2007 tem sido o ano da (re)afirmação de Salazar. Primeiro, a sua mediatizada eleição para o grupo dos 10 maiores portugueses de sempre, com elevadas probabilidades de vir a vencer a votação final. Depois, as sucessivas odes à política económica e social do Estado Novo feitos por eloquentes pensadores da direita nacional. Finalmente, a Casa-Museu Salazar que o edil de Santa Comba Dão pretende levar por diante.
Salazar foi mau. Ninguém me convence do contrário. Não há milagre económico (que por acaso até nem existiu) que justifique a restrição à liberdade de pensamento e de expressão, que autorize a tortura e que legitime a ditadura. Salazar pode até ter sido um homem bem intencionado, como Hitler, Estaline, Mão Tsé-tung, Pinochet ou Fidel Castro eventualmente o foram. No entanto, o que os factos demonstram é que a intolerância das suas políticas custou vidas e foi muito prejudicial para o desenvolvimento sócio-económico do país.
A histeria de uns sempre que se fala de Salazar e o apoio velado de outros ajudam a colocar o ideário fascista na ribalta. Os sinais de incoerência multiplicam-se de parte a parte. Os partidários da revolução criticam Salazar enquanto se recusam a condenar os regimes de Cuba, China e Coreia do Norte. Os partidários da direita enaltecem o Estado Novo, vociferando contra as ditaduras de Cuba, China ou Coreia.
O fascismo é mau. Como o comunismo também é mau. Mas não é isso que merece ser discutido em Santa Comba Dão. O que importa discutir é a premência de investir fundos públicos na construção de uma Casa-Museu que idolatre um ditador, que fuja à verdade histórica ou que branqueie o Salazarismo, porque ainda não foram dadas garantias concretas de que o que ali se fará será um Museu do Estado Novo, na verdadeira acepção do termo.
Onde estão agora os que alvitravam contra o financiamento das companhias de teatro portuenses? Onde estão agora os que protestaram contra a manutenção do Rivoli como Teatro Municipal? Precisamente ao lado da construção desta Casa-Museu Municipal.
Estranha forma de vida. Que é como quem diz, «coerência precisa-se!».
Crónica publicada no Filtragens.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Nem mais! O uso que se faz da demagogia no sector em questão é demasiado flagrante para não merecer repúdio. Obviamente que quando se chama a atenção para isto paira um silêncio cumplice que se recusa a desmentir as ideias que entretanto foi propagando... o importante é o que vai ficando no ar, na mente de quem ouve.
ResponderEliminarEu estou-me nas tintas para o museu, mas a Câmara de Sta. Comba Dão tem toda a legitimidade para o fazer. E para lá por o que quiser, do modo que quiser e enaltecendo o que quiser.
ResponderEliminarNão se pode proibir por decreto as ideologias. Estupidamente, a nossa Constituição tem um artigo que proibe manifestações fascistas. Que cretinice! O que é uma manifestação fascista?
Depois, se à esquerda há partidos e movimentos trotskistas, moistas, estalinista e quejandos, porque ninguém propõe a sua extinção?...
Mas as ideologias não se combatem por decreto.
Entretanto, vim aqui em busca de um post sobre o FCP-Braga de ontem, mas vejo que perdeste o pio para o Braga...
Caro rps,
ResponderEliminarNão costumo comentar as derrotas do Braga. É o meu mau perder.
Estive no Dragão e gostei do jogo. Sobre o jogo jogado não há muito a dizer. O resultado é justo. Embora as oportunidades tenham sido equitativamente dividivas, ganha quem marca. E o Porto marcou.
Nota de pesar para a postura do Super Dragões no minuto de silêncio a Bento.
Para que não haja mal-entendidos, sou e sempre serei (enquanto o destino mo permitir) anti-ditaduras. Mas o que é isso de se pretender "ditar" a uma poupulação o que está certo ou errado?
ResponderEliminarE porque não? Não foi para isso que se fez o 25 de Abril, para nos devolver a liberdade? Liberdade de Escrita, de Pensamento, de falar... Para todos!
ResponderEliminar