Podem ser feitas várias leituras sobre vitórias e derrotas, segundo diferentes perspectivas, embora alguns prefiram enfatizar mais umas do que outras.
É óbvio que o PS sofreu uma grande derrota. Como é óbvio que o PSD obteve uma vitória que é maior para quem é do PSD - da estratégia dizem alguns; com outros a lembrar que que esta foi em boa parte uma vitória do candidato Rangel e uma derrota do candidato Vital, não sendo os resultados inteiramente transponíveis para Sócrates e Ferreira Leite -, mas necessariamente relativa para quem vê de fora.
A esquerda cresceu, sobretudo o BE, atingindo a esquerda não-PS mais de 20%. Este aspecto relativa imenso a vitória do PSD, que falhou em capitalizar a queda do PS, como o PS conseguiu capitalizar a queda do PSD/PP em 2004, com 44%. Só pela euforia do momento compreendo a ilusão que paira no PSD, apenas comparável à euforia de alguns com a vitória da selecção frente à Albânia. Segundo consta, este foi o pior resultado PS/PSD desde 1985.
Quer pela fuga de votos para a esquerda, quer, já em termos mais gerais, aplicável a todos os partidos, o inédito e expressivo voto em branco/nulo reflectem uma derrota colectiva. A abstenção é uma coisa. 6,6% dos votantes estarem motivados e votar branco ou nulo é outra com um significado que não é de desprezar. Nota ainda para a abstenção de 97-98% no estrangeiro - uma derrota de Cavaco Silva que, por outra perspectiva, obteve um vitória com a "sua" candidata do PSD.
Há ainda aquela derrota que o PSD e o PP sofreram, mas de que não se fala muito. De facto, a Europa virou à direita. A maioria continua a ser do PPE que em conjunto com Liberais e outros, passam a ter maioria absoluta - e assim, ganha Durão Barroso. Mas em Portugal a direita perdeu, com o PSD e PP a conseguirem 10 deputados para o PPE e PS a conseguir 7 para o PSE e a CDU e o BE 5 para a PEE.
Certo é que estes resultados reflectem um voto de castigo. Estes resultados não devem ser lidos como o resultado que ocorreria se fossem legislativas. O voto de castigo pode ter exactamente o efeito oposto àquele que a oposição, em bloco, deseja. A bola está do lado do Sócrates e do PS. Sem precipitações e facilitismos, pois ainda muito pode acontecer até Outubro e com a certeza de que as sondagens são falíveis.
E, por fim, para colocar as coisas realmente em perspectiva, lembro os resultados reais, absolutos: Abstenção 62,84% PSD 11,78% PS 9,88% BE3,99% PCP 3,96% PP 3,11% Brancos 1,72% Nulos 0,74%. Resultados que reflectem o divórcio entre portugueses - e dos europeus, pois a abstenção foi de 56% - e políticos que, cada vez mais, revelam não nos entender. Como retira daqui, o Rangel, um «renascer da esperança»? Transcende-me. Deve ter sido da euforia.
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Apesar de a referência não estar para um post específico, percebi que era para mim por causa da caixa de comentário. Não tenho de o dizer, não é uma obrigação, mas não gosto de mal entendidos. Saiba-se: eu não sou do PSD. Apenas prefiro, neste momento, Manuela Ferreira Leite a José Sócrates, do mesmo modo que preferi há uns anos José Sócrates a Santana Lopes. Não sou de partidos, avalio propostas e proponentes.
ResponderEliminarUm comentário talvez inútil, mas que repõe alguma verdade.
Cumprimentos,
TMR
Esta análise não bate certo, por uma razão muito simples, o BE, diga-se o que se disser, não é um mero partido de esquerda, é um partido de esquerda populista. E o que tem isto a ver com o resto? Tudo.
ResponderEliminarSendo um partido que tudo promete (com slogans "neo-prec-ianos" do tipo "a todos o que é de todos"), com boa aparência (um autêntico lobo com pele de cordeiro) e com aquele ar de modernidade intelectual tão apreciado pelas superiores gentes das urbes, o Bloco apela a muito mais gente da área do "centro" do que, por exemplo, o PCP (que esse sim deve ter tido mais votos verdadeiramente "socialistas"),
Ora, sendo assim, o que há a destacar é que o Bloco foi buscar votos ao centro, àquelas pessoas para quem a ideologia menos conta e que vacilam consoante as perspectivas económicas da sua vida (o que é compreensível) e que vêem ali um partido que as defende e que não tem "papas na língua". Como não se confessa trotskista, maoista ou o que mais é (porque o é, não nos esqueçamos), o Bloco tem uma "almofada de esquizofrenia" sensível, que lhe permite "acarinhar eleitorado" que, se soubesse o que verdadeiramente ali está, nunca votaria BE.
