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[Avenida do Mal] A Cidade Beata e os Seus Dildos

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Tirando estes anos de alterações do clima, digo eu que em Braga chove sempre, como se os céus abençoassem este antro de arcebispos perversos... Leia-se em metáfora, porque se não quero saber da vida sexual - ou da celibata ausência dela - de Jorge Ortiga, tão pouco lhe deve interessar a minha. Este é aliás o princípio básico de coabitação numa cidade cosmopolita e europeia como deveria ser Braga. E na manta de retalhos, uma atracção de investimento e de turismo aliando batinas e poucas-vergonhas.

Braga parece ainda estar longe de tais tolerâncias à vista e ao palpável. É crispada e beata como tia solteira de 56 anos, cinzenta e com prateleiras de frascos cheios de bolachas-Maria, e moles. Mas tal como muitas delas, nos calores da menopausa, de mordedura na calada, enche-se o ninho da emancipação sexual, dos vibradores aos swingers, fantasias com reitores de paróquia, polícias e meninos do coro. Ainda me lembro do célebre anúncio da "Grande Festa Sadomasoquista em Braga, com a presença de Lixívia”. Não o hipoclorito, mas uma autoridade do chicote e do cabedal apertado nas virilhas, de pêlo no peito a esbordar por cima. O cartaz colado numa parede de pedra arcada no centro.

Nesta cidade paga-se muito com o corpo e ganha-se com ele, mas esta tão pouco o tolera à luz do dia. No horizonte visto do Bom Jesus, peca-se o olhar nas torres verdes e cinzas, azuladas ou de cerâmica parola, como falos de betão e tijolo erguidos ao alto com tanto que se fazer por dentro. Nelas, prostitutas e prostitutos, haréns de convívio e negócio entre adultos esclarecidos e que tão pouco paga impostos. Não que as quisesse taxar mas é obvio que actividades reguladas e tabeladas mais protecção lhes traria. Em defesa do consumidor e consumido, e sobretudo, na facilidade dos contratos de trabalho e nos vistos de permanência. Ia-se, com a legalidade das coisas, muita da clandestinidade imigrante e oportunidade para singrar noutras áreas de membros menos abertos.

Verdade é que na cidade do Cónego Melo e de António Roxo, Igrejas e Mesquitas, as sex shops proliferam e admiram na hipocrisia de quem lhes passa por perto. É uma Amesterdão metida dentro, no armário portanto, sem canais mas com um rio igualmente malcheiroso, ainda que pequeno e azul de tinta industrial. É uma cidade de tesão contido, em batina e calças como tenda armada. Dos farricocos e confrades em transvestes feitas parada religiosa, tão exuberantes no negro e púrpura quanto as outras mais rosadas. Atinge o auge no dúbio mau gosto de Óscar Casares, pela escola e pelo desenho, na cripta do Sameiro, pintada como retrato de calendário de camionista. Uma Senhora que, na sua virgindade, quase se despe perante figuras da Roma portuguesa e romana. Todos muito vestidos. Por enquanto...

[foto de João Matos]

12 comentários:

  1. Caro Pedro,
    As mentalidades retrogradas que ainda proliferem hoje em dia na cidade são mais fruto da ditadura do que da igreja. A Igreja também tem culpa, mas não penso que seja a principal culpada.
    Em 1871 a prostituição em Braga estava legalizada e era do conhecimento geral. As pessoas de hoje também se admiram que por volta de 1915 haviam pessoas em Braga a defender publicamente a interrupção involuntária da gravidez.
    O que critico é a lenta abertura da cidade para o mundo e democracia.

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  2. Mais uma vez o melhor do blog. Avenida do Mal.

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  3. Texto (mais uma vez) muito interessante.

    Braga é seguramente uma cidade de muitos tesões (alguns assustadoramente óbvios, outros guardados a sete chaves dentro de autênticos sacrários), mas sobretudo de flagrantes tensões.
    A evolução é lenta. Muito lenta...

    Há pouco tempo, uma forasteira dizia que os bracarenses não sabem lidar com a questão do sexo. O sexo não é encarado como algo natural. Dizem-se piadas, normalmente em linguagem grosseira, para disfarçar o nervosismo...

    Sem querer cair em generalizações, os homens sonham com mulheres que tomem a iniciativa, mas quando alguma tem uma postura mais “agressiva” não sabem muito bem o que fazer. As mulheres sonham com noites tórridas de sexo, mas acabam a olhar de soslaio para as pavorosas montras de vestidos de noiva. Pelo meio é preciso manter as aparências, que ainda contam. Muito. Demais.

