Avenida Central

Cumplicidade Insustentável

| Partilhar
Barragem Pocinho
© Riafoge

Palmira F. Silva (IST), há uns dias atrás no jugular, apontou o esforço do actual Governo na mudança do paradigma energético para um menos dependente dos combustíveis fósseis. Tudo bem com isso tudo. Mas Joanaz de Melo, professor de Engenharia do Ambiente na Universidade Nova de Lisboa, membro do GEOTA - e a quem Palmira torce o nariz - alerta para o paradoxo dos custos ambientais e energéticos das 10 novas barragens ou da terceira travessia do Tejo que, endividando o País, não fazem o que o investimento na eficiência energética faria na factura e até no «controlo dos períodos de pico e ao equilíbrio do sistema com a produção eólica e térmica». A verdade é que mesmo sendo mais fácil recorrer a barragens para emendar este último problema, é muito estranho que não utilizem a actual capacidade hídrica para fazê-lo.

Concordo com Palmira quando diz que o avanço tecnológico e a pesquisa cientifica exigirão muito maior quantidade de energia do que a que temos hoje disponível. Agora, num Portugal que necessita urgentemente de desenvolver o Interior com os únicos instrumentos e riquezas que estas gentes possuem, o sacrifício insensível de vales aráveis e do seu valor ecológico, é de uma demonstrada incongruência.

Por outro lado,
a forma com que este Governo dotou as grandes corporações do sector energético (EDP e Iberdrola) do poder apropriação de património colectivo, enquanto propagandeiam falsas virtudes e vendem ilusões de emprego e desenvolvimento a populações desesperadas, é imoral e escandaloso. António Mexia, Coelho e Pina Moura agem actualmente como autênticos donos e senhores deste país. No caso do presidente da EDP a prepotência e a falta de decoro roçam o sadismo.

Se o debate das questões de sociedade e do papel do Estado na economia, a par das quezílias de comadre com a blogosfera de Direita fazem passatempo e as ganas aos futuros deputados do PS que se entretêm a escrever no jugular e no SIMplex, chama-se-lhes daqui a atenção de que: absterem-se de questionar o delírio do Plano Nacional de Barragens, que no Tâmega «viola lei-quadro da Água»(Rui Cortes, UTAD), é compactuar com um dos maiores crimes de lesa-pátria a ser cometido nos próximos anos em Portugal.

11 comentários:

  1. caro Pimenta,

    o plano de barragens nada tema ver com energia. tem a ver com o grande negócio do futuro e causa de muito sangue que será derramado por esse mundo fora: o que está em causa é a captura da água. a seguir virão os transvases. e a água será roubada ao Douro a troco de 10 reis de mel coado.

    ResponderEliminar
  2. Quanto à energia, todos falam na sua falta, ninguém fala no excesso do seu consumo ou não consumisse Portugal o dobro do petróleo per capita que a Dinamarca (um país pobre do norte da Europa que constrói ecopistas em cima de linhas de comboio).

    ResponderEliminar
  3. Nunca é demais salientar que o grande investimento em energia é sempre a conservação e eficiência de consumo, que infelizmente não parece muito apelativo a quem só gosta de inaugurar as "Obras".

    É de uma imbecilidade adicional que neste nosso micro-cosmos ainda se interpretem críticas fundamentadas não como um modo de melhorar as coisas mas como ataque pessoal ou político.

    ResponderEliminar
  4. o blog bracalêndia há um post que ilustra muito bem oque está por detrás de tudo isto, o que esconde os projectos das novas barragens. Leiam e tirem as proprias conclusões.

    ResponderEliminar
  5. Uma vez que identificas as instituições de ensino superior de Joanaz de Melo e Rui Cortes, deverias também dizer que a Palmira é professora no Departamento de Engenharia Química do Técnico. E quanto ao Pedro Mexia, sossegado, na Cinemateca, não consta que tenha muito a ver com barragens...

    ResponderEliminar
  6. Sei, caro Filipe.

    Só por moderada falta de zelo não referi, uma vez que Palmira F. Silva,um monumento blogosférico, já a acompanho desde o De Rerum Natura. Tenho-lhe o currículo como do conhecimento geral e pronto. Faça-se-lhe a discrição.

    Mudei de "Pedro" para "António". Obrigado pelo correctivo, nada que abafe o objectivo do texto.

    ResponderEliminar
  7. As barragens têm que ser analisadas sob várias perspectivas que não só a conservação ambiental local. É verdade que o conservadorismo ambiental local deve ser sempre uma referência mas há que ponderar outros valores como:
    - os custos/benefícios ambientais como um todo;
    - os ganhos energéticos;
    - ganhos de controlo da quantidade de água doce disponível;
    - os ganhos de desenvolvimento local como turismo (onde vejo muitas autoridades locais do douro a defender as barragens; pessoalmente e intuitivamente acho que se ganhava mais com o Tamega como está..)
    - a sustentação de competências na eng. civil;
    - os ganhos/custos sobre a agricultura local (que é de relevância económica).