Não tenho dúvidas que foi o que se passou e que, mesmo gente que votaria PSD, votou Bloco.
Portanto, a vitória do PSD, ao contrário do que aqui dizes, é tanto mais relevante por ser obtida contra o PS (que perde estrondosamente), contra o voto de protesto do BE (que sobe bastante) e do PCP (com uma subida considerável), contra o PP (sempre subestimado) e, sobretudo, contra as vergonhosas sondagens (que, das duas uma, ou bem que são uma treta e mais vale deixá-las no bolso de quem as faz ou são sérias e passam a reflectir minimamente os resultados finais).
Feitas as contas, a vitória do PSD é indiscutivelmente uma grande vitória, por ser inesperada para muitos, por ser contra todos e por se dar num contexto de crise dos partidos de governo, conseguindo, ainda assim, ser inequívoca.
Ressabiamento socialista!
ResponderEliminarJá agora, quanto à abstenção, apesar de preocupante, não pode ser tida em conta na análise dos resultados apurados. Quem quis votar foi votar e tinha todas as hipóteses para fazê-lo em todo o espectro possível e imaginário, não faltaram movimentos sem ideologia, partidos de esquerda, direita, extrema esquerda e extrema direita. Da minha parte estou farto da desresponsabilização dos eleitores e não dou para esse peditório.
ResponderEliminarHá instrumentos que cheguem e sobrem para fazerem valer o seu descontentamento, escolheram a abstenção, é legítimo, mas tem consequências.
A democracia não é fácil, mas é justa, ganha quem tem mais votos.
Lendo alguns artigos de opinião, fico com a sensação de que no domingo estava a delirar e afinal quem perdeu as eleições foi o PSD...
ResponderEliminarA vitória do PSD é uma treta!... É a derrota do Vital Moreira (donde é que apareceu este sujeito?!), é uma derrota de um governo em tempo de crise, tal como o PSD seria estrondosamente derrotado se estivesse no governo...
ResponderEliminar"Gente que votaria PSD votou Bloco"?!! que raio de gente é essa?! mudar de um partido liberal de direita para um partido como o BE?! isso mostra o tipo de 'gentinha' que vota PSD...
Parabéns aos promotores de campanha do Bloco!... passar de 1, qualquer coisa para 11% em 5 anos... bela cirurgia plástica de lobo para carneiro...
Vamos ver se a democracia ainda vive ou se este comentário também vai ser apagado como muitos anteriores nesta Avenida Fascista!
@ TMR
ResponderEliminarNão estava a pensar tanto em si ou no post que fez. Já nem me lembro se o linkei no texto, mas boa parte do que escrevi neste texto é uma súmula do que fui escrevendo no blogue e no twitter.
@ João Marques
«Ora, sendo assim, o que há a destacar é que o Bloco foi buscar votos ao centro»
Sim, ao PS. Parece-me que o BE rouba mais votos ao PS do que o PCP.
«Portanto, a vitória do PSD, ao contrário do que aqui dizes, é tanto mais relevante por ser obtida contra o PS (que perde estrondosamente), contra o voto de protesto do BE (que sobe bastante) e do PCP (com uma subida considerável), contra o PP (sempre subestimado) e, sobretudo, contra as vergonhosas sondagens»
Nesse aspecto discordo completamente. Como afirmei, à derrota estrondosa do PS não corresponde uma vitória estrondosa do PSD.
É fácil de se fazer as contas. Em comparação com as últimas europeias, o PS desceu quase 20%, o PSD+PP subiram cerca de 7%.
Antes, foi uma vitória da oposição em bloco, onde se inclui o PSD, evidentemente. Mas o que tem sido pouco enfatizado, pelos partidos, é o elevado voto em branco/nulo, que, tendo um e outro, tal como a abstenção, uma natureza e significado distinta/o, é muito significativa. 6,6% das pessoas que foram votar, não deixando de castigar o PS, não premiaram nenhum partido da oposição.
@ Miguel Braga
«Lendo alguns artigos de opinião, fico com a sensação de que no domingo estava a delirar e afinal quem perdeu as eleições foi o PSD...»
O PSD ganhou. Disso não há dúvidas. Agora a euforia que tem sido demonstrada por alguns tem mais a ver com a ressurreição da Manuela Ferreira Leite, como cartoonizaram. É a Páscoa social-democrata.
Foi uma vitória inequívoca, porque foi por uma margem considerável sobre o PS (em termos relativos, pois, em termos absolutos, foi inferior a 2%). Mas não foi uma vitória estrondosa.
@ Anónimo
O Bloco teve 1 deputado em 2004, mas teve 4.92%. Ainda assim, mais do que duplica a sua votação, tanto em termos relativos como absolutos.