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Avenida do Mal

Tela Negra

Barreiro, na margem-sul do Tejo, o tal deserto de camelos de Mário Lino – que de repente se tornou um Lawrence dessa tão fustigada região do país - vai receber uma Cidade do Cinema, abençoada por Cavaco e fruto da boa vontade e optimismo de Carlos de Mattos, emigrante radicado nos Estados Unidos, amigo de Spielberg e hand in glove com George Lucas. São 300 milhões para criar emprego e atrair Estúdios norte-americanos, encostados na costa leste e quase tão perto de Portugal como da Califórnia.

A novidade é oportuna porque o cinema em Portugal, no que aos apoios do Estado diz respeito, tem uma realidade que é a igual em quase todo o resto, onde o Estado subsidiário se mete. Num destes dias Marco Martins, realizador do excelente “Alice” e a filmar “How to draw a perfect Circle” - ou em português, “Como desenhar um Círculo Perfeito” - queixava-se da dificuldade de obter financiamento público, tudo porque o Estado na pessoa do ICA atribui mais depressa subsídios a Manuel de Oliveira do que a novos realizadores e artistas. E aqui, a querermos o dinheiro dos contribuintes investido na cultura, o instituto público devia, pela o princípio de igualdade de oportunidades e demonstrado o valor, arriscar nos novos e desamparados valores. Mas não, entra no contra-senso de financiar um autor de filmes chatos mas que tem um mercado garantido entre a elite pseudo-intelectual francesa que lhe dá parras de ouro por 2 horas de sequências de plano sobre relógios de sala. É este o filme de tudo o que é financiamento público.

Nas artes, nas ciências, como nos sectores medíocres da economia, o paradigma da própria política partidária, sempre de mãos largas e sorriso aberto – mesmo que amarelo - para o mínimo garantido. Foi talvez essa a irónica lição de “Branca de Neve” de João César Monteiro, o mal-amado realizador, quando finalmente lhe financiaram o filme, depois de garantirem que "não brincasse com coisas sérias": 100 mil contos numa enorme tela negra e um diálogo com sotaque brasileiro. Genial, e por aí, 5 estrelas.

Só se espera que uma "Cidade do Cinema" se faça Meca do cinema independente português. Independente, sublinho, do marasmo do mediano sentido de Cultura dos sucessivos Governos e institutos anexados.

1 comentário:

  1. Obrigado, Vítor, pelo texto e pelo link. Já nem me lembrava daquilo.

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"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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