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A "Braga Romana" e a Epígrafe de Semelhe

Tendo aceitado o muito honroso convite do caro Pedro Morgado para escrever semanalmente umas palavras na rubrica “Avenida Monumental”, abordando a temática da Arqueologia e do Património, às quais me encontro ligado profissionalmente, e na verdade sentimentalmente, aqui escrevo pela primeira vez. A Arqueologia é uma ciência muito particular, e por muito que nos custe, a nós, profissionais da área, muitas vezes controversa, ou pelo menos relacionada com questões controversas. Para o cidadão comum a Arqueologia pode ser identificada por palavras bastante distintas: “interessante”, “engraçada”, “importante”, “dispensável”, “empecilho”, “hobby”, “extravagância”... Rótulos colocados consoante o grau de interesse, conhecimento, ou envolvimento do rotulador. Vamos então conhecer novos e diferentes aspectos desta área? Digo “vamos”, porque eu, reconhecendo limitações científicas, e não gostando de debitar informação que não venha a ser questionada, espero poder vir a depreender, desta pequena experiência, novos aspectos relativamente à minha própria área profissional.

A “Braga Romana” referida no título, não visa uma identificação com o certame de Recriação Histórica com que nestes últimos dias os Bracarenses foram presenteados, mas sim a Bracara de outros tempos, precisamente a Braga dos tempos em que os “invasores” vindos do Mediterrâneo, por aqui andaram. Confesso no entanto, que a realização da “Braga Romana” por estes dias, serviu de pretexto a escrever um pouco (na verdade, demasiadamente pouco) sobre um dos símbolos conhecidos mais carismáticos do Município romano de Bracara Augusta. Refiro-me ao “Altar de Semelhe”, conhecido de muitos Bracarenses de hoje.

Trata-se de um pesado elemento de granito, que o meu caro “compatriota” da Beira Alta, Albano Belino, recolheu em 1896, junto da capela do Senhor do Lírio, em Semelhe. De forma cilíndrica, em jeito de base de coluna, e interpretado à partida como um altar (uma ara de invulgares dimensões), apresenta grande parte da sua face afeiçoada preenchida por uma inscrição latina. Socorro-me então do meu prezado “colega” vimaranense, o arqueólogo Mário Cardozo, para aqui colocar a sua interpretação da epígrafe: “Ao Imperador César Augusto, filho do Divo, Pontífice Máximo, do Poder Tribunício 21 vezes. Os Bracaraugustanos consagraram este monumento (inaugurado) no dia natalício de Paulo Fábio Máximo, Legado Propretor.”

Esta inscrição, a mais remota das inscrições latinas Alto-Imperiais, em Bracara, viu ser-lhe atribuída pelos investigadores uma conotação quase fundacional, sendo certo que ela será pouco posterior à fundação do Município romano. Nela se faz referência, pela primeira vez, à comunidade municipal dos Bracaraugustanos. Através deste singelo monumento, eventualmente integrado num conjunto monumental extenso e ainda desconhecido para nós, os Bracaraugustani homenageavam o Propretor romano.

Aqui fica uma referência a este simbólico elemento, ciosamente guardado no Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto. Gostava de saber se a Epígrafe de Semelhe é visitável.

    Cumprimentos,
    João Lima

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  2. Caro João Lima,

    Obrigado!
    O Altar de Semelhe encontra-se exposto no Museu de Arqueologia da Sociedade Martins Sarmento, na galeria de exposições provisórias. A peça encontra-se na SMS juntamente com o restante espólio da Colecção de Albano Belino.
    Cordialmente,

    Gonçalo Cruz

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  3. Perspectiva-se uma "avenida" muito interessante, numa região onde o património ainda é tratado regulamente a pontapé. Cidadãos informados, serão certamente melhores cidadãos. Votos de muito sucesso.

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