugal é o dia da morte de UM português... Eu votaria para dia 5!
ResponderEliminarTodas as outras datas têm problemas. Aljubarrota não faz sentido porque não fez de nós mais portugueses (até há dúvidas sobre quem ganhou...). 1 de Dezembro não fundou Portugal, fê-lo renascer - é mais que suficiente ser feriado... Quando às batalhas de Ourique e de S. Mamede não fazem sentido porque não havia sequer país...
5 de Outubro é uma data importante, mas a assinatura do tratado foi um formalismo. O dia 24 de Junho foi o dia em que se lutou e em que se traçou um destino! Nenhuma das outras datas aqui apresentadas seria lembrada se o resultado da batalha tivesse sido diferente. Como poderia haver um tratado sem uma vitória ou um poeta épico se não existisse um país?
ResponderEliminar5 de Outubro de 1143?!
ResponderEliminare qual o facto que levou a assinatura do Tratado de Zamora?
e se D. Teresa tivesse ganho em S. Mamede, haveria Portugal?
facto: D. Afonso Henriques ganhou, abriu as portas à Fundação de Portugal e se hoje somo portugueses deve-se a isso e a tudo o que se seguiu.
Caro Alexandre,
ResponderEliminare se D. Teresa tivesse ganho em S. Mamede, haveria Portugal?
Este argumento não colhe. Ora vejamos:
E se não tivessem concedido o condado a D. henrique?
E se não tivesse havido reconquista?
E se os romanos não tivessem conquistado a Península Ibérica?
Caro Tiago Moreira Ramalho,
Estou de acordo. O 5 de Outubro de 1143 é a data em que o Condado Portucalense se converteu no Reino de PORTUGAL, o dia em que nasceu o país! O 24 DE Junho terá sido o dia da concepção.
Este é o primeiro de três texto a publicar nos próximos três dias sobre a fundação e o dia de Portugal.
ResponderEliminarNão me desagrada que o 24 de Junho passasse a ser o Dia de Portugal, mas faço eco da questão levantada por um amigo meu de Macau:
ResponderEliminarPortugal é mais do que o território europeu, é uma comunidade em diáspora e uma língua universal. Ninguém nega que nada disso existiria se o Avô Afonso não tivesse vencido em São Mamede, mas para quem vive fora do país há uma dimensão do ser português que Camões transmite - ele que foi um homem universal - e que o período medieval tem mais dificuldade em captar.
Só para apimentar a discussão :p
Existe imensa gente sobretudo idosa que nasceu numa data e apenas foi registado civilmente anos depois.
ResponderEliminarO Tratado de Zamora foi mais ou menos isso, uma certidão de nascimento tardia a comprovar o verdadeiro nascimento 15 anos antes!
Caro emanuel,
ResponderEliminarDiscordo. O Tratado de Zamora é a consumação do nascimento de Portugal. Sem esse tratado continuaríamos a ser um condado espanhol.
Caro Pedro Morgado,
ResponderEliminarSim, é verdade, mas duvido que o rei de Castela e Leão tivesse aceite a independência se não tivesse ocorrido essa tomada de posição por parte de D. Afonso Henriques.
As datas têm sempre um significado simbólico. Veja-se por exemplo o caso dos EUA. Comemoram o 4 de Julho que foi o dia da assinatura da declaração de independência e da constituição. No entanto, só foram reconhecidos como país independente pela Inglaterra anos depois.
Num tempo em que ainda não se falava de constituições, Afonso Henriques venceu em São Mamede, declarou-se príncipe de Portugal em 1129 e Rei em 1139 depois de Ourique. O Tratado de Zamora foi o reconhecimento da independência por parte do rei de Leão e Castela, mas por essa altura já há muito que Afonso deixara de prestar vassalagem e de pagar as rendas anuais a Castela e Leão. Já a Santa Sé só reconheceu Afonso como rei em 1179. Este foi provavelmente o reconhecimento mais importante, mas raramente é sequer lembrado.
A vitória de São Mamede foi o inicio, o dia em que Portugal (ou pelo menos esse território) disse que não mais baixaria a cabeça perante outro homem senão esse filho da terra por cá nascido e criado.
Atenciosamente,
Emanuel
A verdade histórica é a convencionada. Há muitos factos para os quais há dupla interpretação e não podemos passar a vida a discutir sobre eles. Por exemplo, interessa discutir o local de nascimento de Afonso Henriques? Mesmo que o José Matoso diga que foi em Viseu, a convenção é que nasceu em Guimarães. Para quê discutir sobre isso?
ResponderEliminarSó que o nascimento de um estado é necessariamente uma formalização. Assim, é o tratado de Zamora que dever ser considerado como fundador.
Há no entanto a ideia que o mito é mais importante e, então, veja-se os nossos símbolos nacionais, há quem defenda a batalha de Ourique como o nascimento simbólico de Portugal. A verdade é que a ideia dos reis mouros derrotados, o aparecimento de Cristo antes da batalha, etc, fizeram parte do mito legitimador de Portugal.
A batalha de S. Mamede foi importante para a afirmação de Afonso Henriques mas não decisivo para a afirmação de um estado. Até porque o confronto não foi contra o soberano leonês, mas contra a sua mãe. Outra pretendente ao Condado e com iguais motivações independentistas.
