Dos Estados Unidos da América chegam notícias de que, enquanto se tenta proibir o ensino do evolucionismo, estão a fazer regressar o criacionismo, travestido de teoria pseudo-científica, às aulas de biologia. Por toda a Europa, os lobbys anti-clonagem continuam a agitar os medos do possível uso malévolo daquelas técnicas como justificativo bastante para a proibição do seu estudo e desenvolvimento. Em Espanha, a Igreja Católica entrou directamente na campanha apelando ao voto num partido de direita. Nas Filipinas, o Governo acaba de aprovar a proibição total do uso da pílula e do preservativo com o beneplácito das autoridades religiosas locais. A guerra contra a ciência, o progresso e a liberdade individual continua a ser urdida dos pontos mais inóspitos do planeta aos palcos das democracias mais avançadas do mundo. Agora, tal como no passado, há quem insista em arremessar dados viciados e medos injustificados para o debate público, condicionando as escolhas da sociedade que, sendo mais desinformada que o desejável, acaba por aceitá-las de ânimo leve.
É com toda a certeza injusto que resumamos a vivência religiosa a este atacado de equívocos e tentativas de cerceamento das liberdades e dos direitos alheios. Contudo, convém não esquecer que proibir estudos científicos potencialmente salvadores, constitui-se como uma severa limitação do direito de terceiros poderem vir a usufruir de cuidados de saúde que não enjeitariam. A crença religiosa de uns não pode continuar a constituir-se como um impedimento para a busca de novos tratamentos para todos. Além do mais, não se conhece nenhum Papa que tenha rejeitado os tratamentos emanados por técnicas e conhecimentos cujo desenvolvimento foi sucessivamente censurado e dificultado pela própria Igreja Católica.
Já todos vivenciámos a amarga sensação de receber a comunicação de um diagnóstico difícil num familiar ou amigo. A notícia torna-se tanto mais dolorosa quanto mais nefastas forem as suas consequências e menos eficazes as intervenções médicas possíveis. Sendo certo que o terreno da ignorância há-de ser sempre superior ao do conhecimento, a verdade é que razão e investigação científica têm permitido avanços muito significativas na minimização do(s) sofrimento(s) e no aumento da vida com qualidade.
Por muito que haja quem nos queira fazer ver o contrário, o milagre mais eficaz no combate à doença e na promoção da saúde é o milagre do conhecimento científico, cimentado ao longo de séculos de descobertas tantas vezes censuradas pela moral vigente e amarfanhadas por crendices fraudulentas e preconceitos seculares.
E, enquanto não nos libertarmos dessas amarras, continuaremos a ver perecer familiares e amigos às mãos de doenças perfeitamente resolúveis caso fizéssemos da investigação científica primeira prioridade mundial. Vamos a isso?
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Vil pecador.
ResponderEliminarExcelente Pedro.
ResponderEliminarÉ preciso levantar a voz contra o obscurantismo!!!!
O que se passa com o blogue fechado por pressão da UM?
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ResponderEliminarTem razão o Drº Pedro.Porém ele sabe que ter opinião nestas matérias não chega, sendo preciso a evolução das gerações para compreender o alcance e interesse da ciência.Temos muita gente inteligente, cidadãos cultos, evoluidos, estudiosos e no entanto sãO POUCOS OS QUE ABORDAM CRITICAMENTE ESTAS QUESTÕES.Existem interesses, conveniências em manter situações do passado, vive-se no faz de conta enquanto se cultivam proteccionismos por todo o lado.
ResponderEliminarQual foi o blogue fechado por pressão da UM?
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ResponderEliminarMandaram fechar o blogue do Casino da Elsa? Quem? Porquê? O blogue já fechou há imenso tempo...
ResponderEliminarEm relação ao post, já fiz um comentário aqui: http://www.blogger.com/comment.g?blogID=20844992&postID=4343060516991727949&isPopup=true
ResponderEliminarAquando da referência ao artigo de opinião no Comum.
«Mandaram fechar o blogue do Casino da Elsa? Quem? Porquê? O blogue já fechou há imenso tempo...»
Em relação a isso... o blogue não foi fechado por ninguém - está inactivo, sim. Mas é mais um reflexo das variadíssimas consequências que Bolonha tem. Neste caso, para o associativismo académico.
Não consido enter qual a associação entre a religião e a aposta na ciência?
ResponderEliminarO ensino do criacionismo é tão necessário como o do evolucionismo.
ResponderEliminarNunca devemos ser presunçosos ao ponto de nos acharmos mais donos da verdade do que outros. Saber as duas teorias imparcialmente é o dever e direito de todos. Eu ainda sou do tempo (não sei se agora ainda se faz) quando nas aulas de CTV se falava que uma das teorias da vida era o criacionismo.
É preciso o negro para poder entender o branco.
Osso,
ResponderEliminara associação entre religião e ciência aparece quando quando soluções científicas tão simples como a pílula podem ser negadas por crenças religiosas.
koolricky,
O que o Pedro parece estar a dizer não é que um ponto de vista deva ser menos explorado que o outro. Parece-me precisamente que se forem os dois estudados, como é possível medidas como as que foram tomadas nas Filipinas terem lugar. Sim, é tomar o partido da ciência. Não escolheria outro.