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A Desertificação do Centro de Braga

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Urbanismo em Braga
© Diário do Minho, 08.Set.2008

Há pouco mais de uma década e sob o epíteto «É Bom Viver em Braga», o executivo municipal promoveu uma revolução na cidade com a pedonalização de grande parte do centro histórico através da construção de um grande túnel e de dois enormes parques subterrâneos. Nas áreas limítrofes, a política era de «solo barato». O lema era construir em todos os locais e construir de qualquer maneira para baixar os preços das habitações, maximizando os lucros dos empreiteiros na mesma medida em que se hipotecava a qualidade urbanística das áreas habitacionais.

O fracasso foi evidente. A cidade foi pensada para o uso exclusivo do transporte rodoviário: o centro tornou-se num local de passagem rápida através dos grandes eixos viários; o túnel «matou a Avenida da Liberdade»; e os parques subterrâneos, caros, tornaram mais fácil e acessível ir ao shopping do que ao centro histórico. Reflectindo esta mesma realidade de abandono do centro, a Notícias Magazine publicava, em Outubro de 2007, uma excelente reportagem sobre a morte lenta da rua do Souto. O texto aflorava a desertificação, a pouca diversificação do comércio e a morte nocturna do centro histórico.

Perante a realidade sombria, decidiu o executivo de Mesquita Machado avançar para o prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade, numa tentativa de minimizar os danos causados pelas suas próprias opções do passado. No mesmo sentido, pode ler-se outro curioso acto de contrição na capa do Diário do Minho de hoje, com a Câmara Municipal a assumir, ineditamente, que «Braga precisa de colocar a construção na ordem

Ironicamente, no dia em que começaram as obras do túnel e a câmara assumiu o caos urbanístico de que é principal responsável, a tragédia voltou a abater-se sobre o centro histórico. É que, embora sem qualquer nexo de causalidade, estes três acontecimentos reflectem tristemente o escacar da cidade.

9 comentários:

  1. Ó pá o discurso está viciado. Discutir o perímetro pedonal e os impactos no comércio local, habitabilidade do centro histórico e movimento nocturno é uma questão que tecnicamente não tem resposta na actualidade. A questão não é só de Braga. A parolice de uns intelectuais refugiados na UM a gastar o dinheiro dos nossos impostos com masturbações sobre Braga e uns tantos inocentes úteis, como é o caso deste blogsito, perpectuam a ignorância e impedem a discussão séria: técnica e política.
    A discussão sobre o centro 7 casco urbano começou em 85. É preciso ter estado aí para se perceber como e porque se chegou aqui. O resto é uma treta para encher chouriços. E para este tipo de peditórios já não dou.
    Inté.

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  2. Há cinquenta anos que vivo em Braga. Nunca vi tanta desordem na construção como depois do 25 de Abril. É a lei do "quero, posso e mando" metendo as outras opiniões debaixo do "tapete" como desprezíveis, isto é, "o outro nunca tem razão". Só betão; nada de espaços verdes. O último está a crescer no Guadalupe. Nem o diabo se lembraria de autorizar a concretização deste aborto. O prolongamento do túnel não tem outra razão senão o "compadrio" e a fartura de dinheiro dos exagerados impostos. Compra-se um lugar de garagem porque já é difícil deixar o carro na rua e, até este, há-de pagar contribuição autárquica.
    Ficam admirados com o desastre na Rua dos Chãos? Há , porventura, da parte dos construtores algum respeito pelos operários? E da parte dos engenheiros? Só raras excepções. O que fizeram para evitar a queda do prédio? Não exageraram nas escavações? Não viram a "malota" do prédio ao lado? Não havia escoras? Mas vão promover "um rigoroso inquérito" que não conseguirá descobrir um culpado. Lágrimas de crocodilo.... Mas... não se admirem. Quando os senhores engenheiros da Câmara nem sequer são "capazes" de embargar uma obra que está (esteve) a ser construida sem licença e sem projecto?......... Explico: o meu vizinho fez o inacreditável para o comum dos mortais: deitou a parede mestra (estrutural) do seu apartamento, abaixo provocando fissuras no apartamento superior em toda a sua extensão. E, mesmo depois de pedirmos várias vistorias à Câmara nunca a obra foi embargada. Mais: respondem que temos de dirimir a questão nas instâncias competentes... Com estes departamentos tão competentes há que esperar alguma consciência profissional naquilo que lhes compete governar? Querem ler o "dossiê"? Estejam à vontade. Tenho todo o prazer. Aliás ando à procura de um engenheiro que "os tenha no sítio" e que não tenha receio de represálias dos serviços camarários de Braga. Apareça alguém.
    Entretanto pode ser que morra mais alguém por excesso de confiança ou pelo tão falado "facilitismo" que se apoderou da sociedade portuguesa. Ou então mais alguma construção, quiçã por cima do novo túnel. A. Costa Gomes