    As sex shops são apenas um elemento nesse delicado equilíbrio (vale a pena espreitar os artigos “Bracarenses ousados contrariam preconceitos”, recentemente publicado no JN http://jn.sapo.pt/2007/10/22/norte/bracarenses_ousados_contrariam_preco.html, e “As artes do sexo ou como o amor tem outro sabor”, de 2003, publicado no Correio do Minho http://www.braga.com.pt/not_det.asp?notid=2985).

    E neste cenário, nada melhor do que a eleição de Óscar Casares como ícone da cidade. Porque é uma figura dúbia. Depois do episódio do quadro do Sameiro aparece agora em toda a comunicação social a dizer que desapareceu um quadro que mandou para a Austrália para a Nicole Kidaman (obrigatório ler http://www.oscar-casares.com/index.php?pg=23 e seguir o caso a par e passo pelo JN).

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  4. Peço desculpa, não tinha reparado que era o Victor e não o Pedro.
    Sendo assim, é Caro Victor.

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  5. Os tesões de Braga são mais antigos que a "Sé de Braga". Não era por acaso que em Lisboa era chamada a cidade dos P.P.P.a que nós respondíamos antes dos P.P.P.P.P.!
    Desde as orgias romanas aos tempos da repressão salazarenta, em Braga sempre se praticou bom sexo, (embora no segredo dos deuses)mesmo antes da pilula ser fabricada às toneladas e consumida aos miligramas. Se alguma coisa corresse mal, para o zé pagode não faltavam as abortadeiras de vão de escada. Para os detentores de grossos cabedais havia ainda as clinicas privadas da cidade e arredores (que só não sabia onde ficavam quem não precisava delas). Davam imenso jeito aos habitantes cá do burgo, assim como a certos abades que se deslocavam das aldeias com as respectivas afilhadas para fazer o servicinho (sempre na graça de deus, que o Sr. Abade com governanta "teúda e manteúda" lhe haveria de arranjar casamento em conformidade), hospedando-se nas residencias dos mais respeitaveis casuistiticos desta praça não fosse o diabo tecelas.

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  6. A rasgar :-) Brilhante...
    Há coisas que não são para se perceberem. E estas questões parecem ser uma delas...
    La-Salete

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  7. eu conheço os filhod do sr. cónego...


    ehehehe.

    ah, e o sr. prior até já teve um bordel...

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  8. Nao percebo este blog. A serio que nao. Quem vem aqui e nao e de Braga, de certeza que nao fica com vontade de ca vir. É isto o vosso serviço de Avenida Central? Para voces nada em Braga esta bem, excepto as vossas sabias palavras...

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  9. Engraçadinho este blog…
    Encontrei este texto e devidos comentários ao navegar casualmente na internet.
    É inacreditável, pelo que se lê em tão fraca prosa, como Braga é cada vez mais um exemplo de pequenez e mediocridade.
    Para quem tem o apanágio de não partilhar o mesmo espaço geográfico de Vossas Excelências, é uma hora termos neste País pessoas de qualidade que lutam pela vida sem querer ocupar o lugar dos outros, pessoas estas distintas, de muito bom gosto e de admirável trato que só assombram os Excelentíssimos intelectos depravados…
    Poupem a sociedade dos vossos comentários, só perdem prodigiosas oportunidades de estarem calados…
    Poupem-nos de falsos moralismos inspirados pela má fé e pela fraca virtude de espírito;
    Poupem-nos da desagradável sensação de repugnância que provocam;
    Poupem-nos de críticas e sem razão;
    Poupem-nos d e ancilosados miolos que têm pouco mais do que correntes de ar;
    Poupem-nos de efeminadas imitações do Velho do Restelo.

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  10. Obrigada David

    Por fim, alguém com coragem para dizer o que sente.
    Sou de Braga e tenho vergonha de me considerar conterrânea destes débeis comentadores e críticos de trazer por casa.
    Digo débeis, porque já não se seguram nas canetas….Criatividade então, nem vê-la…!!!
    Pobrezinhos…!!!
    Gostei do seu comentário...BOA

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  11. Não é em Braga que nomeiam as individualidades que se destacam na cidade?
    Pois bem, se fizesse parte da organização, criaria um galardão que distinguisse os FANHOSOS DO ANO.
    Este pessoal que faz comentários tristes envolvendo pessoas sérias e idóneas, deveriam ser postos em filinha e nomeados FANHOSOS DA CIDADE…
    Fica constituída a proposta para que todos os Fanhosos sejam distinguidos e reconhecidos pela elite Fanhosense…
    Já agora, que tal oferecer como galardão o ex-líbris que tornou conhecida a casa das bananas? Não só serviria para distinguir, mas também seria útil aos Críticos Fanhosos.
    Bem-haja FANHOSOS
    Salve FANHOSOS

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  12. As tácticas do autor dos três últimos comentários mostram bem o quão baixo de pode descer para não dizer nada.

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"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

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