Se quiserem o Torneio de Arcos de Valdevez (1140) terá sido bem mais importante para realização do Tratado de Zamora.
E o Bafordo de Valdevez em 1140?? Não consta?? Tem vindo a tornar-se um hábito - recente, diga-se - cada vez mais frequente o "apagar" e a menorização da importância do Bafordo de Valdevez no nascimento da ideia de Portugal...
ResponderEliminarPedro,
ResponderEliminarcomo Einstein nos ensinou tudo é relativo!relativizar a questão a pontos anteriores, é muito redutor! se não tivesses nascido não havia este blogue (ou pelo menos nestes moldes nao haveria!)
se D. Teresa tem ganho a batalha de S. Mamede é muito provavel que se desse a junção do condado abaixo do douro com o condado acima do douro e com a galiza. Ou seja: não haveria Portugal, tal como o conhecemos.
Ao ganhar a 24 de Junho de 1128, D. Afonso Henriques garantiu uma base sólida para o sentimento independentista que lhe permitiu vencer outras batalhas e defender-se dos inimigos, fazendo crescer Portugal.
Continuo a dizer: sem a vitória de Afonso Henriques em S. Mamede, não haveria Portugal!
Bem dizia o Pedro que isto ia dar pano para mangas.
ResponderEliminarHá um detalhe a respeito de 1143 que convém esclarecer. Embora Afonso VII tenha reconhecido a Afonso Henriques o título de Rei no Tratado de Zamora, há uma diferença entre esse reconhecimento e a independência plena, naquela altura apenas adquirivel por Bula Papal. Convém lembrar que Afonso VII tinha o título de imperador e que o seu prestígio aumentava se acrescentasse à sua influência mais um reino. O laço de vassalagem a Afonso VII só poderia ser substituido pelo de vassalagem ao Papa e entre um momento e outro foi um longo caminho que Zamora não tornou irreversível.
Por outras palavras, 1143 foi mais um passo na construção de uma independência que só seria defintivamente assente em 1179. E, muito embora Afonso Henriques tenha tido precursores (incluido o seu pai), o certo é que foi a Batalha de S. Mamede que lançou em definitivo o projecto da independência portuguesa. Pela pessoa que tomou o governo do Condado e pela união de forças que tornou possível a vitória de 1128. Valdevez, Tui, Zamora e a Bula Papal foram os passos que se seguiram no longo governo de um homem que ascendeu ao poder no dia 24 de Junho.
Se a data é ou não a melhor para ser Dia de Portugal já pode ser outro debate, mas concordo com Herculano quando ele diz que a Fundação de Portugal começou em 1128. Friso: começou! Continuar e acabar são outra coisa.
Caro Pedro Morgado,
ResponderEliminarA Batalha de S�o Mamede foi, de facto, o momento fundador da nossa nacionalidade. Vejamos o que diz sobre esta mat�ria Jos� Mattoso, o maior mediavalista portugu�s (e que at� se inclina e bem, para que o "ber�o" de D. Afonso Henriques seja Viseu): � (�) a batalha tem um significado nacional, na medida em que pode classificar como �nacional� um movimento que est� na pr�pria origem da na�o. S. Mamede foi o primeiro acto de um movimento irrevers�vel que explica, mais do que qualquer outro acontecimento ou interven�o pessoal, as raz�es imediatas da independ�ncia do Condado Portucalense, como entidade pol�tica que precedeu o reino de Portugal". Do mesmo autor, falando da Batalha de S�o Mamede, podemos ainda encontrar outras palavras que ilustram bem a importancia do acontecimento: "Encontro neste facto primordial da nossa hist�ria (�) a prova que a ac�o colectiva � mais fecunda e duradoura que a mais espectacular ac�o messi�nica por parte de figuras carism�ticas e pseudo-salvadoras (�)
Tenho a certeza que a Batalha de S�o Mamede n�o deixar� nunca de se comemorar nesta terra de Guimar�es e em todo o pa�s que aqui nasceu.�
Quem se dedica ao estudo da Hist�ria sabe que,na grande maioria dos casos, n�o h� de facto um �nico momento decisivo para que um determinado acontecimento se verifique. Regra geral tudo se deve a um conjunto de factores e a um conjunto de condicionantes de natureza diversa que, conjugados, determinam que algo aconte�a. Contudo, quando tentamos encontrar uma ac�o crucial ou um momento chave (neste caso uma data) devemos tentar procurar um momento que crie ruptura, e n�o uma continuidade da mesma ruptura Ora Ourique e Zamora foram, precisamente, momentos de "continuidade na ruptura".
Mas de facto ainda h� outro momento que podemos apontar como legitimo para "celebrar" o nascimento de Portugal. Esse momento � a Bula Papal de 1179, porque foi nesta altura que Portugal foi reconhecido "oficialmente" como Reino e D. Afonso Henriques como Rei (isto apesar de D. Afonso Henriques j� dominar efectivamente o territ�rio)...
Como portugu�s, escolho 24/06/1128 para celebrar a data em que um conjunto de homens fez nascer o meu Pa�s.