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  3. Caro Popper,

    Não percebi bem onde quer chegar... Quem não estava na discussão em 1985 deve demitir-se do debate público? Porque o assunto é técnico e político, devem os cidadãos inibir-se de participar?

    Nada do que digo neste post nasceu do céu. Resulta da leitura do que tem sido publicado na imprensa, transmitindo a opinião dos tais especialistas técnicos e dos actores políticos. Afinal, qual é a verdade que lhe desagrada no post?

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  4. Quanto à desertificação do centro histórico, penso que de facto o fecho do mesmo ao trânsito foi , em parte, excessivo e contraproducente, porque não há um fluxo de turismo forte que só por si preencha os espaços, como , por exemplo, acontece em Lisboa com o Bairro Alto onde há gente todo a ano, designadamente na maior parte do ano, a partir de Maio...
    Penso até que algumas ruas haviam de abrir à noite , principalmente nos 9 meses de tempo fresco..Há dois meses estive em Viseu, cheguei lá pelas 9Hoo e antes das 10H00 saí rumo à Serra da Estrela, através da principal rua de comércio local - fui lá parar por acaso já que nem a conhecia - de grande extensão e muito estreita (tipo Rua do Souto)e só estranhei poder lá passar.Conclusão, aquela artéria (a 50 metros da Sé de Viseu), em pleno centro histórico, é transitável, tipo entre as 20H00 e as 10H00 da manhã...
    Quem passar actualmente no centro histórico nas ruas não transitáveis por trânsito, antes das 09H00 da manha (eu faço-o quase todos os dias) não vê ninguém e arrisca-se até a ser assaltado...
    As tabacarias da zona até só abrem lá para as 09H00, é um deserto...
    Quanto ao acidente da Rua dos Chãos, verifica-se que, mais uma vez o poder liberal se demitiu de fiscalizar...
    O sistema liberal insiste em dizer que basta que um qualquer engenheiro subscreva um documento garantindo o cumprimento das regras de construção e de segurança, para os poderes públicos se demitirem...
    Dizem que é a libertação da sociedade civil e a redução das funções do Estado...
    Agora um estabelecimento de bebidas pode ser aberto sem licença, basta que , em caso de recusa camarária na emissão da licença de utilização, um técnico se atravesse a garantir o cumprimento das leis aplicáveis e remeta a documentação para a ASAE...
    É por isso que eu repito, pregando aos peixes como Santo António :
    MAIS ESTADO MELHOR ESTADO

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  5. Concordo que há efectivamente coisas que têm que ser melhoradas nomeadamente ao nível da protecção do património histórico e do ordenamento da cidade. Está na altura de fazer um balanço e aprender com os erros do passado.

    No entanto, ao contrário do que se tenta fazer passar, os problemas urbanísticos descritos não são um exclusivo de Braga, são sim uma consequência de políticas nacionais adoptadas ao longo dos últimos anos que facilitaram e incentivaram a construção barata em massa. Braga, pelo seu elevado crescimento, foi talvez uma das maiores vítimas do descrito.

    Refira-se também, que este desordenamento nacional também ocorreu nas zonas rurais (por exemplo do vizinho vale do Ave) onde se desfiguraram aldeias, se destruiu património, se construiram habitações de gosto duvidoso implantadas sem qualquer regra.

    O centro pedonal de Braga, os túneis e parques foram, em minha opinião, as obras mais interessantes feitas na cidade. Por causa disso a cidade ganhou personalidade e afirmou-se como a capital do Comércio de Portugal.

    As vias circulares e as variantes, pensadas há decadas, tornaram a cidade e o concelho mais pequeno.

    Alguém imagina o que seria circular em Braga sem estes acessos?