    Recordo uma medida que para mim tem consequências longas de muito benefício e que já devia estar implementada há mais de 20 anos (pagamos muitos barris de petróleo diários à conta disso!) que é a obrigatoriedade da certificação energética dos edifícios novos e renovados. É uma medida de redução da energia consumida que terá a longo prazo um impacto fabuloso na quantidade de energia gasta em Portugal.
    E, pessoalmente não esqueço, foi implementada de uma forma não impositiva que dá aos portugueses consumidores mais e melhor informação para que possam fazer uma escolha económica e ambientalmente vantajosa para eles e para o País.

    ResponderEliminar
  8. Francisco. Os custos/benefícios de qualquer ordem estão contabilizados.

    A eutrofização das águas é quase certa, e foi admitida pela EDP, que remeteu o problema para o INAG e as entidades multi-municipais que gerem a distribuição e tratamento das águas.

    Acrescente-se que o problema da poluição do Tâmega, minimizado por ora pelo facto de ainda ser, em grande parte, um rio de águas correntes, que já vem de Espanha, será agravado por um sem número de afluentes poluídos de compostos nitrados que as câmaras - mais ocupadas em organizar jantaradas e passeios a fátima - se descartam de resolver.

    Como reserva de água, o argumento, não colhe. Tanto é que não tenho conhecimento que a Barragem do Torrão, a jusante de Amarante, seja utilizada para isso.

    Turismo? Como é possível haver viabilidade quando são 5 barragens só no Tâmega? O Mercado de turismo de albufeira não é assim tão grande. Ah, isto para não dizer que este tipo de represas impedem novas construções até 500 metros da linha de cota. Enfim...

    ResponderEliminar
  9. ok, caro Vitor!
    Mas..
    No post você parte da falta de medidas de melhoria da eficiência para adjectivar a escolha do governo sobre as barragens com termos como "sacrifício insensível", "incongruência", "imoral e escandaloso", etc. - nesse aspecto acho que devia corrigir o post. Não que discorde do conteúdo base - discordo das premissas escolhidas - foram implementadas medidas de melhoria da eficiência energética de grande impacto que merecem crédito. Por outro lado também discordo que escolha o governo como alvo único pelo papel de «autorizar as corporações a vender ilusões» - é demagógico; são também as autarquias locais a pedir as barragens e é a EDP que produz as ilusões. (note que as eleições autárquicas são logo a seguir às legislativas)
    Dentro do mesmo assunto choca-me ver a EDP a pagar despudoradamente tempo de antena na TSF todos os domingos de manhã por várias horas, quando baseia essa capacidade económica de comprar média, no usufruto de um monopólio de facto.

    ResponderEliminar
  10. Não retiro nenhum adjectivo, Francisco.
    Não vejo porque aligeirar o post só porque o governo implementou a certificação energética. A medida per si, não impede que se construam barragens e se destrua património colectivo a bem de 1 a 3 % da capacidade do País. Falo do Tâmega como falo do Tua. Essas populações aliás, não ganham nada com isso. Pagamos por cá o mesmo que um cidadão de Lisboa e do Porto. Já não bastava o preço da interioridade.

    Se as câmaras pedem investimentos destes é - a meu ver, e se desculpo a arrogância - por pura falta de informação. Eu sei de gente que sofreu com a deslocalização, a perda de subsistência e de terrenos aráveis com centenas de anos de aproveitamento. O edil de Montalegre denunciou há uns tempos o logro em que caiu: http://avenidacentral.blogspot.com/2009/06/como-da-noite-para-o-dia.html

    ResponderEliminar
  11. Quanto tempo demora o ser humano a destruir ecossistemas que se desenvolveram durantes milhões de anos e que são habitados por toda uma série de espécies?
    O nosso modelo de sociedade caminha a passos largos para a decadência moral. Devemos exterminar mais umas quantas espécies protegidas para satisfazer a nossa ineficácia energética? Ou é só para alguns ficarem um pouco mais ricos? Não há soluções energéticas disponíveis em Portugal que não passem pelo assassinato de mais uma área verde muito importante?

    Não se entende que o ex-Ministro Manuel Pinho tenha passado anos a falar de energias "verdes" e apareça uma EDP a destruir mais um ecossistema do nosso país, sem que alguém de direito ponha a mão na consciência e diga alto!
    Também não se vê a oposição a contestar este assunto como o faz demagogicamente com os TGVs, Otas e afins. É pena...porque no fim de contas perde a Natureza.

    ResponderEliminar

Antes de comentar leia sobre a nossa Política de Comentários.

"Mi vida en tus manos", um filme de Nuno Beato

Pesquisar no Avenida Central




Subscreva os Nossos Conteúdos
por Correio Electrónico


Contadores