"A simetria é um sintoma particular, macroscópico, de um tumor que prolifera capilarmente e cujas metástases são infinitas: a geometria. Com efeito, poder-se-ia interpretar a história das cidades como uma colisão entre a geometria (como invariável do poder ditatorial ou burocrático) e as formas livres (que se harmonizam com a vida humana). Durante centenas de milhares de anos, a comunidade paleolítica desconhece a geometria. Porém, logo que se dão as fixações, neolíticas e os caçadores-cultivadores se submetem a um chefe de tribo, temos o tabuleiro do xadrez. Todos os absolutismos politicos geometrizam, ordenam a estrutura urbana em eixos e mais eixos paralelos e orotgonais. Todos os quartéis, cárceres e edificios militares são rigidamente geométricos. Não se permite a um cidadão que se volte à direita ou à esquerda com um movimento natural, seguindo uma curva: tem de se dar um salto de 90 graus, como se fosse uma marioneta. De maneira similar, os tecidos urbanos estão desenhados em forma de grelha; em casos excepcionais, são realizados segundo um esquema hexagonal ou triangular. Nova Iorque é um tabuleiro de xadrez que permite apenas a diagonal da Brodway. A Paris Imperial baseia-se nos cortes cruéis que, sadicamente, esquartejam o tecido popular preexistente. A colonização da América Latina produziu-se através de leis peremptórias, que impunham a priori formas geométricas às cidades, qualquer que fosse a topografia."
Bruno Zevi, em “A Linguagem Moderna da Arquitectura”
Muito se defende a ortogonalidade e a perpendicularidade no urbanismo. Embora seja o modo mais fácil de organizar a cidade, e o aspecto bidimensional do desenho ou o da fotografia panorâmica seja interessante, à escala humana surgem inumeras potencialidades visuais e de enquadramento inerentes a cada local que a imposição da ortogonalidade ignora. O projecto de uma rua em Braga tem potencialidades a explorar diferentes do projecto de uma rua em Barcelona.
Com efeito, as ruas mais interessantes que me lembra percorrer não são ortogonais, não se revelando totalmente à primeira vista, apelando à nossa curiosidade. A de Janes em Braga, e a Calçada de São Francisco em Lisboa, à saida da ortogonalidade da Baixa, são exemplos.
por Bruno Gonçalves, em Contentor
Já vi que não, mas seria capaz de jurar que a Rua do Janes é completamente ortogonal.
ResponderEliminarentre passear na "Avinguda" diagonal de Barcelona ou na rua de janes... prefiro a diagonal de barcelona!
ResponderEliminarMas se for para passear a pé e morar? a rua de janes concerteza...