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Porquê Agora?

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Surgiram algumas teses conspiratórias sobre a suspensão do Jornal das Sextas. Desde a intromissão na liberdade de imprensa, às pressões do PS, a razões económicas e bolsistas, entre outras.

Quanto à intromissão na liberdade de imprensa, concordaria numa qualquer outra altura. Mas tendo sido alterado o director responsável pelo estatuto editorial (originalmente seria o próprio Moniz a apresentar o programa), naturalmente, essa linha tem de voltar a ser discutida, pois, embora definida pelo director, está sempre sujeita a aprovação da administração. Para além disso, a liberdade de imprensa pode ser violada por acção do jornalista. Por ultrapassar os seus limites - pois embora a absolutização desta liberdade por muitos jornalistas, esta tem limites -, nomeadamente deontológicos. Isso bastaria à administração para fazer o estatuto cair. Há ainda a condenação, há alguns meses, por parte da ERC, por essas razões. Condenação sem sanção, pois, não obstante ser uma liberdade violável, não existe sanção possível para o jornalista. Impunidade.

Mais, a coexistência de duas linhas editoriais distintas passando uma delas só num jornal, nunca fez nem faz muito sentido, pois, segundo a própria Moura Guedes: «há editores intermédios, eu não consigo estar em tudo, não consigo incutir em toda a gente». Por outras palavras: dissidente e ultra minoritária, mesmo na própria estação. Outro sinal claro dessa dissidência tem a ver com o deserto de escândalo-Freeport que atravessamos neste dois meses. Ninguém - nem a restante TVI - foi capaz de explorar ou se interessou sequer por esse filão, talvez por não haver verdadeiramente nada, quiçá. Mas o timing da decisão não me convence completamente. O Moniz já saiu há um mês, o programa está parado à dois e a condenação da ERC já tem meses

A tese das pressões do PS não parecem fazer qualquer sentido. Se há um historial de incómodo, não me parece ter qualquer cabimento a ideia de que existe, hoje, agora, um interesse nesse sentido. As eleições estão à porta e facilmente se percebe que seria pior a emenda do que soneto. Não basta tentar explicar porquê. É necessário explicar porquê hoje. A não ser que me apareça alguém a explicar este porquê, não vejo ponta por onde se lhe pegue, pois parece-me óbvio que a ter algum efeito, será prejudicial, caso não seja esclarecido em breve.

Existem outras teorias de que não vale muito a pena falar, excepto uma que, até ver, me parece ser a única que faz sentido que aconteça hoje e não há um mês ou meio ano atrás. Esta é a ideia de que o Eduardo Madureira aqui fala, no Avenida Central, remetendo para o artigo de opinião do patrão da Prisa, onde este manifesta uma completa ruptura com o PSOE. Note-se que a teoria das pressões do PS têm muito a ver com isto. Diz-se desde 2005 que a Prisa era a porta da entrada do PS na TVI, via PSOE. Parece-me evidente que este "divórcio" arruína esta ideia. Como referem no DN: «Estas declarações, a 21 de Agosto, fazem-no politicamente insensível às repercussões que a sua decisão tenha em Portugal, em vésperas das eleições legislativas».

PS: Caso se dê um esclarecimento relativamente célere, a posição do PSD, por parte do Aguiar-Branco, pode ser eleitoralmente nefasta. Existe sempre um risco associado a este tipo de declarações. Não seria a primeira vez que um partido era penalizado pelo tipo de jogo político que se propõe a fazer. Vamos ver se o PSD não apostou demais e precipitadamente neste caso.

7 comentários:

  1. Esta é boa. Mesmo boa.
    Um Jornal Nacional que nunca foi de agrado do PM e Governo.
    O próprio PM lhe chamou "jornalismo travestido".
    Uma empresa com golden share pública tentou comprar a TVI.
    O Jornal Nacional ia publicar algo sobre o caso Freeport.

    Que inocente acredita que é tudo um conjunto de coincidências?

    Agora é esta tentativa de dar a volta ao texto?

    Não é só a Direita que é estúpida em Portugal; a Esquerda já demonstrou que consegue ser tão ou mais estúpida.

    Argumentar que isto seria um tiro nos pés... parece-me que andaram a ver em demasia o Instinto Fatal.

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  2. mas sou só eu que vê que isto foi a melhor jogada de campanha e de marketing para o PSD??

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  3. O esclarecimento foi rápido e, digamos, esclarecedor:
    http://oinsurgente.org/2009/09/04/eu-tambem-nao-fui/

    Já a teoria da conspiração é pouco menos que irrefutável (lol):
    http://blasfemias.net/2009/09/04/mind-games/

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  4. Aparentemente este facto parece vir numa má altura para o PS, mas será assim?
    Será que o PS não preferiu anular a MMG e aguentar com os eventuais efeitos negativos deste caso?
    Sobre as pressões não é preciso dizer mais nada, basta ter um pouco de memória e recordar as nntervenções do PM, de ministros, de membros do PS, etc..
    Não gosto da MMG, não faço dela um exemplo de bom jornalismo, mas não inventem teorias. Foi um saneamento político. Mais um a juntar aos outros (Charrua, Vieira do Minho, etc.).

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  5. Joao Fernandes,

    Um Jornal Nacional que nunca foi de agrado do PM e Governo.
    O próprio PM lhe chamou "jornalismo travestido".


    O incómodo é um facto.

    Uma empresa com golden share pública tentou comprar a TVI.

    Essa foi uma oportunidade perdida pela direita para clamar pelo fim das golden shares. O assédio imediato da ongoing demonstra que a PT tinha interesses económicos inteiramente legítimos.

    O Jornal Nacional ia publicar algo sobre o caso Freeport.

    Como referi, porque é que não via esse mesmo tipo de peças noutros locai? Nem mesmo a restante TVI as passava e passou-me por um deserto "informativo" a esse respeito. Talvez por não haver nada de novo e por haver demasiada fumaça. Não seria a primeira vez nem será a última.

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  6. Não vale a pena aceitar este comentário. Serve só para avisar de um pequeno erro, nesta frase:

    "O Moniz já saiu há um mês, o programa está parado à dois e a condenação da ERC já tem meses"

    Falta também o ponto final.

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  7. Jorge Sousa

    Daí até haver uma cabala do PSD, vai um salto de fé gigantesco.

    Ou melhor dizendo, far fetched.

    Relembro a cena do Instinto Fatal:

    Instinto Fatal:

    John Correli: Did you kill Mr Boz, Miss Tramell?
    Catherine: I’d have to be pretty stupid to write a book about killing and then kill him the way I described in my book. I’d be announcing myself as the killer. I’m not stupid.

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