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  6. Contra-Corrente,

    "Quanto à desertificação do centro histórico, penso que de facto o fecho do mesmo ao trânsito foi , em parte, excessivo e contraproducente,"

    Então recomendo-lhe um passeio por Dublin, nomeadamente no seu centro histórico, super-povoado, metendo a um canto a Baixa do Porto ou o Bairro Alto de Lisboa.

    Nota: vêem-se mais autocarros e trams do que viaturas particulares. O que é estranho num país com um poder de compra um pouquinho superior ao nosso...
    Nota2: a rede de tram de Dublin continua a crescer...

    dario Silva.

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  7. Eu não culpo o fecho ao transito no centro na desertificação do centro. Culpo sim é o monopólio de comércio no centro, é só lojas de roupa! Na rua do Souto, tirando as tradicionais lojas de arte sacra, o que mais lá existe? Lojas de roupa. Mas alguém vai às 22h da noite passear a lojas de roupa? Ainda por cima fechadas!
    Se existi-se bares, pub's, ou outro tipo de convivio/lazer de certeza que a rua fervilhava de noite.
    Agora não me peçam que vá para a rua do Souto às 22h ver montras! Tenham juizo!
    O mesmo se pode aplicar no restante centro.
    Já que o centro está desertificado e a cair aos padaços, aproveitem uma rua e criem, por exemplo, uma rua de diversão nocturna. Revitaliza os edificios a cair aos pedaços, e dá vida à zona. Outra sugestão, já sei que me vão chamar maluco, é transferir as residências universitárias para o centro. Rua do Raio, Santa Margarida, S. Vicente, Chãos, Carvalhal ou Campo Novo.

    Ha, e como diz o Dario, criem transportes, como o tram, a todas horas (mesmo à noite) e ficamos todos felizes. Assim à noite já podem beber mais um copo, apanham um tram, e vão descansados para casa sem por vidas em risco. É preciso desviciar o transporte privado.

    Tudo se consegue, basta ter vontade para pensar! Sim porque hoje em dia até para pensar as pessoas tem preguiça.

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  8. Eu não culpo o fecho ao transito no centro na desertificação do centro. Culpo sim é o monopólio de comércio no centro, é só lojas de roupa! Na rua do Souto, tirando as tradicionais lojas de arte sacra, o que mais lá existe? Lojas de roupa. Mas alguém vai às 22h da noite passear a lojas de roupa? Ainda por cima fechadas!
    Se existi-se bares, pub's, ou outro tipo de convivio/lazer de certeza que a rua fervilhava de noite.
    Agora não me peçam que vá para a rua do Souto às 22h ver montras! Tenham juizo!
    O mesmo se pode aplicar no restante centro.
    Já que o centro está desertificado e a cair aos padaços, aproveitem uma rua e criem, por exemplo, uma rua de diversão nocturna. Revitaliza os edificios a cair aos pedaços, e dá vida à zona. Outra sugestão, já sei que me vão chamar maluco, é transferir as residências universitárias para o centro. Rua do Raio, Santa Margarida, S. Vicente, Chãos, Carvalhal ou Campo Novo.

    Ha, e como diz o Dario, criem transportes, como o tram, a todas horas (mesmo à noite) e ficamos todos felizes. Assim à noite já podem beber mais um copo, apanham um tram, e vão descansados para casa sem por vidas em risco. É preciso desviciar o transporte privado.

    Tudo se consegue, basta ter vontade para pensar! Sim porque hoje em dia até para pensar as pessoas tem preguiça.

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  9. Pois eu pasmo-me com a posição do gabinete de planeamento... Se lerem bem, a única recomendação que fazem é a do aumento da área para construção. Nem uma palavra sobre corrigir erros, sobre a suas responsabilidades, sobre recuperar o centro histórico, sobre um melhor planeamento do espaço e do transito...Aumentar a área da construção é a única medida para acabar com a especulação. Mas estão a gozar??? Milhares de casa desabitadas ( algumas delas porque construidas em sitios que se tornaram ous emrep foram impossíveis de viver) , um centro em derrocada, 70% da área de construção livre e a solução é aumentar a área de construção do PDM? espalhar ainda mais a cidade com as consequencias que tem para a organização do espaço, par a ecologia...? Continuar a destruição da encosta do Bom Jesus, da área do cávado, ... enfim, não há quem despeça essa gente?

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