Confesso que na "urgência" da reforma da União Europeia, fui levado de orelha pelo patriotismo coitadinho - um mal de fígado - de ver uma cidade portuguesa inscrita nos anais da Europa. Distracções, aliás, como tantas outras. Mas a nomeação do presidente do conselho europeu diz muito da suposta boa fé do Tratado de Lisboa. Sabe-se lá com que acordos prévios, elege-se para presidente desta União Europeia "dos cidadãos", um desconhecido, ainda que primeiro-ministro da Bélgica, ironicamente à rebelia dos cidadãos.
Herman Van Rompuy, sim, desconhecido, ainda que primeiro ministro de um país que também por ironia não existe, se não nas cabeças de convenções internacionais, por mor de ter servido de tampão à azia entre a Prússia e a França Imperiais (Alemanha e França modernas). Um país que continua, mesmo com Magritte ou Hergé, sem identidade e dividido por dentro, onde os distritos eleitorais têm a fronteira do idioma. Um país que há muito enviesou valores de solidariedade entre povos e cidades livres, pelo efeito contrário da imposição consensualista de um poder supranacional.
Paul Belien, apresenta uma escolha nada inocente e teme que a Europa, a partir de agora, se transforme numa Bélgica do tamanho do continente, com as suas crispações e instabilidade internas. Tendo a concordar, pese embora algumas virtudes antídotas da união, no exemplo maior do espaço Schengen, por ser livre e sem fronteiras. Mas um homem que se diz livre também não pode aceitar poderes desta envergadura. Sobretudo, quando se faz agora na linha do percurso de Herman Van Rompuy, sinistro, ziguezagueante, entre o conservadorismo xenófobo e as omissão ideológica para subir a todo o custo na escalada burocrática da governação global. Belien, no mesmo artigo para o Brussels Journal, remata num tom tolkien:
«Herman is like Saruman, the wise wizard in Tolkien’s Lord of the Rings, who went over to the other side. He used to care about the things we cared about. But no longer. He has built himself a high tower from where he rules over all of us.»
Em todo o caso este país que não existe, paga uma contribuição maior que Portugal à Europa. Herman Van rompuy é um rato grisalho talvez, mas não sem cor como o Senhor Barroso.
ResponderEliminarCUMPRIMENTOS DE UM BELGA.
Por que é que ser contra a entrada da Turquia da UE é xenófobo?
ResponderEliminarGP
Os argumentos do sr. rompuy para a não-entrada da turquia nada têm a ver com incumprimento de direitos-humanos. Esses, ainda se aceitam. Agora, o senhor Rompuy tratou de salientar que a Turquia não partilha d'"os valores fundamentais do cristianismo " da União Europeia - seja lá o que isso quer dizer. OK. talvez "xenófobo" não seja o termo adequado, mas escolha outro.
ResponderEliminarA Turquia é um estado secular, com uma grande maioria de muçulmanos, com toda legitimidade para pretender aderir à União Europeia. A História aliás não desliga o continente Europeu desse território. É que por este critério - sem qualquer outro -, essas repúblicas cheias de muçulmanos saídas da ex-Juguslávia podem já arrumar as botas de iguais ambições